quarta-feira, novembro 30, 2011

Cientista de destaque usa até Einstein para provocar rivais do Palmeiras no Twitter

30/11/2011 - 06h00
Bruno Freitas
Em São Paulo

O cientista Miguel Nicolelis é um dos brasileiros mais bem sucedidos fora do país hoje em dia, com trabalhos pioneiros em esforços de integração do cérebro humano com máquinas. No próximo domingo, no entanto, a cabeça do famoso professor da Universidade de Duke faz uma pausa nos raciocínios científicos para se dedicar à torcida contra o Corinthians na reta final do Campeonato Brasileiro.

Na condição de torcedor, Miguel Nicolelis se habituou recentemente a usar sua conta no Twitter para manifestar a paixão e fazer pequenas provocações aos adversários. No último domingo, enquanto o time de Felipão derrotava o São Paulo no Pacaembu, o cientista publicava comentários divertidos e interagia com seguidores.

Nas emoções da rodada levadas à rede social, Nicolelis chama o Corinthians de “coisa ruim”, denomina o maior ídolo são-paulino de “Rogério Cênico” e dispara tiradas como “Einstein vira na cova ao ver meia Corinthiano rasgar o continuum espaçotemporal e arrancar a canela do ponta do Figueirense!”.

Em sua página pessoal na Universidade de Duke, onde expõe resultados de seu grupo de pesquisas, Nicolelis mantém um escudo do Palmeiras, que dá acesso à página oficial do clube na internet. O cientista também conseguiu convencer os colegas nos EUA a adotarem o verde e branco nas cores do time do laboratório.

Palmeirense fanático, Nicolelis diz que espera que seu time do coração complique a festa do maior rival, mas afirma que, em caso de título corintiano, o Palmeiras poderia oferecer um gesto de grandeza, entregando as faixas de campeões aos adversários.

Na última semana, o diretor de marketing do Corinthians, Luiz Paulo Rosenberg, apimentou a expectativa para o clássico da última rodada do Brasileiro ao afirmar que desejaria ter os palmeirenses participando do cerimonial do campeão, com a entrega de faixas. A declaração irritou o lado alviverde e incitou debate acalorado dez dias antes do jogo do Pacaembu.

“Seria um ato civilizado, quantas vezes o Corinthians entregou a faixa para a gente. Temos oito títulos brasileiros, eles podem chegar ao quinto. Seria nobre entregar as faixas, uma atitude esportiva, se o Corinthians ganhar o título dentro das regras do jogo. Afinal, o que seria do Corinthians sem o Palmeiras, e vice-versa”, comenta Nicolelis, que diz ter como aposta o placar de 2 a 0 a favor dos homens de Felipão.

“O time pecou muito nesta temporada. É uma oportunidade de jogar pela dignidade de si mesmo, não de destruir a festa do Corinthians. Que joguem para respeitar a camisa e a torcida”, acrescenta o cientista.

CAMISA PALMEIRENSE ATÉ EM REUNIÃO DE CIENTISTAS

Paulistano de nascimento, Miguel Nicolelis atualmente divide os seus dias entre a cidade em que nasceu, os Estados Unidos, onde lidera um grupo de pesquisadores, e Natal, local em que instalou um projeto de pesquisa complementar a seu trabalho na Universidade de Duke. Quando passa em São Paulo, o cientista costuma vestir o verde para ver o Palmeiras em campo.

No entanto, há 23 anos passando a maior parte de seu tempo fora do país, Nicolelis se habituou a manifestar sua paixão palmeirense do jeito que é possível, mesmo que cause algum espanto entre colegas da ciência menos afeitos ao sentimento do futebol. Certa vez, o brasileiro discursou em um evento ligado à Fundação Nobel trajado com o que chama de “manto alviverde”.

“Foi uma palestra muito séria, em um resort na Suécia. Grandes cientistas do mundo estavam reunidos. Todo mundo com o seu melhor terno, o seu melhor sapato, e eu apareci vestido com a camisa do Palmeiras. Caiu num dia 26 de agosto, dia do tsunami verde, em que todo torcedor que se preze precisa vestir a camisa. Foi um choque para os meus colegas. Mas foi encarado com bom humor. Até porque, antes de cientistas somos seres humanos”, relata.

