terça-feira, julho 28, 2009

Grampo

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - - Alô! Você está aí?
- Evidente que estou. Se não estivesse, não estaria...
- Não esquenta. Estou aqui pra quebrar o galho...
- Que galho?
- Aquele!. A coisa está indo.
- Que coisa está indo?
- Aquela.... já falei com o cara...
- Ele topou?
- Apenas um problema. Ele quer mais.
- É preciso cuidado. Ele pode dar o fora.
- Não, está muito amarrado. Eu tenho provas...
- Você ficou com as fitas?
- É lógico. Não se pode confiar em ninguém. A coisa está braba... a Polícia Federal já descobriu o pacote...
- Que pacote?
- Aquele que você me entregou...
- P... que pariu! Vou procurar meu passaporte...
- Ainda não precisa. Temos uma alternativa...
- Que alternativa?
- Dar mais... inclusive para aquele cara...
- O Pimentel? Ele topa?
- Todo mundo topa. O problema é saber quanto...
- Pô! A coisa está saindo muito cara... você acha que vai dar certo?
- Certíssimo. Está tudo pronto, só falta o biscoito...
- Que biscoito?
- Aquele verdinho, com a cara do Washington...
- Com a cara do Lincoln não serve?
- Serve. Só não serve a do Bush que ainda não existe...
- Tá bem, amigão. Vou tomar providências. Amanhã a gente se fala...
- Falar não adianta. O cara tem pressa.
- Entendido. Farei o que puder. Confia em mim.
- Confio desconfiando. Nunca se sabe...

domingo, julho 26, 2009

Roland Barthes volta à moda

Originalmente publicado em 1967, Sistema da moda (Martins Fontes, 480 pgs. R$59,90) é uma obra representativa da onda semiológica que prosperou durante mais de uma década no pensamento francês (com uma longevidade ainda maior na sua filial, a universidade brasileira, sempre atenta - e às vezes submissa - ao mercado parisiense das idéias). É, em resumo, um exercício engenhoso de aplicação de uma análise semântica a um fenômeno cultural, isto é, Barthes toma a moda como uma linguagem e tenta decifrar seu vocabulário, sua gramática, sua sintaxe. Partindo de artigos publicados em revistas especializadas no vestuário feminino, ele examina não somente a estrutura e o significado do discurso sobre a moda, mas também a própria moda como um discurso.

Ao desvendar esse sistema de significações, ele revela as regras invisíveis que determinam o revezamento incessante de gostos e tendências ao longo dos anos. Mas, a rigor, a moda é apenas pretexto para um empreendimento teórico frio, quase impessoal, que poderia eleger como objeto qualquer outro fenômeno da cultura - o que Barthes fez em outros textos, aliás. Para quem tem uma relação emocional mais próxima com o mundo fashion, a leitura poderá parecer árida e excessivamente intelectualizada. Ainda assim, Sistema da moda é, ao lado de O império do efêmero, de Gilles Lipovetsky, um dos frutos mais interessantes do casamento entre a inteligência e a futilidade, entre o conteúdo e o estilo.

Sistema da moda dá seqüência à reedição sistemática (sem intenção de trocadilho) das obras de Roland Barthes pela editora Martins Fontes, incluindo volumes com a transcrição dos cursos do pensador no prestigioso Collège de France (A preparação do romance, Como viver junto) e outros textos inéditos (Escritos sobre teatro, Imagem e moda), além dos já clássicos O rumor da língua e Fragmentos de um discurso amoroso, que tiveram influencia decisiva sobre a teoria da arte e da literatura e o desenvolvimento das ciências humanas.

A iniciativa sugere que a demanda por Barthes continua, quase 30 anos após sua morte, em 1980 - o que é confirmado pelo lançamento de Roland Barthes - O ofício de escrever, de Eric Marty (Difel, 384 pgs.R$49), que não é uma biografia, mas uma reunião de ensaios que fazem um inventário sobre as diferentes fases da obra de Barthes - de quem Marty foi aluno e amigo - o que também dá ao seu livro um tom de viagem sentimental, de reflexão pessoal sobre a relação entre mestre e discípulo. O ofício de escrever é dividido em três partes: “Memória de uma amizade”, relato autobiográfico que conta o transcorrer cotidiano dos últimos anos do escritor; “A obra”, que percorre e mapeia a toda sua produção; e ”Sobre Fragmentos de um discurso amoroso”, reunindo textos críticos que interpretam seu livro mais conhecido e suas “estratégias subterrâneas”.

sábado, julho 25, 2009

Massa é atingido na cabeça por peça de carro de Rubinho, bate, mas passa bem

Piloto da Ferrari é levado para hospital em Budapeste com corte no olho esquerdo e não terá condições de disputar o GP neste domingo

GLOBOESPORTE.COM
Budapeste

Uma peça cai do carro de Rubens Barrichello, voa e atinge em cheio o capacete de Felipe Massa. O piloto, a 280km/h, perde o controle de sua Ferrari, bate forte em um dos pontos mais rápidos de Hungaroring e quase desaparece sob a barreira de pneus. A cena, uma semana depois da morte de Henry Surtees em uma corrida na Fórmula 2, causa tensão na Hungria. E em todo o mundo. O brasileiro é atendido na pista, levado para o centro médico do circuito e, depois, de helicóptero, para um hospital de Budapeste. Rubinho acompanha tudo e avisa: Massa estava consciente logo após o acidente. Um primeiro alívio. A escuderia italiana, então, informa: ele passa bem.

As atenções já estavam bem longe de Hungaroring quando o espanhol Fernando Alonso cravou a pole position para o GP deste domingo. Massa não poderá disputar a prova.

