domingo, outubro 13, 2013

CONTAGEM REGRESSIVA

Não gosto de começar textos com lugar-comum, mas concordo com o seguinte ponto: só uma catástrofe para tirar de Sebastian Vettel seu quarto título consecutivo.
Ainda mais porque, na Índia, daqui a duas semanas, ele precisa conquistar o ponto mais alto do pódio (nada impossível) e torcer para Alonso no máximo chegar em terceiro (totalmente provável, porque hoje a Ferrari tem perdido o status de segunda principal equipe do circo para a Lotus).
Concordo: foi uma vitória consagradora de Vettel, no Grande Prêmio do Japão. Ainda mais porque a RBR dele estava mal, até mais ou menos metade da corrida. Discordo com quem opina sobre uma péssima largada do alemão. Na minha visão, ele procurou defender ao máximo o segundo lugar no grid da investida de Hamilton. Ainda contou com a sorte dos campeões, pois Lewis, arrojado toda vida, colocou a faca nos dentes. Às vezes, a ousadia premia os audazes. Mas também os castiga, como aconteceu com o inglês.
No que esforçou-se para encaixotar Hamilton entre ele e Webber, deixou uma avenida à disposição do ótimo segundo piloto da Lotus, Romain Grosjean. O bom francês tem evoluído muito. Ao lado do também alemão Nico Hulkenberg, da Sauber, os dois têm se destacado nas provas muito mais do que feras como Alonso, Raikkonen, Button. Os carros de Grosjean e Kimi nasceram direito, como se diz. São máquinas que, além de muito velozes, resistem bem mais ao desgaste de pneus. Por exemplo, Mais do que a Ferrari, a Williams e a McLaren. Nesse quesito, é superada apenas pela Red Bull. Tanto que na parte final da prova em Suzuka suportou bem os ataques de Webber. No fim das contas, o terceiro lugar que obteve pode ser comparado a uma grande prova. O que não tem nada a ver com “prêmio de consolação”, porque ele se portou da melhor forma possível.
Felipe Massa? Bom, acho que o brasileiro não vê a hora de terminar esta temporada. Durante os treinos livres de quinta e sexta, ele me mostrou que tinha todas as condições de pelo menos chegar em quarto ou quinto. Mas ontem de madrugada vi a realidade se impondo, até o momento da punição que ele teve de pagar por ter extrapolado o limite de velocidade no pit-lane. “É a primeira vez que isso me acontece”, lamentou. Não se preocupe, Felipe. Você faz por merecer.
Portanto, começou a contagem regressiva para o tetracampeonato de Sebastian Vettel. Não sei o que ele vai fazer nestas duas semanas até a corrida em Buddh. Também não me interessa. Mas podem ter certeza de que vai sonhar acordado com mais uma vitória e seu tetracampeonato.

Mais do que merecido, sem dúvida alguma.

sábado, outubro 12, 2013

A difusão da literatura brasileira depois da Feira de Frankfurt

http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2013/10/12/a-difusao-da-literatura-brasileira-depois-da-feira-de-frankfurt-511777.asp

Renato Lessa, presidente da Biblioteca Nacional, e José Castilho Marques Neto, diretor do Plano Nacional do Livro e da Leitura, anunciam mudanças e defendem novos papéis das instituições nas políticas públicas para a área que, afirmam, devem ir além da participação em feiras como a alemã

Por Guilherme Freitas, enviado especial a Frankfurt

Desde que assumiu a presidência da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), em março, e com ela a chefia do comitê organizador da participação do Brasil como convidado de honra da Feira de Frankfurt este ano, o cientista político Renato Lessa criticou os gastos de R$ 18,9 milhões assumidos pelo governo com o evento e defendeu que sua instituição deveria ter outro tipo de papel nas políticas públicas para o livro e a leitura. A partir de amanhã, quando ocorre a cerimônia de passagem de bastão para a Finlândia, homenageada de 2014, Lessa poderá colocar essa visão em prática sem ter mais no horizonte o maior evento editorial do mundo.

