Costumo dizer que o
futebol disputado aqui no Brasil só é um espetáculo dentro das quatro linhas.
Porque longe delas a tristeza corre sem madrinha.
Um exemplo dessa
melancólica mediocridade ocorreu ontem mesmo, justo na última rodada. O
Atlético Paranaense já vencia – e rebaixava para a Segundona – o Vasco da Gama
quando os torcedores das duas equipes travaram uma legítima batalha
sanguinolenta nas arquibancadas. Indivíduos que no cotidiano devem praticar a
política da boa vizinhança, levam os filhos para a escola, amam suas esposas...
de repente transformados em gladiadores, cujo objetivo único e mais importante
é massacrar seu adversário até as piores consequências, se preciso for.
O pior de tudo é que o
confronto já estava “marcado”, por assim dizer. A organizada atleticana “Os
Fanáticos”, ciente de muitos entreveros na estrada com vascaínos que também
nunca mais deveriam colocar os pés nas dependências de qualquer estádio, não
vendeu ingresso para mulheres.
Não havia policiais na
arena. Um acordo estapafúrdio entre o governo do Paraná e o Ministério Público
determinou que a Polícia Militar não garantiria a segurança de eventos
privados. Como assim? O bem-estar de milhares de pessoas assegurado por alguma
empresa? Isso a menos de um ano do início da Copa do Mundo? Até as 19h de
Brasília, senhores governantes e representantes do MP paranaense, um torcedor
estava internado, com fratura no crânio. Ninguém morreu? Com a graça de Deus. A
morte mesmo foi a do encanto que uma criança poderia ter de ir com seus pais a
um estádio, para ver os gols do time do seu coração. Isso é o que mais devemos
lamentar.
Repito: ano que vem
acontecerá uma Copa do Mundo aqui no Brasil. Após uma sucessão de apresentações
chatas e sem-graça, o sorteio colocou o Brasil em um grupo que não causa
pesadelos em ninguém. O problema são as tais “oitavas da morte”. Num cenário
pessimista, os canarinhos poderão enfrentar Espanha, Itália, França e Argentina
antes de Thiago Silva levantar a taça no dia 13 de julho.
Agora, as dificuldades
não se resumem à pura e simples violência entre torcidas nas arquibancadas. Já
na Copa das Confederações muitas falhas na construção das novas arenas foram
“maquiadas” ou simplesmente escondidas. Às vésperas do mundial, há estádios que
serão entregues de qualquer maneira. Mais ou menos assim: a bola rolando, as
melhores equipes do planeta em busca do caneco, e funcionários das construtoras
correndo para cima e para baixo com carrinhos de mão cheios de paus, pedras e
do fim do caminho.
O Inacreditável Futebol
Brasileiro, o que se vê fora dos gramados e definidos pelas cartolagens,
tapetões e administrações ridículas, não se envergonha do que aconteceu.
Tampouco se importa com vítimas. Muito mais gente ainda vai sangrar nas arenas.
Esperem para ver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário