sexta-feira, julho 29, 2011

Pecador

De Olavo Bilac

Este é o altivo pecador sereno,
Que os soluços afoga na garganta,
E, calmamente, o copo de veneno
Aos lábios frios sem tremer levanta.

Tonto, no escuro pantanal terreno
Rolou. E, ao cabo de torpeza tanta,
Nem assim, miserável e pequeno,
Com tão grandes remorsos se quebranta.

Fecha a vergonha e as lágrimas consigo...
E, o coração mordendo impenitente,
E, o coração rasgando castigado,

Aceita a enormidade do castigo,
Com a mesma face com que antigamente
Aceitava a delícia do pecado.

quarta-feira, julho 27, 2011

"Chaves": Carlos Villagrán, o Quico, chama Roberto Bolanos de trapaceiro

Da Redação

Polêmica envolvendo atores do consagrado seriado mexicano "Chaves".

Carlos Villagrán, intérprete de Quico, resolveu atacar mais uma vez Roberto Gomez Bolaños, criador e protagonista da série.

Em entrevista ao site mexicano LaBotana.com, Villagrán chamou seu ex-colega de trapaceiro. “Ele não paga impostos sobre os royalties que cobra”, acusou.

O humorista também fez um questionamento: “Por que fizeram uma homenagem somente a ele, quando todos nós triunfamos?”, e afirmou que o personagem que mais gera dinheiro a Bolaños é o Quico. “E eu não recebo nem cinco centavos. Tudo quem leva é o Roberto, que é multimilionário. Tudo que ele faz, ele se registra como escritor, mas já está pagando, porque está trocando dinheiro por saúde”, atacou.

Na entrevista, Carlos Villagrán também não poupou Florinda Meza, atriz que viveu Dona Florinda no seriado, com quem já teve um romance. Porém, há anos, ela é casada com Roberto Bolaños.

“Ela gosta de se fazer de vítima”, alfinetou. “Ela usa relógios de plástico nas entrevistas, quando tem casas em todos os lugares”, revelou.

domingo, julho 24, 2011

O URUGUAI SALVOU A COPA AMÉRICA

Outro dia, me envolvi em uma dessas discussões infrutíferas a respeito de futebol.
Questionei o desempenho da Seleção contra o Paraguai, pelas quartas de final da Copa América.
Jamais aceitarei um time dominar o outro durante 90 minutos sem traduzir essa superioridade em gols.
Hoje, vi o Uruguai soberano na final da Copa América - venceu os paraguaios por 3 x 0 com uma atuação soberba. Capitaneada pelo ótimo Forlán. Título merecido, justo e abotoado.
Futebol tem lá momentos em que o famoso "Sobrenatural de Almeida" dá o ar da graça. Às vezes, um atacante acerta um chute despretensioso, e um goleiro considerado bom o aceita e fica com as luvas cheias de penas de frango.
Mas na verdade o glorioso esporte bretão é uma ciência exata. Vence quem coloca a bola na rede, perde quem desperdiça as oportunidades.
Não adianta nada ser o melhor se esse bom desempenho não se premia com pelo menos o famoso "meio a zero".
Quem é boleiro sabe que o gol é o grande momento do futebol. Os Paraguaios, com tantos empates, não merecia o título.
O Uruguai, o melhor time da América do Sul desde o ano passado, salvou a Copa América com um futebol que aqui no Brasil os "manos" da vida deviam pelo menos tentar copiar.

sábado, julho 23, 2011

Brasileiros ganham 'Oscar dos quadrinhos' por "Daytripper" e "Vampiro Americano"

23/07/2011 - 03h41 / Atualizada 23/07/2011 - 06h38

Da enviada especial a San Diego (EUA)

Os irmãos Gabriel Bá e Fábio Moon levaram seu quarto Eisner Awards pela HQ "Daytripper", escolhida na noite desta sexta-feira (22) em San Diego, em cerimônia na Comic-Con, a melhor minissérie. Minutos após receber o prêmio, Gabriel agradeceu pelo Twitter, postando a foto do troféu. Outro brasileiro ganhou o Eisner 2011, o gaúcho Rafael Albuquerque, premiado pelos desenhos da HQ "Vampiro Americano", eleita a melhor série nova.

Nos EUA, "Daytripper" saiu pelo selo Vertigo, da DC, e no Brasil sai no início de setembro, conta Gabriel. A trama é sobre um escri­tor de obi­tuá­rios em crise com a pro­fis­são. A HQficou em primeiro lugar na lista de quadrinhos mais vendidos do jornal "The New York Times" em março.

Na última terça-feira, Gabriel disse ao UOL que "concorrer ao Eisner é sempre muito emocionante, é como uma prova de que as pessoas realmente leram a sua HQ e que você fez um trabalho bem feito". "Estamos muito felizes com o 'Daytripper' e toda a repercussão que ele vem tendo. Esta indicação ao Eisner chama bastante atenção pro trabalho e esperamos que isso atraia novos leitores, principalmente no Brasil, quando for lançada a edição nacional."