— Fomos bem-sucedidos em Frankfurt, nosso pessoal trabalhou 80 horas por dia, de forma heroica, para honrar os compromissos — comemora Lessa. — Mas a Biblioteca Nacional não pode mais ser percebida e tratada como produtora de feiras, porque temos outras prioridades. Podemos ter uma função de curadoria, montando a programação. Homenagens ao Brasil em eventos desse tipo têm que ser encampadas pelo governo brasileiro como um todo, do Ministério da Cultura (MinC) ao Itamaraty, e o investimento precisa ser compartilhado também com o setor privado.

Mudança de rumo

Como parte dessa “mudança de princípios”, diz Lessa, o orçamento da FBN para a participação do Brasil como país homenageado da Feira do Livro Infantil de Bolonha, maior evento mundial do gênero, que acontece em março de 2014, será reduzido de R$ 2,5 milhões para R$ 1,4 milhão. O restante será assumido pelo Itamaraty, que cuidará da execução da compra de serviços locais na Itália. Lessa conta também com a participação do setor privado.

A decisão é mais um sinal da mudança de perfil da FBN em relação à administração do presidente anterior, Galeno Amorim, demitido pela ministra Marta Suplicy este ano. Sob o comando de Galeno, a FBN estimulou a participação brasileira em megaeventos editoriais, como as feiras de Guadalajara e Bogotá, em 2012, Frankfurt e Bolonha.

Apesar da alteração de rumo, Lessa reconhece a importância dos eventos internacionais e aponta como principal legado de Frankfurt para a política nacional do livro o programa de fomento à tradução. A iniciativa, que por muito tempo existiu de forma intermitente, foi reestruturada em 2011 por Galeno, com a criação de uma escala que prevê, até 2020, investimentos de US$ 7,6 milhões em edições de obras brasileiras no exterior. Desde então, foram concedidas 357 bolsas para tradutores estrangeiros.

— O programa de apoio à tradução continuará, inclusive porque é um investimento com ótima relação custo/benefício, que ajuda muito a divulgação do livro brasileiro no exterior — diz Lessa, que reconhece as feiras internacionais como “oportunidades de promoção da cultura brasileira do exterior”, mas faz uma ressalva. — Se o país não tiver políticas permanentes de valorização da literatura e do livro, as feiras têm pouco valor. Elas são importantes, mas o Brasil precisa mais urgentemente redesenhar a organização institucional de suas políticas para o livro.

Passo decisivo para isso é o retorno do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) à estrutura do MinC. Anunciada em março como outra mudança em relação à administração de Galeno, que havia levado o Plano para a FBN, a decisão ainda depende de um decreto que, segundo Lessa, será concluído e assinado até o início de 2014.

Diretor do PNLL de 2006 a 2011, quando pediu demissão por não concordar com a integração à FBN, José Castilho Marques Neto foi reconduzido ao cargo pela ministra Marta Suplicy este ano. Com a oficialização do retorno do órgão ao MinC, ele pretende retomar metas de sua gestão anterior, como a transformação do PNLL em lei, a regulamentação de um fundo pró-leitura com a contribuição do setor privado e, a longo prazo, a criação do Instituto Nacional do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, que concentraria as políticas públicas para a área no país.

Com o retorno de Castilho, pode ganhar força também o debate sobre a criação no Brasil de uma lei de preço único para livros, semelhante às que existem em países como França e Alemanha. Na cerimônia de abertura da Feira de Frankfurt, terça-feira, autoridades alemãs defenderam a lei local contra o assédio de gigantes do comércio virtual como a Amazon. Castilho é favorável à medida.

— Países com uma longa tradição de leitura, como França e Alemanha, adotam com sucesso a lei do preço único para preservar a bibliodiversidade. Essa discussão ainda não foi feita no governo brasileiro, mas é uma pauta possível. Se a livraria do seu Pereira vende pelo mesmo preço que Cultura, Saraiva e Amazon, todos concorrem em condições de igualdade — diz Castilho.

Em entrevista coletiva durante a feira, a ministra da Cultura Marta Suplicy afirmou que ainda não há projeto sobre preço único em estudo no governo. Mas reconheceu a necessidade de debater novos modelos de negócios diante das mudanças no mercado de livros, que trazem riscos para editoras e de livrarias tradicionais.

— Estamos em um período de começo de transição — disse Marta.

