segunda-feira, dezembro 27, 2010

Amado Jorge!

Fascinante, a trajetória de Jorge Amado confunde-se com a própria história cultural do século XX




"Eu sou muito otimista, muito. O Brasil é um país com uma força enorme. Nós somos um continente, meu amor. Nós não somos um paisinho, nós somos um continente, com um povo extraordinário."




João Amado Faria leva seu filho adolescente de volta para o internato, após o período de férias. Despedem-se e João vai embora, acreditando ter deixado o filho na segurança do colégio de padres. Vai descobrir seu engano somente alguns meses mais tarde, ao saber que o garoto, na verdade, está na fazenda do avô, aonde chegou após uma longa viagem solitária pelo interior da Bahia. O jovem é levado de volta para o colégio e, depois desse episódio, desiste das fugas materiais e passa a se concentrar numa artimanha mais elaborada de fuga e protesto: a escrita. Esse jovem é Jorge Amado de Faria. O nosso Jorge Amado.

Nascido numa fazenda no interior do distrito de Itabuna e tendo sido um aluno exemplar, Jorge Amado é aprovado entre os primeiros colocados na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, estado para o qual se transfere em 1930, então com 18 anos. Já no ano seguinte vê seu primeiro romance, O país do carnaval, ser publicado. Com tiragem de mil exemplares, o livro foi bem recebido por público e crítica. Após uma viagem pela zona cacaueira da Bahia, Jorge Amado escreve e publica o romance Cacau, em 1933. Nessa época, conhece Graciliano Ramos , com quem travaria uma amizade duradoura. No ano seguinte, publica o romance Suor. Nessa época, Jorge Amado não vivia exclusivamente de literatura; foi uma fase de diversos trabalhos como jornalista e editor para várias revistas cariocas.

Nos seus primeiros anos no Rio de Janeiro, Jorge Amado entra em contato, provavelmente influenciado pelo círculo de jovens intelectuais da universidade, com uma ideologia que mudaria seu destino: o comunismo . A ideologia e a militância que o acompanhariam por toda vida e seriam determinantes na sua trajetória. Filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), Jorge Amado sofre sua primeira prisão política já no ano de 1936, acusado de participar de um levante ocorrido em Natal, no ano anterior. Nesse mesmo ano recebe o Prêmio Graça Aranha, oferecido pela Academia Brasileira de Letras, por seu novo romance, Mar Morto.

No ano seguinte tem sua primeira experiência com cinema, atuando no papel de pescador e colaborando no roteiro do filme Itapuã, de Ruy Santos. Durante uma viagem pela América Latina e os Estados Unidos, é publicado no Brasil o livro Capitães da areia. No seu retorno do exterior, Jorge Amado encontra um momento delicado da história política brasileira: ele pisa em solo nacional durante a agitação decorrente do golpe político de Vargas e instauração do Estado Novo decorrente do golpe político de Vargas e . Diante disso, tenta fugir viajando pelo país, mas é preso rapidamente em Manaus. Seus livros são considerados subversivos e mais de 1.600 exemplares são queimados em praça pública em Salvador, segundo registros militares. É libertado em 1938 e mantém intensa atividade política, posicionando-se publicamente contra a tortura de presos e a desarticulação do Partido Comunista.

No ano de 1939 a obra de Jorge Amado já começa a viajar o mundo, sendo traduzida para o inglês e para o francês. Na mesma época, Albert Camus, escritor e futuro Nobel de Literatura, publica um artigo elogioso a Jubiabá no jornal Alger Républicain. Jorge Amado decide, então, escrever uma biografia de Luis Carlos Prestes, a fim de iniciar uma campanha pela sua anistia. Apesar de ter sido editado em espanhol e circular oficialmente apenas no Uruguai e na Argentina, o livro chega clandestinamente ao Brasil. A obra acaba sendo um pretexto para que Jorge Amado seja preso novamente, mas dessa vez por pouco tempo. As autoridades decidem confiná-lo em Salvador, numa espécie de liberdade condicional e vigiada, mas esse regime não dura muito e, em meados de 1945, o escritor é preso novamente.