Os irmãos já ganharam, separadamente, três Eisner Awards, todos em 2008 -- pela revista "5", antologia que fizeram junto a outros desenhistas, entre eles o brasileiro Rafael Grampá; pela HQ "Umbrella Academy", de Gerard Way e Gabriel Bá; e por "Sugarshock!", melhor HQ digital, de Fábio Moon. Os quadrinistas são colaboradores do jornal Folha de S. Paulo e mantêm o blog "10 Pãezinhos" no UOL.

"Daytripper" ganhou ainda outro prêmio, com o colorista Dave Stewart premiado por seu trabalho em diversos projetos, entre eles a HQ dos brasileiros.

Já Rafael Albuquerque ganha seu primeiro Eisner. A série "Vampiro Americano" tem roteiros de Scott Snyder e Stephen King e é lançada no Brasil pela editora Panini.

Veja abaixo a lista completa de vencedores.

Melhor HQ curta
"Post Mortem," de Greg Rucka e Michael Lark, em "I Am an Avenger #2"(Marvel)

Melhor edição (ou especial)
"Hellboy: Double Feature of Evil", de Mike Mignola e Richard Corben (Dark Horse)

Melhor série
"Chew", de John Layman e Rob Guillory (Image)

Melhor minissérie
"Daytripper", de Fábio Moon e Gabriel Bá (Vertigo/DC)

Melhor série nova
"American Vampire", de Scott Snyder, Stephen King e Rafael Albuquerque (Vertigo/DC)

Melhor publicação infantil
"Tiny Titans", de Art Baltazar e Franco (DC)

Melhor publicação juvenil
"Smile", de Raina Telgemeier (Scholastic Graphix)

Melhor publicação de humor
"I Thought You Would Be Funnier", de Shannon Wheeler (BOOM!)

Melhor antologia
"Mouse Guard: Legends of the Guard", editada por Paul Morrissey e David Petersen (Archaia)

Melhor HQ digital
"Abominable Charles Christopher", de Karl Kerschl, www.abominable.cc

Melhor obra baseada em fatos reais
"It Was the War of the Trenches", de Jacques Tardi (Fantagraphics)

Melhor álbum gráfico - inédito
"Return of the Dapper Men", de Jim McCann e Janet Lee (Archaia)
"Wilson", de Daniel Clowes (Drawn & Quarterly)

Melhor álbum gráfico - republicação
"Wednesday Comics", editada por Mark Chiarello (DC)

Melhor adaptação
"The Marvelous Land of Oz", de L. Frank Baum, adaptada por Eric Shanower e Skottie Young (Marvel)

Melhor projeto/coleção arquivo - tiras
"Archie: The Complete Daily Newspaper Strips, 1946–1948", de Bob Montana, editada por Greg Goldstein (IDW)

Melhor projeto/coleção arquivo - HQs
"Dave Stevens' The Rocketeer Artist's Edition", editada por Scott Dunbier (IDW)

Melhor edição norte-americana de HQ estrangeira
"It Was the War of the Trenches", Jacques Tardi (Fantagraphics)

Melhor edição norte-americana de HQ estrangeira - Ásia
"Naoki Urasawa's 20th Century Boys", Naoki Urasawa (VIZ Media)

Melhor escritor
Joe Hill, "Lock & Key" (IDW)

Melhor escritor/ilustrador
Darwyn Cooke, "Richard Stark's Parker: The Outfit" (IDW)

Melhor desenhista/arte-finalista ou dupla desenhista/arte-finalista
Skottie Young, "The Marvelous Land of Oz" (Marvel)

Melhor pintor ou artista multimídia (arte interna)
Juanjo Guarnido, "Blacksad" (Dark Horse)

Melhor artista de capa
Mike Mignola, "Hellboy", "Baltimore: The Plague Ships" (Dark Horse)

Melhor colorista
Dave Stewart, "Hellboy", "BPRD", "Baltimore", "Let Me In" (Dark Horse); "Detective Comics" (DC); "Neil Young's Greendale", "Daytripper", "Joe the Barbarian" (Vertigo/DC)

Melhor letrista
Todd Klein, "Fables", "The Unwritten", "Joe the Barbarian", "iZombie" (Vertigo/DC); "Tom Strong and the Robots of Doom" (WildStorm/DC); "SHIELD" (Marvel); "Driver for the Dead" (Radical)

Melhor material jornalístico relacionado a quadrinhos
"ComicBookResources", produced by Jonah Weiland - www.comicbookresources.com

Melhor livro relacionado a quadrinhos
"75 Years of DC Comics: The Art of Modern Mythmaking", by Paul Levitz (TASCHEN)

Melhor publicação de design
"Dave Stevens' The Rocketeer Artist's Edition", designed by Randall Dahlk (IDW)

(Reportagem de Adriana Terra)

sexta-feira, julho 22, 2011

JANOTA NA OUVIDOR

(ALUÍSIO AZEVEDO)


Hipérbole fatal de nossos dias,

Arremedo de um quê, que não é nada

Bagatela do tom, moço pomada

Eterno prosa das confeitarias;


Ceando na Raveaux comifas frias;

Vestindo ao Raunier roupa fiada;

Pince-nez de uma cor sempre azulada;

Entre dentes charutos - Regalias;


Francês notado em trato e pedantismo,

E secas em francês sempre que amola;

Não é um homem, não, é um galicismo.


