terça-feira, março 09, 2010

Meu Deus! Valdir Bigode, ele mesmo, será técnico de time carioca

Rio de Janeiro, RJ, 09 (AFI) – O ex-atacante Valdir Bigode pendurou as chuteiras, mas nem por isso se distanciou do mundo do futebol. Em entrevista ao programa Balanço Esportivo Rio, da Rede CNT, ele confirmou que será técnico de um time carioca.

Segundo o ex-jogador, ele vai assumir o comando do Campo Grande, que atualmente disputa a Terceira Divisão do Campeonato Carioca e tem como objetivo voltar a disputar a elite, o que não consegue há muitos anos.

Valdir Bigode ficou famoso por seu faro de gol e sempre foi artilheiro pelos clubes que passou. Mas onde se destacou, de verdade, foi vestindo a camisa do Vasco, onde conquistou quatro Campeonatos Cariocas, sendo artilheiro em 93 e 2003.

Além do Vasco, o ex-atacante defendeu outros grandes clubes do futebol brasileiro, como São Paulo, Atlético Mineiro, Botafogo e Santos. Valdir Bigode também defendeu dois clubes do exterior: o Benfica, de Portugal e o Al-Nasr, dos Emirados Árabes.

domingo, março 07, 2010

Inimigos de Darwin nos EUA agora atacam também o aquecimento global

Projeto quer discussão de ‘desvantagens de teorias científicas’.
Crítico diz que ceticismo sobre clima é desdobramento do criacionismo.

Leslie Kaufman
Do ‘New York Times’

Críticos do ensino da evolução nas salas de aulas americanas estão ganhando terreno em alguns estados ao associar o tema ao aquecimento global, argumentando que visões divergentes sobre ambos os assuntos científicos deveriam ser ensinadas em escolas públicas.

Em Kentucky, um projeto de lei recentemente apresentado ao legislativo motivaria os professores a discutir “as vantagens e desvantagens de teorias científicas”, incluindo a “evolução, origem da vida, aquecimento global e clonagem de seres humanos”.

O projeto de lei, que ainda deve ser votado, baseia-se em esforços ainda mais agressivos em outros estados para fundir esses temas. Em Louisiana, uma lei aprovada em 2008 declara que os órgãos estaduais de educação podem ajudar professores na promoção do “pensamento crítico” em todos esses assuntos.

No ano passado, a Secretaria de Educação do Texas passou a exigir que os professores apresentem todos os lados das evidências da evolução e do aquecimento global.

Oklahoma apresentou um projeto de lei com objetivos similares em 2009, mas ele não entrou em vigor.

A relação entre evolução e aquecimento global é uma estratégia em parte jurídica: tribunais descobriram que singularizar a evolução como alvo de críticas em escolas públicas é uma violação da separação entre Igreja e Estado. Ao insistir que o aquecimento global também seja discutido, as pessoas que negam a evolução podem argumentar que simplesmente estão buscando uma ampla liberdade acadêmica.

Mesmo assim, essas pessoas também estão tirando proveito do aumento da resistência pública em determinados setores em aceitar a ciência do aquecimento global, particularmente entre políticos conservadores que se opõem a esforços para frear as emissões de gases causadores do efeito estufa.

Em Dakota do Sul, uma resolução pedindo o “ensino ponderado sobre o aquecimento global em escolas públicas” foi aprovada na assembleia esta semana. “O dióxido de carbono não é um poluente”, diz a resolução, “mas um ingrediente altamente benéfico para toda a vida vegetal.”

A medida não mencionou a evolução, mas opositores dos esforços para diluir o ensino desse conceito observaram que a linguagem era similar à de projetos de lei em outros estados que incluíam ambas as questões. Republicanos votaram a favor e democratas, contra.

Para cientistas renomados, não há nenhum desafio de credibilidade à teoria da evolução. Eles se opõem ao ensino de visões alternativas, como o do design inteligente, uma proposição que afirma que a vida é tão complexa que deve ser criação de um ser inteligente. Há forte consenso entre cientistas de que o aquecimento global está ocorrendo e que as atividades humanas provavelmente estão causando esse efeito. Mesmo assim, muitos cristãos evangélicos conservadores afirmam que ambos são exemplos em que os cientistas ultrapassam seus limites.