Editoras pedem políticas nacionais

Entre os representantes do mercado brasileiro em Frankfurt, o programa de tradução da FBN é visto como o grande legado da feira para as políticas públicas. Para Karine Pansa, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), o evento deu uma visibilidade inédita do livro brasileiro no exterior e abriu caminho para que o Brasil, tradicional comprador de direitos, reforce seu papel também como vendedor.

— Esperamos que essa política bem-sucedida continue depois de Frankfurt — disse Karine.

No mercado interno, ela vê como grande desafio o impacto que pode ser causado pela ampliação dos negócios da Amazon no Brasil, a partir do próximo ano. Diante disso, as livrarias têm exigido medidas mais protecionistas. Mas Karine vê um ponto positivo nesse cenário:

— No Brasil temos um problema histórico de distribuição. O livro que sai de São Paulo precisa de 15 dias para chegar a Manaus. A presença da Amazon vai ajudar a acelerar a distribuição. Mas temos que ficar atentos para não aceitar más condições de negócio — diz Karine, que acredita que a lei de preço único teria poucas possibilidades de ser aprovada no Brasil.

Para Sônia Jardim, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), uma forma de incentivar a leitura seria ampliar um projeto de doação de livros de literatura, e não apenas didáticos, como já vem sendo feito na Bienal do Livro.

— O principal incentivador da leitura entre crianças é o professor, mas como podemos esperar que ele motive a leitura se não tem o hábito de ler? No Rio temos um programa que funciona como um clube do livro para professores, e que serve de base para que eles ensinem aos seus alunos o hábito de leitura. Mas falta um programa que funcione assim em todo o Brasil.

"Negro não é só melanina, é atitude política", diz Ferréz em Frankfurt

CASSIANO ELEK MACHADO
RAQUEL COZER
ENVIADOS ESPECIAIS A FRANKFURT


Os questionamentos sobre o que poderia ser visto como racismo na lista de escritores brasileiros na Feira de Frankfurt, levantados pela imprensa alemã deixaram de lado um grande defensor das causas negra e da periferia no Brasil, o escritor Ferréz, um dos autores levados ao maior evento editorial do mundo pelo governo brasileiro.
A imprensa alemã destacou ao longo das últimas semanas que o romancista Paulo Lins, autor de "Cidade de Deus", era o único negro da lista -- ao que Lins respondeu, em entrevista à Folha, que "se há racismo não é na seleção de autores, e sim na sociedade, que permite a poucos negros serem escritores, jornalistas, engenheiros ou médicos".
Divulgação/Ferrez
O escritor brasileiro Ferréz
O escritor brasileiro Ferréz
Neste sábado (12), após contar em debate no pavilhão brasileiro que foi confundido na Alemanha com árabe ou judeu, por causa da barba longa e do rabo de cavalo, Ferréz disse à Folha: "Sou mais negro que ele [Paulo Lins], falo mais do negro que ele. Ser negro não é só raça ou melanina, é atitude política perante o mundo. Nesse sentido, o Marçal [Aquino] é negro, o Lourenco [Mutarelli] é negro", disse.
Filho de negro com branca, Ferréz disse não ter se incomodado por ter sido deixado de fora do debate. "Paulo Lins defendeu muito bem a causa."
Durante o debate, contou que percebeu reações de identificação de minorias étnicas durante a passagem por Frankfurt, quando visitou escolas. "Um menino negro de 17 anos, com a camiseta do [rapper] Tupac, falou pra mim: 'Respect'. Não precisa nem de tradução, né?"
Ferréz, que acabou de ter contos traduzidos na Alemanha, se surpreendeu ao saber que a letra de seu rap "Judas", de 2001, vem sendo estudada em escolas alemãs.
"Nem faço mais rap. Acho que ensinam isso para as crianças daqui desistirem da leitura, já que elas não entendem, igual fazem com 'Memórias Póstumas de Brás Cubas' no Brasil", brincou, para um auditório lotado -- com a abertura da feira para o público geral, neste final de semana, pela primeira vez o espaço de debates do pavilhão brasileiro se encheu de estrangeiros.
ANGÚSTIA
Na conversa com ele e a escritora Patrícia Melo, a mediadora tentou encontrar pontos em comum nas duas obras, questionando-os sobre como retratam o medo e a angústia.
"O exercício literário é um exercício de resistência, de olhar criticamente para a sociedade, localizar contrastes e diferenças sociais", argumentou a autora de "Inferno". "A angústia social se junta à angústia do autor com a busca por formas, de respostas para sua própria prosa."
Ferréz disse sentir falta de autores que ambicionem escrever para o Brasil, em vez de para o mundo. "Quero formar leitores. Nesse sentido me igualo ao Evangelho, quero salvar pela palavra. É importante participar do processo de educação num país em que 70% do povo não lê direito, enquanto as as pessoas estão lá falando de alta literatura."
Já Patricia afirmou não ter o costume de pensar em quem é o leitor. "O leitor é uma figura metafísica, de repente entra na sua vida. O Ferréz é engajado socialmente, faz um trabalho importante com crianças. Não tenho tanto esse engajamento, minha ideia de leitor é mais de me olhar no espelho, para a leitora que também sou."
No final da tarde de hoje (12), Patricia Melo receberia um prêmio literário alemão, o LiBeraturpreis, dado a cada ano pelo instituto litprom a uma mulher da África, Ásia, América Latina ou países árabes. Ela foi a escolhida pela edição alemã de seu livro "Ladrão de Cadáveres", que, segundo o júri, é "um romance elegante, malicioso, sarcástico sobre as mudanças dos padrões de moral". Lançado na Alemanha, o romance ocupou, em junho, o primeiro lugar no ranking da revista semanal alemã "Die Zeit" que publica mensalmente um ranking com os melhores livros policiais.
VIOLÊNCIA
Ferréz criticou, em entrevista à Folha, a violência da polícia no governo Alckmin ao ser informado sobre investigação do Ministério Público de São Paulo, que revelou que a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) planejou a morte do governador.
"Não tem que matar, o que tem que fazer é convencer o Alckmin a fazer a polícia parar de matar", disse.