Eis o tipo fiel d'alta bitola!

Que se sustenta com o mior cinismo

Da Rua do Ouvidor - leão Pachola.


Poema de Aluísio Azevedo, de 15 de janeiro de 1817, publicado pela revista da Academia Brasileira de Letras em 1931.

quinta-feira, julho 21, 2011

Charge publicada em jornal de Murdoch causa polêmica no Twitter

21/07/2011 - 17h01

Em São Paulo

Nesta quinta-feira, o jornal britânico “The Times of London”, que pertence ao conglomerado de mídia do magnata Rupert Murdoch, publicou uma polêmica charge que causou alvoroço no Twitter, onde foi reproduzida por Katharine Viner, editora do “The Guardian”. As informações são do blog This Just In, da CNN.

O desenho, intitulado “Prioridades”, retrata crianças somalis desnutridas, e uma delas diz: “I’ve had a bellyful of phone-hacking” (em tradução livre, “estou com a barriga cheia de escutas telefônicas”). Há alusão a dois acontecimentos atuais -- de um lado, o escândalo deflagrado no jornal “News of the World”, de Murdoch, cujos funcionários usavam grampos ilegais para obter informações em primeira mão sobre celebridades, políticos, etc., e, de outro, a maior seca das últimas cinco décadas na região do Chifre da África, que deixou milhares de crianças desnutridas.

Fato é que os meios de comunicação do mundo inteiro têm dado grande destaque à crise no império do magnata em detrimento de outros acontecimentos tão importantes quanto, mas, após Katharine Viner reproduzir a charge no microblog e pedir a opinião dos usuários, alguns mencionaram uma tentativa de fazer com que os leitores desviem a atenção do escândalo, que atinge até David Cameron, premiê britânico.

“Alguém mais acha que esta charge faz parte de uma estratégia da Edelman?”, opinou Emma Gilbey Keller, que é casada com Bill Keller, editor do “The New York Times”. Ela faz referência à empresa de relações públicas contratada por Murdoch para reparar os danos à imagem causados pelo escândalo dos grampos ilegais.

Já o escritor Alex Alvarez chamou o desenho de “potencialmente ofensivo”. “Existem vários meios para lidar com um escândalo dessa dimensão, alguns menos aconselháveis que outros. Divulgar um pedido de desculpas público pelos erros e maus julgamentos? É uma boa ideia. Dialogar com os indivíduos responsáveis? Geralmente funciona”, escreveu. “Publicar uma charge ofensiva e de mau gosto fazendo alusão a sérias alegações e à pobreza extrema? Isso quase nunca funciona.”

Ele concorda, no entanto, que é preciso dar mais atenção à crise na Somália e na região do Chifre da África. “Talvez o ‘The Times of London’ possa mudar o rumo e fazer doações às associações encarregadas de cuidar das crianças desnutridas, ou publicar reportagens sobre a pobreza em vez de oferecer editoriais sem tato que só contribuem para uma reflexão pobre.”

Andar e mascar chiclete ao mesmo tempo

Anna Holmes, fundadora do blog jezebel.com, voltado ao público feminino, acredita que a fome no Chifre da África não tem tido o devido destaque e, nesse sentido, concorda com a charge. “A mídia pode andar e mascar chiclete ao mesmo tempo. Ela pode falar sobre grampos e fome.”

O crítico da mídia Jeff Jarvis, professor de Jornalismo e criador do blog BuzzMachine, tuitou simplesmente: “ai, Deus. As tropas de Murdoch não têm limites”.

