Saiba também quais temas que podem pautar a prova
A redação é ponto fundamental do Enem, correspondendo a 50% da nota final do candidato. Por isso, para um bom desempenho, é preciso atenção redobrada. "A redação é a forma de avaliar o conhecimento mais significativo e revelador do aluno, porque vai além da 'decoreba', daquilo que é possível memorizar", diz o surpervisor de português do Sistema Anglo de Ensino, Francisco Platão Savioli.
Segundo o especialista, o tema da redação do Enem 2010 deve girar em torno de três grandes eixos. O primeiro deles é a relação do homem com ele mesmo, o que engloba assuntos como realização profissional, felicidade e crenças individuais. "Esses assuntos são mais raros, mas são abordados nos exames", pontua o especialista. O segundo eixo, mais comum, trata da relação do homem com a sociedade. Aparecem aí propostas relacionadas a cidadania, política e capacidade de negociação, direitos individuais e solidariedade. Por fim, o terceiro eixo contempla a relação do homem com o meio biofísico. "Aqui, entram tópicos como sustentabilidade, relação do homem com a naturaza, clonagem e experiências com animas. São temas em voga nesses últimos anos", diz Platão.
Para desenvolver satisfatoriamente o tema, o professor sugere que o candidato invista em seu repertório de argumentação. "O objetivo da redação é avaliar se o aluno sabe refletir sobre os mais variados assuntos ou se ele é apenas um repetidor de chavões e lugares-comuns. Ele precisa ter ideias próprias e saber sustentá-las", acrescenta.
"É CLARO QUE, COMO TODO ESCRITOR, TENHO A TENTAÇÃO DE USAR TERMOS SUCULENTOS: CONHEÇO ADJETIVOS ESPLENDOROSOS, CARNUDOS SUBSTANTIVOS E VERBOS TÃO ESGUIOS QUE ATRAVESSAM AGUDOS O AR EM VIAS DE AÇÃO, JÁ QUE A PALAVRA É AÇÃO, CONCORDAIS?" CLARICE LISPECTOR - "A HORA DA ESTRELA"
sexta-feira, novembro 05, 2010
Livro de Monteiro Lobato é liberado para ser usado em sala de aula
Professor reclamou de trechos da obra 'Caçadas de Pedrinho'.
Ministro Fernando Haddad teve que intervir.
Do G1, com informações do Bom Dia Brasil
Um clássico da literatura infantil quase foi banido das escolas públicas do país. Algumas frases que aparecem na história "Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato, foram consideradas preconceituosas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). O ministro da Educação, Fernando Haddad, teve que intervir.
Veja o site do Bom Dia Brasil
Monteiro Lobato racista? Um professor da universidade de Brasília achou que sim. Considerou que no livro "Caçadas de Pedrinho" há preconceito racial contra a personagem Tia Anastácia, a empregada negra do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Em um trecho, o autor diz que Tia Anastácia "tem carne preta”. Em outro, afirma "que trepou que nem uma macaca de carvão pelo mastro”.
A Secretaria de Igualdade Racial concordou com a crítica. “As expressões que o livro contém são expressões de um conteúdo fortemente preconceituoso e que precisam de tratamento explicativo na sala de aula, para que não se ofenda a autoestima das crianças e dos leitores”, disse o ministro da Igualdade Racial, Eloi Ferreira de Araujo.
O Conselho Nacional de Educação chegou a recomendar que o MEC deixasse de adotar "Caçadas de Pedrinho" nas escolas públicas. O argumento era que ele desrespeita o critério usado na avaliação dos livros didáticos, de não ter preconceitos ou estereótipos.
A Academia Brasileira de Letras condenou o veto. “A obra do Monteiro Lobato, depois de tantas décadas, sofrer esse tipo de avaliação, é completamente equivocada. A academia, na linha das suas convicções democráticas, rejeita qualquer tipo de censura e entendeu a manifestação do conselho como uma forma de censura”, afirmou o presidente da ABL, Marcos Vinicios Vilaça.
Para o ministro da Educação, Fernando Haddad, não é o caso de tirar o livro das escolas. “Décadas se passaram. Expressões que não eram consideradas ofensivas, hoje são. Mas, em se tratando de Monteiro Lobato, de um clássico brasileiro da literatura infantil, nós só temos que contextualizar, advertir e orientar sobretudo o professor sobre como lidar com esse tipo de matéria em sala de aula”, disse.
E o problema foi resolvido. O livro vai continuar na lista do MEC, mas, a partir de agora, com uma explicação sobre o contexto em que foi escrito. Algo parecido com o que uma edição já traz sobre a caça à onça. A editora deixa claro que a aventura aconteceu em uma época em que a espécie não estava ameaçada de extinção, nem os animais silvestres eram protegidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O clássico da literatura infantil "Caçadas de Pedrinho" foi publicado pela primeira vez em 1933.
Ministro Fernando Haddad teve que intervir.
Do G1, com informações do Bom Dia Brasil
Um clássico da literatura infantil quase foi banido das escolas públicas do país. Algumas frases que aparecem na história "Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato, foram consideradas preconceituosas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). O ministro da Educação, Fernando Haddad, teve que intervir.
Veja o site do Bom Dia Brasil
Monteiro Lobato racista? Um professor da universidade de Brasília achou que sim. Considerou que no livro "Caçadas de Pedrinho" há preconceito racial contra a personagem Tia Anastácia, a empregada negra do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Em um trecho, o autor diz que Tia Anastácia "tem carne preta”. Em outro, afirma "que trepou que nem uma macaca de carvão pelo mastro”.
A Secretaria de Igualdade Racial concordou com a crítica. “As expressões que o livro contém são expressões de um conteúdo fortemente preconceituoso e que precisam de tratamento explicativo na sala de aula, para que não se ofenda a autoestima das crianças e dos leitores”, disse o ministro da Igualdade Racial, Eloi Ferreira de Araujo.
O Conselho Nacional de Educação chegou a recomendar que o MEC deixasse de adotar "Caçadas de Pedrinho" nas escolas públicas. O argumento era que ele desrespeita o critério usado na avaliação dos livros didáticos, de não ter preconceitos ou estereótipos.
A Academia Brasileira de Letras condenou o veto. “A obra do Monteiro Lobato, depois de tantas décadas, sofrer esse tipo de avaliação, é completamente equivocada. A academia, na linha das suas convicções democráticas, rejeita qualquer tipo de censura e entendeu a manifestação do conselho como uma forma de censura”, afirmou o presidente da ABL, Marcos Vinicios Vilaça.
Para o ministro da Educação, Fernando Haddad, não é o caso de tirar o livro das escolas. “Décadas se passaram. Expressões que não eram consideradas ofensivas, hoje são. Mas, em se tratando de Monteiro Lobato, de um clássico brasileiro da literatura infantil, nós só temos que contextualizar, advertir e orientar sobretudo o professor sobre como lidar com esse tipo de matéria em sala de aula”, disse.
E o problema foi resolvido. O livro vai continuar na lista do MEC, mas, a partir de agora, com uma explicação sobre o contexto em que foi escrito. Algo parecido com o que uma edição já traz sobre a caça à onça. A editora deixa claro que a aventura aconteceu em uma época em que a espécie não estava ameaçada de extinção, nem os animais silvestres eram protegidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O clássico da literatura infantil "Caçadas de Pedrinho" foi publicado pela primeira vez em 1933.
quarta-feira, novembro 03, 2010
Um guia para ler Antonio Vieira
Livro reúne 1.178 verbetes que ajudam a
percorrer o caminho dos Sermões do padre português
Joselia Aguiar
Aos leitores de hoje, um Índice das coisas mais notáveis parecerá inusitado, mas era comum em edições de luxo na época em que Antonio Vieira (1608-1697) viveu e publicou os Sermões, obra-prima da língua portuguesa. Em cada um dos seus 15 volumes havia um glossário como esse, incluído como apêndice, que listava as frases mais relevantes, segundo a escolha do próprio pregador. Esquecidos havia tempo, os índices saem agora pela editora paulista Hedra em nova edição que os reúne num só volume.
A tarefa de descobrir seus nexos e organizá-los em verbetes coube a Alcir Pécora, um dos maiores especialistas no padre português. As 1.178 entradas levam a 8.364 abonações, ou seja, às frases que servem de exemplo, seguidas da indicação dos sermões onde são encontradas e dos outros termos a que estão associadas. Crítico literário, professor de literatura na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desde 1977, Pécora organizou diversas obras de Vieira, como os próprios Sermões, em dois volumes, que reúnem uma seleção de 50, lançados pela Hedra na última década. É autor também de estudos sobre o pregador, como Teatro do sacramento: a unidade teológico-retórico-política nos “Sermões” de Vieira (Edusp/Editora da Unicamp).