Nicolelis começou a construir sua relação com o Palmeiras aos sete anos, ao assistir a um jogo do time pela primeira vez no estádio, em um empate com o Grêmio em 1968 no Pacaembu.

Fora do país, o cientista fez o que pôde para não perder os laços alviverdes. Durante alguns anos, nos Estados Unidos, recebeu da mãe correspondências com capas dos cadernos de esportes da semana de jornais paulistas. Mais tarde, comprou um rádio comunicador de ondas curtas em que procurava transmissões de partidas do Verdão.

Para um palmeirense fanático além da fronteira, a chegada da internet significou uma autêntica revolução. Com a grande rede, Nicolelis experimentou o maior drama de sua trajetória de torcedor, ao acompanhar à distância a disputa por pênaltis com o Deportivo Cali na final da Libertadores de 1999.

“Foi uma agonia, uma das maiores da minha vida. Segui o jogo pelo acompanhamento do UOL. Era uma narração apenas em texto, com um delay (atraso) muito grande. Anunciaram que o jogador colombiano iria bater, depois demorou uns 5 ou 6 minutos até o próximo comentário, narrando que a bola tinha ido para fora”, recorda, sobre o pênalti decisivo daquela final.

CIENTISTA OFERECEU PROJETO EDUCACIONAL AO CLUBE

Em 2010, Nicolelis visitou o Palmeiras levando debaixo do braço um projeto educacional destinado às categorias de base do clube. O cientista conta que o então presidente Luiz Gonzaga Belluzzo se entusiasmou com a ideia da Academia de Estudos, mas que a proposta não encontrou continuidade na gestão de Arnaldo Tirone.

“Ainda estou esperando a atual administração se manifestar”, diz Nicolelis. “O futebol tirou muito da sociedade brasileira e deu muito pouco em troca. Esse é um quadro que a gente precisava mudar”, emenda, sobre o conceito por trás de sua iniciativa de formação extracampo para jovens jogadores.

segunda-feira, novembro 28, 2011

"Playboy" divulga capa com Bárbara Evans

A revista "Playboy" divulgou nesta segunda-feira (28) a capa da edição de dezembro, estampada pela modelo Bárbara Evans, 20 anos, filha de Monique Evans. A nova edição chega às bancas no dia 6 do próximo mês.

O ensaio foi feito em uma fazenda no interior de São Paulo porque Bárbara, segundo sua assessoria, quis que a sessão fosse em um lugar que remetesse à sua infância, cheio de verde e natureza.

A assessoria da modelo ainda disse que Bárbara – que mede 1,72m e pesa 54 kg – decidiu posar nua depois de quatro meses de negociação com a revista masculina e que, no início, Monique e o pai de Bárbara - o empresário José Clark - não gostaram da ideia, mas depois respeitaram a decisão da filha. Bárbara diz que usará parte do dinheiro para comprar um apartamento.

Na última segunda-feira (21), Monique Evans contou no Twitter que ajudou a escolher as fotos de Bárbara para a revista. "Indo escolher as fotos da @Barbaraevans22 , para a Playboy!! Aiiiiiiiiiiii. Dorzinha no coração!! Nessa hora, ser mãe não é fácil não!", escreveu Monique no microblog.

quinta-feira, novembro 24, 2011

Caiu o mito do jornalismo grátis

ENTREVISTA / BILL KELLER

Por Roberto Dias em 22/11/2011 na edição 669

Reproduzido da Folha de S.Paulo, 16/11/2011; título original: “Caiu mito do jornalismo grátis, diz Keller”; intertítulos do OI

O jornalista Bill Keller liderou a construção do mais discutido modelo de negócios para a mídia no ano: o chamado “muro de cobrança” do jornal The New York Times. Inaugurado em março, o paywall do diário envolveu todas as plataformas e abriu um novo caminho para a velha discussão sobre cobrar ou não pelo conteúdo. O pulo do gato do NYT foi montar um sistema flexível, que busca conciliar o modelo de assinaturas, originado do jornal impresso, com a corrida por audiência na web.