Massa perdeu o controle de seu carro e saiu da pista na quarta curva. Segundo as imagens gravadas pela câmera instalada em seu carro, o capacete do brasileiro foi atingido logo antes da curva por uma mola da Brawn de Barrichello.

quarta-feira, julho 22, 2009

O Chevalier Temer e seus 7 Mosqueteiros

ELIO GASPARI

Como a Madame Du Barry em 1793,
os deputados resolverem dar um pulinho em Paris

O PRESIDENTE da Câmara, deputado Michel Temer, acompanhado de sete mosqueteiros, usufruiu uma boca-livre de cinco dias em Paris. Havia um feriado por lá mas, por cá, a Casa onde trabalham tinha serviço e votava a Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Os doutores foram comemorar o aniversário da Revolução Francesa e hospedaram-se no hotel Lutetia, uma boa casa, equidistante de dois marcos da cidade: a Conciergerie e a Praça da Concórdia. Numa ficava a cana dos condenados. Na outra, a lâmina de Sanson. A namorada de Luís 15, Madame Du Barry passou de uma à outra. Ela fugira para Londres depois da queda da Bastilha, mas decidiu retornar à França. Degolaram-na em 1793.

O mistério que levou a Du Barry a regressar é da mesma família da compulsão que levou Temer e seus sete mosqueteiros a entrarem na boca-livre. Pediram discrição à embaixada e disseram que viajavam a convite de um Instituto de Alto Estudos de Defesa Nacional. Verdade, mas o repórter Antonio Ribeiro revelou que, segundo esse mesmo instituto, o paganini ficou por conta da indústria aeronáutica francesa, pois a fábrica Dassault quer vender 36 caças Rafale à FAB, numa conta de R$ 4 bilhões. (Convite para ir a Paris é fácil arrumar. O que falta é patrocinador.) A Câmara absolvera o deputado-castelão e o Senado tornou-se um apêndice da delegacia de roubos e furtos, mas os oito doutores, como a Du Barry, acharam que dava.

Há um problema de percepção na cúpula do Parlamento nacional. Eles são incapazes de entender que certas coisas não podem ser feitas. Eis o que disse Michel Temer à repórter Lúcia Jardim:"Não vejo isso como uma tentativa de sedução, até porque, se fosse, seria muito fraca".

(Conta a lenda que o professor Henry Kissinger disse a uma senhora que toda mulher tem um preço e ela respondeu: "Isso é um insulto. Eu, nem por 1 milhão de dólares". "Pois veja que já estamos discutindo preço", respondeu Kissinger.)

"Se fosse a Câmara que tivesse pagado nossa viagem, aí sim, eu tenho certeza de que fariam um escândalo em cima disso."(Resta saber por que os franceses pagaram. Se os deputados pudessem justificar o motivo da viagem, a Câmara, ou o governo francês, deveriam pagá-la. Do contrário, não deviam aceitá-la.) "Acho que só não haveria questionamento se nós tivéssemos vindo a pé."

(Para continuar no tom de Temer, há uma enorme torcida para que os oito resolvam ir a pé até Paris. Deveriam anunciar o ponto do litoral de onde partiria a comitiva, para que a galera pudesse se despedir deles.)

Viajaram com o deputado Michel Temer:
Cândido Vaccarezza (SP), líder do PT na Câmara.
Carlos Zarattini (PT-SP), vice-líder do PT na Câmara.
Ibsen Pinheiro (PMDB-RS).
José Aníbal (SP), líder do PSDB na Câmara.
Maria Lucia Cardoso (PSDB-MG), vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
Raul Jungmann (PPS-PE), presidente da Frente Parlamentar de Defesa Nacional.
Ronaldo Caiado (GO), líder do DEM na Câmara.

Nessa comitiva há deputados que não gostariam de ser confundidos com a nobreza decadente e degolada. Também ficou na Conciergerie, e foi para a lâmina, o companheiro Danton, que tinha um fraco por seduções.

terça-feira, julho 21, 2009

Comic Con, maior evento de HQs e cultura pop do mundo, tem início nesta quinta (23)

Da Redação

Maior evento de HQs e cultura pop do mundo, a Comic Con abre ao público esta quinta-feira (23) e vai até domingo (26) em San Diego, nos EUA. O evento de cultura pop, que atualmente contempla não só HQs como cinema e séries de TV, chega em 2009 aos seus 40 anos.

Entre os destaques deste ano estão bate-papo com produtores, elenco e exibições de trechos de filmes como a animação que adapta a HQ "Astro Boy" e "Lua Nova", segundo filme da promissora saga de "Crepúsculo". O diretor Terry Gilliam, conhecido por seu trabalho em "Monty Python", apresenta seu novo projeto, "The Imaginarium of Dr Parnassus", filme com Johnny Depp, Heath Ledger, Colin Farrell, Jude Law e Tom Waits.

Outro filme que deve concentrar as atenções do público da Comic Con este ano é "Homem de Ferro 2", que no momento está em pós-produção e terá detalhes revelados no evento. No elenco da produção, baseada também nos quadrinhos, estão Robert Downey Jr., Gwyneth Paltrow, Scarlett Johansson, Sam Rockwell, Mickey Rourke e Samuel L. Jackson.

Os fãs de quadrinhos podem se informar de novidades de editoras como a Marvel, que este ano completa 70 anos, e saber mais sobre revistas como a japonesa "Shonen Jump", responsável por lançar famosos mangás e uma das pulicações de quadrinhos que mais vende no mundo.

Na sexta-feira, a Comic Con é palco de dois eventos imperdíveis para fãs: o primeiro, de colecionadores de objetos relacionados aos Simpsons e, o segundo, de aficionados por "Star Wars". No mesmo dia ocorre a entrega do prêmio Eisner Awards, o "Oscar dos quadrinhos" (veja a lista de indicados aqui). Concorrem ao prêmio os irmãos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá, que participam do evento há mais de dez anos.

segunda-feira, julho 20, 2009

Fotógrafo faz close-ups de tubarões

Linha da água distorce cara da fera
(Foto: Eric Cheng/www.echeng.com )

Americano Eric Cheng, de 33 anos, se dedica à fotografia submarina há oito anos.