Nas eleições de 1945, Jorge Amado é eleito deputado federal, com 15.315 votos. No seu mandato, propõe a regulamentação da Lei de Liberdade de Culto, vigente até hoje. Nesse mesmo ano, já divorciado de sua primeira esposa, Matilde Garcia Rosa, Jorge Amado conhece aquela que viria a ser a companheira de uma vida inteira, a fotógrafa, escritora e também ativista política Zélia Gattai. Nesse período, publica Bahia de todos os santos, Terras do sem m, Seara vermelha e Homens e coisas do Partido Comunista.

Nas suas viagens e atividades culturais e políticas, Jorge Amado trava amizade com o poeta Pablo Neruda e sua esposa e com o fotógrafo francês Pierre Verger, radicado na Bahia por influência da leitura de Jubiabá. Em 1947, é editado O amor de Castro Alves e a produtora de cinema Atlântida compra os direitos de Terras do sem m. Ainda no cinema, Jorge Amado escreve o argumento de O cavalo número 13 e Estrela da manhã. Nasce seu primeiro filho, João Jorge. Futuramente, por ocasião do primeiro aniversário da criança, Jorge Amado escreve O gato malhado e a andorinha sinhá. No entanto, a história infantil só seria publicada no final dos anos 70.

Com o cancelamento do registro do Partido Comunista, em 1948, o mandato de Jorge Amado é cassado e seus livros são novamente considerados materiais subversivos e proibidos. O escritor exila-se com a família na Europa, uma vez que sua entrada nos EUA é vetada devido à vigência da lei anticomunista naquele país - até 1952, quando volta ao Brasil e fixa residência no Rio de Janeiro. Ao final dos anos 1950, Jorge Amado abandona a militância política, declarando que seu engajamento era prejudicial a sua atividade literária.

DESCASO DA ACADEMIA MARANHENSE

Assim a Casa de Antônio Lobo trata as publicações de seus imortais.

Mais detalhes em: http://www.academiamaranhense.org.br/noticias7.php

sábado, dezembro 25, 2010

Foguete indiano explode segundo após lançamento

Agência espacial indiana afirma que ainda desconhece a razão do acidente
Um foguete indiano que carregava um satélite de comunicações explodiu no ar pouco após o lançamento, neste sábado, no sul da Índia.
O Veículo de Lançamento de Satélite Geosíncrono (GSLV, na sigla em inglês) explodiu em uma bola de fumaça e fogo depois de decolar do centro espacial de Sriharikota, a 80 quilômetros da cidade de Chennai.

"A performance do foguete estava normal até cerca de 50 segundos após o lançamento. Logo depois disso, o veículo sofreu uma grande alteração de altitude o que levou ao colapso do veículo", afirmou K. Radhakrishnan, diretor da Organização de Pesquisa Espacial Indiana, a jornalistas. "O que causou esta interrupção tem que ser avaliado em detalhe", comentou.
A Índia tem como objetivo expandir seus negócios com lançamento de satélites para cerca de 120 milhões de dólares por ano, cerca de um quarto dos negócios da China com a atividade. Apesar do sucesso com o lançamento de satélites mais leves, o país enfrenta problemas para enviar cargas mais pesadas, o que tem prejudicado os planos comerciais de lançamento.

Em abril, um foguete impulsionado por um motor construído na Índia para lançamento de cargas pesadas teve um problema e caiu na Baía de Bengala, na costa leste do país.
Em 2008, a Índia enviou 10 satélites pequenos em órbita a partir de um único foguete. No mesmo ano, o país enviou também sua primeira missão não tripulada para a Lua. Mas essa missão foi abandonada 10 meses depois de enviar dados com envidências de gelo no satélite terrestre.

