Que é que eu vou te dizer? As fotos e os
vídeos estão aí, em tudo quanto é página de internet. O cara do Atlético no
chão, nem sei se ainda tava acordado. Eu e mais dois acertando a cabeça dele
como aqueles caras do Serra Pelada
destroçando o morro à procura do ouro. O porrete, com o improvisado prego na
ponta, nem foi ideia minha. Alguém botou ele na minha mão. Bem ali, no meio da
guerra, com um monte de rubro-negros a fim da nossa pele. Era só uma questão de
saber quem ia derramar sangue primeiro, na arquibancada da arena.
Sou vascaíno desde sempre. Tem duas
coisas que me emocionam muito, sempre que assisto: o gol de Sorato no Morumbi
em 89 e a virada épica em cima do Palmeiras. Bons tempos. Grandes times. Hoje
tá uma vergonha só. Rebaixamento com 5 x 1 na última partida é demais. O pior
de tudo é que aconteceu no mandato do nosso maior ídolo, o Roberto. E foram
dois! O tipo de absurdo, de vergonha, que o cruzmaltino não pode nem deve engolir
e digerir numa boa. Um professor me falou uma vez que tudo tem seu limite de
saturação. E o limite da nossa organizada chegou domingo passado.
Escreve aí no teu jornal: a nossa
organizada não foi lá pra brigar. A gente foi lá pra apoiar o time. Mesmo que
não desse certo, porque a situação era mesmo complicada, todo mundo sabia. Um
time fraco como o nosso – que passou o ano sem arrumar um goleiro que prestasse
– nunca conseguiria superar o Furacão. Aliás, foi o que acabou acontecendo, não
foi não? Passou um furacão pela gente, com direito a tsunami de gols. É foda a
gente reconhecer. Desculpa aí o palavrão.
Como você pode perceber, tá complicado.
A gente nem pode conversar direito, por exemplo, sobre a copa. Quando começo a
falar sobre quem tem chance de passar para as oitavas e quem vai ficar pelo
caminho, vem um gaiato e debocha: “Que nada, teu time foi pra Segundona!”. Dá
vontade de usar o porrete. Isso, que nem um troglodita ou um bárbaro. Na falta
de diálogo, um bom tacape resolve.
É isso aí, companheiro. Aqui estou eu,
mofando numa cadeia. Eu achava que o diretor da nossa organizada fosse
providenciar logo um advogado pra me tirar daqui. Como já aconteceu em outros
carnavais. Mas pelo pouco que vou acompanhando daqui, ele também tem seus
problemas. Parece que querem banir a galera dos estádios. É que nem naquele
comercial: “Não tá fácil pra ninguém”.
Eu que o diga. Ainda agora, liguei lá
pra casa. Pra dizer pra Soraya que a coisa aqui tá complicada. Pois a minha
querida esposa não deu a mínima pro meu perrengue. Tava injuriada comigo. Por
causa dos meninos. Ao que parece, ganhei um apelido interessante na escola
deles: “Capitão Caverna”.
O Brasil é o país dos comediantes.
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