Cada internauta pode ler gratuitamente 20 textos do NYT por mês. A partir daí, o jornal oferece pacotes para leitores que querem ver o jornal sem restrições – o sistema contempla tablets e celulares. A assinatura começa em US$ 15 mensais (R$ 26). O modelo, porém, tem “furos” propositais. A home pagenão é contada entre os 20 cliques gratuitos. Links colocados em redes sociais também não. Em seu mais recente balanço, divulgado no mês passado, o jornal disse ter 324 mil assinantes digitais. “Está funcionando tão bem quanto esperávamos ou melhor”, afirma Keller. Em setembro, após a implantação do novo modelo, ele deixou, a pedido, o cargo de editor-executivo do NYT e retomou sua função anterior, de colunista do jornal.

“Jornalismo local, ninguém está fazendo gratuitamente”

A era da informação totalmente gratuita acabou?

Bill Keller– Não sei se é o final de uma era, mas é certamente o fim de um mito. Os profetas da internet argumentavam que tudo era gratuito e que as pessoas não pagariam por nada, que a informação em todos os seus formatos seria livre. Mas então apareceu o iTunes e viu-se que as pessoas ainda queriam pagar por música. Desapareceu toda essa noção, que é um eco dos anos 60, de que tudo deveria ser gratuito, que o comércio é de certa maneira ilícito. É natural que as notícias sigam [esse caminho]. Isso não significa que as pessoas vão pagar por todo tipo de coisa.

Jornalismo de serviço público exige muito tempo e investigação. É preciso ter advogados do seu lado. Jornalismo que exige ir a lugares longínquos e perigosos não estará disponível gratuitamente. Jornalismo muito local, aquele tipo realmente importante de jornalismo sobre o que está acontecendo na sua vizinhança, ou na capital do seu Estado, esse tipo de coisa ninguém está fazendo gratuitamente.

Em uma famosa palestra em 2007, o sr. chamou a internet de elemento de ruptura da imprensa. As coisas mudaram em que sentido desde então?

B.K.– A internet mudou quase tudo na maneira como colhemos informação, como disseminamos informação e como pagamos pela informação. Ela causou ruptura de uma maneira que é ameaçadora, mas também de algumas maneiras muito boas. Nós agora usamos a internet não apenas para transmitir notícias, mas também para colher informação. Um exemplo óbvio é o da Primavera Árabe. Se só tivéssemos as mídias sociais, não seria suficiente. Mas as mídias sociais foram muito importantes em dar uma percepção do que estava acontecendo nas ruas. Algumas vezes você não tem como chegar até a rua, ir até o país.

A maneira como apresentamos a informação hoje é totalmente diferente da de dez anos atrás. É mais rápido, mais gráfico, com vídeo e áudio quando achamos que eles acrescentarão algo. Todo mundo fica focado na circulação impressa, mas nós agora temos 40 milhões de usuários únicos. Estamos chegando a mais pessoas.

Já é possível dizer que esse modelo do NYT é um sucesso?

B.K.– Quando me perguntam isso, lembro daquela cena de George W. Bush no porta-aviões com a bandeira atrás: “Missão cumprida”. É preciso ser muito cuidadoso antes de cantar vitória. Estamos fazendo isso há menos de um ano. Até agora, e enfatizo o “até agora”, está funcionando tão bem quanto esperávamos ou melhor.

Quanto a audiência do site caiu após o paywall?

B.K.– Caiu um pouco, mas muito menos do que esperávamos. Em parte, isso aconteceu porque não construímos uma parede “dura”. Há muito que você pode fazer livremente. Não sei se funcionaria para outros veículos, mas para nós acho que o segredo foi esse: não erguemos uma parede e dissemos: “Pague agora ou vá embora.” Continuamos convidando as pessoas a entrar sem pagar.

