domingo, novembro 17, 2013

FÓRMULA VETTEL

O problema dos campeonatos por pontos corridos é justamente o fato de premiar os melhores. Ou então quem se comportou com mais regularidade. A superioridade, clara e evidente, se traduz no fim de um certamente com algumas rodadas de antecedência. Isso no caso do futebol. O Cruzeiro, todos sabem, levou o caneco do Brasileirão no meio da semana passada. Na Fórmula 1, Sebastian Vettel deu uma de Walter e deitou e rolou nas pistas deste planeta de meu Deus.
         Fórmula 1, nada. Fórmula Vettel. Pontuada por vitórias indiscutíveis do ponto de vista puramente técnico. Mas em termos de emoção... Bem, creio que devemos aguardar a próxima temporada, quando haverá drásticas mudanças no regulamento da categoria com vistas a contenção de gastos.
         O Grande Prêmio dos Estados Unidos, ontem, foi de uma chatice exemplar. Incrível como pouco aconteceu em 56 voltas. Como tem sido costumeiro, a parte mais interessante da prova foi justamente a largada. A única preocupação de Sebastian: manter-se em primeiro e se desembestar na frente, com não sei quantos segundos de vantagem em relação ao segundo colocado, o ótimo Grosjean, com um desempenho brilhante ao deixar para trás e resistir com bravura e competência às investidas de Webber.
         E quem tentou ver mais uma boa corrida de Felipe Massa dentro de suas limitações gritantes também vai ter de aguardar, mas pela corrida em Interlagos. A última em que estará ao volante ultratecnológico e cheio de botões da Ferrari. O desempenho de qualquer atleta melhora dez vezes quando ele atua em seus domínios. Não que vá ganhar a prova de São Paulo, mas acredito que deva se manter entre os dez melhores. Uma tarefa e tanto, na nossa avaliação, porque seu carro tem uma grande tendência a correr para trás que é um negócio assombroso. Em todo caso, é ver para crer.
De ferrarista para ferrarista, é muito legal ver o trabalho de Fernando Alonso. Na maior parte do campeonato, o espanhol mostrou todo o brilhantismo de quem se consagrou bicampeão mundial. Mas não chegou em momento algum a se tornar um rival à altura do talento de Vettel.
         O jovem piloto alemão vai batendo recordes atrás de recordes. Merece fazer “zeros” com sua RBR toda vez que receber a bandeirada em primeiro lugar. No Texas, superou a sequência de vitórias obtidas por Schumacher em 2004.

         Qual será a próxima marca a ser batida? Acho que não deve chegar aos sete títulos de Schumi. Porque a Fórmula 1 mudou muito nesse tempo e, para os próximos anos, as alterações serão ainda mais acentuadas. Mas Sebastian vai tentar. Porque os campeões gostam muito de superação.

segunda-feira, novembro 11, 2013

Kubrick de olhos bem abertos

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2013/11/1369555-kubrick-de-olhos-bem-abertos.shtml

11/11/2013 - 03h00

Depois de ler sobre pré-história, minha percepção do mundo mudou. Para começo de conversa, o tema da violência na condição humana é melhor compreendido quando olhamos para nossos ancestrais do Paleolítico Superior do que quando tentamos compreendê-lo a partir de ideias como "o modelo social está ultrapassado", apesar de saber que frases como essa dão orgasmo em muita gente.

Somos seres do desejo, e não de razão. Com isso não quero dizer que não sejamos racionais, mas sim que o desejo se impõe à razão. Freud e Lacan bem sabem disso. Schopenhauer e Nietzsche também sabem isso. Devoramos tudo à nossa volta por conta dessa força irracional chamada desejo.

O cineasta Stanley Kubrick (que aliás está "nos visitando" no Museu da Imagem e do Som, o MIS) entendeu bem esse aspecto: é na pré-história e no desejo que melhor entendemos nossa desorganização interna, nossas contradições e a luta que temos cotidianamente contra elas. Refiro-me a dois dos seus filmes, "2001, Uma Odisseia no Espaço", de 1968, e "De Olhos Bem Fechados", de 1999.