O livro serve, portanto, como grande mapa dos Sermões e também se sustenta como obra independente, pois grande parte das frases do Índice das coisas mais notáveis vale como aforismos. Ou seja, podem ser lidas sozinhas, “como formas breves, lapidares e fulminantes, que contêm em si um dito engenhoso, de alcance filosófico, prático e moral”, como as descreve Pécora. Os termos contêm, em geral, diversas ocorrências –“Deus”, “Cristo” e “Maria”, como se pode esperar, são os que possuem mais abonações.
A beleza das frases logo se revela: “Deus deu vida a Adão com um sopro, porque a vida do homem é vento” (verbete “Adão”); “Para as perdas que têm remédio, se fez a diligência: para as que não têm remédio, se fez a dor” (verbete “Diligência”); “Ninguém é nem pode ser feliz com a alma noutra parte (verbete “Felicidade”). Sua beleza, porém, não compete com a de um sermão quando se lê inteiro, ressalta o especialista. Se, por um lado, como diz Pécora, os Índices são o livro de máximas que o padre não se deu ao trabalho de escrever, “os verbetes são como andaimes, sistema de sinalizações, advertências e avisos de trânsito. Os sermões são o conjunto dos edifícios”. E o objetivo de Vieira “não é apenas produzir maravilha, mas fazer a maravilha trabalhar em favor de seu propósito, que era sempre edificante, em seu projeto de conversão universal”, diz. Não é muito fácil começar a usar o Índice, mas depois que se começa a ter familiaridade é “uma porta estupenda para a compreensão dos sermões”, acrescenta.
No tempo de Antonio Vieira, seu uso era frequente, explica Pécora. Para os seus colegas de ofício, aquelas páginas serviam como escola de pregar. Encontravam os principais temas e argumentos, as referências bíblicas e frases de impacto para ilustrá-los. Para os fiéis, a obra era importante por apresentar os temas fundamentais do aprendizado e da prática religiosa. Para o letrado, há o prazer imenso de ler frases definitivas sobre os grandes temas do período.
Roubo – A organização da obra consumiu 13 anos, e não é sem alívio que Alcir Pécora a conclui. Conta que, além de contingências como o roubo de dois notebooks, onde fizera a descrição de vários índices europeus, especialmente italianos do mesmo período, a maior dificuldade era lidar com a quantidade de dados envolvidos. O sistema de referências desses índices, com três editores diferentes dos Sermões, era diverso a cada volume. “Normalizar tudo isso, de maneira inteligível, foi uma saga, e eu jamais a cumpriria sozinho”, explica.
O desfecho da empreitada dependeu das ideias que teve Jorge Sallum, editor da Hedra, para resolver os problemas de remissão de maneira econômica e compreensível. Sallum diz que a solução foi organizar os índices como um banco de dados. “É algo que parece muito distante dos Sermões, mas que guarda semelhanças com a estrutura do texto, uma vez que o computador apenas organiza uma massa de informações, cuja ordem já está totalmente prevista pelo jesuíta”, afirma. Quando começou a operação, descobriu que várias das frases eram praticamente idênticas e que muitas se repetiam. Notou, assim, que havia uma ligação natural entre os verbetes, mais relacionada a sua redação do que ao emprego que os primeiros editores queriam que o texto tivesse. “Isso, mais a totalização de verbetes, foi uma descoberta para Alcir Pécora, que começou a trabalhar imediatamente nas suas hipóteses de leitura”, relembra Sallum.
percorrer o caminho dos Sermões do padre português
Joselia Aguiar
Aos leitores de hoje, um Índice das coisas mais notáveis parecerá inusitado, mas era comum em edições de luxo na época em que Antonio Vieira (1608-1697) viveu e publicou os Sermões, obra-prima da língua portuguesa. Em cada um dos seus 15 volumes havia um glossário como esse, incluído como apêndice, que listava as frases mais relevantes, segundo a escolha do próprio pregador. Esquecidos havia tempo, os índices saem agora pela editora paulista Hedra em nova edição que os reúne num só volume.
A tarefa de descobrir seus nexos e organizá-los em verbetes coube a Alcir Pécora, um dos maiores especialistas no padre português. As 1.178 entradas levam a 8.364 abonações, ou seja, às frases que servem de exemplo, seguidas da indicação dos sermões onde são encontradas e dos outros termos a que estão associadas. Crítico literário, professor de literatura na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desde 1977, Pécora organizou diversas obras de Vieira, como os próprios Sermões, em dois volumes, que reúnem uma seleção de 50, lançados pela Hedra na última década. É autor também de estudos sobre o pregador, como Teatro do sacramento: a unidade teológico-retórico-política nos “Sermões” de Vieira (Edusp/Editora da Unicamp).
O livro serve, portanto, como grande mapa dos Sermões e também se sustenta como obra independente, pois grande parte das frases do Índice das coisas mais notáveis vale como aforismos. Ou seja, podem ser lidas sozinhas, “como formas breves, lapidares e fulminantes, que contêm em si um dito engenhoso, de alcance filosófico, prático e moral”, como as descreve Pécora. Os termos contêm, em geral, diversas ocorrências –“Deus”, “Cristo” e “Maria”, como se pode esperar, são os que possuem mais abonações.
A beleza das frases logo se revela: “Deus deu vida a Adão com um sopro, porque a vida do homem é vento” (verbete “Adão”); “Para as perdas que têm remédio, se fez a diligência: para as que não têm remédio, se fez a dor” (verbete “Diligência”); “Ninguém é nem pode ser feliz com a alma noutra parte (verbete “Felicidade”). Sua beleza, porém, não compete com a de um sermão quando se lê inteiro, ressalta o especialista. Se, por um lado, como diz Pécora, os Índices são o livro de máximas que o padre não se deu ao trabalho de escrever, “os verbetes são como andaimes, sistema de sinalizações, advertências e avisos de trânsito. Os sermões são o conjunto dos edifícios”. E o objetivo de Vieira “não é apenas produzir maravilha, mas fazer a maravilha trabalhar em favor de seu propósito, que era sempre edificante, em seu projeto de conversão universal”, diz. Não é muito fácil começar a usar o Índice, mas depois que se começa a ter familiaridade é “uma porta estupenda para a compreensão dos sermões”, acrescenta.
No tempo de Antonio Vieira, seu uso era frequente, explica Pécora. Para os seus colegas de ofício, aquelas páginas serviam como escola de pregar. Encontravam os principais temas e argumentos, as referências bíblicas e frases de impacto para ilustrá-los. Para os fiéis, a obra era importante por apresentar os temas fundamentais do aprendizado e da prática religiosa. Para o letrado, há o prazer imenso de ler frases definitivas sobre os grandes temas do período.
Roubo – A organização da obra consumiu 13 anos, e não é sem alívio que Alcir Pécora a conclui. Conta que, além de contingências como o roubo de dois notebooks, onde fizera a descrição de vários índices europeus, especialmente italianos do mesmo período, a maior dificuldade era lidar com a quantidade de dados envolvidos. O sistema de referências desses índices, com três editores diferentes dos Sermões, era diverso a cada volume. “Normalizar tudo isso, de maneira inteligível, foi uma saga, e eu jamais a cumpriria sozinho”, explica.
O desfecho da empreitada dependeu das ideias que teve Jorge Sallum, editor da Hedra, para resolver os problemas de remissão de maneira econômica e compreensível. Sallum diz que a solução foi organizar os índices como um banco de dados. “É algo que parece muito distante dos Sermões, mas que guarda semelhanças com a estrutura do texto, uma vez que o computador apenas organiza uma massa de informações, cuja ordem já está totalmente prevista pelo jesuíta”, afirma. Quando começou a operação, descobriu que várias das frases eram praticamente idênticas e que muitas se repetiam. Notou, assim, que havia uma ligação natural entre os verbetes, mais relacionada a sua redação do que ao emprego que os primeiros editores queriam que o texto tivesse. “Isso, mais a totalização de verbetes, foi uma descoberta para Alcir Pécora, que começou a trabalhar imediatamente nas suas hipóteses de leitura”, relembra Sallum.
terça-feira, novembro 02, 2010
Entrevista inédita com o Nobel Vargas Llosa
[02-11-2010]
O peruano Mario Vargas Llosa, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, é um dos mais importantes escritores latino-americanos. Llosa, que está no Brasil para participar nesta quinta-feira, em Porto Alegre, do projeto Fronteiras do Pensamento, é autor, entre outros, de “Tia Júlia e o escrevinhador”, “Pantaleão e as visitadoras” e “A guerra do fim do mundo”, narrativa que aborda a vida do beato Antônio Conselheiro, líder dos jagunços e beatas exterminados na Guerra de Canudos. Nesta entrevista ainda inédita, concedida ao escritor Pedro Maciel durante a passagem anterior de Llosa pelo Brasil, em 2007, ele fala sobre a sua desilusão política e declara que opina como um escritor e como um intelectual, “não como um político, o que não sou nem voltarei a ser”. Vargas Llosa reafirma sua crença no liberalismo político ao analisar os rumos da economia mundial. Fala também sobre os autores que o influenciaram, como Flaubert, Tolstói e Dostoiévski, e destaca Jorge Luis Borges e Guimarães Rosa como grandes autores do nosso tempo.