Por que vocês confiam que as pessoas não vão usar as regras do paywall contra o paywall? Por exemplo: linkando todos os colunistas do jornal no Facebook.

B.K.– Não há problema. Você também pode ter música gratuita. É uma combinação de conveniência e... não sei bem como chamar isso... Um sentido de que as pessoas querem apoiar o que fazemos. As pessoas pagam porque é conveniente e porque acham que vale a pena.

O sr. sabe quantos desses 324 mil assinantes pagam mais do que o pacote de US$ 0,99 [preço promocional para as quatro primeiras semanas]?

B.K.– Eu não tenho os números exatos, e se tivesse não teria permissão para lhe dizer. Mas um percentual extremamente alto das pessoas está mudando para o plano completo.

Mas o sr. diria que é a maioria mesmo?

B.K.– Sim, a maioria.

O sr. espera que o número de assinantes digitais do NYT ultrapasse o de assinantes do jornal impresso em cinco anos, por exemplo?

B.K.– Meu palpite seria que sim. Em cinco anos, teremos jornal impresso porque existe uma espécie de núcleo de audiência fiel. Um jornal impresso é uma coisa legal. Você pode levá-lo a qualquer lugar, mas se você o perde não é tão horrível quanto perder seu iPad. Em cinco anos ainda haverá uma operação saudável do NYT impresso. Mas acho que provavelmente em algum ponto desse período o número de assinantes digitais vai ultrapassar o do impresso.

Há alguns anos o sr. fez uma espécie de auto-experiência antropológica, cortando seu contato com a edição impressa do NYT por algumas semanas e lendo apenas as versões digitais. O que aprendeu?

B.K.– Que há muitas maneiras diferentes de consumir informação. Amo o impresso, mas consumo os dois. Para mim, parar de usar um deles é como dizer “eu não vou mais ao cinema, apenas ao teatro”. Leio o jornal pela manhã, levo no metrô, às vezes para ler alguma reportagem que não consegui no café da manhã. Mas depois de 20 minutos no escritório, estou online vendo que novidades aconteceram, lendo outros sites, frequentemente lendo comentários. Adoro saber o que os leitores estão dizendo sobre o que leem – às vezes, isso é mais interessante do que o próprio jornal.

O sr. já disse que, se alguém quiser confiar no Google, deveria ‘dar um Google’ no próprio nome. O Google é sinônimo de mau jornalismo?

B.K.– Tenho muito respeito pelo Google. Uso 50 vezes por dia. Uso muito a Wikipédia porque é muito conveniente: quando você faz uma busca, é frequentemente a primeira coisa que aparece. Mas não acho nenhum dos dois mais confiável do que um bom repórter fazendo seu trabalho.

A Apple é realmente uma ameaça às empresas de mídia?

B.K.– Nós olhamos para a Apple, para o Google, para a Amazon como amigos e inimigos. São tanto aliados quando concorrentes. Concorrentes não tanto por substituição do nosso trabalho jornalístico, mas porque disputam a atenção dos leitores e as receitas. A Apple criou o iPad, que representou um boom para o jornalismo e para os consumidores do jornalismo. Mas a Apple também quer controlar o que se paga na web, pegar seus 30%.

Como as mídias sociais competem com os jornais?

B.K.– Não substituem o jornalismo sério. Você não vai para o Twitter para ler uma reportagem investigativa sobre corrupção no seu governo municipal. Ou uma explicação sobre o que está acontecendo na economia europeia. O Twitter pode linkar você, mas não substitui o lugar onde isso foi produzido.

Quão efetivos os jornais podem ser contra os sites que reproduzem conteúdo de maneira não autorizada?

B.K.– Eles não substituem o fato de que é preciso mandar repórteres aos lugares. Uma coisa é creditar alguém e linkar seu artigo para que os leitores possam ir para seu website e outra coisa copiar, roubar, dizer: “Você não tem que ir para o site deles, aqui está o que ele disse.” Se isso é legal ou não, eu deixo para os advogados. Mas no sentido moral, isso é furto.