O primeiro se abre com o momento descrito como "aurora". Nessa sequência, dois bandos de homens pré-históricos disputam a posse de um pequeno lago. O mais fraco perde. Depois, acuados, comem ervas embaixo de uma pedra, atormentados por predadores à noite.

Um deles, na manhã seguinte, descobre que, tendo um osso nas mãos, consegue ficar mais forte. Matam um animal grande e "se tornam" carnívoros (o vegetarianismo é um comportamento ultrapassado evolucionariamente).

Mais tarde, munidos de ossos nas mãos, atacam o bando que os haviam expulsado do lago. O "novo homem", com uma arma na mão, retoma o lago. Na cena seguinte, joga o osso para cima e este vira uma nave espacial. Chegamos ao futuro da pré-história.
Já na última parte do filme, vemos o primeiro computador com inteligência artificial se "revoltar" contra os dois astronautas da nave. O que o filme nos revela? Que o "avanço técnico" seguramente está associado à violência.

Isso não significa que seja "bonito". Hoje em dia, por causa do modo como se dá o debate público, baseado em caricaturas do outro, difamação e simplificação ridícula (tipo: quem não pensa como eu é racista, "sequicista" e a favor da TFP), torna-se necessário fazermos reparos como esse: reconhecer a relação de implicação entre melhoria material da vida, avanço cultural e uma dose de violência não significa achar isso bonito, mas sim reconhecer o grau de ambivalência que marca nossa condição. Mas, num mundo de mimados, como é o nosso, dizer isso parece ser "gostar" disso.

O que Kubrick está dizendo aqui é que provavelmente nossa história de ganhos técnicos implica um alto grau de risco. O problema é que queremos os ganhos, mas, no mundo da carochinha, no qual vivem os mimados, parece ser possível zerar a ambivalência. Nada disso quer dizer que devemos cultivar a violência, mas que não adianta pintar sua cara com cores de anjo porque só vai convencer gente boba.

No outro filme, "De Olhos Bem Fechados", Kubrick dialoga profundamente com Freud. O filme é baseado, em última instância, num sonho de Freud no qual ele entra num trem e um aviso diz que ali só permanecem pessoas de olhos bem fechados.

O sonho está dentro do processo de "autoanálise" de Freud, no qual ele descobre o complexo de Édipo e sua vergonha pelo fato de o pai não ter reagido a uma humilhação feita por um grupo de antissemitas testemunhada pelo menino Sigmund. O tema envolve a ambivalência dos sentimentos e desejos da criança para com os pais.

No filme, a mulher (a deusa Nicole Kidman) conta para o marido (Tom Cruise) que um dia desejou fazer sexo violento com um oficial da Marinha que ela tinha visto num hotel quando eles estavam num momento "família" (quis ser a "puta" dele). Com isso, ela joga o marido num total desespero, que só se encerra quando ela o chama para trepar ("let's fuck").
O desejo da bela e bem comportada mulher revela ao marido que nem ela escapa da desorganização do desejo sexual "ilegítimo". A vida ordenada está sempre por um triz.
ponde.folha@uol.com.br
Luiz Felipe Pondé
Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo, ciência. Autor de vários títulos, entre eles, "Contra um mundo melhor" (Ed. LeYa). Escreve às segundas na versão impressa de "Ilustrada".

sábado, novembro 09, 2013

A rainha esquecida

http://esportefino.cartacapital.com.br/natacao-poliana-okimoto-falta-reconhecimento/