John West, membro do Discovery Institute, em Seattle, um grupo que defende a teoria do design inteligente e lidera uma campanha para o ensino de críticas à evolução nas escolas, afirmou que o instituto não estava promovendo especificamente a oposição à ciência aceita da mudança climática. Entretanto, West diz ser simpático à causa. “Há muito dogmatismo nesse assunto, e os cientistas estão sendo perseguidos por descobertas que não estão em conformidade com a ortodoxia. Acreditamos que analisar e avaliar a evidência científica é bom, seja sobre aquecimento global ou evolução.”

Lawrence Krauss, físico e diretor da Origins Initiative, da Universidade Estadual do Arizona, já se pronunciou contra os esforços para suavizar o ensino da evolução em órgãos educacionais em Texas e Ohio. Ele descreveu o movimento em direção ao ceticismo envolvendo a mudança climática como um desdobramento previsível do criacionismo.

“Onde houver uma batalha sobre a evolução hoje”, diz ele, “há uma batalha secundária para suavizar outros assuntos quentes, como o Big Bang, e, cada vez mais, a mudança climática. Trata-se de lançar dúvidas sobre a veracidade da ciência – dizer que essa é apenas mais uma visão do mundo, mais uma história, nem melhor nem mais válida que o fundamentalismo.”

É claro, nem todos os cristãos evangélicos rejeitam a ideia da mudança climática. Existe um movimento crescente no país motivado em parte pela crença de que os humanos são obrigados a cuidar da Terra, já que Deus a criou.

Mesmo assim, há poucas dúvidas de que o ceticismo em relação ao aquecimento global ecoe de forma mais forte entre conservadores, cristãos conservadores em particular. Uma pesquisa publicada em outubro pelo Pew Research Center for the People and the Press descobriu que protestantes evangélicos brancos estão entre os que têm menos probabilidade de crer na existência de “sólidas evidências” de que a Terra está se aquecendo devido à atividade humana. Apenas 23% dos entrevistados aceitaram essa ideia, contra 36% dos americanos em geral.

O reverendo Jim Ball, diretor sênior de programas de clima da Evangelical Environmental Network, um grupo que aceita a ciência do aquecimento global, disse que muitas pessoas que negam o assunto sentem que “é arrogante achar que os seres humanos poderiam perturbar algo criado por Deus”.

O deputado estadual Tim Moore, republicado que apresentou o projeto de lei na assembleia legislativa de Kentucky, disse não estar motivado por religião, mas pelo que ele considera distorção do conhecimento científico. “Nossos filhos estão sendo apresentados a teorias como se elas fossem fatos”, afirmou. "Especialmente no caso do aquecimento global, tem havido um ponto de vista politicamente correto na elite educacional que é muito diferente da ciência sólida”.

O currículo da evolução se desenvolveu muito mais do que a instrução sobre a mudança climática. Ele é quase universalmente exigido em aulas de biologia, enquanto a ciência do aquecimento global, um tópico mais recente, é ensinada esporadicamente, dependendo do interesse dos professores e dos coordenadores pedagógicos da escola.

Entretanto, tem crescido o interesse em tornar a mudança climática um item padrão no currículo escolar. No governo do presidente Obama, por exemplo, o Climate Education Interagency Working Group, que representa mais de dez agências federais, está pressionando uma “alfabetização climática” de professores e alunos.

O deputado Don Kopp, republicano e principal apoiador da resolução de Dakota do Sul, afirmou ter agido em parte porque o filme “Uma verdade inconveniente” (documentário sobre o aquecimento global, apresentado por Al Gore), estava sendo exibido em algumas escolas públicas sem um contrapeso.

O incentivo legal para emparelhar o aquecimento global com a evolução nas batalhas sobre o currículo deriva em parte de uma decisão, em 2005, de um juiz da corte regional de Atlanta. A decisão afirmava que a Secretaria de Educação de Cobb County, que havia colado adesivos em alguns livros didáticos incentivando estudantes a considerar a evolução apenas como uma teoria, tinha violado termos da primeira emenda americana sobre a separação entre Igreja e Estado.

Embora o adesivo não tenha sido declaradamente religioso, disse o juiz, seu uso foi inconstitucional, pois apenas a evolução era o alvo, o que indicava se tratar de uma questão religiosa.