O livro “Peixe na água” é uma narrativa que aborda a sua aventura política. É também a história de que como o senhor se tornou um escritor?
No início minha ideia era escrever exclusivamente sobre minha aventura política, mas depois pensei que isto daria uma versão muito inexata do que sou, porque apareceria só como político — algo que na realidade não sou e sequer me senti como tal nos anos em que estive envolvido na política. Fiz política, certamente, mas sempre me senti um escritor, um intelectual, que temporariamente fazia política, mas que iria retornar ao seu trabalho intelectual. E por isso, no livro, finalmente decidi incluir de maneira alternada os capítulos pessoais sobre minha infância, minha adolescência; que foram esses anos nos quais descobri minha vocação literária, nos quais assumi na prática essa vocação e comecei a ser um escritor. Achei que alternando estas duas experiências, o livro daria, então, uma versão mais exata do que sou.
O escritor, o artista não precisa necessariamente entrar para a política para agir politicamente em prol da sociedade.
É claro que não. Há muitos escritores que nunca participaram da política ativa, mas tiveram uma influência importante na vida política pelas suas ideias, pelas tomadas de posição, por seus escritos. Eu não acho que o escritor deva necessariamente dar esse salto para a política ativa, profissional. Acredito que o máximo que se pode pedir ao escritor é que participe no debate público, sobretudo em países como os nossos, onde há ainda problemas tão graves, tão urgentes para resolver; onde estamos ainda discutindo o modelo de sociedade que iremos ter. O escritor é um privilegiado em nossos países. É um homem que sabe ler, sabe escrever, tem plateia, pode chegar até um público. Bem, isto significa um certo poder e acho que o escritor deveria empregá-lo pelo menos no debate, na discussão dos problemas, das possíveis soluções. Mas acho que a participação ou a não participação é algo que tem a ver com cada indivíduo em particular, que não se pode estabelecer uma norma geral.
Hoje os tempos são libertários e não mais revolucionários. Curiosamente a ideologia passou a ser uma representação descartável, segundo a cartilha neoliberalista.
Bem, eu não utilizaria a partícula “neo” porque essa partícula geralmente tem uma intenção, às vezes involuntariamente, depreciativa. Eu sou liberal, acredito na liberdade como algo indivisível: a liberdade política e a liberdade econômica como instrumento do progresso numa sociedade. Bem, por isso defendo a democracia política, defendo as políticas de mercado, as quais acho que devem sempre ir juntas porque é a única maneira de garantir um progresso não só econômico mas também cultural, ético, institucional.
Como o senhor define o liberalismo?
O liberalismo é um espectro muito amplo, em que há muitos matizes. Os liberais concordam basicamente na defesa da liberdade como uma coisa indivisível, mas já na aplicação concreta de medidas liberais há pontos de vista muito diferentes, muito contraditórios. E é porque o liberalismo não é uma ideologia como é o marxismo, por exemplo. Liberalismo é uma doutrina muito flexível, muito ampla, que se alimenta basicamente do conhecimento de uma técnica, de uma informação e, com certeza, de certos princípios. Mas certos princípios muito gerais que têm a ver com a defesa da liberdade.
A democracia política é a única opção de progresso e liberdade de um povo.
Acho que não existe muita margem de escolha. Se um país quer progredir de uma forma civilizada tem que ter democracia política e quanto mais democracia política tiver, ou seja, enquanto haja mais participação, enquanto seja mais respeitada a legalidade, enquanto haja mais independência de poderes, enquanto os direitos humanos sejam respeitados. Em decorrência, vai avançar mais no campo político e cultural; e no campo econômico.
O senhor é conhecido como um intelectual liberal que defende a abertura das fronteiras e principalmente as leis de mercado.
Se uma sociedade quer se modernizar, então tem que abrir suas fronteiras, tem que se integrar aos mercados mundiais, tem que privatizar este setor público que em nossos países é como um empecilho, não permitindo a criatividade econômica. Tem que permitir que as empresas concorram entre si, não há outra política. Dentro desta sociedade, obviamente pode-se fazer variantes, como por exemplo em relação à redistribuição da política de assistência social. Isto cada país tem que decidir de acordo com o que são as suas possibilidades. Sobre isso não se pode generalizar. Mas o que está claro é que não há alternativa. Qualquer outra política, as antigas, estados grandes, empresas nacionalizadas, nacionalismo econômico, isto sempre conduz à catástrofe. Não há um só país que não tenha fracassado quando tenta estas políticas.
O senhor defende abertamente a privatização dos serviços públicos.
Eu sou totalmente favorável à privatização, sim. Mas, digamos, que não pela própria privatização em si, acho que a privatização é um instrumento para conseguir algumas coisas. Acho, por exemplo, que se um governo privatiza uma empresa que é um monopólio do Estado e a entrega como um monopólio para uma empresa privada, não ganharemos nada. Esta empresa vai continuar sendo muito ineficiente, muito corrupta porque este é um produto do monopólio, não de ser pública ou privada. Então, privatizar, sim, mas privatizar abrindo mercados, acabando com os monopólios. E, ao mesmo tempo, em países como os nossos, onde a propriedade privada é tão limitada, acho que a privatização deveria servir para difundir a propriedade privada entre os que não tem propriedade privada: os operários, os funcionários, os consumidores. Como está sendo feito em alguns países com muito sucesso.
A que se deve a miséria da América Latina?
Há trinta ou trinta e cinco anos, a revolução, o marxismo, o coletivismo pareciam a resposta para a injustiça, para o atraso. Depois fomos descobrindo que o socialismo, o coletivismo, o estadismo não traziam riqueza aos povos, mas sim lhes traziam Estados policiais, ditaduras horríveis e, então, digamos, os intelectuais lúcidos evoluíram para formas ou de socialismo democrático, ou de social-democracia, ou de liberalismo. Alguns até para posições conservadoras.
A América Latina tem pouca tradição de sistemas democráticos.
A democracia política é fundamental para o desenvolvimento porque, sem democracia política, sem autênticas liberdades públicas, governos representativos, tribunais independentes, não existe verdadeiramente progresso, mesmo que haja progresso econômico. O progresso econômico é resultante sempre da abertura de mercados, que não é através de um estado grande, de um estado interventor, de um estado dirigente da vida econômica que se cria riqueza, trabalho, desenvolvimento. Acho que na América Latina a experiência nos mostrou que esses estados grandes são estados muito fracos, muito ineficazes e muito corruptos e que tem que se transferir à sociedade civil a responsabilidade da criação de riqueza.
O senhor pretende se candidatar novamente a um cargo político?
Não, em absoluto. Não penso, nunca pensei em voltar à política profissional. Escrevo, falo de assuntos políticos porque, para mim, isto forma parte do meu trabalho intelectual; acredito que esta é uma das obrigações que tem um intelectual, mas opino como um escritor e como um intelectual, não como um político, o que não sou nem voltarei a ser.
Falemos do livro “A guerra do fim do mundo”. Pode-se dizer que este livro foge um pouco do romance histórico. Euclides da Cunha não é retratado, mas surge no romance um jornalista míope que representa a “cegueira ideológica” intelectual latino-americano.
De certa forma sim. A personagem do jornalista míope não é um retrato objetivo de Euclides da Cunha. Está inspirado de uma maneira tênue em Euclides, que é um escritor que admiro muito. Por isso, dedico-lhe este livro. E escrevi esta novela porque li “Os Sertões”, que, para mim, é uma das grandes experiências que tive como leitor. Interessou-me tanto a Guerra dos Canudos quanto o caso de Euclides da Cunha. Euclides é um dos intelectuais brasileiros responsáveis pela desinformação que se criou no Brasil em relação ao que estava acontecendo em Canudos, pelos preconceitos ideológicos. Quando estoura a Guerra dos Canudos, Euclides da Cunha escrevia artigos em São Paulo dando uma interpretação ideológica, apresentando os jagunços como sendo da monarquia, como instrumentos dos senhores feudais. Isso tudo é uma ficção ideológica, nada disso é verdadeiro. Mas o preconceito ideológico é tão forte que, inclusive quando Euclides vai para Canudos, o que vê não é o que está acontecendo, mas sim as imagens ideológicas que ele traz. As crônicas que ele escreve em Canudos falam, inclusive, de jagunços louros, de olhos claros, que poderiam ser oficiais ingleses.