(Com agência France-Presse e Reuters)

sexta-feira, dezembro 24, 2010

Red Bull caçoa de Massa e da Ferrari em seu cartão de Natal

A Red Bull sempre foi a equipe mais bem-humorada da Fórmula, por suas iniciativas fora das pistas, como no caso do “Red Bulletin”, uma revista distribuída a cada GP, sempre com o humor ditando as ações.

Neste Natal, o espírito da escuderia não poderia ser diferente. E, com um toque de ironia. O time caçoou da Ferrari para desejar boas festas e relembrou o incidente do GP da Alemanha, quando Massa foi obrigado a Fernando Alonso passar: “Fernando é mais rápido do que você”. Lembra-se da frase, no rádio do brasileiro? Então veja agora o cartão reproduzido pelo site F1SA:

“O Papai Noel é mais rápido do que você… Por favor, confirme se você entendeu esta mensagem!”

quinta-feira, dezembro 23, 2010

As novas do Aurélio

Adriana Natali




Sinônimo de dicionário, Aurélio, a palavra, não está no dicionário. Poderia. Em homenagem ao centenário do autor, Aurélio Buarque de Holanda (1910-1989), a editora Positivo publicou uma quinta edição da obra com uma nova leva de palavras, algumas das quais em sua "estreia" lexicográfica por meio do Aurélio.

Houve alteração da capa e do projeto gráfico e a inclusão de uma biografia com fotos do autor nas aberturas de letras. A caligrafia de Aurélio foi escaneada de seus manuais e digitalizada, dando origem à fonte Aurélio, presente nas aberturas de letras.

- A nova edição possui um design arrojado. As fontes bem como as cores utilizadas facilitam a visualização das palavras - afirma a professora Margibel de Oliveira, doutoranda do Curso de Filologia e Língua Portuguesa da USP.

A nova edição teve um aumento de 6%, em relação à edição anterior, em novas palavras, acepções, locuções e abonações. E traz o registro das 3 mil termos mais frequentes em português, tirados de um acervo de mais de 5 milhões de ocorrências, em documentos escritos como jornais, revistas, textos, obras literárias e periódicos em geral. Foi usado como base o corpus de Araraquara, da Unesp, que já servira de fonte para o Dicionário Unesp, de Francisco Borba, e recobre de 1900 ao ano 2000.

- Um vocabulário de uma pessoa gira em torno de 3 mil palavras, então nos pareceu interessante mostrar ao consulente quais eram as mais frequentes - explica Valéria Zelik, a editora do Aurélio.

Garfos e facas
A editora conta que essa relação de palavras é bem curiosa: a palavra "garfo", por exemplo, não figura nessa lista talvez por não ter tanta representatividade; já a palavra "faca" consta na seleção, devido ao grande número de ocorrências nos noticiários policiais. São exemplos dessas palavras mais frequentes na escrita: degrau, estar, êxito, enxame, expor, explosão, fazer, leite, leitor, lembrança, pensar, perfume, perfil, realizar, recado, ser, título, tonelada, vergonha e vermelho.

- Se uma pessoa, ao consultar o dicionário, descobre que a palavra consultada é frequente, dará mais atenção a ela, como é sua grafia, sua regência - completa Valéria.

Não só os verbetes técnicos foram revisados e atualizados por pesquisadores de áreas específicas.

- A pesquisa lexicográfica compreendeu desde o levantamento da nominata (desenvolvida a partir de livros, jornais e revistas e outras mídias escolhidas como fontes de pesquisa), à coleta e escolha de abonações, ao tratamento lexical e gramatical das lexias que passaram a compor o dicionário - explica Marina Ferreira, a viúva do autor e a coordenadora da edição.

Trabalho

Marina conheceu Aurélio em 1942 e foi sua esposa durante 45 anos. Evitar incluir "modismos passageiros", priorizar palavras de uso efetivo, em especial na mídia, tem sido a preocupação central de sua equipe desde a morte do autor.

- Antes de uma palavra entrar no dicionário, passa por um "período de observação", que pode ser de anos e vai mostrar se ela realmente foi incorporada pela sociedade - diz a editora Valéria.