*Com informações do This Just In



segunda-feira, julho 18, 2011

OS DEGRAUS DA FAMA

Assim como o fundo do poço às vezes tem porões, a fama apresenta seus degraus. Diferentes níveis entre indivíduos com algum destaque na mídia.
A propósito de que venho eu com esta análise? Bom, é que outro dia li na “Revista da TV” a palavra “subcelebridades” relacionadas a duas das espetaculosas panicats – Juliana Salimeni e Nicole Bahls -, que recentemente se estranharam no Twitter e por isso foram afastadas temporariamente do “Pânico”.
Nunca assisti a esse programa. Pelo que sei dele, usa e abusa do besteirol para fazer graça e amealhar os preciosos índices de audiência. Mas não como negar uma estratégia do caramba adotada pelos seus criadores: colocar no palco mulheres belíssimas, muito gostosas e, mais importante, seminuas. A ideia deve ter sido esta: fazer as teúdas e manteúdas rebolarem à vontade para atenuar os efeitos das bobagens despejadas no juízo do telespectador.
Pois essas benditas “panicats” acabam de ser rebaixadas a subcelebridades. Ou seja, são famosas, mas nem tanto. Podem ser classificadas (até pela questão do corpaço que apresentam) como “fenômenos”. Nesse caso, não como deixar de lembrar do pintor norte-americano Andy Warhol, um dos primeiros artistas que trabalharam com produtos de larga aceitação popular, como, por exemplo, garrafas de Coca-Cola.
Disse Warhol: “Um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama”. Ainda que ninguém precise de uma bola de cristal para prever o óbvio ululante, essa profecia começou a se confirmar com maior contundência quando apareceu na televisão o primeiro reality show. Ou seja, os 15 minutos iniciais de Andy extrapolaram para o tempo de duração de um Big Brother.
Uma crítica comum feita a essas pessoas que tem uma noção por vezes equivocada de sua própria importância na seara midiática é que elas não primam pela inteligência. Nem pelos dons artísticos que porventura possam apresentar. Não posso concordar com ela. Uma Vênus platinada que posa para a “Playboy” ou a “Sexy” não se limita apenas a seios e bumbuns siliconados ou a um abdômen sarado. Pode ser que não tenha capacidade de escrever contos, peças, crônicas, romances e novelas. Mas pode muito bem se mostrar brilhante em alguma área do conhecimento.
Também não posso concordar com reflexões segundo as quais a explosão desses fenômenos se deve a uma “queda de valores da sociedade atual”. Até porque todos os grupos sociais minimamente bem-informados ou capazes de formar opinião ao longo da história observaram criaturas que buscaram a glória instantânea e na sequência estilosa desapareceram ou então procuraram modificar seu ramo de atuação para permanecer em evidência por mais 15 minutos.
Agora, o problema dessas subcelebridades é que a maioria não consegue se manter depois da atração de que fizeram parte. Quem sabe o que faz hoje em dia um desses “brothers” eliminado logo na fase inicial do programa? Em boa parte dos casos, só vamos ter notícias desses indivíduos infelizmente quando aparece no telejornal a notícia de que faleceram – como no caso do André Caubói, assassinado com um tiro na nuca no interior de São Paulo.
Ou como diram os Titãs: “Quinze minutos de fama/ Mais um pros comerciais/ Quinze minutos de fama/ Depois descanse em paz”.

segunda-feira, julho 11, 2011

Exame de DNA de herdeiros do Clarín com vítimas da ditadura dá negativo

Em Buenos Aires

O exame de DNA dos filhos adotivos da dona do jornal "Clarín", o mais poderoso grupo multimídia da Argentina, com o de duas famílias de desaparecidos durante o regime militar da Argentina (1976-1983) deu negativo.

Segundo informou o "Clarín", as mostras de DNA de Marcela e Felipe Herrera de Noble foram contrastadas nesta segunda-feira com os perfis genéticos das famílias Lanoscou-Miranda e Gualdero-García, sem resultados positivos.

Estas famílias entraram com uma causa judicial para determinar se os Herrera de Noble são filhos de desaparecidos durante a ditadura.

O exame prosseguirá agora com as mostras de DNA de outros familiares de desaparecidos conservadas no Banco Nacional de Dados Genéticos da Argentina, revelaram fontes judiciais citadas pela agência oficial "Télam".

Marcela e Felipe, filhos de Ernestina Herrera de Noble, se apresentaram voluntariamente em 24 de junho no hospital Durand de Buenos Aires, para fazer exame de sangue, depois de terem se negado há anos. Em 2010, a juíza do caso, Sandra Arroyo Salgado, ordenou a extração de mostras genéticas.

As Avós da Praça de Maio afirmam que há suspeitas de que ambos os jovens, que não têm laços de sangue entre si, podem ser filhos de desaparecidos cujos perfis genéticos foram apresentados por familiares que procuram por crianças apropriadas ilegalmente durante a ditadura (1976-1983).

Calcula-se que cerca de 500 bebês foram roubados de seus pais no última regime militar na Argentina, que causou o desaparecimento de 30 mil pessoas, embora mais de 100 menores já tenham conseguido recuperar sua identidade graças às Avós da Praça de Maio.

terça-feira, julho 05, 2011

Dissecando Crimes e Pecados

A obra de Woody Allen se apresenta como um grande viés de reflexão acerca da moralidade e da Religião, na possibilidade de usar o cinema para discutir profundas questões filosóficas

Uma das abordagens filosóficas mais comuns ao cinema é a didática. O filme (ou um pedaço dele) como meio para se ilustrar teses filosóficas estabelecidas. Embora se trate de abordagem interessante, tem valor crítico reduzido. Esse foi o caso dos livros Philosophy through film, de Mary M. Litch, e Philosophy goes to the movies, de Christopher Falzon, ambos professores de Filosofia, que, cinéfilos, enxergaram no meio uma arma para atingir seu fim - ensinar a disciplina Filosofia.