Depois disso, afirmou Joshua Rosenau, diretor de projetos do Centro Nacional para Educação sobre a Ciência, ele começou a notar que ataques à ciência da mudança climática estavam repletos de críticas à evolução em iniciativas curriculares. Ele teme que mesmo algumas vitórias na esfera estadual possam ter um efeito sobre o que é ensinado em todo o país.

James Marston, diretor do escritório regional do Texas do Fundo de Defesa Ambiental, afirmou temer que, por causa do tamanho e do processo de aprovação centralizado do estado, sua decisão sobre o caso dos livros didáticos possa ter uma influência exagerada sobre como as editoras preparam conteúdo de ciência para o mercado nacional.

Tradução de Gabriela d’Ávila

sábado, março 06, 2010

BEBA COM MODERAÇÃO

Você já esteve em um convescote? Ou não faz a menor idéia do que seja isso? Para o seu governo, trata-se de um passeio, com refeição, ao ar livre. Mais conhecido como “piquenique”. Palavra originária do inglês picnic.

O assunto destas considerações é mais velho do que andar para a frente: o estrangeirismo. Este opúsculo foi motivado por uma questão abordada pela editora interina do caderno Alternativo deste jornal, a insofismável Carla Melo, tendo como pano de fundo a tragédia no Chile.

Carla perguntou: “Por que aqui no Brasil fala-se tanto ‘tsunami’ em vez de ‘maremoto’?”. E depois de informar que soube por terceiros, quartos e quintos que a pronúncia certa é algo semelhante a “tchunâmi”, em vez do nosso prosaico “tissunami”, ela intimou-me a escrever para este espaço algo que debatesse a presença do estrangeirismo na Língua Portuguesa.

Como se sabe, o estrangeirismo é o processo que introduz palavras vindas de outros idiomas na língua portuguesa. De acordo com o idioma de origem, as palavras recebem nomes específicos, tais como o anglicismo (do inglês), o galicismo (do francês) e o maluquismo (do javanês).

Também é de domínio público a lei nº 1676/99, de autoria do deputado federal Aldo Rebelo, que sugere o uso do português obrigatório em determinadas situações do cotidiano, sendo que qualquer “uso de palavra ou expressão em língua estrangeira, ressalvados os casos excepcionados” na lei “e na sua regulamentação, será considerado lesivo ao patrimônio cultural brasileiro, punível na forma da lei”.

Um tanto exagerado, não? Afinal de contas, o estrangeirismo (gramaticalmente considerado “vício de linguagem” pelos defensores do idioma falado em Pindorama) nada mais é que um recurso de enriquecimento de vocabulário. Mais específico: é uma forma que a linguagem encontra de enriquecer o processo comunicativo. Ou então ninguém se preocuparia tanto em recorrer aos cursos de inglês, francês, espanhol e outros congêneres.

O que preocupa mesmo os puristas da Flor do Lácio é um possível “abuso” da presença, em nosso idioma, de palavras e expressões como beauty hair, saloon, coffee break, shopping, outdoor, selfservice, play, off, delivery, free e personal stylist. Ou seja, as que não encontram correspondente em português. Refiro-me neste momento apenas ao que captamos do inglês, posto que é atualmente nosso segundo idioma (de onde acham que surgiu o nosso “futebol”?

Em tempos idos, o idioma mais importante por aqui era o francês, pois a França era então o país em torno do qual o resto do mundo transitava. Apenas voltando ao universo futebolístico, querem uma palavra que aposto como muitos de vocês pensavam como galicismo? “Placar”, do francês “placard”. Da mesma forma, assimilamos os italianismos (pizza), os espanholismos (guitarra), os germanismos (chope), os eslavismos (gravata) e os arabismos (gravata). Portanto, há um número avassalador de palavras por assim dizer herdadas de línguas com as quais temos um razoável contato, nestes tempos de globalização, nos quais a internet, por exemplo, é uma das ferramentas indispensáveis de interação entre as nações.

Certo, o modismo envolvido na apropriação de “tsunami” no lugar de “maremoto” poderia ser evitado. No entanto, todavia, contudo e não obstante, não vejo esse aspecto como o fim do mundo.

Conclusão: posso considerar tranqüilamente o estrangeirismo até certo ponto necessário para a Língua Portuguesa.

Deve ser bebido com moderação.