Da BBC

Depois de oito anos dedicando-se a fotografar a vida submarina, o americano-taiwanês Eric Cheng realizou o sonho de registrar close-ups de tubarões. Em sua última viagem às Bahamas, em junho, Cheng fotografou os animais na superfície, usando peixes como isca.

"A fotografia submarina se resume a conseguir chegar o mais perto possível do objeto", diz ele. O truque para obter as imagens de tubarões-limões e suas mandíbulas abertas foi pendurar a câmera em uma extensão e segurá-la junto à superfície, a partir de um barco de apoio.

"Não é uma boa ideia entrar na água quando os tubarões estão na superfície", conta.

Pantanal
Cheng, de 33 anos, é mergulhador desde 1995, e virou fotógrafo submarino em 2001. Hoje, ele edita o site Wetpixel.com, que reúne trabalhos de fotógrafos submarinos de todo o mundo.

"Já fiz viagens com fotógrafos brasileiros e tive experiências maravilhosas com cada um deles", disse Cheng à BBC Brasil.

"Eu adoraria tirar fotos no Pantanal algum dia. Vi imagens lindas tiradas lá."



Goleiro do Fla diz que ex-namorada estava bêbada e teria tentado agredí-lo

Na primeira foto, os hematomas da agressão em Carolina; na seguinte, Marcelo Lomba chega à 9ª DP (Catete) para depor

Fotos: Severino Silva / Agência O Dia


POR VANIA CUNHA, RIO DE JANEIRO

Rio - Marcelo Lomba, terceiro goleiro do Flamengo, prestou depoimento, nesta segunda-feira, na 9ª DP (Catete). Ele é acusado de agredir com socos sua ex-namorada e estudante de direito Carolina Moreira Miranda, de 19 anos, na saída de uma boate em Laranjeiras, na Zonal Sul, na madrugada desta segunda-feira.

Em seu depoimento, Marcelo Lomba afirmou que não bateu em Carolina, e sim se defendeu. Ele afirma que a ex-namorada estava bêbada e teria partido para agressão física na porta da boate. O goleiro disse ainda que tem arranhões no pescoço, mas não compareceu ao Instituto Médico Legal para fazer o exame de corpo de delito e comprovar sua versão dos fatos. O atleta não é obrigado a se submeter ao procedimento médico.

O laudo que comprova ou não se Carolina foi agredida fica pronto em uma semana. Até lá, Marcelo atenderá às exigências da Justiça em liberdade. A menina afirmou estar muito abalada e que nunca imaginara que o goleiro fosse capaz de agredí-la.
"É uma situação inacreditável. Estou muito abalada e, depois de tanto tempo de namoro, nunca imaginei que fosse chegar a esse ponto. Ele sempre foi muito calmo", disse Carolina.

domingo, julho 19, 2009

Banheiro da Estação Espacial quebra com 13 astronautas a bordo

Eles terão de usar o outro banheiro ou o do ônibus espacial Endeavour.
Comando da missão disse que é cedo para avaliar o impacto do problema.

Do G1, com agências internacionais

Os 13 astronautas que estão a bordo da Estação Espacial Internacional tiveram problemas neste domingo (19), quando um dos dois banheiros da nave quebrou.

Depois de uma tentativa frustrada de consertar o banheiro, o comando da missão pediu que um dos tripulantes colocasse um aviso de "não funciona" na porta do banheiro.

Os seis astronautas da estação tiveram de se virar indo no outro banheiro, e os sete tripulantes do ônibus espacial americano Endeavour -que está acoplado à estação para transferir o último módulo de um laboratório japonês- foram orientados a usar apenas o sanitário de sua nave.

Os astronautas faziam ontem um complexo trabalho de transferência de equipamentos do ônibus para a estação espacial com a ajuda de braços mecânicos. Nunca houve tantas pessoas juntas no espaço.

O diretor de voo, Brian Smith, não quis especular o que provocou o defeito. "Ainda não sabemos o tamanho do problema", ele disse a jornalistas. "Ele pode não ter consequências. Ele pode se tornar significativo. É cedo demais para dizer."

sábado, julho 18, 2009

Homem mais velho do mundo morre aos 113 anos

O britânico Henry Allingham, que atribuía
sua longevidade ao cigarro, ao uísque e às
mulheres, morreu aos 113, informou o asilo
onde morava

O homem mais velho do mundo, o veterano britânico da 1ª Guerra Henry Alligham, morreu, segundo informou neste sábado (18) o lar de idosos em que ele morava, em Brighton, no sul da Inglaterra.

Segundo a direção do lar de idosos, "ele estava bastante ativo até os últimos dias". O diretor do lar disse ainda que todos gostavam dele no local e que sua falta será sentida.

Allingham, que nasceu em 1896, tornou-se o homem mais velho do mundo no mês passado. Seu enterro será realizado neste mês, em Brighton.

O veterano, que viveu em três séculos diferentes e seis monarquias no Reino Unido, deixa cinco netos, 12 bisnetos, 14 trinetos e um tataraneto. Sua mulher, Dorothy, com quem foi casado por mais de meio século, morreu em 1970.

O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, prestou homenagem ao veterano de guerra, afirmando que ele foi um homem de grande personalidade.

quinta-feira, julho 16, 2009

Lampard posa para foto com mulheres seminuas

As férias do meio-de-campo Lampard, do Chelsea, que já fez duas adolescentes brigarem por sua atenção em uma boate, podem ser consideradas proveitosas. O jogador foi visto com duas mulheres seminuas em Ibiza, famosa ilha espanhola, conhecida por festas quentes, onde tudo pode acontecer. Lampard, que está solteiro, também esteve em Las Vegas, nos Estados Unidos, onde chegou a ganhar mais de R$ 900 mil em um cassino.

sábado, julho 11, 2009

AI, JESUS!