sexta-feira, outubro 11, 2013

Discurso do Papa à delegação da Comunidade Judaica de Roma

http://papa.cancaonova.com/discurso-do-papa-a-delegacao-da-comunidade-judaica-de-roma/

Íntegra

 

Discurso do Papa à delegação da Comunidade Judaica de Roma
DISCURSO
Audiência à Delegação da Comunidade Judaica de Roma
Sala dos Papas do Palácio Apostólico Vaticano
Sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal

Queridos amigos da Comunidade Judaica de Roma,
Shalom!

Estou contente de acolher-vos e de ter a possibilidade de aprofundar e ampliar o primeiro encontro com alguns dos vossos representantes no dia 20 de março passado. Saúdo com afeto, em particular o rabino chefe, Doutor Ricardo di Segni, a quem agradeço pelas palavras que me dirigiu. Também por aquela recordação de coragem do nosso pai Abraão quando lutava com o Senhor para salvar Sodoma e Gomorra: “e se fossem trinta, e se fossem vinte e cinco e se fossem 20…”. É justamente uma oração corajosa diante do Senhor. Obrigado. Saúdo também o presidente da Comunidade judaica de Roma, Doutor Ricardo Pacifici, e o presidente da União das Comunidades Judaicas Italianas, Doutor Renzo Gattegna.

Como bispo de Roma, sinto particularmente próxima a vida da comunidade judaica da cidade: sei que essa, com outros dois mil anos de ininterrupta presença, pode orgulhar-se por ser a mais antiga da Europa ocidental. Por muitos séculos, portanto, a Comunidade judaica e a Igreja de Roma convivem nesta nossa cidade, com uma história – nós o sabemos bem – que muitas vezes foi perpassada por incompreensões e também por autênticas injustiças. É uma história, porém, que com a ajuda de Deus, conheceu por muitas décadas o desenvolvimento de relações amigáveis e fraternas.

Para esta mudança de mentalidade certamente contribuiu, por parte católica, a reflexão do Concílio Vaticano II, mas uma contribuição não menor veio da vida e da ação, de ambas as partes, de homens sábios e generosos, capazes de reconhecer o chamado do Senhor e de caminhar com coragem em novos caminhos de encontro e de diálogo.