Alain Badiou discute o papel político e social do amor

Crítica / "Éloge de L'Amour"

Em novo livro, o filósofo analisa o viés inconformista do sentimento amoroso

VLADIMIR SAFATLE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Alain Badiou é conhecido atualmente por suas intervenções políticas de larga escala na reconstrução do pensamento intelectual de esquerda, assim como por uma obra filosófica fundamental para a compreensão do pensamento francês contemporâneo pós maio de 1968. Diante de tal obra e da virulência de suas intervenções políticas, um pequeno livro como este, que saiu há alguns meses na França com o título de "Eloge de L'Amour" (elogio do amor), pode parecer estranho.

Resultado de uma entrevista com Nicolas Truong, o livro aparentemente visa recuperar este topos clássico da filosofia, ao menos desde Platão, referente ao elogio do amor como modo de relação à alteridade e modelo reconstrutivo de relação social. Algo já presente em seu "São Paulo: A Fundação do Universalismo", lançado no Brasil em 2009 (ed. Boitempo).

No entanto, esse pequeno livro é surpreendente em mais de um aspecto. Sensível às mutações sociais das relações intersubjetivas em uma era marcada pela elevação do medo a afeto social central e da demanda de segurança a motor de justificação das ações políticas, Badiou lembra como a sociabilidade contemporânea parece fascinada pelo "amor seguro contra todos os riscos".

Dos sites de relacionamento que prometem encontros sob medida à implementação terapêutica da lógica mercantil que mede relações a partir de custos e benefícios, encontraríamos sempre o mesmo "amor securitário" cada vez mais hegemônico em nossas sociedades liberais. Algo como "um arranjo prévio que evita todo acaso, todo encontro e finalmente toda poesia existencial, isto em nome da ausência de risco".

Pois um sujeito que age politicamente a partir do medo e do desejo de segurança tende a reconfigurar até suas relações sociais mais privadas a partir dos mesmos afetos. Ele tende a ver, nas relações amorosas, uma forma de contrato que visa "otimizar" os sistemas de interesses de duas pessoas privadas.

Pode parecer, com isto, que estaríamos a um passo da defesa do entusiasmo liberador da ruptura, ou seja, daquilo que o próprio Badiou chama de "concepção romântica e fusional" caracterizada pelo "êxtase do encontro". Mas poderíamos dizer que essas duas posições são complementares em uma recusa fundamental. A recusa em compreender o amor como uma "construção de verdade".

Tal expressão é feliz por inicialmente afirmar que há um regime de verdade que se revela no interior de relações amorosas: "verdade a respeito de um ponto bastante peculiar, a saber, o que é o mundo quando ele é experimentado a partir do dois, e não do um? O que é o mundo examinado, praticado e vivido a partir da diferença, e não a partir da identidade?".

Nessa recuperação filosófica do amor, ele retorna como modelo de uma vivência da diferença capaz de construir mundos a partir de pontos de vista descentrados.

Tal descentramento significa que, nas relações amorosas, os sujeitos não procuram apenas a conformação do outro a um conjunto de expectativas e imagens fantasmáticas prévias. Eles procuram, mesmo sem saber, esse ponto onde o outro resiste a sua submissão pelo pensamento identitário do Eu.

Ponto no qual o outro é capaz de dizer: "Você não vai me dobrar", não como alguém que impõe uma recusa, mas como alguém que instaura um amor capaz de nos levar a uma região rara onde encontramos coisas desprovidas de gramática, onde precisamos apreender a amar coisas desprovidas de gramática.

Saber construir e durar diante de coisas que parecem desestruturar a gramática de nossos desejos: eis uma idéia de Badiou que, como tudo o que ele escreve, não deixa de ter claras consequências políticas em uma era de culto às fronteiras.

VLADIMIR SAFATLE é professor do departamento de Filosofia da USP

ELOGE DE L'AMOUR

Autor: Alain Badiou
Editora: Flammarion
Quanto: 12 ou R$ 42,84 (90 págs.)
Avaliação:ótimo

quarta-feira, março 03, 2010

País só cumpre 33% de metas de educação

Relatório mostra que ainda há alta repetência,
a taxa de universitários é baixa e o acesso
à educação infantil está longe do proposto

Estudo de pesquisadores de universidades federais
abrange o período de 2001 a 2008, incluindo dois anos
de governo FHC e seis de Lula


ANGELA PINHO
LARISSA GUIMARÃES

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Enquanto petistas e tucanos fazem alarde dos seus feitos na educação, um dos levantamentos mais abrangentes já realizados sobre a última década revela que os avanços na área foram insuficientes. Apenas 33% das 294 metas do Plano Nacional de Educação, criado por lei em 2001, foram cumpridas.

