Mostrando postagens com marcador ELEIÇÕES 2010. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ELEIÇÕES 2010. Mostrar todas as postagens

terça-feira, agosto 31, 2010

Saiba quem você pode acabar elegendo ao votar no palhaço Tiririca

DIÓGENES MUNIZ
DE SÃO PAULO

Com uma candidatura ao Legislativo que - entre as bizarras - conseguiu a maior repercussão até agora, é natural que Francisco Everaldo Oliveira Silva, 45, o Tiririca, esteja feliz da vida. Sua campanha atinge com frequência o topo dos "assuntos quentes" no Twitter e seus vídeos passeiam pela casa dos milhões de acessos no YouTube. Mas não é só ele que tem motivos para comemorar esse fenômeno dentro de seu partido.

A exemplo de Paulo Maluf (PP), Tiririca é o "puxador de votos" de sua agremiação, o PR. Ambos ganharam espaços de destaque na TV e números de fácil assimilação (1111, para o candidato considerado 'ficha suja' pelo STF, e 2222, para o palhaço). A ideia é que uma votação expressiva ajude seus respectivos partidos a levarem outros correligionários para Brasília.

Para o analista político Fernando de Barros e Silva, Tiririca funciona como um "biombo". "Atrás dele, vão os verdadeiros artistas do circo fisiológico", escreveu em sua coluna na Folha, na última semana.

Isso ocorre por conta do critério da proporcionalidade previsto pela legislação eleitoral. O número de vagas de cada partido é definido pelo quociente eleitoral - a soma de votos dos candidatos e da legenda dividida pelo número de vagas a que cada Estado tem direito. Desta forma, o sistema proporcional cria a possibilidade de parte das vagas no Legislativo serem preenchida por candidatos que receberam volume votos nominais pífio.

O exemplo mais famoso ocorreu em 2002, quando Enéas Carneiro (1938-2007), do extinto Prona, conseguiu levar consigo cinco candidatos. Entre eles figurava Vanderlei Assis (275 votos nominais), depois condenado pelo TRE por inscrição fraudulenta.

Dependendo do volume de votos de Tiririca no dia 3 de outubro, o pleiteante fantasiado pode ajudar a eleger os seguintes políticos que também disputam uma vaga pelo PR-SP.

Agnaldo Timóteo, 73, cantor. Como vereador por São Paulo, causou polêmica ao tentar emplacar um projeto de lei para mudar o nome do parque Ibirapuera para parque Michael Jackson. No horário eleitoral gratuito deste ano, posta-se como "herdeiro político" do estilista Clodovil Hernandez (1937-2009).

Valdemar Costa Neto, 61, ex-presidente do PL. Renunciou ao cargo de deputado federal em 2005 para escapar da cassação após ser acusado de envolvimento no caso do mensalão, relativo à suposta compra de apoio de partidos pelo PT. Também foi acusado pelo Ministério Público Eleitoral de compra de votos nas eleições de 2006 --e absolvido pelo TSE.

Luciana Costa, 39, deputada federal da última legislatura. Assumiu a vaga deixada por Enéas Carneiro, de quem era suplente e secretária parlamentar. No ano passado, levou à Câmara um projeto de lei para instituir o Dia do Peão de Rodeio, a ser comemorado anualmente em 25 de agosto. No horário eleitoral da TV, tenta colar sua imagem à figura de Enéas, inclusive emulando seu jeito de discursar.

Milton Monti, 49, deputado estadual duas vezes e deputado federal três vezes (inclusive no mandato 2007-2010). Em 2000, apresentou na Câmara projeto de lei para tornar obrigatório no currículo das escolas brasileiras ensino de latim e a OSPB (Organização Social e Política Brasileira), sem sucesso. Trabalha para instituir o Dia Nacional de Atenção à Dislexia. A proposta recebeu parecer favorável na Comissão de Educação e Cultura.

Jurandyr Czaczkes, ou Juca Chaves, 71, humorista, músico e compositor, autor das modinhas "Ana Maria", "Que Saudades" e "Pequena Marcha para um Grande Amor". "Não serei um deputado comum, serei também um Menestrel Na Corte [sic], cantarei como sempre fiz, fazendo minhas denúncias em forma de sátiras", promete, no Twitter. Em 2006, tentou se eleger senador pela Bahia com o PSDC --sem sucesso.