Litch1 propõe um exercício interessante. Submeter as ações de alguns dos personagens (particularmente Judah) ao crivo das teorias morais (Litch acredita ser Crimes e pecados rico em todas elas). Propõe a seguinte questão: se fizéssemos um consequencialista e um não consequencialista assistirem ao filme, como eles julgariam a ação de Judah, por exemplo? Litch acredita que ambos o condenariam. Um consequencialista utilitarista calcularia que a morte de Dolores traria mais mal do que bem, inferindo que sua família e seus amigos ficariam muito tristes e a própria Dolores sofreria. O não consequencialista kantiano lembraria que Dolores não pode servir de meio para um fim e que o que Judah fez não pode ser universalizável. Mais adiante, Litch admite que o filme não oferece elementos para um utilitarista raciocinar condenando, mas todos os elementos em contrário, o que coloca um dilema nos corações do espectador: ele sente que o que Judah fez foi moralmente errado, mas vê que deu tudo certo no final, pessoas estão felizes como consequência do ato, o que é absolutamente certo. De fato há um sentimento moral paradoxal quanto ao ato de Judah provocado no espectador, o que, acredito, trata-se de uma das intenções de Woody Allen.

Litch lembra ainda da posição deística de Sal, o pai de Judah, e o niilismo de tia May (que Litch considera mais uma relativista cultural moral). Uma das frases de tia May ("Might makes right") é lembrada por Litch por ser a base da teoria moral apresentada por Trasímaco na República de Platão (Litch não menciona o anel de Giges).

Por fim, Litch aponta a diferença básica entre Raskolnikov e Judah. O primeiro é consumido pela culpa até se entregar e se "redimir ante Deus". O segundo é consumido pela culpa inicialmente, mas à medida que o tempo passa, e ele não só não é pego, mas o que é pego em seu lugar é um assassino já condenado por vários crimes, acaba sendo capaz de racionalizar a culpa até o ponto de se ver livre dela.

Teorias compartilhadas

Christopher Falzon2 também se vale de Crimes e pecados, juntamente com outros filmes (Laranja mecânica, de Kubrick, O sétimo selo, de Bergman, Rashomon, de Kurosawa, entre vários outros) para discutir diferentes teorias morais. Como seu objetivo é passear por todas, fazendo ainda correlações não só entre elas, mas entre os diferentes filmes citados, Falzon se perde um pouco. Mas duas de suas observações nos são particularmente úteis. A menção ao anel de Giges (da República, de Platão) e ao existencialismo. Essas são, de fato, duas referências filosóficas obrigatórias em Crimes e pecados. Voltaremos a elas oportunamente.

segunda-feira, julho 04, 2011

A MORTE REDIME

É sempre interessante ver como a mídia trata o falecimento dos homens de vida pública.
Lembro de quando morreu Leonel Brizola. A respeito dele, comentou o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

"O Brasil perdeu uma importante referência que marcou a história de meio século. Todo mundo sabe que, ainda nos momentos de divergência, sempre nutri um profundo respeito e admiração pela história política de Brizola."

E Brizola foi um dos políticos mais truculentos de que se tve notícia na política deste país.
Agora, temos Itamar Franco. Não foi dos piores. Teve o mérito de pelo menos tentar colocar o país nos eixos enquanto ainda se recuperava do caos propiciado pela descoberta das falcatruas cometidas por Paulo César Farias e o impeachment de Collor.

Ora, pitombas: o homem ainda esboçou a ressurreição do nosso velho e querido Fusca!
Mas também um dia cercou a sede do Executivo estadual mineiro com blindados da Polícia Militar apenas porque se considerava alvo de "perseguições".

E devemos lembrar o "episódio Lilian Ramos", a "periguete" que dançou ao lado do presidente Itamar na Marquês de Sapucaí vestindo apenas uma camisa. Para quem não sabe da missa a metade, a danada estava sem calcinha! E já havia sido uma obscura capa da Playboy em mil novecentes e não interessa. E desapareceu depois de ter colhido as benesses desses 15 minutos fama. Dela, não se tem notícia. Itamar terá seu nome registrado nos livros de história como um "grande estadista".

Porque a morte tem esse dom de resgatar os maiores personagens da história republicana de suas iras e imperfeições.

"As novelas têm repetido suas fórmulas com elenco diferente", diz Regina Duarte sobre a teledramaturgia atual

04/07/2011 - 07h00

CARLA NEVES
Do UOL, no Rio

Na TV há 46 anos, Regina Duarte, de 64, sabe que não é fácil fazer novela de sucesso. Em entrevista ao portal UOL, a atriz – que está no ar na reprise da novela “Vale Tudo”, do canal Viva, e poderá ser vista, em breve, em “Roque Santeiro”, também do canal Viva, e “O Astro”, da Globo – diz que a teledramaturgia sofreu um desgaste natural, mas, apesar disso, ainda defende o gênero. “De vez em quando vem um ‘Cordel Encantado’, uma ‘A Favorita’, mas em geral as novelas têm repetido suas fórmulas com elenco diferente”, afirma.