O sr. já disse que os jornais estarão aí por muito tempo, ainda que sejam um chip implantado no córtex. Vocês estão trabalhando nisso?

B.K.– Não, mas não ficaria surpreso se alguém estivesse. Nós não temos um departamento de neurociência no NYT – ainda.

***

Raio-x Bill Keller

Idade – 62 anos

Cargo – Colunista do NYT

Histórico – Foi editor-executivo do jornal de 2003 a 2011, além de ter sido secretário de Redação, editor de internacional e correspondente em Joanesburgo e em Moscou

Livro – Autor de The Tree Shaker: The Story of Nelson Mandela, sobre o líder sul-africano

Família – É casado e tem três filhos

***

[Roberto Dias é editor de Novas Plataformas da Folha de S.Paulo]

segunda-feira, novembro 21, 2011

O erro de Foucault

A revolução do Irã e seu fascínio pelo martírio
foram importantes no "último Foucault"

Luiz Felipe Ponde

Você sabia que o pensador da nova esquerda Michel Foucault foi um forte simpatizante da revolução fanática iraniana de 1979? Sim, foi sim, apesar de seu séquito na academia gostar de esconder esse "erro de Foucault" a sete chaves.

Fico impressionado quando intelectuais defendem o Irã dizendo que o Estado xiita não é um horror.

O guru Foucault ainda teve a desculpa de que, quando teve seu "orgasmo xiita", após suas visitas ao Irã por duas vezes em 1978, e ao aiatolá Khomeini exilado em Paris também em 1978, ainda não dava tempo para ver no que ia dar aquilo.

Desculpa esfarrapada de qualquer jeito. Como o "gênio" contra os "aparelhos da repressão" não sentiu o cheiro de carne queimada no Irã de então? Acho que ele errou porque no fundo amava o "Eros xiita".

Mas como bem disse meu colega J. P. Coutinho em sua coluna alguns dias atrás nesta Folha, citando por sua vez um colunista de língua inglesa, às vezes é melhor dar o destino de um país na mão do primeiro nome que acharmos na lista telefônica do que nas mãos do corpo docente de algum departamento de ciências humanas. E por quê?

Porque muitos dos nossos colegas acadêmicos são uns irresponsáveis que ficam fazendo a cabeça de seus alunos no sentido de acreditarem cegamente nas bobagens que autores (como Foucault) escrevem em suas alcovas.

No recente caso da USP, como em tantos outros, o fenômeno se repete. O modo como muito desses "estudantes" (muitos deles nem são estudantes de fato, são profissionais de bagunçar o cotidiano da universidade e mais nada) agem, nos faz pensar no tipo de fé "foucaultiana" numa "espiritualidade política contra as tecnologias da repressão".

E onde Foucault encontrou sua inspiração para esse nome chique para fanatismo chamado "espiritualidade política"?

Leiam o excelente volume "Foucault e a Revolução Iraniana", de Janet Afary e Kevin B. Anderson, publicado pela É Realizações, e vocês verão como a revolução xiita do Irã e seu fascínio pelo martírio e pela irracionalidade foram importantes no "último Foucault".

As ciências humanas (das quais faço parte) se caracterizam por sua quase inutilidade prática e, portanto, quase impossibilidade de verificação de resultados.
Esse vazio de critérios de aplicação garante outro tipo de vazio: o vazio de responsabilidade pelo que é passado aos alunos.

Muitos docentes simplesmente "lavam o cérebro" dos alunos usando os "dois caras" que leram no doutorado e que assumem ter descoberto o que é o homem, o mundo, e como reformá-los. Duvide de todo professor que quer reformar o mundo a partir de seu doutorado.
Não é por acaso que alunos e docentes de ciências humanas aderem tão facilmente a manifestações vazias, como a recente da USP, ou a quaisquer outras, como a dos desocupados de Wall Street ou de São Paulo.