Pastor Paulo Freire, 55, presidente da Assembleia de Deus de Campinas e do Conselho de Doutrina da Igreja Evangélica Assembleia de Deus. É a primeira vez que se candidata a deputado federal. Neste ano, posicionou-se publicamente contra a adoção por casais gays, direito reconhecido pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Além deles, candidatos de PT, PRB, PC do B e PT do B, todos da coligação "Juntos Por São Paulo", podem se beneficiar de uma eventual votação expressiva de Tiririca.

As propostas de Tiririca

Em entrevista à Folha publicada na semana passada, Tiririca foi questionado sobre os projetos que pretende levar à Câmara. "De cabeça, assim, não dá pra falar", justificou. Ele também negou que, caso eleito, vá andar fantasiado por Brasília.

Na TV, o candidato cearense evita fazer promessas complexas. A mais famosa até agora se resume a contar ao eleitorado o que, afinal, faz um deputado federal --mas, só depois de eleito. Para saber o que faz um deputado federal, clique aqui.

Embora diga no horário eleitoral gratuito que, se eleito, pretende ajudar "inclusive" sua família, Tiririca já foi destaque de páginas policiais em um caso violência doméstica. Em 1998, o palhaço foi levado de camburão à 6º Delegacia Seccional de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, acusado de agredir a tapas Rogéria Mariano da Silva, sua mulher. Mais tarde, ela retirou a queixa.

quarta-feira, agosto 18, 2010

O modelo "Serra Palin" emborcou

ELIO GASPARI

O tucano precisa lembrar de Guimarães Rosa:
"Mestre não é quem ensina, mestre é quem, de repente, aprende"

SEGUNDO O IBOPE, Dilma Rousseff botou 11 pontos de frente sobre José Serra. Pelo Datafolha são oito e pelo Vox Populi, 16. Em todos ela está em alta, e ele, em queda. Quem melhor explica essa circunstância é um simples apelido: "Serra Palin". A sacada veio do cientista social Celso Rocha de Barros, do blog "Na prática a teoria é outra".

Enquanto John McCain, candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, tirou da cartola Sarah Palin, uma governadora do Alasca, desconhecida, feroz e simpática, o candidato tucano, que o país conhece há décadas, apresentou-se como algo que nunca foi. Pior: pelo que se suspeita, apresenta-se como algo de que o eleitorado não precisa. Há milhões de pessoas dispostas a votar num candidato que denuncia o fisiologismo do aparelho petista. Essas pessoas também não gostam do iraniano Ahmadinejad, do boliviano Evo Morales e das Farc colombianas.

A manobra da invenção de Sarah Palin deu errado porque ela encantou o eleitorado conservador americano, que já estava disposto a votar em McCain. (Voto feminino? O companheiro Obama prevaleceu entre as mulheres.) A manobra "Serra Palin", além de primitiva, revelou-se idêntico equívoco aritmético. Uma pessoa pode detestar Lula e Dilma Rousseff por 17 motivos, mas isso não faz com que ela possa votar 17 vezes.

Serra lançou-se candidato com um discurso de unidade nacional, por um Brasil que "pode mais", apimentado com um toque moralista ("meu governo nunca cultivou roubalheira"). Em poucos dias arquivou a proposta de unidade e serviu a pimenta. Tentando ser o que nunca foi, deixou de informar quem pretende ser como presidente da República. O coroamento desse galope em direção ao nada poderá se cristalizar numa tentativa de metamorfose num hipotético "Zé", eco aziago da transformação de Alckmin no "Geraldo" da campanha de 2006.

Enquanto o tucanato não soube para onde ir, a plataforma petista foi simples como uma lâmina: Dilma Rousseff é a candidata de Lula. É verdade que os 78% de popularidade de Nosso Guia lhe permitem esse luxo, mas esse dado está na equação política nacional desde o final do ano passado, quando ele atravessou a crise financeira com leves escoriações.