Postado pelo(a) colunista  em 08/11/2013

Cercada por jornalistas, um sorriso de ponta a ponta em seu rosto, Poliana Okimoto concede uma disputada entrevista depois de vencer mais uma maratona. O assédio é forte: a campeã mundial da prova dos 10 km em águas abertas, prova que faz parte do programa olímpico, tinha acabado de conquistar uma das etapas do Circuito Mundial, em Hong Kong.
A paulista é famosa, basta perguntar perguntar aos veículos que cobrem esportes por todo o mundo. Só não pergunte dentro de seu próprio país. “Deveríamos ter mais espaço”, uma reclamação que não é incomum entre atletas olímpicos que ainda sonham receber uma pequena parcela do espaço concedido ao futebol no Brasil, visando nada mais do que reconhecimento.
Poliana, 30 anos, tornou-se nesta semana a primeira nadadora de fora da Europa a ser eleita a melhor maratonista do ano pela mais conceituada revista do esporte, a Swimming World, que elege os destaques da temporada desde 1964 (a categoria águas abertas foi criada somente em 2005). Foram três medalhas no Mundial de Barcelona deste ano, uma de cada cor. Um feito inédito, com direito à melhor colocação da história do Brasil na categoria. A nadadora relembrou que pouco foi procurada após o incrível feito na Espanha. E sua reclamação não é pela eterna briga por patrocínio ou falta de apoio, mas por um pouco de atenção.
Em 2013, o melhor ano da carreira, Poliana levou o ouro no 10 km em Barcelona, prata nos 5 km e bronze na prova por equipes. Venceu duas etapas da Copa do Mundo de Águas Abertas, em Hong Kong e Xangai, na China. Em um raro pulo competitivo na piscina, que praticamente abandonou desde que resolveu se concentrar nas águas abertas, bateu neste ano o recorde sul-americano dos 1.500 m livre, que já durava 12 anos.
Tudo isso faz com que seja candidata fortíssima na eleição de melhor atleta de águas abertas do ano pela Federação Internacional de Natação (Fina). Concorre ainda ao prêmio de melhor do mundo pelo site Open Water Swimming (que também colocou brasileira Ana Marcela Cunha como uma das candidatas). Deve ser anunciada em breve como uma das finalistas do prêmio Brasil Olímpico, do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), para o qual já recebeu o voto de Cesar Cielo.
Em 2013 ainda encara duas provas: O Rei e Rainha do Mar, no Rio de Janeiro, e o Torneio Open, em Porto Alegre, ambas em dezembro. Piscinas? Esqueça. Hoje, na prática, o que o Brasil tem de melhor na natação são as maratonas aquáticas. E temos a melhor do mundo, uma campeã em uma categoria olímpica.
Fora do país, Poliana é estrela. Por aqui, bem, alguém sabe quem é Poliana Okimoto?

A imprensa cerca Poliana durante etapa da Copa do Mundo na China (Foto: Arquivo pessoal)
A imprensa cerca Poliana durante etapa da Copa do Mundo na China (Foto: Arquivo pessoal)

terça-feira, novembro 05, 2013

Rafael Zabaleta: El expresionismo español

http://trianarts.com/rafael-zabaleta-y-el-realismo-expresionista-espanol/


Click en la imagen para ver más obras

Rafael Zabaleta

Rafael Zabaleta Fuentes nació en Quesada, Jaén, el 6 de noviembre de 1907.
Su estilo varió desde el  sombrío de su primera época, al  rutilante que le condujo a un  con influencias claramente picassianas.
Esta evolución se observa partir de 1950, adquiriendo el estilo que le confiere su identidad.
La colección más importante de sus obras se encuentra en el Museo Zabaleta, de su ciudad natal.
Actualmente sus cuadros se exponen hoy en los más prestigiosos museos del mundo, entre otros en las ciudades de Buenos Aires, New York, Tokio y España.
Zabaleta declaró literalmente que “su apoyo en el arte más inmediato al suyo lo basó en Paul Cezanne, Vincent Van GoghHenri Matisse y Pablo Picasso o que sus intereses se vinculaban a la Escuela de París, “la mejor palestra del mundo”.
En 1951 su ciudad natal le nombra Hijo Predilecto.
En 1960 presenta en el pabellón español de la XXX Bienal de Venecia una serie de 16 óleos y diez dibujos, en la que sería su muestra más importante.
Murió el 24 de junio de 1960, en su localidad natal.
*Esta entrada fue publicada el 24 de julio de 2010. Ha sido actualizada y ampliada el 6 de noviembre de 2013.