Em “Os Sertões”, Euclides da Cunha faz um exame de consciência.
Sim. Euclides da Cunha é talvez o primeiro intelectual brasileiro a refletir sobre o massacre que houve em Canudos. Ele compreendeu que se tratou de um enorme mal-entendido, do qual resultaram trinta, quarenta mil, cinquenta mil mortos. Nunca saberemos quantos. Então ele faz algo que para mim é incrível, é um esforço de compreensão, um ato fundamentalmente intelectual, que muitos intelectuais não fazem nunca. Um esforço de compreensão do que realmente aconteceu e das razões para que todo um país ficasse cego de tal forma que acabasse acontecendo esta guerra. E então escreve este livro extraordinário. Bem, então, no jornalista míope, de uma forma muito geral, é o que eu quis mostrar, esta evolução. O jornalista míope não entende nada, não vê nada no princípio. Mas, aos poucos, entre todos os que vivem a tragédia, ele aprende uma lição, ele tira um ensinamento.
A sua versão da Guerra de Canudos apresenta os rebeldes e os republicanos como fanáticos.
Os dois grupos eram fanáticos. Eram fanáticos os jagunços, os rebeldes, e eram fanáticos os republicanos. Por isso confundiram estes camponeses coitados com instrumentos de toda uma conspiração antirrepublicana, uma coisa que não eram os rebeldes. O (Antônio) Conselheiro e Moreira César eram como o verso e o reverso da atitude intolerante, da atitude ideológica, a qual acredita que é dona de uma verdade absoluta e de que pode impô-la pela força.
No romance “A guerra do fim do mundo” e, em outros, o senhor dialoga com o estilo narrativo de escritores como Faulkner, Joyce, Virginia Woolf e principalmente Flaubert que inaugurou um novo modo de narração.
Todos os autores que me impressionaram muito, que admiro, certamente deixaram uma marca, deixaram uma influência. Acho que isto é inevitável. Agora, nem sempre os autores que mais admiramos são os que influenciam mais; às vezes as influências mais importantes são inconscientes, não somos lúcidos quanto à marca que deixou certa leitura, mas certamente os escritores que você falou, Faulkner, por exemplo, um autor que admiro muito, Flaubert, é claro, já escrevi um livro sobre ele. Eu sou um grande leitor de novelas do século XIX, de Balzac, de Melville. Acho que Tolstói, Dostóievski me influenciaram muito. O século XIX é como a época ápice do gênero narrativo e de alguma forma gostaria, nas novelas que escrevo, de continuar esta tradição: da novela ambiciosa, da novela de fôlego.
Jorge Luis Borges é o principal escritor latino-americano de todos os tempos?
Borges é um dos grandes escritores modernos, um dos grandes escritores da nossa língua. Poucos escritores enriqueceram a língua espanhola como Borges, ele a purificou. Uma língua que é muito exuberante, geralmente a língua literária, ele enxugou-a, tornou-a austera, tornou-a inteligente, encheu-a de ideias mais que de sensações. Um escritor extraordinário mas, bem, que haja um escritor extraordinário não significa que não possa haver outros.
Falemos da extraordinária sintaxe de Guimarães Rosa.
Guimarães Rosa é um grande escritor, um escritor extraordinário, um dos grandes escritores de nosso tempo, com uma obra muito complexa, que tem muito da cor local, que tem também uma dimensão um pouco esotérica, com referências a uma espiritualidade muito complexa. Um grande criador da linguagem.
Rosa é um dos grandes escritores contemporâneos e representa um momento literário único na América Latina.
Sim, sem nenhuma dúvida, é um dos grandes escritores contemporâneos que, além disso, representa para nós um momento que é muito privilegiado para a cultura latino-americana porque, simultaneamente, surgiram escritores tão importantes aqui e ali, em toda América Latina. Isto permitiu que a América Latina obtivesse do ponto de vista cultural um reconhecimento que não tivera nunca antes.
PEDRO MACIEL é autor dos romances “Retornar com os pássaros” (LeYa), “Como deixei de ser Deus” (Topbooks) e “A hora os náufragos” (Bertrand Brasil)
O peruano Mario Vargas Llosa, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, é um dos mais importantes escritores latino-americanos. Llosa, que está no Brasil para participar nesta quinta-feira, em Porto Alegre, do projeto Fronteiras do Pensamento, é autor, entre outros, de “Tia Júlia e o escrevinhador”, “Pantaleão e as visitadoras” e “A guerra do fim do mundo”, narrativa que aborda a vida do beato Antônio Conselheiro, líder dos jagunços e beatas exterminados na Guerra de Canudos. Nesta entrevista ainda inédita, concedida ao escritor Pedro Maciel durante a passagem anterior de Llosa pelo Brasil, em 2007, ele fala sobre a sua desilusão política e declara que opina como um escritor e como um intelectual, “não como um político, o que não sou nem voltarei a ser”. Vargas Llosa reafirma sua crença no liberalismo político ao analisar os rumos da economia mundial. Fala também sobre os autores que o influenciaram, como Flaubert, Tolstói e Dostoiévski, e destaca Jorge Luis Borges e Guimarães Rosa como grandes autores do nosso tempo.
O livro “Peixe na água” é uma narrativa que aborda a sua aventura política. É também a história de que como o senhor se tornou um escritor?
No início minha ideia era escrever exclusivamente sobre minha aventura política, mas depois pensei que isto daria uma versão muito inexata do que sou, porque apareceria só como político — algo que na realidade não sou e sequer me senti como tal nos anos em que estive envolvido na política. Fiz política, certamente, mas sempre me senti um escritor, um intelectual, que temporariamente fazia política, mas que iria retornar ao seu trabalho intelectual. E por isso, no livro, finalmente decidi incluir de maneira alternada os capítulos pessoais sobre minha infância, minha adolescência; que foram esses anos nos quais descobri minha vocação literária, nos quais assumi na prática essa vocação e comecei a ser um escritor. Achei que alternando estas duas experiências, o livro daria, então, uma versão mais exata do que sou.
O escritor, o artista não precisa necessariamente entrar para a política para agir politicamente em prol da sociedade.
É claro que não. Há muitos escritores que nunca participaram da política ativa, mas tiveram uma influência importante na vida política pelas suas ideias, pelas tomadas de posição, por seus escritos. Eu não acho que o escritor deva necessariamente dar esse salto para a política ativa, profissional. Acredito que o máximo que se pode pedir ao escritor é que participe no debate público, sobretudo em países como os nossos, onde há ainda problemas tão graves, tão urgentes para resolver; onde estamos ainda discutindo o modelo de sociedade que iremos ter. O escritor é um privilegiado em nossos países. É um homem que sabe ler, sabe escrever, tem plateia, pode chegar até um público. Bem, isto significa um certo poder e acho que o escritor deveria empregá-lo pelo menos no debate, na discussão dos problemas, das possíveis soluções. Mas acho que a participação ou a não participação é algo que tem a ver com cada indivíduo em particular, que não se pode estabelecer uma norma geral.
Hoje os tempos são libertários e não mais revolucionários. Curiosamente a ideologia passou a ser uma representação descartável, segundo a cartilha neoliberalista.
Bem, eu não utilizaria a partícula “neo” porque essa partícula geralmente tem uma intenção, às vezes involuntariamente, depreciativa. Eu sou liberal, acredito na liberdade como algo indivisível: a liberdade política e a liberdade econômica como instrumento do progresso numa sociedade. Bem, por isso defendo a democracia política, defendo as políticas de mercado, as quais acho que devem sempre ir juntas porque é a única maneira de garantir um progresso não só econômico mas também cultural, ético, institucional.
Como o senhor define o liberalismo?
O liberalismo é um espectro muito amplo, em que há muitos matizes. Os liberais concordam basicamente na defesa da liberdade como uma coisa indivisível, mas já na aplicação concreta de medidas liberais há pontos de vista muito diferentes, muito contraditórios. E é porque o liberalismo não é uma ideologia como é o marxismo, por exemplo. Liberalismo é uma doutrina muito flexível, muito ampla, que se alimenta basicamente do conhecimento de uma técnica, de uma informação e, com certeza, de certos princípios. Mas certos princípios muito gerais que têm a ver com a defesa da liberdade.