É por conta disso que a nova edição introduziu palavras do universo "internetês", como "blogar" e "tuitar", embora o próprio "internetês" tenha ficado de fora.

- É importante a entrada de palavras ligadas aos avanços tecnológicos, porque denominam novos hábitos e ações que se tornaram comuns no cotidiano dos brasileiros - afirma Neusa Maria Oliveira Barbosa Bastos, professora do Centro de Comunicação e Letras do Mackenzie.

Algumas palavras chamaram a atenção do professor de Letras Everaldo José Campos Pinheiro, da Universidade São Judas Tadeu.

- Ricardão, bullying, nerd, botox, flex. São vocábulos amplamente usados. Como essas palavras são empregadas para dar ironia ("ricardão" para falar de assédio, "botox" para acabar com as rugas, etc.) achei interessante entrarem no dicionário. Há muitas outras, que acompanham nossa evolução tecnológica, da área de informática, biologia, botânica e genética. Quanto mais a ciência evolui, maior é a necessidade de palavras novas para traduzir o novo - afirma Everaldo.

Masculino e feminino
Os professores Celso Fraga da Fonseca, da Escola do Legislativo de Minas Gerais, e Juliana Alves Assis, do Departamento de Letras da PUC Minas, também analisaram a obra. Para eles, um ponto positivo da nova edição é que, conforme se observa no prefácio da obra, embora a tradição lexicográfica tome o masculino como forma básica de substantivos e adjetivos, o dicionário optou por apresentar muitas das palavras representativas de cargos públicos em sua forma feminina, em consonância com os diversos papéis sociais desempenhados pela mulher na sociedade contemporânea, ampliando a lista, já presente na edição anterior, que contém "presidenta", "governadora", etc.

- Além disso, o dicionário registra, desassombradamente, um sem-número de vocábulos estrangeiros em circulação entre nós. Numa atitude contrária, no entanto, insiste, por exemplo, em manter unicamente a forma "nuança", aportuguesamento do francês nuance, muito mais usada entre nós que a primeira. Por outro lado, faz constar "maquete"/"maqueta"; "avalanche"/"avalancha", etc. - avalia Fonseca.

A lista de 3 mil palavras mais frequentes foi considerada um avanço.

- Essa lista pode ser de grande utilidade para orientar quem deseja evitar palavras pouco conhecidas ou arcaísmos, coisa comum nos textos jurídicos, por exemplo, bem como para orientar estrangeiros ou seus professores de português, já que nossos dicionários não parecem se preocupar com esse público. Isso torna o dicionário mais científico e menos intuitivo - explica Juliana Alves Assis.

Para a professora Margibel de Oliveira, doutoranda do Curso de Filologia e Língua Portuguesa da USP, as instituições brasileiras têm no Aurélio uma fonte de pesquisa.

- Homenagear este brasileiro é reconhecer um trabalho minucioso de coleta e análise de dados, os quais estão, de maneira singular, apresentados no Dicionário - afirma Margibel.

Além do lançamento da quinta edição, sua terra natal, Alagoas, tem feito uma série de homenagens que tiveram início no ano passado. A mais recente foi o tombamento da casa em que ele nasceu.

Novos verbetes

Bandeide (aportuguesamento do inglês Band-aid, marca registrada de curativo)

Chocólatra (devorador habitual de chocolates)

Data-show (aparelho de vídeo para projeção)
Ecobag (sacola de material biodegradável)
Empreendedorismo (caráter, faculdade ou realização de empreendedor)
Enem (Sigla de Exame Nacional do Ensino Médio)
Flex (motor ou veículo capaz de funcionar com dois tipos de combustível ao mesmo tempo)
Mochileiro (quem viaja com pouca bagagem)

Pet shop (loja de serviços para animais domésticos)
Samu (sigla de Serviço de Atendimento Móvel de Urgência)
Test drive (avaliação do desempenho de um veículo ao dirigi-lo)

Novas locuções

Número (....) Número dois. Forma eufêmica para cocô. [Calque (2) do ingl. number two.] Número um. 1. O mais importante; o principal: Paulo é o meu amigo número um. 2. Forma eufêmica para xixi. [Nesta acepç. calque (2) do ingl. number one.]

