sábado, dezembro 14, 2013

CAPITÃO CAVERNA

Que é que eu vou te dizer? As fotos e os vídeos estão aí, em tudo quanto é página de internet. O cara do Atlético no chão, nem sei se ainda tava acordado. Eu e mais dois acertando a cabeça dele como aqueles caras do Serra Pelada destroçando o morro à procura do ouro. O porrete, com o improvisado prego na ponta, nem foi ideia minha. Alguém botou ele na minha mão. Bem ali, no meio da guerra, com um monte de rubro-negros a fim da nossa pele. Era só uma questão de saber quem ia derramar sangue primeiro, na arquibancada da arena.
Sou vascaíno desde sempre. Tem duas coisas que me emocionam muito, sempre que assisto: o gol de Sorato no Morumbi em 89 e a virada épica em cima do Palmeiras. Bons tempos. Grandes times. Hoje tá uma vergonha só. Rebaixamento com 5 x 1 na última partida é demais. O pior de tudo é que aconteceu no mandato do nosso maior ídolo, o Roberto. E foram dois! O tipo de absurdo, de vergonha, que o cruzmaltino não pode nem deve engolir e digerir numa boa. Um professor me falou uma vez que tudo tem seu limite de saturação. E o limite da nossa organizada chegou domingo passado.
Escreve aí no teu jornal: a nossa organizada não foi lá pra brigar. A gente foi lá pra apoiar o time. Mesmo que não desse certo, porque a situação era mesmo complicada, todo mundo sabia. Um time fraco como o nosso – que passou o ano sem arrumar um goleiro que prestasse – nunca conseguiria superar o Furacão. Aliás, foi o que acabou acontecendo, não foi não? Passou um furacão pela gente, com direito a tsunami de gols. É foda a gente reconhecer. Desculpa aí o palavrão.
Como você pode perceber, tá complicado. A gente nem pode conversar direito, por exemplo, sobre a copa. Quando começo a falar sobre quem tem chance de passar para as oitavas e quem vai ficar pelo caminho, vem um gaiato e debocha: “Que nada, teu time foi pra Segundona!”. Dá vontade de usar o porrete. Isso, que nem um troglodita ou um bárbaro. Na falta de diálogo, um bom tacape resolve.
É isso aí, companheiro. Aqui estou eu, mofando numa cadeia. Eu achava que o diretor da nossa organizada fosse providenciar logo um advogado pra me tirar daqui. Como já aconteceu em outros carnavais. Mas pelo pouco que vou acompanhando daqui, ele também tem seus problemas. Parece que querem banir a galera dos estádios. É que nem naquele comercial: “Não tá fácil pra ninguém”.
Eu que o diga. Ainda agora, liguei lá pra casa. Pra dizer pra Soraya que a coisa aqui tá complicada. Pois a minha querida esposa não deu a mínima pro meu perrengue. Tava injuriada comigo. Por causa dos meninos. Ao que parece, ganhei um apelido interessante na escola deles: “Capitão Caverna”.

O Brasil é o país dos comediantes.

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