ESSA É DO KIBE LOUCO!

Flamengo é campeão brasileiro de Showbol com grande exibição de Fábio Baiano.

Nesse caso, deveria se chamar “Ficçãobol”, não?

http://kibeloco.com.br/kibeloco/

quinta-feira, julho 09, 2009

"Como se fora brincadeira de roda..."

PASQUALE CIPRO NETO

Ademir não era ponteiro. Quando caía pela ponta, lá vinha Fiori: "Lá vai Ademir, como se fora ponteiro"

OS LOCUTORES esportivos de antigamente (como o inesquecível Fiori Giglioti) empregavam assim a forma verbal "fora": "Lá vai Ademir, como se fora ponteiro...". O Ademir em questão é o da Guia, um dos maiores poetas que a bola já conheceu. Verdadeiro polivalente (muito antes de Rinus Michels inventar o carrossel holandês), Ademir estava em todas as partes do campo, de onde saía limpinho, mesmo sob temporal (ninguém derrubava o Divino, sempre hirto, como um espartano).

Ademir não era ponteiro. O filho de Domingos da Guia era meio-campista. Quando caía pela ponta, lá vinha Fiori: "...como se fora...". De que verbo é "fora"? "Ser" ou "ir"? Pode ser dos dois, mas, no caso, é de "ser". Trata-se da terceira do singular do mais-que-perfeito, tempo que, como bem sabe o leitor habitual desta coluna, tem esse nome justamente porque designa fato passado anterior a outro (mais-que-perfeito = mais velho que o perfeito).

Os tempos verbais não são usados só com seu valor específico. Quando se diz "Não furtarás", não se quer dizer que se deve esperar o futuro para não furtar. Nesse caso, o verbo está no futuro, mas tem valor de imperativo ("não furtarás" = "não furtes"). Com o mais-que-perfeito, a coisa não é diferente. Vejamos este passo, de "Leite Derramado" (de Chico Buarque): "...ignorava que o pai de Matilde, cuja carreira medrara à sombra do meu pai, se bandeara gostosamente para a oposição".

As duas formas do mais-que-perfeito ("medrara" e "bandeara") foram empregadas com seu valor específico. A primeira, por sinal, tem no texto um sentido que nem todos conhecem, já que no dia a dia se emprega "medrar" com o sentido de "ter medo". No texto de Chico, significa "prosperar", "desenvolver-se". A forma simples do mais-que-perfeito tem uma correspondente composta (no texto de Chico, "tinha/havia medrado" e "tinha/havia bandeado", respectivamente). No "texto" de Fiori, "fora" equivale a "fosse", do imperfeito do subjuntivo: "Lá vai Ademir, como se fosse...".

Posto isso, vejamos uma questão do recém-realizado vestibular da Unesp. Baseada em "A Nova Califórnia", de Lima Barreto, a banca propôs isto: "Os verbos, quando flexionados no pretérito mais-que-perfeito, indicam uma ação que ocorreu antes de outra, também já passada. No fragmento de Lima Barreto, observam-se algumas formas no pretérito mais-que-perfeito: viera, pudera, fora, fizera.

Entretanto, uma dessas formas foi usada em lugar de outro tempo verbal. Indique qual é essa forma e qual o tempo que substitui, no contexto".

Eis as frases com as quatro formas: "Ninguém sabia donde viera aquele homem"; "O agente do correio pudera apenas..."; "...não fora a intervenção do farmacêutico, o subdelegado teria..."; "...e se fizera sócio da farmácia para...". A resposta é a terceira, certo? Em "não fora a intervenção do farmacêutico", "fora" equivale a "fosse", do pretérito imperfeito do subjuntivo: "(Se) ...não fosse a intervenção do farmacêutico...". A questão me lembra uma bela canção de Luiz Gonzaga Jr ("Redescobrir"), imortalizada por Elis Regina: "Como se fora brincadeira de roda...".

E pensar que há algum tempo meu querido Jorge Portugal (irmão de fé e de alma, dos maiores letristas deste país) me mostrou um livro de teoria linguística em que dois gênios da pós-modernidade apregoam aos quatro ventos a tese de que a escola deve simplesmente banir do ensino de língua o pretérito mais-que-perfeito, por ser coisa do passado, desusada etc. É verdade. Chico Buarque é uma múmia. E eu adoro múmias. É isso.

quarta-feira, julho 08, 2009

Carro-forte e carro-bomba

Pasquale Cipro Neto
Professor de português desde 1975. É consultor de língua portuguesa do Departamento de Jornalismo da Rede Globo, em São Paulo; e colunista dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo, Diário do Grande ABC, entre outros.

A violência no Iraque, em Israel e na Palestina parece longe do fim. A todo instante, explodem carros-bomba(s) e homens-bomba(s). Por aqui, volta e meia um carro-forte é atacado por bandidos ávidos e ultra-aparelhados. E os leitores não deixam por menos: querem saber como fica o plural dessas palavras compostas.

Em se tratando da flexão de número (singular/plural), todos esses compostos se enquadram no mesmo caso? A resposta é não, caro leitor. As palavras compostas 'carro-bomba' e 'carro-forte' guardam entre si uma semelhança e uma distinção. A semelhança está em serem substantivos, visto que nomeiam algum tipo de ser; a diferença está em serem formadas porsubstantivo + substantivo ('carro-bomba') e por substantivo + adjetivo ('carro-forte').