Essa crítica ao vazio prático das ciências humanas já foi feita mesmo por sociólogos peso pesado, em momentos distintos, como Edmund Burke, Robert Nisbet e Norbert Elias.

Essa crítica não quer dizer que devemos acabar com as ciências humanas, mas sim que devemos ficar atentos a equívocos causados por essa sua peculiar carência: sua inutilidade prática e, por isso mesmo, como decorrência dessa, um tipo específico de cegueira teórica. Nesse caso, refiro-me ao seu constante equívoco quanto à realidade.

Trocando em miúdos: as ciências humanas e seus "atores sociais" viajam na maionese em meio a seus delírios em sala de aula, tecendo julgamentos (que julgam científicos e racionais) sem nenhuma responsabilidade.

Proponho que da próxima vez que "os indignados sem causa" ocuparem a faculdade de filosofia da USP (ou "FeFeLeCHe", nome horrível!) que sejam trancados lá até que descubram que não são donos do mundo e que a USP (sou um egresso da faculdade de filosofia da USP) não é o quintal de seus delírios.

Agem com a USP não muito diferente da falsa aristocracia política de Brasília: "sequestram" o público a serviço de seus pequenos interesses.

No caso desses "xiitas das ciências humanas", seus pequenos delírios de grande "espiritualidade política".

Pobre futebol paraense

Por LEANDRO SANTIAGO GARCIA*

Seis títulos brasileiros.

Terra do único clube da regiao Norte que esteve em uma Copa Libertadores.

O futebol paraense já foi grande.

Já foi.

Neste domingo amargou mais um fracasso.

Pelo quinto ano, o Paysandu tentou sair da Série C.

Após cinco meses de disputa, intrigas e três técnicos, teve o destino óbvio.

Fracassou.

Quanto ao Remo, não fracassou nos últimos meses.

Até porque nem teve onde fracassar.

Sem vaga na Série D, virou um time itinerante, que roda pelo interior do Pará em busca de algum respeito.

Algo que perdeu faz tempo.

Bravo mundo novo da bola que falou aos quatro ventos qual era a nova ordem do futebol.

Remo e Paysandu se fizeram de surdos.

Sócio-torcedor?

Não sabem não querem saber e tem raiva de quem sabe.

Também não sabem por que são desprezados por patrocinadores.

Valorização das categorias de base?

Praticamente um palavrão.

Preferem investir em jogadores veteranos a sua imagem e semelhança.

Atletas que assim como eles, já foram grandes.

Hoje não são.

Preferem ouvir empresários, que ano após ano, empurram jogadores de qualidade duvidosa e salários astronômicos.

Salários que ao longo do tempo, não são pagos.

E os dirigentes viram reféns de atletas de profissionalismo nulo.

“Nossa torcida nos levará ao acesso”, pensam eles.

Não leva, porque não há paixão que bata tanto amadorismo.

O “presidente-coronel”, que invade vestiários para dar esporro em atleta, ainda existe.

A segunda bicolor era pra ser de segunda.

Será de terceira.

Há cinco anos, os bicolores gritam a frase “Vamos subir, Papão”.

E continua sendo apenas isso.

Uma frase.

*Leandro Santiago Garcia é jornalista.

sexta-feira, novembro 18, 2011

"Algumas pessoas se dizem humoristas, o Glauco era o humor", diz Toninho Mendes, curador da antologia de "Geraldão"

18/11/2011 - 07h07

ESTEFANI MEDEIROS
Da Redação

A antologia "Geraldão - Espocando a Cilibina" apresenta os principais personagens do cartunista Glauco com organização de Toninho Mendes, editor da Circo Editoral e responsável pela produção de revistas como "Chiclete com Banana" e a própria "Geraldão".

Lançada em novembro com a presença de Laerte, Angeli e Ipojucã Vilas Boas (filho de Glauco), o livro de capa dura reúne diversas fases dos personagens criados pelo cartunista no período em que o material foi publicado como revista.