Escritor angolano Ondjaki vence o Prêmio José Saramago por 'Os Transparentes'

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/11/1367365-escritor-angolano-ondjaki-vence-o-premio-jose-saramago-por-os-transparentes.shtml

DE SÃO PAULO

O escritor e poeta angolano Ondjaki, 36, venceu nesta terça-feira (5) a oitava edição do Prêmio José Saramago, pelo livro "Os Transparentes", de 2012. Além do prêmio, ele levou para casa € 25 mil (R$ 77,2 mil).
"Este prêmio não é meu, este prêmio é de Angola", disse Ondjaki em seu discurso de agradecimento, segundo informa o site português "Público".
"Eu não ando sozinho, faço-me acompanhar dos materiais que me passaram os mais velhos. Na palavra 'cantil' guardo a utopia, para que durante a vida eu possa não morrer de sede", acrescentou.
Nuno Elias
O escritor e poeta angolano Ondjaki
O escritor e poeta angolano Ondjaki
A honraria é distribuída pela Fundação Círculo de Leitores e, de dois em dois anos, premia uma obra literária de ficção lançada originalmente em língua portuguesa, escrita por autores que tenham até 35 anos quando da publicação.
Segundo a sinopse da obra de Ondjaki divulgada pela fundação, "'Os Transparentes' dá vida a uma vasta galeria de personagens onde encontramos todos os grupos sociais, intercalando magníficos diálogos com sugestivas descrições da cidade degradada e moderna."
As brasileiras Adriana Lisboa ("Sinfonia em Branco") e Andréa del Fuego ("Os Malaquias") já receberam o Prêmio José Saramago, respectivamente em 2003 e em 2011.

domingo, novembro 03, 2013

COMEMORAÇÃO E CASTIGO



Hoje em dia, quando o assunto é esporte, creio que devemos parafrasear Nelson Rodrigues: toda comemoração deve ser castigada. Porque um atleta está proibido de tomar um porre de felicidade quando marca um gol, uma cestaça de três pontos do meio da quadra ou, no caso de Sebastian Vettel ontem, “zerar” a pista na qual sagrou-se vitorioso após um desempenho incontestável e digno dos maiores louvores.
Lembro-me muito bem: era noite de Liga de Basquete Feminino, e o Castelinho, lotado, foi palco de uma das primeiras apresentações do Maranhão Basquete. A vibração da torcida era espetacular. O pessoal levou até charanga. Com essa batucada empolgante, a galera vibrava demais com as cestas de Iziane e suas companheiras. Até que um dia o mestre de cerimônias daquelas partidas, João Marcus, anunciou que, “segundo as regras”, essa festa espetacular conduzida por instrumentos musicais devia se restringir aos intervalos.
Você que tem 30 anos e acompanha o nosso futebol certamente se lembra – ou deve ter pelo menos ouvido falar – das maneiras como Paulo Nunes (pelo Palmeiras) e Viola (então no Corinthians) comemoravam seus gols. Todas muito criativas. Paulo Nunes uma vez homenageou a Feiticeira, personagem vivida por Joana Prado que povoou o imaginário sexual de muitos cuecas. Ele marcou o gol, tirou uma máscara de dentro do calção e fez um arremedo da dança com a qual a hoje esposa do Belfort transformava os marmanjos em perfeitos babões e babaquaras. Viola, por sua vez, num Corinthians x Palmeiras, imitou um porco após estufar as redes do Verdão.
Toda essa tiração de sarro e de onda – que faz parte da essência do esporte desde que circunscrita aos limites da civilidade – foi terminantemente proibida por aqueles que se consideram mais realistas que o próprio rei.
Os mesmos que vetaram outros pilotos de repetirem a atitude maravilhosa de Ayrton Senna, de comemorar suas vitórias segurando com a mão esquerda uma bandeira do Brasil. Ou que exigem de um árbitro o castigo da aplicação do cartão amarelo para quem tira a camisa ou se joga nas arquibancadas – como fizeram alguns jogadores da Seleção na Copa das Confederações.
Pois faça a sua festa, Sebastian Vettel. Faça sua RBR girar e cantar os pneus depois de receber a bandeirada em primeiro nos grandes prêmios que disputar. Divirta-se, meu jovem!