Vamos começar pelo processo relativo ao plural dos substantivos compostos formados por substantivo + adjetivo (caso de 'carro-forte'): flexionam-se os dois elementos. Sendo assim, o plural de 'cavalo-marinho' é 'cavalos-marinhos', o de 'guarda-noturno' é 'guardas-noturnos', o de 'bóia-fria' é 'bóias-frias', o de 'água-viva' é 'águas-vivas', e assim pordiante. Esse processo está mais do que estabilizado na língua.

O plural de 'carro-forte' se enquadra no caso que acabamos de ver porque 'forte' aí é adjetivo (que se opõe a 'fraco'), embora possa parecer a alguns que seja um substantivo (equivalente a 'fortaleza'). Não é substantivo, não. É adjetivo mesmo. O carro-forte (em tese, ao menos) é forte, muito forte (embora nossos ultra-aparelhados bandidos não dêem amínima para essa 'força'). Que fique claro, pois: o plural de 'carro-forte' é 'carros-fortes' ('Quatro carros-fortes da empresa foram atacados na última semana').

Vamos ver agora os substantivos compostos formados por dois substantivos (caso em que se enquadra 'carro-bomba'). De início, é preciso levar em conta o valor do segundo substantivo em relação ao primeiro. Em 'carro-bomba', o elemento 'bomba' limita o sentido de 'carro', já que indica idéia de finalidade. Esse tipo de veículo não é feito para levar pessoas à escola ou ao trabalho. É feito para fazer tudo subir pelos ares.

Em se tratando desse caso de composto e também dos casos em que o segundo substantivo indica idéia de semelhança (o que ocorre, por exemplo, em 'peixe-boi' e em 'saia-balão'), registra-se, na tradição da língua, o predomínio da opção pela flexão do primeiro elemento: 'carros-bomba', 'homens-bomba', 'mulheres-bomba', 'homens-rã', 'peixes-boi','saias-balão', 'salários-família', 'navios-escola', 'bananas-maçã' etc.

Modernamente, observa-se (e registra-se nos dicionários e gramáticas) também a flexão dos dois elementos: 'carros-bombas', 'homens-bombas', 'mulheres-bombas', 'homens-rãs', 'peixes-bois', 'saias-balões', 'salários-famílias', 'navios-escolas', 'bananas-maçãs' etc.

Há algum tempo, um dos mais importantes vestibulares do país (o da Fuvest) se viu obrigado a alterar o gabarito de uma questão por causa do plural de 'pombo-correio' (em que 'correio' limita o sentido de 'pombo'). De início, a banca considerou correta apenas a forma tradicional ('pombos-correio'), mas, diante das evidências (os diversos registros nos dicionários e gramáticas), aceitou também a forma 'pombos-correios'.

terça-feira, julho 07, 2009

Vaticano anuncia descoberta da imagem mais antiga de São Paulo

A imagem foi descoberta
durante a restauração de
uma catacumba

O Vaticano anunciou a descoberta de um afresco do século 4 que retrata São Paulo e afirmou que se trata da mais antiga imagem que se conhece do santo.

A pintura foi descoberta em Roma durante as obras de restauração de uma catacumba.

O afresco estava debaixo de uma camada de argila endurecida na catacumba de Santa Tecla, em Roma, a poucos metros da Basílica de São Paulo Fora dos Muros – dedicada ao apóstolo que se converteu ao Cristianismo após ter perseguido os cristãos.

A pintura foi descoberto no dia 19 de junho, mas o anúncio foi feito apenas neste final de semana, na edição de domingo do jornal L'Osservatore Romano, órgão oficial da Santa Sé.

Segundo o Vaticano, trata-se da mais antiga imagem conhecida do santo, considerado o “príncipe dos apóstolos”.

A notícia sobre a descoberta do afresco de São Paulo foi anunciada no final do ano dedicado ao santo, encerrado pelo papa Bento 16 no último domingo. O ano paulino celebrou os 2 mil anos do nascimento de São Paulo.

Durante a cerimônia de encerramento, o papa anunciou que os restos guardados na basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma, pertencem de fato ao apóstolo, uma das principais figuras do cristianismo.

Os resultados das análises feitas usando o teste com carbono 14, teriam confirmado que os ossos sepultados na Basílica dedicada ao santo pertenceriam de fato ao apóstolo.

Detalhes

As pinturas foram encontradas num antigo cemitério cristão, no teto de uma pequena parte da catacumba que tinha ficado enterrada durante séculos.

No afresco, o apóstolo aparece com os traços característicos de sua figura, já conhecidos por meio de outras pinturas.

A imagem é rodeada de um círculo vermelho de tonalidade forte, como os afrescos típicos da antiga Pompeia, emoldurado por uma faixa amarela. A pintura retrata um rosto magro e comprido, com barba escura e fina na ponta, cabeça calva, nariz grande e olhos expressivos, com ar pensativo.

A pintura veio à tona após mais de um ano de obras de restauração, coordenadas pela Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra, que definiu a descoberta como ”sensacional”.

Os restauradores afirmam que o tradicional sistema de limpeza mecânico não foi suficiente para retirar as camadas de argila e garantir a conservação dos afrescos, considerados de alta qualidade pelo grupo. Eles tiveram que usar instrumentos de raio laser.

“O arqueólogos que trabalham ali há mais de um ano ficaram impressionados. O laser iluminou o rosto bem reconhecível de São Paulo. Por suas características, pode ser considerado o ícone mais antigo do apóstolo de que se tem notícia”, descreve o jornal do Vaticano.

Segundo os arqueólogos, a pintura representa uma figura que foi escolhida para proteger os mortos da família cujos túmulos estavam localizados na catacumba.

Além de São Paulo, os afrescos retratam outros personagens, entre eles São Pedro, mas em pior estado de conservação.

São Paulo foi decapitado em Roma em torno do ano de 65 depois de Cristo, após o incêndio que destruiu a cidade. Ele é festejado, com São Pedro, no dia 29 de junho.