Paradoxalmente, a comum tragédia da guerra nos ensinou a caminhar juntos. Recordaremos em poucos dias o 70º aniversário da deportação dos judeus de Roma. Faremos memória e rezaremos por tantas vítimas inocentes das barbáries humanas, pelas suas famílias. Será também a ocasião para manter sempre vigilante a nossa atenção a fim de que não retomem a vida, sob nenhum pretexto, formas de intolerância e de antissemitismo, em Roma e no resto do mundo. Já disse outras vezes e gosto de repeti-lo agora: é uma contradição que um cristão seja antissemita. Um pouco de suas raízes são judaicas. Um cristão não pode ser antissemita! O antissemitismo seja banido do coração e da vida de cada homem e de cada mulher!

Este aniversário nos permitirá também recordar como na hora das trevas a comunidade cristã desta cidade soube estender a mão ao irmão em dificuldade. Sabemos como muitos institutos religiosos, monastérios e as próprias basílicas papais, interpretando a vontade do Papa, abriram as suas portas para uma fraterna acolhida, e como tantos cristãos comuns ofereceram a ajuda que podiam dar, pequena ou grande que fosse.

A grande maioria não estava ciente da necessidade de atualizar a compreensão cristã do judaísmo e talvez conhecia bem pouco da vida própria da comunidade judaica. Porém tiveram a coragem de fazer aquilo que naquele momento era a coisa certa: proteger o irmão, que estava em perigo. Eu gosto de destacar este aspecto, porque se é verdade que é importante aprofundar, de ambas as partes, a reflexão teológica através do diálogo, é também verdade que existe um diálogo vital, aquele da experiência cotidiana, que não é menos fundamental. Antes, sem isto, sem uma verdadeira e concreta cultura do encontro; que leva a relações autênticas, sem preconceitos e desconfianças; de pouco serviria o empenho no campo intelectual. Também aqui, como sempre amo destacar, o Povo de Deus tem um talento próprio e percebe o caminho que Deus lhe pede para percorrer. Neste caso, o caminho da amizade, da proximidade, da fraternidade.

Espero contribuir aqui em Roma, como Bispo, para esta proximidade e amizade, assim como tive a graça – porque foi uma graça – de fazer com a comunidade judaica de Buenos Aires. Entre as muitas coisas que podemos ter em comum, está o testemunho da verdade das dez palavras, do Decálogo, como sólido fundamento e fonte de vida também para a nossa sociedade, tão desorientada por um pluralismo extremo de escolhas e de orientações e marcada por um relativismo que leva a não ter mais pontos de referência sólidos e seguros (cfr Bento XVI, Discurso à Sinagoga de Roma, 17 de janeiro de 201, 5-6).

Queridos amigos, agradeço-vos pela vossa visita e invoco convosco a proteção e a benção do Altíssimo para este nosso comum caminho de amizade e de confiança. Ele Possa, em sua benevolência, conceder aos nossos dias a sua paz. Obrigado.

 

Espanhola ex-piloto de testes da F-1 é encontrada morta em hotel

http://esporte.uol.com.br/f1/ultimas-noticias/2013/10/11/espanhola-ex-piloto-de-testes-da-f-1-e-encontrada-morta-em-hotel.htm

Do UOL, em São Paulo

Maria de Villota

Maria de Villota é acompanhada por dirigentes espanhóis em primeira coletiva após acidente (11/10/12) AFP PHOTO / JAVIER SORIANO

Maria de Villota, ex-piloto de testes da Marussia na Fórmula 1, foi encontrada morta na madrugada desta sexta-feira em um hotel em Sevilla, na Espanha, seu país natal. Ela estava com 33 anos. Segundo apuração da agência EFE, a morte ocorreu por causas naturais. Não havia sinais de violência no corpo, assim como não foram encontrados medicamentos no quarto.
Carlos Garcia, presidente da federação Espanhola de Automobilismo, reforça a informação de que a morte tenha sido natural. "Só sei que sua assistente pessoal entrou no quarto e viu que Maria não se movia. Já estava morta. Parecer que foi morte natural, mas não sabemos ainda", declarou ao jornal Marca.
O anúncio da morte da piloto foi feito pela família, via Facebook: "Queridos amigos, Maria nos deixou. Ela foi para o céu com os anjos. Estamos agradecidos pelo ano e meio a mais que ela pôde ficar conosco."
Em Sevilla, ela lançaria na próxima segunda-feira seu livro autobiográfico, chamado "A vida é um presente". Ela também participaria de um congresso voltado a jovens universitários, em que famosos contam histórias impactantes. Na última quinta, realizou ensaio fotográfico e estava bem.
Em 2012, de Villota perdeu o olho direito enquanto testava para a Marussia no aeroporto de Duxford, na Inglaterra. Em 3 de julho, durante uma das voltas, ela perdeu o controle do carro e bateu violentamente contra um caminhão. A espanhola sofreu graves ferimentos no rosto e perdeu o olho direito, além de perder os sentidos do olfato e do paladar. Ela conseguiu se recuperar e, no começo deste ano, voltou a dirigir carros.
Maria era filha de Emilio de Villota, personagem histórico do automobilismo espanhol. Antes de testar na F-1, participou da Fórmula Superliga (pelo Atlético de Madri) e do Mundial de Turismo. Ela entrou no automobilismo em 2001, ao participar da F3 europeia.