Incorreto (....) Politicamente incorreto. 1. Diz-se de atitude, comportamento, discurso, etc., que revela preconceito ou parâmetros de valor tidos como desprestigiantes do ponto de vista social, cultural, econômico. 2. O pensamento, a atitude, o comportamento, o discurso etc., politicamente incorreto.

O mundo digital entra no dicionário

Blogar - Verbo intransitivo. Manter (o internauta) um blog. [Conjug.: rogar.]

E-book - [Ingl.] Substantivo masculino. V. livro eletrônico.

Cookie - [Ingl.] Substantivo masculino. 1. Cul. Biscoito crocante e macio, de forma arredondada, ger. recheado com nozes, passas, etc. 2. Inform. Informação coletada por um navegador Web que fica armazenada no computador, e que pode ser us. por sites da Intranet.

Fotolog - [Adapt. do ingl. photolog.] Substantivo masculino. 1. Álbum de fotografias virtual, posto na Internet.

Spam - [Ingl.] Substantivo masculino. Inform. Mensagem publicitária ou não, recebida via correio eletrônico, sem o consentimento ou solicitação do usuário.

Tablet - [Ingl.] Substantivo masculino. Inform. 1. Computador de uso pessoal que possui tela sensível ao toque. 2. Tipo especial de caneta, us. para registrar notas diretamente na tela do computador.

Tuitar - [Do ingl. twitt(er) + -ar2.] Verbo intransitivo. 1. Postar no twitter comentários, informações, fotos, etc. ger. de caráter pessoal ou institucional. 2. Acompanhar os fatos, ideias, informações, etc. registrados por alguém em seu twitter. [Conjug.: v. ajuizar.]

Avatar - [Do sânscr. avatara, 'descida' (do Céu à Terra), pelo fr. avatar.] Substantivo masculino. 1. Rel. Reencarnação de um deus, e, especialmente, no hinduísmo, reencarnação do deus Vixnu. 2. Transformação, transfiguração: "Aqui era a laranjeira-cravo junto da qual o vira, como em um avatar, como em uma transfiguração, risonho, franco, comunicativo, sob o aspecto que em um momento a cativara." (Júlio Ribeiro, A Carne, p. 91.) 3. Inform. Cada um dos personagens de um jogo informático em que, ger., se empregam imagens gráficas animadas e outras técnicas de realidade virtual, que corresponde e é controlado por cada um dos participantes: O avatar de Pedro no jogo é um jovem detetive. 4. Inform. Imagem, realística ou não, associada a participante de uma rede social (q. v.).

Dedicação às palavras

Trajetória de Aurélio Buarque de Holanda foi marcada pela pesquisa lexicográfica

Crítico, lexicógrafo, filólogo, professor, tradutor e ensaísta brasileiro, o apreço às palavras marcou a vida do autor do Dicionário Aurélio - Aurélio Buarque de Holanda Ferreira - nascido em Alagoas em 1910 e morto em 1989 no Rio de Janeiro.

Aos 14 anos, começou a dar aulas particulares de português. Aos 15, ingressou efetivamente no magistério: foi convidado pelo Ginásio Primeiro de Março a lecionar em seu curso primário. Já naquela época passou a se interessar por língua e literatura portuguesas.

Formou-se em Direito em 1936, ano em que se tornou professor de língua portuguesa e francesa e de literatura no Colégio Estadual de Alagoas. No ano de 1938, Aurélio mudou-se para o Rio de Janeiro, onde deu continuidade à sua carreira de magistério nos colégios Pedro II e Anglo-Americano.