Para ela, faz parte do processo de evolução da teledramaturgia patinar de vez em quando e, de repente, ter um avanço criativo extraordinário. “Não dá para querer estar sempre fazendo sucesso. Nunca foi assim. Quantas novelas foram feitas e que nunca vão virar remake? É humano acertar e errar, é o que a gente faz o tempo todo”, argumenta ela, confessando, contudo, que tem se surpreendido com a audiência de “Vale Tudo”. “A repercussão é enorme. É como se eu estivesse no ar na novela das nove”, afirma, aos risos.

Em “O Astro”, que estreia dia 12 de julho, Regina vai dar vida à fútil e fofoqueira Clô Hayalla, papel que coube à atriz Tereza Rachel no folhetim homônimo exibido em 1977 na emissora. Para encarnar a perua, ela revela que perdeu três quilos e meio. “Quis emagrecer porque a Clô é uma mulher elegante. E o rosto mais fino fotografa melhor”, justifica.

Na história, adaptada da obra de Janete Clair, Clô é casada com o poderoso Salomão Hayalla (Daniel Filho), que só pensa em trabalho e não liga a mínima para ela. Além de ter de lidar com a indiferença do marido, a dondoca ainda tem problemas com o único filho, Márcio (Thiago Fragoso), que apesar de milionário, é completamente desapegado de seus bens materiais.

Para fugir dessa realidade, a personagem começa a ter um caso com o jovem e ambicioso Felipe Cerqueira (Henri Castelli). “Ela trai porque quer se vingar do abandono em que se encontra em função do descaso e da agressividade, dos maus-tratos do marido”, adianta Regina, acrescentando que, ao contrário de Clô, não se interessaria por um homem muito mais novo do que ela. “Não faz a minha cabeça. Já fui casada com uma pessoa dez anos mais nova que eu, mas sempre me senti mais nova que ele”, conta, às gargalhadas. Leia, a seguir, a entrevista completa com Regina Duarte:

UOL – Como você definiria a sua atual fase na TV?
Regina Duarte –
É um momento glorioso. Tem “Vale Tudo”, agora vem “Roque Santeiro” [a reprise da novela estreia dia 18 de julho, no canal Viva], “O Astro"...

UOL – Você assiste à reprise de “Vale Tudo” no canal Viva?
Regina Duarte –
Eu assisto 60% dos capítulos e a repercussão é enorme. É como se se eu estivesse no ar na novela das nove [risos]. As pessoas me reconhecem demais. Antes de “Vale Tudo”, dificilmente me reconheciam sem maquiagem, sem estar montada. Mas agora, me reconhecem de qualquer jeito. Me param, sinto um carinho enorme, é uma repercussão fantástica.

UOL – Em “O Astro”, você vai interpretar Clô Hayalla, personagem que teve bastante destaque quando foi interpretado por Tereza Rachel, em 1977. Como está sendo reviver um papel tão marcante?
Regina Duarte –
Eu me sinto agradecida à TV Globo por me proporcionar mais essa grandiosa experiência como atriz.

UOL – Você assistiu à novela em 1977?
Regina Duarte –
Não. Na época, eu estava viajando o norte e o nordeste com o espetáculo “O Santo Inquérito”, do Dias Gomes. A gente se apresentava no horário da novela e não havia o recurso da internet, para rever os capítulos. Vi muito pouco e não me lembro, foi um momento bastante turbulento da minha vida. Viajar com uma peça é extremamente tumultuado. Foi um ano difícil. Tem um lado bom porque estou com a minha intuição e muita liberdade, sem referência nenhuma. Por outro lado, admiro demais a Teresa Rachel. E sei que foi uma interpretação magistral.

UOL – Na história, a Clô é uma mulher que não se sente amada pelo marido e acaba se envolvendo com o Felipe [Henri Castelli], rapaz anos mais novo que ela. Como será essa relação?
Regina Duarte –
Até onde eu sei, a Clô não se apaixona por esse garoto. Ela está carente e com raiva do marido. Ela faz isso como uma vingança – muitas mulheres fazem isso quando se sentem incompreendidas pelos maridos. O caso da Clô é um pouco por aí. As intenções dele [Felipe] são econômicas, mas as dela são de vingança. É uma mulher que o marido nem olha, só olha para o trabalho. Ela também está num momento de desequilíbrio porque o filho é internado num hospital psiquiátrico.

UOL – Mas ela sabe que o Felipe só está com ela por interesse?
Regina Duarte –
No primeiro encontro ela já percebe que ele está interessado no dinheiro dela. Mas o que ela quer é se vingar do abandono em que se encontra em função do descaso, da agressividade e dos maus-tratos do marido.

UOL – Você acredita na relação de uma senhora com um jovem?
Regina Duarte –
Claro que acredito. E dá certo! Não me impressiona. Mas eu não me envolveria numa relação assim. Não faz a minha cabeça. Já fui casada com uma pessoa dez anos mais nova que eu, mas sempre me senti mais nova que ele [risos]. Mas foi o máximo, mais que isso eu não fiz.