A democracia política é a única opção de progresso e liberdade de um povo.
Acho que não existe muita margem de escolha. Se um país quer progredir de uma forma civilizada tem que ter democracia política e quanto mais democracia política tiver, ou seja, enquanto haja mais participação, enquanto seja mais respeitada a legalidade, enquanto haja mais independência de poderes, enquanto os direitos humanos sejam respeitados. Em decorrência, vai avançar mais no campo político e cultural; e no campo econômico.
O senhor é conhecido como um intelectual liberal que defende a abertura das fronteiras e principalmente as leis de mercado.
Se uma sociedade quer se modernizar, então tem que abrir suas fronteiras, tem que se integrar aos mercados mundiais, tem que privatizar este setor público que em nossos países é como um empecilho, não permitindo a criatividade econômica. Tem que permitir que as empresas concorram entre si, não há outra política. Dentro desta sociedade, obviamente pode-se fazer variantes, como por exemplo em relação à redistribuição da política de assistência social. Isto cada país tem que decidir de acordo com o que são as suas possibilidades. Sobre isso não se pode generalizar. Mas o que está claro é que não há alternativa. Qualquer outra política, as antigas, estados grandes, empresas nacionalizadas, nacionalismo econômico, isto sempre conduz à catástrofe. Não há um só país que não tenha fracassado quando tenta estas políticas.
O senhor defende abertamente a privatização dos serviços públicos.
Eu sou totalmente favorável à privatização, sim. Mas, digamos, que não pela própria privatização em si, acho que a privatização é um instrumento para conseguir algumas coisas. Acho, por exemplo, que se um governo privatiza uma empresa que é um monopólio do Estado e a entrega como um monopólio para uma empresa privada, não ganharemos nada. Esta empresa vai continuar sendo muito ineficiente, muito corrupta porque este é um produto do monopólio, não de ser pública ou privada. Então, privatizar, sim, mas privatizar abrindo mercados, acabando com os monopólios. E, ao mesmo tempo, em países como os nossos, onde a propriedade privada é tão limitada, acho que a privatização deveria servir para difundir a propriedade privada entre os que não tem propriedade privada: os operários, os funcionários, os consumidores. Como está sendo feito em alguns países com muito sucesso.
A que se deve a miséria da América Latina?
Há trinta ou trinta e cinco anos, a revolução, o marxismo, o coletivismo pareciam a resposta para a injustiça, para o atraso. Depois fomos descobrindo que o socialismo, o coletivismo, o estadismo não traziam riqueza aos povos, mas sim lhes traziam Estados policiais, ditaduras horríveis e, então, digamos, os intelectuais lúcidos evoluíram para formas ou de socialismo democrático, ou de social-democracia, ou de liberalismo. Alguns até para posições conservadoras.
A América Latina tem pouca tradição de sistemas democráticos.
A democracia política é fundamental para o desenvolvimento porque, sem democracia política, sem autênticas liberdades públicas, governos representativos, tribunais independentes, não existe verdadeiramente progresso, mesmo que haja progresso econômico. O progresso econômico é resultante sempre da abertura de mercados, que não é através de um estado grande, de um estado interventor, de um estado dirigente da vida econômica que se cria riqueza, trabalho, desenvolvimento. Acho que na América Latina a experiência nos mostrou que esses estados grandes são estados muito fracos, muito ineficazes e muito corruptos e que tem que se transferir à sociedade civil a responsabilidade da criação de riqueza.
O senhor pretende se candidatar novamente a um cargo político?
Não, em absoluto. Não penso, nunca pensei em voltar à política profissional. Escrevo, falo de assuntos políticos porque, para mim, isto forma parte do meu trabalho intelectual; acredito que esta é uma das obrigações que tem um intelectual, mas opino como um escritor e como um intelectual, não como um político, o que não sou nem voltarei a ser.
Falemos do livro “A guerra do fim do mundo”. Pode-se dizer que este livro foge um pouco do romance histórico. Euclides da Cunha não é retratado, mas surge no romance um jornalista míope que representa a “cegueira ideológica” intelectual latino-americano.
De certa forma sim. A personagem do jornalista míope não é um retrato objetivo de Euclides da Cunha. Está inspirado de uma maneira tênue em Euclides, que é um escritor que admiro muito. Por isso, dedico-lhe este livro. E escrevi esta novela porque li “Os Sertões”, que, para mim, é uma das grandes experiências que tive como leitor. Interessou-me tanto a Guerra dos Canudos quanto o caso de Euclides da Cunha. Euclides é um dos intelectuais brasileiros responsáveis pela desinformação que se criou no Brasil em relação ao que estava acontecendo em Canudos, pelos preconceitos ideológicos. Quando estoura a Guerra dos Canudos, Euclides da Cunha escrevia artigos em São Paulo dando uma interpretação ideológica, apresentando os jagunços como sendo da monarquia, como instrumentos dos senhores feudais. Isso tudo é uma ficção ideológica, nada disso é verdadeiro. Mas o preconceito ideológico é tão forte que, inclusive quando Euclides vai para Canudos, o que vê não é o que está acontecendo, mas sim as imagens ideológicas que ele traz. As crônicas que ele escreve em Canudos falam, inclusive, de jagunços louros, de olhos claros, que poderiam ser oficiais ingleses.
Em “Os Sertões”, Euclides da Cunha faz um exame de consciência.
Sim. Euclides da Cunha é talvez o primeiro intelectual brasileiro a refletir sobre o massacre que houve em Canudos. Ele compreendeu que se tratou de um enorme mal-entendido, do qual resultaram trinta, quarenta mil, cinquenta mil mortos. Nunca saberemos quantos. Então ele faz algo que para mim é incrível, é um esforço de compreensão, um ato fundamentalmente intelectual, que muitos intelectuais não fazem nunca. Um esforço de compreensão do que realmente aconteceu e das razões para que todo um país ficasse cego de tal forma que acabasse acontecendo esta guerra. E então escreve este livro extraordinário. Bem, então, no jornalista míope, de uma forma muito geral, é o que eu quis mostrar, esta evolução. O jornalista míope não entende nada, não vê nada no princípio. Mas, aos poucos, entre todos os que vivem a tragédia, ele aprende uma lição, ele tira um ensinamento.
A sua versão da Guerra de Canudos apresenta os rebeldes e os republicanos como fanáticos.
Os dois grupos eram fanáticos. Eram fanáticos os jagunços, os rebeldes, e eram fanáticos os republicanos. Por isso confundiram estes camponeses coitados com instrumentos de toda uma conspiração antirrepublicana, uma coisa que não eram os rebeldes. O (Antônio) Conselheiro e Moreira César eram como o verso e o reverso da atitude intolerante, da atitude ideológica, a qual acredita que é dona de uma verdade absoluta e de que pode impô-la pela força.
No romance “A guerra do fim do mundo” e, em outros, o senhor dialoga com o estilo narrativo de escritores como Faulkner, Joyce, Virginia Woolf e principalmente Flaubert que inaugurou um novo modo de narração.
Todos os autores que me impressionaram muito, que admiro, certamente deixaram uma marca, deixaram uma influência. Acho que isto é inevitável. Agora, nem sempre os autores que mais admiramos são os que influenciam mais; às vezes as influências mais importantes são inconscientes, não somos lúcidos quanto à marca que deixou certa leitura, mas certamente os escritores que você falou, Faulkner, por exemplo, um autor que admiro muito, Flaubert, é claro, já escrevi um livro sobre ele. Eu sou um grande leitor de novelas do século XIX, de Balzac, de Melville. Acho que Tolstói, Dostóievski me influenciaram muito. O século XIX é como a época ápice do gênero narrativo e de alguma forma gostaria, nas novelas que escrevo, de continuar esta tradição: da novela ambiciosa, da novela de fôlego.
Jorge Luis Borges é o principal escritor latino-americano de todos os tempos?
Borges é um dos grandes escritores modernos, um dos grandes escritores da nossa língua. Poucos escritores enriqueceram a língua espanhola como Borges, ele a purificou. Uma língua que é muito exuberante, geralmente a língua literária, ele enxugou-a, tornou-a austera, tornou-a inteligente, encheu-a de ideias mais que de sensações. Um escritor extraordinário mas, bem, que haja um escritor extraordinário não significa que não possa haver outros.
Falemos da extraordinária sintaxe de Guimarães Rosa.
Guimarães Rosa é um grande escritor, um escritor extraordinário, um dos grandes escritores de nosso tempo, com uma obra muito complexa, que tem muito da cor local, que tem também uma dimensão um pouco esotérica, com referências a uma espiritualidade muito complexa. Um grande criador da linguagem.