Funk comemora 40 anos com cinco dias de batidão no Rio

Festa terá oficinas, filmes, fotos, shows e batalhas de DJs.
Evento terá nomes como Gerson King Combo e Sany Pitbull.

Alícia Uchôa
Do G1, no Rio

De batidão em batidão, o funk comemora 40 anos em grande estilo no Rio. Entre esta terça-feira (7) e o próximo sábado (11), sessões de cinema, oficinas de DJs, exposição de fotos, mesas redondas e, claro, muitos shows, prometem marcar a data com a participação de nomes que fizeram e estudaram a fundo a história do ritmo. A festa termina com uma batalha de MPC, com os DJs ‘brincando’ com suas baterias eletrônicas.

As atrações da noite, conta o DJ e idealizador do evento Sany Pitbull, vão contar a cronologia do funk. “Começamos com vídeo contando a história de James Brown, passamos pelo Miami Bass, aí entra MC Batata, de músicas como 'Feira de Acari' e 'Melô do Bêbado', Funk Brasil, depois um set list de Voltmix, que são aquelas batidas eletrônicas, antes do tamborzão, com músicas dos MCs Junior e Leonardo, e Mc Amaro; Na sequência, um vídeo da Furacão 2000, que tem um programa de TV há quase 15 anos e o DJ Tubarão, com o funk tamborzão”, detalha Sany.

Entre as homenagens estão nomes que marcaram essa trajetória como DJ Marlboro e Rômulo Costa. Outros nomes que ficaram de fora, como Tati Quebra-Barraco e Deise Tigrona, diz Sany, não foram esquecidos. “Tivemos problemas de agenda e o Marlboro e o Rômulo achamos que, pela importância no funk, era melhor que fossem homenageados do que entrassem como produtor ou DJ”, explica ele.

Nas caixas de som e nos palcos, desde nomes consagrados nas comunidades nos anos 90, como os Mcs Junior e Leonardo, Buchecha, Bob Run, Duda do Borel, Sabrina, Gorila e Preto e Mr. Catra, até Gerson King Combo, que nos anos 70 misturou o suingue americano com a batida brasileira no que chamou de Brazilian Soul, que acabou na fundação do movimento Black Rio.

"O ritmo foi mudando, mas o nome ficou. Dos que eram estrelas do funk em outras épocas, hoje alguns são taxistas, outros têm comércio informal e tem quem tenha comprado um bar ou padaria com o dinheiro. Hoje dá para se viver exclusivamente de funk", conta Sany, que roda o mundo em nome do ritmo.

segunda-feira, julho 06, 2009

Pequena história do mundo

LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

Estamos ficando para trás, mas os países ricos
também, porque acabaram sendo vítimas da globalização

NESTE ANO, devido à crise global, as taxas de crescimento dos países ricos serão fortemente negativas, as da América Latina serão moderadamente negativas e os países asiáticos continuarão a crescer, ainda que a taxas um pouco menores. Não há novidade nesse fato. Como os países asiáticos contam com nações e elites independentes, que adotam políticas econômicas segundo seus interesses nacionais e não segundo a recomendação dos países ricos, desde o fim da Segunda Guerra crescem muito mais que o Brasil e a América Latina.

Isso fica mais claro se eu contar uma pequena história. No século 16, enquanto os europeus colonizaram as Américas, na Ásia limitaram-se a estabelecer entrepostos comerciais porque as grandes civilizações asiáticas eram suficientemente poderosas para evitar a colonização. A Inglaterra e a França, porém, estavam em pleno processo de desenvolvimento capitalista e completaram sua Revolução Industrial no início do século 19. Assim, tornaram-se fortes o suficiente para, nesse século, reduzir a Índia e a China à situação de colônia formal (caso da Índia) ou informal (caso da China). Nos 150 anos seguintes, esses países, dominados pelo imperialismo, viram suas economias regredir fortemente e uma imensa pobreza dominar todo o continente. Enquanto isso, os países latino-americanos ganhavam independência da Espanha e de Portugal com o auxílio da Inglaterra.

Em agradecimento a essa ajuda desinteressada, nossas elites aceitaram para seus países a condição semicolonial. Entretanto, as nações latino-americanas contavam com um Estado para definir e implantar políticas nacionais, de forma que lograram algum crescimento. Em 1950, enquanto a Ásia apresentava níveis baixíssimos de crescimento, os países da América Latina tinham um razoável nível de renda por habitante, e alguns países, como o Brasil, estavam em plena industrialização.

Mas esse quadro mudaria nos 60 anos seguintes. Nos primeiros 30 anos, países como o Brasil e o México, que haviam alcançado alguma autonomia nacional, ainda lograram adotar políticas nacionais e se desenvolveram. Desde a grande crise da dívida externa dos anos 1980, porém, esses países, e principalmente o México, se dobraram ao Norte, voltaram à condição de países dependentes ou semicoloniais -agora subordinados aos EUA- e se submeteram às políticas neoliberais.

Enquanto isso, os países asiáticos cresciam a taxas aceleradas desde os anos 1950, primeiro com um modelo de substituição de importações, depois com um modelo voltado para as exportações, mas usando sua própria poupança, e, o que é mais importante, sua própria cabeça -sua própria visão do que é o interesse nacional. Em consequência, nestes últimos 30 anos os países asiáticos dinâmicos cresceram a taxas entre três e quatro vezes mais do que a América Latina. Cresceram porque suas elites asiáticas -em vez de "europeias" como as nossas- não se submeteram ao Norte. Cresceram porque adotaram políticas econômicas que neutralizavam as duas tendências que impedem o desenvolvimento econômico dos países em desenvolvimento: a tendência de os salários crescerem menos que a produtividade e a tendência à sobreapreciação da taxa de câmbio.