UOL – O que você acha da obra de Janete Clair?
Regina Duarte –
Ah, eu acho o máximo! A Janete era minha fada madrinha, fiz muita coisa dela. Tenho uma identificação com as obras dela! É a autora que melhor traduz o espírito do folhetim, da telenovela. Ninguém soube fazer isso como ela. Estar novamente em uma obra adaptada, que está sendo atualizada, está me deixando encantada. E aquela fantasia, a falta de pudor e de viajar no sonho é fantástica.

UOL – Você acha que a magia das telenovelas se perdeu?
Regina Duarte –
O gênero teve um desgaste natural. De vez em quando vem um “Cordel Encantado”, uma “A Favorita”, mas em geral as novelas têm repetido suas fórmulas com elenco diferente. Acho que faz parte do processo de evolução patinar de vez em quando e, de repente, ter um avanço criativo extraordinário. Não dá para querer estar sempre fazendo sucesso. Nunca foi assim. Quantas novelas foram feitas e que nunca vão virar remake? É humano acertar e errar, é o que a gente faz o tempo todo.

UOL – Mas então a que você atribui esse sucesso todo das reprises do “Viva”?
Regina Duarte –
Quem vê “Vale Tudo” e revê é como fazer um flashback da sua própria vida. Isso é muito bonito. É como usar um perfume com 16 anos e voltar a usar aos 40. Quando você puser, vai se sentir de novo com 16 [risos].

UOL – “O Astro” trata de astrologia, vidência, telepatia e mágica. Você acredita nessas coisas?
Regina Duarte –
Acredito em tudo [risos]. Acho o ser humano infinito em suas capacidades.

UOL – Já foi a astrólogos, tarólogos ou cartomantes?
Regina Duarte –
Nunca fui. Para não dizer que não, uma amiga me levou em Miami, numa cubana. Mas foi um programa de lazer. Ela até acertou, mas em frases que cabiam para todo mundo. Ela me disse: “Você precisa parar de se preocupar com os outros e se preocupar mais com você” [risos].

UOL – Foi veiculado na imprensa que você fez tratamentos para rejuvenescer. O que você fez?
Regina Duarte – Eu ganhei um tratamento de sessões de laser que nem sei o nome. Cheguei a fazer dois. É isso. E fiquei muito bem. Estou melhor? Alguém nota? Eu me sinto muito bem! [risos].

UOL – Mas você já colocou botox, fez preenchimento ou outros tratamentos?
Regina Duarte –
Nunca fiz botox. Preciso de toda a minha musculatura livre! Preciso de expressões.

UOL – Você lida bem com o envelhecimento?
Regina Duarte –
Envelhecer não é fácil, mas a gente tem de enfrentar. Estou ficando velhinha e vou ficar cada vez mais. Vocês vão ter de me aguentar assim [risos]. E eu também vou ter de me aguentar assim.

UOL – Você teve de fazer alguma mudança de visual para interpretar a Clô?
Regina Duarte –
Perdi três quilos e meio em três meses. Mas porque quis. A Clô é uma mulher elegante e o rosto mais fino fotografa melhor no vídeo.

UOL – O que fez para perder peso em tão pouco tempo?
Regina Duarte –
Só diminuí as porções, passei a beber muita água e a comer de três em três horas, mesmo sem fome. Com duas colheres de arroz, uma colher de caldo de feijão e um pedaço de bife fico plena. Açúcar é difícil, não consigo cortar. Pelo menos no café. Mas tirei bolo e doces. E como pão só uma vez por dia, até três da tarde. Depois, não mais.

UOL – Você faz exercícios?
Regina Duarte –
Faço, mas não tenho feito. Deveria fazer mais, pelo menos caminhar uns 40 minutos umas quatro vezes por semana. É muito importante. Quanto mais exercício você faz, mais energia tem. Se eu passar uma semana sem fazer uma caminhada, deprimo. Não consigo levantar de manhã, fico naquela onda “viver dá muito trabalho”.

domingo, julho 03, 2011

Aliado, Chomsky contesta venezuelano

Em carta aberta a Chávez, ícone da esquerda
americana pede que presidente liberte juíza em prisão domiciliar

Acusada de corrupção por libertar banqueiro, a magistrada
María Lourdes Afiuni diz que o processo é político

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

O linguista Noam Chomsky, ícone da esquerda americana, divulga hoje na Venezuela carta aberta pela libertação da juíza María Lourdes Afiuni, 48, detida desde dezembro de 2009 sem julgamento.

Acusada de corrupção pelo próprio presidente Hugo Chávez após conceder liberdade condicional a um empresário, a juíza diz que o processo contra ela é político.

"Numa época em que o mundo se vê sacudido por clamores de liberdade, a detenção (...) sobressai como uma exceção flagrante que deve ser remediada rapidamente, pelo bem da justiça e dos direitos humanos em geral e para afirmar o papel honrado da Venezuela nestas lutas", afirma a carta.

A Folha teve acesso antecipado ao texto, que deve causar impacto devido à admiração declarada do presidente por Chomsky.

Em 2006, na ONU, o venezuelano recomendou a leitura de "O Império Americano: Hegemonia ou Sobrevivência" (Campus), livro do linguista. Os dois se encontraram em Caracas há dois anos.