Rosa é um dos grandes escritores contemporâneos e representa um momento literário único na América Latina.
Sim, sem nenhuma dúvida, é um dos grandes escritores contemporâneos que, além disso, representa para nós um momento que é muito privilegiado para a cultura latino-americana porque, simultaneamente, surgiram escritores tão importantes aqui e ali, em toda América Latina. Isto permitiu que a América Latina obtivesse do ponto de vista cultural um reconhecimento que não tivera nunca antes.
PEDRO MACIEL é autor dos romances “Retornar com os pássaros” (LeYa), “Como deixei de ser Deus” (Topbooks) e “A hora os náufragos” (Bertrand Brasil)
Twitter começa a testar links patrocinados na timeline
Tuítes com publicidade serão enviados pelo HootSuite.
Em abril, empresa anunciou o começo da venda de anúncios on-line.
Do G1, em São Paulo
O Twitter anunciou na segunda-feira (1), por meio do seu blog oficial, que começará a testar os links patrocinados na timeline do microblog. No início, os testes serão feitos com o parceiro HootSuite. A empresa disse que pretende analisar com cuidado a reação e engajamento dos usuários com os tuítes patrocinados.
Em abril deste ano, o Twitter anunciou o começo da venda publicidade on-line por meio do microblog. O primeiro passo foram mensagens patrocinadas no topo da página de buscas. Depois, os tópicos mais comentados (Trending Topics) também começaram a receber patrocínio. O usuário consegue identificar quando uma informação é patrocinada pela mensagem "Promoted by".
No post, a empresa esclareceu que nem todos os usuários do HootSuite irão ver os tuítes patrocinados. Além disso, o Twitter vai experimentar onde e quando esses tuítes são mostrados na timeline. “Assim como os links patrocinados na busca, apenas vamos mostrar tuítes patrocinados quando eles são relevantes ao usuário. Usaremos ‘sinais’ que determinem essa informação, por meio da lista pública de quem o internauta segue, por exemplo”, disse a empresa.
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Em abril deste ano, o Twitter anunciou o começo da venda publicidade on-line por meio do microblog. O primeiro passo foram mensagens patrocinadas no topo da página de buscas. Depois, os tópicos mais comentados (Trending Topics) também começaram a receber patrocínio. O usuário consegue identificar quando uma informação é patrocinada pela mensagem "Promoted by".
No post, a empresa esclareceu que nem todos os usuários do HootSuite irão ver os tuítes patrocinados. Além disso, o Twitter vai experimentar onde e quando esses tuítes são mostrados na timeline. “Assim como os links patrocinados na busca, apenas vamos mostrar tuítes patrocinados quando eles são relevantes ao usuário. Usaremos ‘sinais’ que determinem essa informação, por meio da lista pública de quem o internauta segue, por exemplo”, disse a empresa.
domingo, outubro 31, 2010
Leia íntegra do primeiro pronunciamento da presidente eleita Dilma Rousseff
PRONUNCIAMENTO DE 31 DE OUTUBRO DE 2010
Minhas amigas e meus amigos de todo o Brasil,
É imensa a minha alegria de estar aqui.
Recebi hoje de milhões de brasileiras e brasileiros a missão mais importante de minha vida.
Este fato, para além de minha pessoa, é uma demonstração do avanço democrático do nosso país: pela primeira vez uma mulher presidirá o Brasil. Já registro portanto aqui meu primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras, para que este fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural. E que ele possa se repetir e se ampliar nas empresas, nas instituições civis, nas entidades representativas de toda nossa sociedade.
A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um principio essencial da democracia. Gostaria muito que os pais e mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas, e lhes dissessem: SIM, a mulher pode!
Minha alegria é ainda maior pelo fato de que a presença de uma mulher na presidência da República se dá pelo caminho sagrado do voto, da decisão democrática do eleitor, do exercício mais elevado da cidadania. Por isso, registro aqui outro compromisso com meu país:
Valorizar a democracia em toda sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais da alimentação, do emprego e da renda, da moradia digna e da paz social.
Zelarei pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa.
Zelarei pela mais ampla liberdade religiosa e de culto.
Zelarei pela observação criteriosa e permanente dos direitos humanos tão claramente consagrados em nossa constituição.
Zelarei, enfim, pela nossa Constituição, dever maior da presidência da República.
Nesta longa jornada que me trouxe aqui pude falar e visitar todas as nossas regiões.
O que mais me deu esperanças foi a capacidade imensa do nosso povo, de agarrar uma oportunidade, por mais singela que seja, e com ela construir um mundo melhor para sua família.
É simplesmente incrível a capacidade de criar e empreender do nosso povo. Por isso, reforço aqui meu compromisso fundamental: a erradicação da miséria e a criação de oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras.
Ressalto, entretanto, que esta ambiciosa meta não será realizada pela vontade do governo. Ela é um chamado à nação, aos empresários, às igrejas, às entidades civis, às universidades, à imprensa, aos governadores, aos prefeitos e a todas as pessoas de bem.
Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte.
A erradicação da miséria nos próximos anos é, assim, uma meta que assumo, mas para a qual peço humildemente o apoio de todos que possam ajudar o país no trabalho de superar esse abismo que ainda nos separa de ser uma nação desenvolvida.
O Brasil é uma terra generosa e sempre devolverá em dobro cada semente que for plantada com mão amorosa e olhar para o futuro.
Minha convicção de assumir a meta de erradicar a miséria vem, não de uma certeza teórica, mas da experiência viva do nosso governo, no qual uma imensa mobilidade social se realizou, tornando hoje possível um sonho que sempre pareceu impossível.
Reconheço que teremos um duro trabalho para qualificar o nosso desenvolvimento econômico. Essa nova era de prosperidade criada pela genialidade do presidente Lula e pela força do povo e de nossos empreendedores encontra seu momento de maior potencial numa época em que a economia das grandes nações se encontra abalada.
No curto prazo, não contaremos com a pujança das economias desenvolvidas para impulsionar nosso crescimento. Por isso, se tornam ainda mais importantes nossas próprias políticas, nosso próprio mercado, nossa própria poupança e nossas próprias decisões econômicas.
Longe de dizer, com isso, que pretendamos fechar o país ao mundo. Muito ao contrário, continuaremos propugnando pela ampla abertura das relações comerciais e pelo fim do protecionismo dos países ricos, que impede as nações pobres de realizar plenamente suas vocações.
Mas é preciso reconhecer que teremos grandes responsabilidades num mundo que enfrenta ainda os efeitos de uma crise financeira de grandes proporções e que se socorre de mecanismos nem sempre adequados, nem sempre equilibrados, para a retomada do crescimento.
É preciso, no plano multilateral, estabelecer regras mais claras e mais cuidadosas para a retomada dos mercados de financiamento, limitando a alavancagem e a especulação desmedida, que aumentam a volatilidade dos capitais e das moedas. Atuaremos firmemente nos fóruns internacionais com este objetivo.
Cuidaremos de nossa economia com toda responsabilidade. O povo brasileiro não aceita mais a inflação como solução irresponsável para eventuais desequilíbrios. O povo brasileiro não aceita que governos gastem acima do que seja sustentável.
Por isso, faremos todos os esforços pela melhoria da qualidade do gasto público, pela simplificação e atenuação da tributação e pela qualificação dos serviços públicos.
Mas recusamos as visões de ajustes que recaem sobre os programas sociais, os serviços essenciais à população e os necessários investimentos.
Sim, buscaremos o desenvolvimento de longo prazo, a taxas elevadas, social e ambientalmente sustentáveis. Para isso zelaremos pela poupança pública.
Zelaremos pela meritocracia no funcionalismo e pela excelência do serviço público.
Zelarei pelo aperfeiçoamento de todos os mecanismos que liberem a capacidade empreendedora de nosso empresariado e de nosso povo.
Valorizarei o Micro Empreendedor Individual, para formalizar milhões de negócios individuais ou familiares, ampliarei os limites do Supersimples e construirei modernos mecanismos de aperfeiçoamento econômico, como fez nosso governo na construção civil, no setor elétrico, na lei de recuperação de empresas, entre outros.
As agências reguladoras terão todo respaldo para atuar com determinação e autonomia, voltadas para a promoção da inovação, da saudável concorrência e da efetividade dos setores regulados.
Apresentaremos sempre com clareza nossos planos de ação governamental. Levaremos ao debate público as grandes questões nacionais. Trataremos sempre com transparência nossas metas, nossos resultados, nossas dificuldades.