De 1941 a 1956, trabalhou no Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, da editora Civilização Brasileira, modernizando-o e adicionando verbetes e brasileirismos. Esse dicionário se tornou o mais popular do país na época e muita gente o associava ao nome de Aurélio. Nos anos 40, Aurélio também trabalhou num dicionário enciclopédico para o Instituto Nacional do Livro.

- Depois de tantos anos como lexicógrafo, era natural que Aurélio decidisse fazer a sua própria obra, coroando, assim, a sua carreira como dicionarista - conta a viúva do autor, Marina Baird Ferreira.

Foi o que aconteceu em 1975, quando foi publicado o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, conhecido como Dicionário Aurélio ou somente Aurelião.

- Antes de o Aurélio ser lançado, dicionário era sinônimo de obra pouco acessível, fosse pela linguagem difícil, fosse pelo alto custo. O que tornava a sua aquisição e compreensão impossíveis para a maioria. Com o seu dicionário, Aurélio conseguiu o inesperado: a transformação do dicionário em obra de fácil consulta e de fácil aquisição - afirma Marina.

Processo
Marina conta que, leitor contumaz, Aurélio tinha por hábito anotar nos volumes lidos as palavras, expressões e usos que viria a registrar no dicionário posteriormente. Depois, passava a estudar e a definir caso a caso.

- Na época ele era professor do Colégio Pedro II e trabalhava diariamente no dicionário, este trabalho geralmente ia até a noite. Aurélio adorava ler, fosse prosa ou poesia. Dos grandes clássicos aos modernistas, da literatura universal à regional, nada lhe escapava - conta a viúva, que até hoje guarda cerca de 6 mil volumes, "na nossa biblioteca, e utilizados, ainda hoje, como referência para parte da pesquisa lexicográfica".

Em 1977, ele publicou o Minidicionário da Língua Portuguesa, que também é chamado de Miniaurélio. Em 1989, lançou o Dicionário Aurélio Infantil da Língua Portuguesa, com ilustrações do Ziraldo. (A.N.)

Shakira lança seu primeiro livro para crianças

DE SÃO PAULO

A cantora Shakira vai lançar seu primeiro livro, que será baseado em um desenho da Nickeloden, "Dora the Explorer". As informações são do site Popcrunch.

O livro "World School Adventure Day" vai ser lançado até o fim do ano e toda a renda obtida com a venda será revertida para a instituição de caridade da cantora, Pies Descalzos, que ajuda a fornecer educação para crianças.

"Dora é uma inspiração para todas as crianças do mundo todo. Foi uma honra trabalhar com a Nickelodeon para escrever essa história, já que a educação é um tema que está muito próximo ao meu coração", disse Shakira.

A cantora tem shows marcados no Brasil no ano que vem.

terça-feira, dezembro 21, 2010

Burocracia torna a ciência brasileira menos competitiva

MINISTRO DA CIÊNCIA FAZ BALANÇO DE GESTÃO
DE MAIS DE CINCO ANOS E DIZ QUE META DEVE
SER FORTALECER CULTURA DE PESQUISA EM EMPRESAS

ENTREVISTA SÉRGIO REZENDE


SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

O físico carioca Sérgio Rezende deixará em 31 de dezembro o MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia), que esteve sob seu comando por mais de cinco anos.
Em entrevista exclusiva à Folha, ele reconhece que, apesar dos avanços de sua gestão, a burocracia ainda é um dos grandes inimigos dos cientistas brasileiros. Também defendeu a escolha do petista Aloizio Mercadante como seu sucessor: "Certamente pode ter um papel de influência no governo". Leia os melhores trechos da conversa abaixo.


Folha- O sr. está saindo de uma gestão considerada positiva. Isso é raro...
Sérgio Rezende -
Eu só espero que as pessoas não fiquem com saudades de mim [risos]. Tivemos mais recursos e, acompanhando isso, uma atuação mais forte do governo federal em incentivar e apoiar a pesquisa e inovação nas empresas.
Isso é uma mudança grande. Nossa política científica sempre foi desvinculada da política industrial -que, por sua vez, teve seus altos e baixos. Não havia acontecido até agora uma articulação entre ciência e indústria. Estamos aprendendo a fazer isso, mas avançamos muito.