E assim vamos ficando para trás.

Nosso "consolo" é que os países ricos também estão ficando para trás, porque, como vimos nesta crise, acabaram se tornando vítimas da globalização financeira e das políticas neoliberais que nos recomendavam. Pobre consolo, triste pequena história do mundo.


LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 75, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".

sábado, julho 04, 2009

Novo romance de Philip Roth exibe vigor e inconformismo

"Indignação" trata da paranoia de um pai que tenta moldar a vida do seu filho

TATIANA SALEM LEVY
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em artigo sobre o caso Schreber, Freud afirma que o paranoico é aquele que reconstrói seu mundo subjetivo com o trabalho de seus delírios. "Indignação", de Philip Roth, que sai agora por aqui, é um romance sobre a paranoia de um pai que, com seus medos, molda a vida do filho. Marcus Messner, judeu de Newark, entra para a universidade cerca de dois meses após o início da Guerra da Coreia. Filho de um açougueiro ko-sher, Marcus é "um estudante prudente, responsável, com notas excepcionais". Nada justifica, portanto, o receio do pai de que ele venha a perder as rédeas do próprio destino. Nada senão uma paranoia, a mesma que guiará o livro do início ao fim: "A razão é a vida, onde o menor passo em falso pode ter consequências trágicas". Lá onde não existe nada, o pai inventa um desastre por vir. Se o filho some de casa, não é porque está na biblioteca, mas porque algo de terrível se anuncia. Toda a narrativa se funda no "e se" que, no decorrer do texto, perde seu caráter inesperado e se torna obrigatório. Algo tem de suceder a Marcus, para que se justifique o discurso paranoico do pai; para que, no fim, o açougueiro possa repetir a si mesmo que tinha razão. Todos os acontecimentos da trama -a transferência de universidade; o isolamento de Marcus; o aparecimento da "doidinha" Olivia Hutton- se desenrolam para ratificar o medo. Os delírios do pai vão se tornando, aos poucos, a própria história de Marcus. De início, o mundo contraria a sua crença de que algo dará errado. No entanto, ele alimenta a tal ponto suas certezas que o discurso vai se tornando realidade.

Ameaça da solidão

Narrado em primeira pessoa pelo protagonista, o romance de Roth descreve de forma magistral um ambiente que requer uma existência social marcada: o isolamento é visto como ameaça, e a vida do indivíduo deve ser partilhada com os demais. A solidão e o segredo precisam ser banidos da sociedade. Todos invadem a vida de Marcus de tal modo que provocam no estudante uma indignação crescente, a mesma do hino nacional chinês, que ele repete em silêncio cada vez que vê o absurdo se dispor à sua frente. Ao narrar para Olivia seu dia-a-dia no açougue, quando trabalhava ao lado do pai, Marcus descreve o que fazia com a galinha: "Abre o cu com um corte, enfia a mão bem fundo, agarra as vísceras e puxa para fora. Nauseabundo e repugnante, mas tinha de ser feito". O mesmo parece ocorrer com ele: as instituições o cortam para lhe tirar as vísceras. Aviltante, mas tem de ser feito. É esse processo que termina levando Marcus ao passo em falso que conduz "a resultados tão desproporcionais", anunciados a conta-gotas ao longo da narrativa. O desastre chega, descaracterizado de sua casualidade, reforçado pelo delírio da linguagem. A paranoia do pai se reflete na paranoia da literatura, aquela que cria um mundo para si e dá a ele seus sentidos. "Indignação" confirma o vigor de Roth, que, como Marcus, é judeu de Newark. Apesar das acusações de que sua prosa é "demasiadamente americana", restrita às suas experiências e ao seu meio, Roth mostra mais uma vez que o pessoal, na arte, atravessa fronteiras. A indignação de Marcus é, sim, a de seu criador, mas também a daqueles que não se conformam com a sociedade em que vivem.

Mapa da galáxia esfria tese de cético do clima

Teoria de que mudança global se deve a raios cósmicos está errada, diz astrônomo

Hipótese foi proposta por físico dinamarquês, para quem o passeio do Sol pela Via Láctea determina ciclos de aquecimento da Terra

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das principais teorias alternativas de explicação do aquecimento global -daquelas que isentam de culpa a queima de combustíveis fósseis- acaba de receber um duro golpe. A hipótese de que a crise do clima se deve a uma mudança na incidência de raios cósmicos na Terra está errada, afirma agora um trio de astrônomos liderado por Adrian Melott, da Universidade do Kansas (EUA).

O estudo que pode vir a dar um fim à hipótese alternativa do aquecimento de origem espacial, sugerida pelo físico dinamarquês Henrik Svensmark, ainda não foi publicado em nenhuma revista científica. Portanto, não foi avaliado por nenhum grupo independente.

A versão inicial do trabalho, porém, já está sendo comentada em publicações de entidades como o IOP (Instituto de Física, do Reino Unido) e o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). O estudo está, por enquanto, apenas no site arxiv.org, um banco de dados de trabalhos pré-publicação.

Apesar de controversa entre climatólogos, a teoria de Svensmark ganhou algum espaço nos últimos anos, adotada por grupos contrários ao corte de gases do efeito estufa. Se aquilo que causa o atual aquecimento da Terra for uma queda na incidência de raios cósmicos, não haverá motivo para parar de queimar derivados de petróleo.

Raios refrescantes

O que Svensmark defende, basicamente, é que raios cósmicos ajudam a formar as nuvens de altitude baixa, que têm efeito resfriador sobre a Terra. O que está acontecendo agora, segundo o físico dinamarquês, é que o movimento natural do Sol na galáxia está levando a Terra para fora de uma região de alta concentração de estrelas. Com menos estrelas para explodir e produzir raios cósmicos no entorno do Sistema Solar, menos nuvens se formam na Terra, e o planeta esquenta.