sexta-feira, novembro 01, 2013

DA ARTE DE FALAR BEM DE JOSÉ CHAGAS

Alguns anos atrás, ouvi por alto, aqui na Redação de O Estado, a desanimadora notícia de que o poeta José Chagas estava muito doente. Na verdade, "mais pra lá do que pra cá" - como dizia minha finada avó paterna, dona Maria José.
Nesse mesmo dia, como faço agora, aproveitei um intervalo mais longo no fluxo de páginas do jornal que precisavam ser revisadas e produzi um opúsculo que, longe de ser uma das tantas homenagens prestadas aos que estão ou já acessaram o andar de cima, celebrava a vida e a obra do mestre de "Os canhões do silêncio". No meu entendimento, gênios do nível de Chagas deveriam ser imortais. Não apenas em razão de ocuparem merecidamente um assento numa Academia de Letras.
Bem que eu gostaria de colocar aqui um trecho daquele texto. Creio que uma crise de imaturidade me levou a ignorar que a preservação dos originais de nossas obras é importante para a perpetuação da nossa memória no coração das gerações vindouras. Só uma pesquisa para salvar a peça do esquecimento. Cadê o ânimo para tanto?
Mas as lembranças do que aconteceu após a publicação na página de Opinião (graças ao bom Ademir, que sempre que pode me dá essa moral) foram deveras gratificantes. Antes de começar a trabalhar, recebi uma ligação do próprio poeta. Ele me disse, no melhor estilo Mark Twain, que os relatos sobre sua grave doença eram altamente exagerados. Assegurou-me que permaneceria no mundo dos vivos por um bom tempo e no fim da breve conversa telefônica me convidou para visitar sua nova residência, onde na segunda-feira, 28 de outubro deste ano, recebeu um grupo da Academia Maranhense de Letras. Ocasião na qual anunciou-se a republicação de "Colégio do Vento", que Chagas lançou ao público desta terra nos anos 1970.
Aceitei o convite para a visita e nunca fui lá. Eu poderia muito bem colocar a culpa por esse vacilo na vida. Todas as situações, acontecimentos, conflitos e conquistas ao longo da trajetória afastaram-me de realizar o propósito de bater um papo - por mais rápido que fosse - com um indivíduo que conhece do direito e pelo avesso uma arte que tento praticar com variados graus de sucesso. E também de insucessos, até porque muitos dos meus versos, natimortos, foram parar no cesto de lixo.
Para quem não conhece o trabalho poético de Chagas (ele também se dedicou à prosa, com igual brilhantismo), leiam esta passagem e vejam se não tenho razão em afirmar que ele é o cara: "Por entre flores e lodos,/ entre perfume e bodum,/ Deus semeia para todos,/ mas não para cada um.// Porque sempre há os que pensam/ que Deus é dúbio em seu dom,/ que Deus é castigo e bênção,/ e é tão ruim quanto bom".
Show de bola, não é não? Agora, apreciem os tercetos de "Soneto da manhã primeira: "Ah, a manhã da última promessa,/ manhã de um novo mundo que começa,/ mais acessível, mais humano e bom.// Meu Deus, seria como chegasse/ a manhã do primeiro sol que nasce,/ da cor primeira e do primeiro som".
Ou então vocês podem curtir ou retuitar esta homenagem a São Luís que o acolheu e o viu aceitar sua condição de Mestre Palavrador:
"É assim que a poesia se expande por todos os seus recantos. Há poesia no chão, no mar, nos sabiás, nas palmeiras, na brisa que sopra o seu carinho aos que chegam, na beleza dos pores do sol, tão cantada pelos poetas, sem esquecer que o nosso céu tem mais estrelas, como já afirmava o poeta maior, Gonçalves Dias. Mas não se pense que estamos numa ilha só de pura fantasia, rodeada de sonhos e de praias deslumbrantes. Ela nos mostra também a sua palpitante realidade, a sua outra face, o seu afã do dia a dia, no aprendizado de vida das novas gerações inspiradas nas lições de seus maiores. Nela há o trabalho da poesia, mas também há a poesia do trabalho, o que explica o seu compromisso com a criação e a criatividade, dois aspectos que sempre a colocaram na vanguarda dos movimentos culturais brasileiros".
Ao que tudo indica, estou me especializando em falar bem de José Chagas. Não tem o menor problema. Quem é o melhor no que faz merece ser aplaudido de pé.