Relatório obtido pela Folha, feito sob encomenda para o Ministério da Educação, aponta alta repetência, baixa taxa de universitários -apesar dos programas criados nos últimos anos- e acesso à educação infantil longe do proposto.

O estudo, que abrange o período de 2001 a 2008, foi feito por pesquisadores de universidades federais, com apoio do Inep (instituto de pesquisa ligado ao MEC).

O plano foi criado com o objetivo de implantar uma política de Estado para a educação que sobrevivesse às mudanças de governo. As metas presentes nele são de responsabilidade dos três entes federados, mas municípios têm mais atribuição pela educação infantil e fundamental; Estados, pelo ensino médio; e a União, pela articulação de políticas.

O estudo traz indicadores relativos ao período de 2001 a 2008 -dois anos de governo FHC e seis de Lula. Para muitas metas, não há nem sequer indicador que permita o acompanhamento da execução.

Em outros casos, em que há indicadores claros, há um longo caminho pela frente. A educação infantil é um exemplo.

O plano previa que 50% das crianças de 0 a 3 anos estivessem matriculadas em creches até 2010. É o que a faxineira Adriana França dos Reis, 32, desejava para sua filha, que chegou aos quatro anos sem conseguir vaga. "Quanto mais cedo ela entrar na escola, sei que mais longe ela vai chegar", diz. Segundo o IBGE, só 18,1% das crianças de até três anos estavam em creches em 2008.

Já o ensino fundamental foi quase universalizado e aumentou de oito para nove anos.

No ensino médio, o obstáculo é já no atendimento. Na faixa etária considerada adequada para a etapa (15 a 17 anos), 16% estão fora da escola. Na educação superior, o plano estabelecia uma meta de 30% dos jovens na universidade. Em 2008, o índice estava em 13,7%.

O objetivo número um na educação de jovens e adultos, a erradicação do analfabetismo, está longe de ser alcançado. O Brasil ainda tem 14 milhões de pessoas de 15 anos ou mais que não sabem escrever.

Para João Oliveira, professor da UFG (Universidade Federal de Goiás) e um dos responsáveis pela pesquisa, uma das principais causas dos problemas na execução do PNE foi o veto à meta que previa um aumento expressivo nos recursos destinados à educação: 7% do PIB em educação até 2010.

Prevista na proposta aprovada no Congresso, foi vetada por FHC, que terminou seu mandato com um investimento de 4,8%. A decisão do tucano foi duramente criticada por petistas, que, em 2007 (dado mais recente disponível), já no poder, tinham aumentado o percentual apenas para 5,1%.

Sem financiamento, diz Oliveira, o plano acabou perdendo força, pois impôs deveres aos governos sem viabilizar recursos para o cumprimento deles.

Serra joga parado, mas quer preferência

ELIO GASPARI

O PSDB quer o pós-Lula,
mas como não o explica,
pode estar criando o pré-Dilma

JOSÉ SERRA e o PSDB precisam se lembrar das palavras do técnico de futebol Gentil Cardoso: "Quem se desloca recebe, quem pede tem preferência". O governador de São Paulo e o tucanato não se deslocam e não pedem, mas querem a preferência da patuleia. O resultado está aí: seis meses antes do início do horário gratuito de televisão, Dilma Rousseff, o poste de Lula, encostou no grão-tucano.

O PSDB está preso numa armadilha que construiu com nervos de aço e cérebros de Bombril. Tem um candidato que não diz que é candidato, mas também não se animou a disputar prévias contra Aécio Neves que, por sua vez, também não insistiu muito no assunto.

Habitualmente, os candidatos negam suas pretensões para esconder o jogo. Esse não parece ser o caso de Serra. É provável que ele esteja em dúvida e o precedente histórico leva água para essa hipótese. Em 2006, ficou a impressão de que ele se afastou da disputa porque a candidatura de Geraldo Alckmin dividia o partido, mas o principal motivo de seu recuo foi o medo de trocar uma provável eleição para o governo de São Paulo por uma segunda derrota na disputa pelo Planalto.