"O processo de organização desse livro foi um processo natural. Antes do Glauco falecer, nós já tínhamos conversado sobre a hipótese de fazer uma antologia com os 10 gibis do Geraldão", conta Toninho, que cedia sua casa como redação das revistas.

Além das tirinhas de Glauco, o livro também reúne material das revistas Circo e Chiclete com Banana, além de quadrinhos feitos para o cartunista.

Entre as tiras publicadas, o leitor também encontra rascunhos dos bastidores da redação de "Los Três Amigos", trio formado por Glauco, Laerte e Angeli, em que Glauco na época brincava com a sexualidade de Laerte, hoje crossdresser.

Angeli conta que "já conhecia tudo. acompanhei quando ele fez todas essas revistas, pra mim não era novidade. A novidade é ver um livro que para na estante de pé".

Ipojucã adianta que para 2012, a família planeja montar uma grande exposição com o material do pai. "Estamos reunindo desenhos, rascunhos, revistas, quadros e queremos montar uma grande exposição em sua homenagem em 2012".

Glauco e o filho Raoni morreram em março de 2010.

Geraldão – Espocando a cilibina! Nos gibis da Circo Editorial
Autor:
Glauco
Organização: Toninho Mendes
Preço: R$77
77 páginas

quinta-feira, novembro 17, 2011

Com cenas rodadas no Brasil, "Amanhecer - Parte 1" ainda se ressente da pobreza dos livros de Stephenie Meyer

ALESSANDRO GIANNINI
Editor de UOL Entretenimento

Com cenas rodadas no Brasil durante dez dias no Rio de Janeiro e em Paraty, "A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 1" chega nesta sexta (18) aos cinemas de vários países para dar inicio ao epílogo da série de filmes inspirados nos livros escritos por Stephenie Meyer.

Fenômeno de público, "A Saga Crepúsculo" não prima pela excelência cinematográfica. Dirigidos por Catherine Hardwick ("Crepúsculo"), Chris Weitz ("Lua Nova") e David Slade ("Eclipse"), os três primeiros filmes são pobres do ponto de vista formal, apoiados em uma gramática visual capenga, com efeitos primários e sem muita criatividade para contornar a pobreza da matéria prima.

A contratação de Bill Condon ("Deuses e Monstros", "Dreamgirls") para dirigir os dois segmentos finais da história foi uma tentativa de dar mais consistência aos filmes. Cineasta experiente, Condon colocou ordem na casa - a primeira parte do fim está acima das realizações anteriores. Ainda assim, o grande obstáculo continua sendo a origem de tudo: os livros de madame Meyer.

"Amanhecer - Parte 1" mostra o resultado da escolha de Bella Swan (Kristen Stewart) entre Edward Cullen (Robert Pattinson) e Jacob Black (Taylor Lautner). Os principais momentos do filme, o casamento e a lua-de-mel no Brasil, com quase 20 minutos de imagens rodadas no país, mostram a consumação do amor da jovem protagonista e as conseqüências da miscigenação entre uma humana e um vampiro. Sem falar nos efeitos colaterais que abalam a trégua entre vampiros e a matilha de lobisomens.

A gravidez de Bella e a recusa do casal em transformá-la em vampira surge como um grande problema, que conta com a cumplicidade do reticente Jacob, dividido entre o amor não correspondido e a lealdade à matilha, para resolver o nó. Esse é o gancho para o grande final esperado e antecipado pelos fãs.

Não se pode condenar o trio de atores principais e o numeroso elenco secundário por suas atuações. A maior parte deles faz o que pode para dar alguma consistência aos personagens, especialmente os vampiros que carregam a tosca maquiagem branca que os torna pálidos.

A metáfora proposta pela saga idealizada por Meyer, uma escritora de crença mórmon, é a manutenção do amor romântico, a abstinência sexual (antes do casamento) e os valores da família. O romantismo é apenas pano de fundo para disseminar entre os jovens a crença - conservadora - de que estamos vivendo um período de liberdades extremas e muita irresponsabilidade. Essa sim uma herança maligna deixada por quase dez anos de conservadorismo tacanho sob a América de Bush Jr.