* Texto atualizado às 10h02

quinta-feira, outubro 10, 2013

Escritora canadense Alice Munro vence Nobel de Literatura

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/10/1354474-canadense-alice-munro-vence-nobel-de-literatura.shtml

CASSIANO ELEK MACHADO
RAQUEL COZER
ENVIADOS ESPECIAIS A FRANKFURT

A escritora canadense Alice Munro foi anunciada na manhã desta quinta (10) como vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2013. Ela receberá R$ 2,72 milhões.
Aos 82 anos, ela foi saudada pela Academia Sueca como "mestre do conto contemporâneo". "Suas histórias se desenvolvem geralmente em cidades pequenas, onde a luta por uma existência decente gera muitas vezes relações tensas e conflitos morais, ancorados nas diferenças geracionais ou de projetos de vida contraditórios", destacou a Academia Sueca.
É a primeira vez que um escritor baseado no Canadá ganha a principal honraria literária mundial --o escritor Saul Bellow nasceu no Canadá, mas se naturalizou e fez sua carreira nos Estados Unidos. Em 2012, o Nobel de Literatura foi vencido pelo romancista chinês Mo Yan.
Apesar de os ganhadores do prêmios serem tradicionalmente notificados por telefone antes do anúncio oficial, a Academia Sueca, responsável pelo prêmio, não pôde localizar Munro, segundo o Twitter oficial do prêmio Nobel. A instituição acabou deixando uma mensagem em sua secretária eletrônica.
O nome dela foi recebido com sorrisos, mas sem empolgação, na sala de imprensa da Feira do Livro de Frankfurt, onde jornalistas de vários países esperavam o anúncio do prêmio, olhando para um telão.
Munro é a primeira mulher a conquistar o prêmio desde 2009, quando ganhou a romena-alemã Hertha Müller (veja relação abaixo).
Na manhã de ontem, a bielorrussa Svetlana Alexievich despontou como principal favorita nas casas de apostas britânicas, desbancando o japonês Haruki Murakami, que pelo terceiro ano seguido lidera as listas mas não leva.
Munro aparecia em segundo lugar nos últimos dias, mas caiu para a quarta posição pouco antes de ser consagrada.
Nos últimos 30 anos, 19 dos vencedores tinham nacionalidade europeia (63%) --o índice salta para 75% se considerado só o século 21.
O inglês também é o idioma dominante, sendo a língua de 33% dos últimos 30 agraciados.