Ter 1,3% do PIB destinado à ciência é suficiente?
Passar de 1% foi mudar de patamar. Tínhamos planejado chegar a 1,5% do PIB e chegamos a 1,3%. No entanto, em números absolutos, nós atingimos a meta, porque o PIB do Brasil cresceu muito e continua crescendo.

Mas qual seria o ideal?
Os países desenvolvidos têm em média 2,5% do PIB investido em ciência. Mas esses países têm muito mais cientistas: são dois cientistas para cada 10 mil habitantes. Nós temos um pesquisador para 10 mil pessoas. Se tivéssemos mais recursos, eles não seriam utilizados.
Precisamos formar mais gente, e isso é um processo gradual. A ideia é que a gente chegue a 2022 com dois pesquisadores para cada 10 mil habitantes e com 2,5% do PIB em ciência.

Ainda há barreiras por parte de quem acha que dinheiro público não deve ser gasto com ciência nas empresas?
Existe um pouco. Essas vozes estão ficando isoladas. Felizmente nós estamos passando dessa fase. Há 20 anos se dizia que o dinheiro público deve ficar na universidade e que empresa não deveria fazer pesquisa. Dizia-se que ciência não combina com lucro. Isso é uma bobagem.

Esse tipo de crítico também costuma dizer que não dá para fazer "Big Science" [ciência cara e de grande porte] num país que ainda tem gente passando fome.
A ciência feita com intensidade, com aplicações, contribui de maneira eficaz para resolver os problemas sociais.
O melhor exemplo que temos é da Coreia do Sul, a qual, na década de 1970, era mais subdesenvolvida que o Brasil. Eles investiram em tecnologia e inovação e, com isso, o país tirou milhões de pessoas da pobreza.

Qual foi o principal desafio da sua gestão?
Nós tivemos um problema com o excesso de burocracia. Alguns desvios que aconteceram em fundações de amparo à pesquisa fizeram o TCU [Tribunal de Contas da União] tornar a execução de recursos muito mais difícil.
Hoje a burocracia é um dos entraves para a realização da atividade de pesquisa no Brasil de maneira mais tranquila. É uma burocracia para se usar os recursos, para explicar como usou. Um cientista brasileiro enfrenta muito mais burocracia do que um europeu para fazer o mesmo trabalho, e isso diminui a competitividade.
Nós conseguimos simplificar o procedimento de importação, mas ainda é bem mais difícil um pesquisador daqui comprar um equipamento de fora do que um pesquisador de outro país.
Nos outros lugares é assim: o pesquisador quer comprar um equipamento para fazer uma pesquisa e compra. Aqui não pode, tem sempre de fazer licitação e comprar o mais barato.
Eu decidi sair antes do resultado da eleição. Estou há dez anos consecutivos em atividade de gestão. No momento, quero me dedicar à atividade científica e não à gestão. A gestão do cotidiano, dos problemas, das pessoas, das confusões -isso é algo que desgasta.
Nós demos um salto no MCT, e eu acho que não conseguiria dar novo salto. Precisamos de novas ideias.

Mas o sr. já foi convidado para administrar alguma outra instituição?
Sim, já tive mais de um convite. Mas já disse que não quero mais ter atividade executiva nos próximos anos. Estou indo para Pernambuco [na UFPE].
Estou envolvido em nanotecnologia de materiais magnéticos, já tenho alguns trabalhos. Há dois pós-doutores publicando resultados interessantes, e estou sem tempo de me juntar a eles, de entender o problema, de fazer teoria. Pode ser que em dois anos em volte à gestão, mas agora eu quero ser cientista.

Aloizio Mercadante será um bom ministro no seu lugar?
Ele tem tudo para ser um bom ministro. É uma pessoa de visão larga, certamente pode ter um papel de influência no governo.