Em dezembro de 2008, Serra tinha entre 41% e 47% das preferências no Datafolha e Dilma, no máximo, 11%.

Contrariando as melhores expectativas do tucanato, a candidata de Nosso Guia chegou a 28% e Serra caiu para 32%. A ascensão do poste deve-se exclusivamente ao patrocínio de Lula e ao julgamento favorável que a opinião pública faz de seu governo. Quem acha que essa afirmação é exagerada pode enumerar três ideias próprias da candidata. Conseguindo, ganha uma viagem a Cuba. Durante a campanha, seus adversários enumerarão as leviandades e malfeitorias encontradas nos projetos do trem-bala (antes de ser entregue ao BNDES) e da banda larga para a internet, mas essa discussão mal começou.

A pergunta de R$ 1 milhão continua no ar: admitindo-se que Serra queira ser presidente, o que é que ele pretende fazer? Ou ainda, o que é que o tucanato tem a oferecer? Alguém lembra o que Alckmin propunha? Detestar Nosso Guia ou ter horror ao PT e aos seus mensaleiros pode ser um desabafo, mas não é uma solução. Se o PSDB acha que pode disputar uma eleição presidencial denunciando o contubérnio nuclear de Lula com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, problema dele.

Como ensinava Ulysses Guimarães: "O Itamaraty só dá (ou tira) voto no Burundi".

A voz mais articulada e insistente do oposicionismo tucano é a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Sua corte reúne sábios de agenda vencida, como os marqueses do Império que se reuniam em Paris para falar mal do marechal Floriano Peixoto.

Sete anos depois de ter saído do Planalto, falta ao PSDB uma crítica propositiva do mandarinato petista. Agenda negativa, o tucanato teve, mas enferrujou. O mensalão rendeu, até o momento em que arranhou as contas da campanha do senador Eduardo Azeredo, que à época presidia o partido. Passaram-se cinco anos e o encosto reapareceu na administração de seu aliado José Roberto Arruda. Aécio Neves chegou a criar a expressão "pós-Lula", mas ninguém sabe o que isso significa em termos de salários, saúde, segurança e educação. Desse jeito, quando o PSDB acordar, descobrirá que criou o pré-Dilma.

Assaltantes bem trapalhões

RUY CASTRO

RIO DE JANEIRO - Há semanas, a polícia prendeu três homens que tinham acabado de assaltar uma farmácia no Jardim Tremembé, zona norte de São Paulo. Chamados pelo 190, os policiais capturaram os bandidos dentro de um carro. Com eles, o produto do roubo: algum dinheiro, um secador de cabelo, três celulares, duas caixas de remédios para o fígado e 15 para impotência. Como as quantidades eram pequenas para revenda, supõe-se que os artigos fossem para uso próprio.

No Imirim, também zona norte de São Paulo, na semana passada, um rapaz de 19 anos tentou assaltar um bar penetrando pela chaminé da churrasqueira. Mas calculou mal e ficou entalado. Quando se viu incapaz de subir ou descer, apavorou-se e gritou socorro. A dona do bar acudiu, viu as pernas do jovem comicamente suspensas entre os defumados e chamou a polícia.

No Rio, três homens bem vestidos estacionaram diante de um hotel em Copacabana no começo da madrugada, renderam os seguranças e anunciaram o assalto. Depois de limpar R$ 50 mil do cofre, obrigaram um funcionário a arrombar a sala de monitoramento das câmeras e pegaram o equipamento de gravação. Em seguida, levaram cinco aparelhos de TV de LCD para o carro e fugiram -esquecendo no balcão o computador com as imagens do assalto. A polícia os identificou e prendeu.

Dá a impressão de que nossos bandidos estão ficando ineptos, relapsos, preguiçosos, não? Daí a surpresa diante do assalto bem-sucedido à casa do empresário dito operador do mensalão Marcos Valério, sábado último, em Belo Horizonte.

O bandido apresentou-se como agente de zoonoses, com o que a empregada lhe abriu o portão. Um agente de zoonoses cuida de doenças desencadeadas por vírus, fungos e bactérias, transmitidas por animais e, agora, pelo próprio homem. Faz sentido.