Segundo o autor da teoria, isso serve para explicar por que a Terra aquece e resfria a temperaturas extremas ao longo de sua história, a cada 140 milhões de anos, em média. Isso seria resultado de o Sol entrar e sair periodicamente dos braços da galáxia, regiões com maior concentração de estrelas.

O problema com a teoria de Svensmark, diz o trio de físicos americanos, é que os braços da Via Láctea não estão dispostos de forma regular. O ciclo de temperatura de 140 milhões de anos, portanto, não pode ser explicado pela teoria de Svensmark. A descoberta foi possível com o uso de dados novos do telescópio espacial Spitzer, que fez um mapeamento da galáxia com precisão sem precedentes.

Assimetria escancarada

"A gritante assimetria dos braços espirais na imagem atual da galáxia é difícil de refutar", disse à Folha Andrew Overholt, físico que assina o estudo com Mellot. Segundo ele, sua análise considera quase todos os braços da Via Láctea, inclusive os do lado oposto ao que está o Sol. "O modelo anterior usado para desenvolver o ciclo de 140 milhões de anos considera apenas dois braços."

Svensmark, em resposta, diz que o trabalho dos americanos está errado, e tenta enquadrar o jornalista. "É importante notar que o estudo do grupo de Mellot não está publicado, e o ideal seria que ele não fosse debatido na imprensa", diz o cientista dinamarquês.

Em mensagem enviada à Folha, ele afirma que os americanos cometeram erros de estimativa ao analisar a velocidade de rotação da galáxia e de seus braços. Uma correção, segundo o dinamarquês, compensaria a assimetria da Via Láctea de forma que seus dados poderiam ser encaixados novamente.

"A análise de Mellot não é consistente com os dados do Spitzer", afirma Svensmark, que aponta ainda outros problemas técnicos no trabalho.

O debate, pelo visto, só vai ser resolvido após o estudo do trio americano ser analisado por revisores independentes em uma revista científica. "O trabalho foi submetido recentemente para publicação e já está sendo avaliado", diz Overholt.

Por enquanto, a teoria de consenso para o aquecimento global continua sendo a do agravamento do efeito estufa, e os ciclos de temperatura de 140 milhões de anos são mais bem explicados por anomalias na movimentação do planeta.

TARJA PRETA

"Os Simpsons": censurados
Foto: Reprodução

O seriado "Os Simpsons" foi censurado no Equador. Segundo o governo local, o programa "envia mensagens que provocam a violência e a discriminação racial e sexual". Uma investigação sobre o assunto já está em andamento, e antes que se chegue a uma conclusão, Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie não irão mais aparecer na telinha de lá entre 6 e 9 horas.

quinta-feira, julho 02, 2009

Comentarista da Band xinga goleiro do Corinthians

Aloisio Milani

O ex-árbitro de futebol e comentarista da Rede Bandeirantes Oscar Roberto Godói xingou o goleiro Felipe, do Corinthians, durante a transmissão do jogo da final da Copa do Brasil. Aos 49 minutos do segundo tempo, com jogo empatado em 2 a 2, o goleiro Felipe caiu e aparentemente tentava gastar o tempo. Godói então falou: "Vai ficar no chão o filho da p...!".

O xingamento aconteceu depois da confusão entre os jogadores do Corinthians e do Internacional e que resultou na expulsão de D'Alessandro. O árbito concedeu seis minutos de acréscimo por descontar o tempo de paralisação. E, já no tempo adicional, quando o Corinthians tentava tocar bola para segurar o empate, Godói acabou xingando o goleiro corintiano.

O comentário foi feito ao lado do apresentador Luciano do Valle e do comentarista Neto. Coincidência ou não, Godói pouco falou até o final da transmissão da Band sobre o campeonato do Corinthians e a comemoração dos jogadores. Nem Godói, nem os apresentadores comentaram o assunto depois ao vivo.

quarta-feira, julho 01, 2009

A REVELAÇÃO

Numa ida recente a São Paulo encontrei Deus.

É um sujeito fechadão.

Conferência sobre Manuel Bandeira abre a Flip 2009

Davi Arrigucci Jr analisou fases da carreira do poeta. Festa Literária de Paraty começou nesta quarta (1º) e vai até domingo.

Shin Oliva Suzuki
Do G1, em Paraty

A Festa Literária Internacional de Paraty seguiu o costume e abriu a edição 2009, na noite desta quarta-feira (1º), com uma conferência sobre o homenageado da vez. O poeta Manuel Bandeira, um dos porta-estandartes do modernismo brasileiro, teve momentos de sua obra analisados pelo crítico Davi Arrigucci Jr.

Autor de importantes ensaios sobre a poética bandeirista, Arrigucci centrou sua palestra na fase em que Bandeira está no Rio de Janeiro, na década de 20, pobre e doente, e passa a incorporar em seu trabalho a observação do cotidiano humilde carioca.

O Bandeira doente de tuberculose, doença com a qual convive por boa parte de sua vida, é refletido na sua trajetória poética, em que tenta se desgarrar dos ecos do romantismo e a ideia da morte precoce que permeia o estilo, segundo o crítico. O poeta nascido no Recife (1886-1968) se volta, assim, ao que vê de sua morada na rua do Curvello, na capital fluminense.

"Bandeira vê que é preciso transmitir o sublime por uma linguagem baixa. Falar com humildade de coisas complexas", disse Arrigucci na apresentação na Tenda dos Autores.

O ensaísta, ex-professor de literatura comparada da USP e autor de "Paixão e Morte: a poesia de Manuel Bandeira", ainda analisou particularmente dois poemas, “Momento um café” e “Poema só para Jayme Ovalle”, em que Arrigucci observa a dialética entre o dentro e o fora, o que é vivido dentro do quarto por Bandeira e no exterior.