O modelo "Serra Palin" emborcou. Restam a José Serra os dois meses decisivos da campanha e a possibilidade de levar a disputa para o segundo turno. A seu favor, terá os ímpetos do "já ganhou" petista. Prova disso pode ser encontrada no desembaraço com que os companheiros já começaram a compor ministério, na ressurreição de comissários saídos do sarcófago de réus do processo do mensalão e até mesmo no reaparecimento das rivalidades das facções internas do PT. Afinal de contas, não se pode supor que, numa campanha eleitoral, só um dos lados cometa todos os erros durante todo o tempo. Nesse altura, vale lembrar, os desastres raramente derivam de estratégias ou astúcias da marquetagem. O fator decisivo, por incrível que possa parecer, sempre sai da essência da candidatura.

Quatro meses de campanha crispada renderam nada aos tucanos. Em março, ao deixar o governo de São Paulo, Serra lembrou-se de Guimarães Rosa: "Mestre não é quem ensina, mestre é quem, de repente, aprende".

terça-feira, agosto 17, 2010

TV nunca mudou eleição presidencial

Desde 89, candidato que estava na frente no início da propaganda eleitoral sempre ganhou a disputa no final

Em outras eleições, como na vitória de Kassab em 2008, TV foi crucial para alterar resultado da disputa

RANIER BRAGON
FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA

A campanha na TV tem histórico de relevantes movimentações na intenção de voto dos candidatos à Presidência, mas até hoje não teve impacto suficiente para tirar a vitória daquele que iniciou o período na dianteira.

Nas cinco eleições presidenciais após a redemocratização -de 1989 a 2006-, saiu vitorioso o candidato que liderava as pesquisas imediatamente antes da entrada da campanha na TV.

A análise das planilhas do Datafolha mostra que se encontravam nessa situação Fernando Collor (PRN) em 1989, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1994 e 1998, e Lula (PT) em 2002 e 2006 -em 94, FHC dividia a ponta com Lula, em empate técnico, mas em ascensão.

Apesar disso, a propaganda televisiva coincidiu com períodos de movimentações que em dois casos levaram um cenário de vitória em primeiro turno para o segundo.

Em 1989, Collor abriu o período da propaganda com sete pontos de vantagem sobre todos os principais oponentes somados. No final, havia caído de 40% para 26% na pesquisa. Embolado na terceira posição, Lula praticamente dobrou seu índice e, por margem estreitíssima, derrotou Leonel Brizola (PDT) e foi ao segundo turno.

Nas vitórias de 1994 e 1998, ambas no primeiro turno, FHC tinha mais minutos na programação eleitoral e assistiu no período televisivo a uma ampliação da vantagem em relação a Lula.

Já em 2002, Lula iniciou a TV com Ciro Gomes (PPS) como seu principal oponente. Entretanto, Ciro derreteu de 27% para 11% das intenções de voto, desempenho em parte atribuído à exploração na TV de frases polêmicas e da discussão com um eleitor.

José Serra (PSDB), dono da maior fatia eletrônica, acabou indo ao segundo turno."O horário eleitoral sepultou as chances de Ciro por conta das bobagens que ele falou", disse o cientista político Marcus Figueiredo, professor da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).

Autor de estudos sobre o tema, ele diz que a propaganda na TV constrói a imagem dos candidatos e pauta debates, mas que está longe de ser a única variável para que o eleitor defina seu voto.

Na disputa de Lula pela reeleição, em 2006, o petista vencia o conjunto dos principais oponentes por dez pontos no início da propaganda.Em meio à repercussão do episódio em que petistas foram presos tentando comprar um dossiê antitucano e após faltar ao último debate, na TV Globo, teve que disputar o segundo turno com Geraldo Alckmin (PSDB).

As planilhas do Datafolha mostram não haver padrão sobre o momento da campanha na TV em que as intenções de voto se estabilizam.

OUTRAS ELEIÇÕES
Houve mudanças, no entanto, no resultado final de outras eleições. Um dos exemplos mais claros é o da eleição de Gilberto Kassab (DEM) à Prefeitura de São Paulo, em 2008. Em 22 de agosto, na semana de início da propaganda na TV, ele tinha 14%, contra 41% de Marta Suplicy (PT) e 24% de Geraldo Alckmin (PSDB).