Em entrevista à Folha, Chomsky se disse "empolgado" com a esquerda sul-americana, mas afirmou que as denúncias sobre a falta de independência do Judiciário na Venezuela "merecem ser levadas muito a sério".

O professor do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) vinha há sete meses tentando uma mediação discreta em favor da juíza, a pedido do Centro Carr de Políticas de Direitos Humanos, da Universidade Harvard.

Ele enviou três apelos ao venezuelano, sem resposta. Em janeiro, porém, Afiuni passou à prisão domiciliar após operação para remover o útero. Leonardo Vivas, do Centro Carr, avalia que o pedido "cordial, mas firme" de Chomsky pode ter pesado.

A decisão de divulgar uma carta agora foi tomada antes de Chávez anunciar que está com câncer. O centro e Chomsky resolveram levá-la adiante, e o linguista disse que espera a "pronta e total" recuperação do venezuelano.

O texto sairá hoje no jornal "Ultimas Noticias", o de maior circulação na Venezuela e o único que não faz oposição sistemática a Chávez.

Ele pede um "gesto de clemência", sob a forma de "perdão oficial". Menciona o "tratamento degradante" a Afiuni na prisão, onde ficou com mulheres que havia condenado e foi ameaçada.

A carta não entra no mérito da acusação contra a juíza, detida após libertar o banqueiro Eligio Cedeño, ex-aliado do governo acusado de fraude cambial e hoje asilado nos EUA. Afiuni foi acusada de receber suborno dele e infringir normas processuais.

A acusação de suborno não foi provada pela Promotoria. A juíza afirma que ditou o habeas corpus porque o prazo legal de detenção de Cedeño sem julgamento (ele foi preso em 2006) se esgotara.

sábado, julho 02, 2011

HEMINGWAY VIVE

Acredito que uma das obras da literatura universal indispensáveis em qualquer biblioteca, pública ou privada, seja "Paris é uma festa".

Eu li esse livro de crônicas pela primeira vez aos 15 anos. Nele, Ernest Hemingway já vive de seu ofício de escritor. Abandonara conscientemente o jornalismo para ganhar a vida exclusivamente com o dinheiro que porventura recebesse com seus contos, romances e material de free lancer. Ainda não conseguiu a consagração. A fama só viria bem mais tarde. E quando se faz esse tipo de afirmação pensa-se logo na celebrização propiciada pelo falecimento. Penso ter sido exatamente isso o que aconteceu com Hemingway.

Hoje em dia, quantos de nós podem se dar ao luxo de largar um emprego - qualquer que seja - para sobreviver explorando a própria vocação - ou a de outrem? Para não fugir do assunto: quantos escritores, aqui no Brasil, tem como única tarefa capaz de lhe garantir o pão de cada dia a arte de diariamente remover a neve da folha de papel? Entendo ser mais comum esse tipo de fenômeno no Estados Unidos. Os exemplos são poucos, mas importantes: Tom Clancy, Stephen King, Ken Follet. Ganharam rios de dinheiro com os frutos de sua imaginação essencialmente literária. Tenho certeza de aqui no Brasil não é possível a repetição de tal fenômeno.

Há poucos minutos, fiquei sabendo que 2011 marca meio século de falecimento do autor de "Adeus às armas". Para quem não sabe, Hemingway tirou a própria vida com um disparo de sua pistola. Até onde sei sobre esse suicídio, foi possibilitado porque, para Ernest, o poço literário havia secado. Para quem escreve, isso é o pior que pode acontecer. Li há seis meses um romance em dois volumes intitulado "Saco de ossos", no qual o protagonista - um escriba, naturalmente - começa a sofrer do tal do "bloqueio de escritor" após a morte da esposa. O personagem, após um montão de peripécias, conseguiu se recuperar. Ernest não pode dizer o mesmo. Ou até pode, desde que se comunique por meio de uma necessária sessão espírita.

Por ele ter participado dela, a guerra foi um tema recorrente na obra de Hemingway. E foi por causa dela que nasceu a famosa expressão "geração perdida" - um rótulo maldoso carimbado pela triste Gertrude Stein aos jovens que sobreviveram ao inferno das batalhas e que desafortundadamente não foram tratados como heróis na volta para casa. Esse rótulo foi um dos motivos pelos quais Francis Scott Fitzgerald também encontrou sua perdição como prosador. O outro foi a esposa dele, uma mulher bela e neurótica. Tudo isso está retratado em "Paris é uma festa". Penso em retirá-lo hoje da minha desorganizada estante cheia de livros. Afianl de contas, escritores como Hemingway de vez em quando precisam ser retirados do limbo destinado aos mestres dos quais ninguém mais se ocupa - a exemplo dos maranhenses Coelho Neto e Humberto de Campos.

Porque a imortalidade nas letras é isso: encontrar pelo menos um leitor disposto a entrar em bibliotecas improváveis atrás de alfarrábios esfarelados produzidos por genialidades que iluminaram determinada época e que se apagaram em razão da ignorância e do desprezo das gerações posteriores.