Hoje em dia, quando o
assunto é esporte, creio que devemos parafrasear Nelson Rodrigues: toda
comemoração deve ser castigada. Porque um atleta está proibido de tomar um
porre de felicidade quando marca um gol, uma cestaça de três pontos do meio da
quadra ou, no caso de Sebastian Vettel ontem, “zerar” a pista na qual sagrou-se
vitorioso após um desempenho incontestável e digno dos maiores louvores.
Lembro-me muito bem:
era noite de Liga de Basquete Feminino, e o Castelinho, lotado, foi palco de
uma das primeiras apresentações do Maranhão Basquete. A vibração da torcida era
espetacular. O pessoal levou até charanga. Com essa batucada empolgante, a
galera vibrava demais com as cestas de Iziane e suas companheiras. Até que um
dia o mestre de cerimônias daquelas partidas, João Marcus, anunciou que,
“segundo as regras”, essa festa espetacular conduzida por instrumentos musicais
devia se restringir aos intervalos.
Você que tem 30 anos e
acompanha o nosso futebol certamente se lembra – ou deve ter pelo menos ouvido
falar – das maneiras como Paulo Nunes (pelo Palmeiras) e Viola (então no
Corinthians) comemoravam seus gols. Todas muito criativas. Paulo Nunes uma vez
homenageou a Feiticeira, personagem vivida por Joana Prado que povoou o
imaginário sexual de muitos cuecas. Ele marcou o gol, tirou uma máscara de
dentro do calção e fez um arremedo da dança com a qual a hoje esposa do Belfort
transformava os marmanjos em perfeitos babões e babaquaras. Viola, por sua vez,
num Corinthians x Palmeiras, imitou um porco após estufar as redes do Verdão.
Toda essa tiração de
sarro e de onda – que faz parte da essência do esporte desde que circunscrita
aos limites da civilidade – foi terminantemente proibida por aqueles que se
consideram mais realistas que o próprio rei.
Os mesmos que vetaram
outros pilotos de repetirem a atitude maravilhosa de Ayrton Senna, de comemorar
suas vitórias segurando com a mão esquerda uma bandeira do Brasil. Ou que
exigem de um árbitro o castigo da aplicação do cartão amarelo para quem tira a
camisa ou se joga nas arquibancadas – como fizeram alguns jogadores da Seleção
na Copa das Confederações.
Pois faça a sua festa,
Sebastian Vettel. Faça sua RBR girar e cantar os pneus depois de receber a
bandeirada em primeiro nos grandes prêmios que disputar. Divirta-se, meu jovem!
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