Mas acima de tudo quero reafirmar nosso compromisso com a estabilidade da economia e das regras econômicas, dos contratos firmados e das conquistas estabelecidas.
Trataremos os recursos provenientes de nossas riquezas sempre com pensamento de longo prazo. Por isso trabalharei no Congresso pela aprovação do Fundo Social do Pré-Sal. Por meio dele queremos realizar muitos de nossos objetivos sociais.
Recusaremos o gasto efêmero que deixa para as futuras gerações apenas as dívidas e a desesperança.
O Fundo Social é mecanismo de poupança de longo prazo, para apoiar as atuais e futuras gerações. Ele é o mais importante fruto do novo modelo que propusemos para a exploração do pré-sal, que reserva à Nação e ao povo a parcela mais importante dessas riquezas.
Definitivamente, não alienaremos nossas riquezas para deixar ao povo só migalhas.
Me comprometi nesta campanha com a qualificação da Educação e dos Serviços de Saúde.
Me comprometi também com a melhoria da segurança pública.
Com o combate às drogas que infelicitam nossas famílias.
Reafirmo aqui estes compromissos. Nomearei ministros e equipes de primeira qualidade para realizar esses objetivos.
Mas acompanharei pessoalmente estas áreas capitais para o desenvolvimento de nosso povo.
A visão moderna do desenvolvimento econômico é aquela que valoriza o trabalhador e sua família, o cidadão e sua comunidade, oferecendo acesso a educação e saúde de qualidade.
É aquela que convive com o meio ambiente sem agredi-lo e sem criar passivos maiores que as conquistas do próprio desenvolvimento.
Não pretendo me estender aqui, neste primeiro pronunciamento ao país, mas quero registrar que todos os compromissos que assumi, perseguirei de forma dedicada e carinhosa.
Disse na campanha que os mais necessitados, as crianças, os jovens, as pessoas com deficiência, o trabalhador desempregado, o idoso teriam toda minha atenção. Reafirmo aqui este compromisso.
Fui eleita com uma coligação de dez partidos e com apoio de lideranças de vários outros partidos. Vou com eles construir um governo onde a capacidade profissional, a liderança e a disposição de servir ao país será o critério fundamental.
Vou valorizar os quadros profissionais da administração pública, independente de filiação partidária.
Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nesta caminhada. Estendo minha mão a eles. De minha parte não haverá discriminação, privilégios ou compadrio.
A partir de minha posse serei presidenta de todos os brasileiros e brasileiras, respeitando as diferenças de opinião, de crença e de orientação política.
Nosso país precisa ainda melhorar a conduta e a qualidade da política. Quero empenhar-me, junto com todos os partidos, numa reforma política que eleve os valores republicanos, avançando em nossa jovem democracia.
Ao mesmo tempo, afirmo com clareza que valorizarei a transparência na administração pública. Não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito. Serei rígida na defesa do interesse público em todos os níveis de meu governo. Os órgãos de controle e de fiscalização trabalharão com meu respaldo, sem jamais perseguir adversários ou proteger amigos.
Deixei para o final os meus agradecimentos, pois quero destacá-los. Primeiro, ao povo que me dedicou seu apoio. Serei eternamente grata pela oportunidade única de servir ao meu país no seu mais alto posto. Prometo devolver em dobro todo o carinho recebido, em todos os lugares que passei.
Mas agradeço respeitosamente também aqueles que votaram no primeiro e no segundo turno em outros candidatos ou candidatas. Eles também fizeram valer a festa da democracia.
Agradeço as lideranças partidárias que me apoiaram e comandaram esta jornada, meus assessores, minhas equipes de trabalho e todos os que dedicaram meses inteiros a esse árduo trabalho.
Agradeço a imprensa brasileira e estrangeira que aqui atua e cada um de seus profissionais pela cobertura do processo eleitoral.
Não nego a vocês que, por vezes, algumas das coisas difundidas me deixaram triste. Mas quem, como eu, lutou pela democracia e pelo direito de livre opinião arriscando a vida; quem, como eu e tantos outros que não estão mais entre nós, dedicamos toda nossa juventude ao direito de expressão, nós somos naturalmente amantes da liberdade. Por isso, não carregarei nenhum ressentimento.
Disse e repito que prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras. As críticas do jornalismo livre ajudam ao pais e são essenciais aos governos democráticos, apontando erros e trazendo o necessário contraditório.
Agradeço muito especialmente ao presidente Lula. Ter a honra de seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guarda para a vida toda. Conviver durante todos estes anos com ele me deu a exata dimensão do governante justo e do líder apaixonado por seu pais e por sua gente. A alegria que sinto pela minha vitória se mistura com a emoção da sua despedida.
Sei que um líder como Lula nunca estará longe de seu povo e de cada um de nós.
Baterei muito a sua porta e, tenho certeza, que a encontrarei sempre aberta.
Sei que a distância de um cargo nada significa para um homem de tamanha grandeza e generosidade. A tarefa de sucedê-lo é difícil e desafiadora. Mas saberei honrar seu legado.
Saberei consolidar e avançar sua obra.
Aprendi com ele que quando se governa pensando no interesse público e nos mais necessitados uma imensa força brota do nosso povo.
Uma força que leva o país para frente e ajuda a vencer os maiores desafios.
Passada a eleição agora é hora de trabalho. Passado o debate de projetos agora é hora de união.
União pela educação, união pelo desenvolvimento, união pelo país. Junto comigo foram eleitos novos governadores, deputados, senadores. Ao parabenizá-los, convido a todos, independente de cor partidária, para uma ação determinada pelo futuro de nosso país.
Sempre com a convicção de que a Nação Brasileira será exatamente do tamanho daquilo que, juntos, fizermos por ela.
Muito obrigada,
Minhas amigas e meus amigos de todo o Brasil,
É imensa a minha alegria de estar aqui.
Recebi hoje de milhões de brasileiras e brasileiros a missão mais importante de minha vida.
Este fato, para além de minha pessoa, é uma demonstração do avanço democrático do nosso país: pela primeira vez uma mulher presidirá o Brasil. Já registro portanto aqui meu primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras, para que este fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural. E que ele possa se repetir e se ampliar nas empresas, nas instituições civis, nas entidades representativas de toda nossa sociedade.
A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um principio essencial da democracia. Gostaria muito que os pais e mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas, e lhes dissessem: SIM, a mulher pode!
Minha alegria é ainda maior pelo fato de que a presença de uma mulher na presidência da República se dá pelo caminho sagrado do voto, da decisão democrática do eleitor, do exercício mais elevado da cidadania. Por isso, registro aqui outro compromisso com meu país:
Valorizar a democracia em toda sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais da alimentação, do emprego e da renda, da moradia digna e da paz social.
Zelarei pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa.
Zelarei pela mais ampla liberdade religiosa e de culto.
Zelarei pela observação criteriosa e permanente dos direitos humanos tão claramente consagrados em nossa constituição.
Zelarei, enfim, pela nossa Constituição, dever maior da presidência da República.
Nesta longa jornada que me trouxe aqui pude falar e visitar todas as nossas regiões.
O que mais me deu esperanças foi a capacidade imensa do nosso povo, de agarrar uma oportunidade, por mais singela que seja, e com ela construir um mundo melhor para sua família.
É simplesmente incrível a capacidade de criar e empreender do nosso povo. Por isso, reforço aqui meu compromisso fundamental: a erradicação da miséria e a criação de oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras.
Ressalto, entretanto, que esta ambiciosa meta não será realizada pela vontade do governo. Ela é um chamado à nação, aos empresários, às igrejas, às entidades civis, às universidades, à imprensa, aos governadores, aos prefeitos e a todas as pessoas de bem.
Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte.
A erradicação da miséria nos próximos anos é, assim, uma meta que assumo, mas para a qual peço humildemente o apoio de todos que possam ajudar o país no trabalho de superar esse abismo que ainda nos separa de ser uma nação desenvolvida.
O Brasil é uma terra generosa e sempre devolverá em dobro cada semente que for plantada com mão amorosa e olhar para o futuro.
Minha convicção de assumir a meta de erradicar a miséria vem, não de uma certeza teórica, mas da experiência viva do nosso governo, no qual uma imensa mobilidade social se realizou, tornando hoje possível um sonho que sempre pareceu impossível.
Reconheço que teremos um duro trabalho para qualificar o nosso desenvolvimento econômico. Essa nova era de prosperidade criada pela genialidade do presidente Lula e pela força do povo e de nossos empreendedores encontra seu momento de maior potencial numa época em que a economia das grandes nações se encontra abalada.
No curto prazo, não contaremos com a pujança das economias desenvolvidas para impulsionar nosso crescimento. Por isso, se tornam ainda mais importantes nossas próprias políticas, nosso próprio mercado, nossa própria poupança e nossas próprias decisões econômicas.
Longe de dizer, com isso, que pretendamos fechar o país ao mundo. Muito ao contrário, continuaremos propugnando pela ampla abertura das relações comerciais e pelo fim do protecionismo dos países ricos, que impede as nações pobres de realizar plenamente suas vocações.
Mas é preciso reconhecer que teremos grandes responsabilidades num mundo que enfrenta ainda os efeitos de uma crise financeira de grandes proporções e que se socorre de mecanismos nem sempre adequados, nem sempre equilibrados, para a retomada do crescimento.
É preciso, no plano multilateral, estabelecer regras mais claras e mais cuidadosas para a retomada dos mercados de financiamento, limitando a alavancagem e a especulação desmedida, que aumentam a volatilidade dos capitais e das moedas. Atuaremos firmemente nos fóruns internacionais com este objetivo.
Cuidaremos de nossa economia com toda responsabilidade. O povo brasileiro não aceita mais a inflação como solução irresponsável para eventuais desequilíbrios. O povo brasileiro não aceita que governos gastem acima do que seja sustentável.
Por isso, faremos todos os esforços pela melhoria da qualidade do gasto público, pela simplificação e atenuação da tributação e pela qualificação dos serviços públicos.
Mas recusamos as visões de ajustes que recaem sobre os programas sociais, os serviços essenciais à população e os necessários investimentos.
Sim, buscaremos o desenvolvimento de longo prazo, a taxas elevadas, social e ambientalmente sustentáveis. Para isso zelaremos pela poupança pública.
Zelaremos pela meritocracia no funcionalismo e pela excelência do serviço público.
Zelarei pelo aperfeiçoamento de todos os mecanismos que liberem a capacidade empreendedora de nosso empresariado e de nosso povo.
Valorizarei o Micro Empreendedor Individual, para formalizar milhões de negócios individuais ou familiares, ampliarei os limites do Supersimples e construirei modernos mecanismos de aperfeiçoamento econômico, como fez nosso governo na construção civil, no setor elétrico, na lei de recuperação de empresas, entre outros.
As agências reguladoras terão todo respaldo para atuar com determinação e autonomia, voltadas para a promoção da inovação, da saudável concorrência e da efetividade dos setores regulados.
Apresentaremos sempre com clareza nossos planos de ação governamental. Levaremos ao debate público as grandes questões nacionais. Trataremos sempre com transparência nossas metas, nossos resultados, nossas dificuldades.
Mas acima de tudo quero reafirmar nosso compromisso com a estabilidade da economia e das regras econômicas, dos contratos firmados e das conquistas estabelecidas.
Trataremos os recursos provenientes de nossas riquezas sempre com pensamento de longo prazo. Por isso trabalharei no Congresso pela aprovação do Fundo Social do Pré-Sal. Por meio dele queremos realizar muitos de nossos objetivos sociais.
Recusaremos o gasto efêmero que deixa para as futuras gerações apenas as dívidas e a desesperança.
O Fundo Social é mecanismo de poupança de longo prazo, para apoiar as atuais e futuras gerações. Ele é o mais importante fruto do novo modelo que propusemos para a exploração do pré-sal, que reserva à Nação e ao povo a parcela mais importante dessas riquezas.
Definitivamente, não alienaremos nossas riquezas para deixar ao povo só migalhas.
Me comprometi nesta campanha com a qualificação da Educação e dos Serviços de Saúde.
Me comprometi também com a melhoria da segurança pública.
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Reafirmo aqui estes compromissos. Nomearei ministros e equipes de primeira qualidade para realizar esses objetivos.
Mas acompanharei pessoalmente estas áreas capitais para o desenvolvimento de nosso povo.
A visão moderna do desenvolvimento econômico é aquela que valoriza o trabalhador e sua família, o cidadão e sua comunidade, oferecendo acesso a educação e saúde de qualidade.
É aquela que convive com o meio ambiente sem agredi-lo e sem criar passivos maiores que as conquistas do próprio desenvolvimento.
Não pretendo me estender aqui, neste primeiro pronunciamento ao país, mas quero registrar que todos os compromissos que assumi, perseguirei de forma dedicada e carinhosa.
Disse na campanha que os mais necessitados, as crianças, os jovens, as pessoas com deficiência, o trabalhador desempregado, o idoso teriam toda minha atenção. Reafirmo aqui este compromisso.
Fui eleita com uma coligação de dez partidos e com apoio de lideranças de vários outros partidos. Vou com eles construir um governo onde a capacidade profissional, a liderança e a disposição de servir ao país será o critério fundamental.
Vou valorizar os quadros profissionais da administração pública, independente de filiação partidária.
Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nesta caminhada. Estendo minha mão a eles. De minha parte não haverá discriminação, privilégios ou compadrio.
A partir de minha posse serei presidenta de todos os brasileiros e brasileiras, respeitando as diferenças de opinião, de crença e de orientação política.
Nosso país precisa ainda melhorar a conduta e a qualidade da política. Quero empenhar-me, junto com todos os partidos, numa reforma política que eleve os valores republicanos, avançando em nossa jovem democracia.
Ao mesmo tempo, afirmo com clareza que valorizarei a transparência na administração pública. Não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito. Serei rígida na defesa do interesse público em todos os níveis de meu governo. Os órgãos de controle e de fiscalização trabalharão com meu respaldo, sem jamais perseguir adversários ou proteger amigos.
Deixei para o final os meus agradecimentos, pois quero destacá-los. Primeiro, ao povo que me dedicou seu apoio. Serei eternamente grata pela oportunidade única de servir ao meu país no seu mais alto posto. Prometo devolver em dobro todo o carinho recebido, em todos os lugares que passei.
Mas agradeço respeitosamente também aqueles que votaram no primeiro e no segundo turno em outros candidatos ou candidatas. Eles também fizeram valer a festa da democracia.
Agradeço as lideranças partidárias que me apoiaram e comandaram esta jornada, meus assessores, minhas equipes de trabalho e todos os que dedicaram meses inteiros a esse árduo trabalho.
Agradeço a imprensa brasileira e estrangeira que aqui atua e cada um de seus profissionais pela cobertura do processo eleitoral.
Não nego a vocês que, por vezes, algumas das coisas difundidas me deixaram triste. Mas quem, como eu, lutou pela democracia e pelo direito de livre opinião arriscando a vida; quem, como eu e tantos outros que não estão mais entre nós, dedicamos toda nossa juventude ao direito de expressão, nós somos naturalmente amantes da liberdade. Por isso, não carregarei nenhum ressentimento.
Disse e repito que prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras. As críticas do jornalismo livre ajudam ao pais e são essenciais aos governos democráticos, apontando erros e trazendo o necessário contraditório.
Agradeço muito especialmente ao presidente Lula. Ter a honra de seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guarda para a vida toda. Conviver durante todos estes anos com ele me deu a exata dimensão do governante justo e do líder apaixonado por seu pais e por sua gente. A alegria que sinto pela minha vitória se mistura com a emoção da sua despedida.
Sei que um líder como Lula nunca estará longe de seu povo e de cada um de nós.
Baterei muito a sua porta e, tenho certeza, que a encontrarei sempre aberta.
Sei que a distância de um cargo nada significa para um homem de tamanha grandeza e generosidade. A tarefa de sucedê-lo é difícil e desafiadora. Mas saberei honrar seu legado.
Saberei consolidar e avançar sua obra.
Aprendi com ele que quando se governa pensando no interesse público e nos mais necessitados uma imensa força brota do nosso povo.
Uma força que leva o país para frente e ajuda a vencer os maiores desafios.
Passada a eleição agora é hora de trabalho. Passado o debate de projetos agora é hora de união.
União pela educação, união pelo desenvolvimento, união pelo país. Junto comigo foram eleitos novos governadores, deputados, senadores. Ao parabenizá-los, convido a todos, independente de cor partidária, para uma ação determinada pelo futuro de nosso país.
Sempre com a convicção de que a Nação Brasileira será exatamente do tamanho daquilo que, juntos, fizermos por ela.
Muito obrigada,
Freddy, Jason e Ghost Face e os maníacos do cinema

JASON
A série Sexta-Feira 13 é uma das maiores do cinema de terror. O grande protagonista é Jason Voorheess. Sua especialidade é matar adolescentes loucos por festas, sexo e, geralmente, que vão acampar próximo a Crystal Lake. É um dos clássicos dos anos 80 e já teve doze longas, inclusive um remake lançado em 2009.
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