Alice Munro

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Paul Hawthorne - 28.out.2002/Associated Press
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A escritora Alice Munro no consulado do Canadá em Nova York
MESTRE DA INTIMIDADE
Nascida em 10 de julho de 1931, em Wingham, Munro já revelou que desde os 14 anos soube com certeza que queria ser escritora. "Mas, naquela época, você não saía anunciando uma coisa dessas", disse recentemente. "Você não chamava a atenção. Talvez fosse por ser canadense, talvez por ser mulher. Talvez ambos."
Em entrevista
à revista "The Paris Review", ela falou sobre as dificuldades do começo da carreira. "A [revista] 'New Yorker' me mandava notas interessantes [sobre os contos que ela enviava]-- mensagens informais escritas à caneta. Eles nunca as assinavam. Elas não eram terrivelmente encorajadoras. Eu ainda me lembro de uma delas: "a escrita é muito boa, mas o tema é um pouco familiar demais". E era mesmo. Era um romance sobre duas pessoas envelhecendo --uma solteirona de meia-idade que sabe que a hora é aquela quando recebe uma proposta de casamento de um fazendeiro de meia-idade. Eu tinha um monte de solteirões de meia-idade nas minhas histórias. Eu me pergunto por que escrevia sobre eles. Eu não conhecia nenhum", disse.
A canadense, que já foi chamada pela escritora Cynthia Ozick de "a Tchéckhov dos norte-americanos", tem 14 livros publicados e já ganhara prêmios internacionais de prestígio, como o Man Booker Prize de 2009.
LIVROS NO BRASIL
No Brasil, Alice Munro tem quatro livros publicados: "Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento" (2004), pela Editora Globo, "A Fugitiva" (2006), "Felicidade Demais" (2010) e"O Amor de uma Boa Mulher" (2013), todos editados pela Companhia das Letras.
Nesta quinta, pouco após o anúncio do Nobel, Globo e Companhia das Letras anunciaram novas edições da autora no país.
Além da reedição, em dezembro, de "Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento", a Globo informou que lançará, em 2014, "Selected Stories" (1996), "Runaway" (2004) e "The View of Castle Rock" (2006), pelo selo Biblioteca Azul.
A Companhia das Letras divulgou que publicará em dezembro o último livro da autora, "Dear Life".
Sobre "O Amor de uma Boa Mulher", o crítico Luiz Bras escreveu na Folha : "Em todos os oito contos desta coletânea vencedora do National Book Critics Circle Award, a sordidez da sociedade moralista abraça forte essas heroínas [personagens das narrativas].
Ou ainda: "Alice Munro certamente pertence à linhagem de escritores como Tchekhov e Virginia Woolf, mestres da intimidade doméstica, da elipse e do desenlace indefinido. A única diferença é que em suas histórias o niilismo e o puritanismo jamais triunfam".
VIDA RURAL
A cidadezinha onde nasceu e foi criada e a região rural ao redor do condado de Huronfazem parte do mundo da ficção de Munro: comunidades isoladas onde a ambição é malvista --especialmente nas mulheres--, onde os desejos são mantidos em segredo e onde todo mundo sabe, ou pensa que sabe, da vida dos outros.
Ela ficou conhecida por sua reclusão e aversão à publicidade. Sua obra foi produzida enquanto criava três filhas e ajudava seu primeiro marido, James Munro, a dirigir uma livraria. Ela persistiu no ofício apesar de não ter muito reconhecimento no início. Sua primeira coletânea foi publicada somente em 1968.
Munro começou a conquistar reputação com seu quinto e seu sexto livro, "The Moons of Jupiter" (1982) [As luas de Júpiter] e "The Progress of Love" (1986) [O progresso do amor]. Lentamente, então, ela ascendeu ao que a escritora Margaret Atwood chamou de "santidade literária internacional".
Em 2009, a escritora revelou que se submeteu a uma cirurgia de ponte de safena e foi tratada de câncer. Em abril deste ano, enfrentou a morte de seu segundo marido, Gerald Fremlin. Ela mora atualmente em um chalé do século 19, onde Fremlin foi criado.
Em julho, a contista havia anunciado que se aposentaria.
Editoria de Arte/Folhapress
13 MULHERES DESDE 1901
Desde sua criação, em 1901, 106 prêmios Nobel de Literatura foram entregues, apenas 13 para mulheres.
Veja a lista das vencedoras:
2013 - Alice Munro (Canadá)
2009 - Herta Müller (Alemanha)
2007 - Doris Lessing (Grã-Bretanha)
2004 - Elfriede Jelinek (Áustria)
1996 - Wislawa Szymborska (Polônia)
1993 - Toni Morrison (EUA)
1991 - Nadine Gordimer (África do Sul)
1966 - Nelly Sachs (Suécia)
1945 - Gabriela Mistral (Chile)
1938 - Pearl Buck (EUA)
1928 - Sigrid Undset (Noruega)
1926 - Grazia Deledda (Itália)
1909 - Selma Lagerlöf (Suécia)
Vencedores do Nobel de Literatura no século 21
2013: Alice Munro (Canadá)
2012: Mo Yan (China)
2011: Tomas Tranströmer (Suécia)
2010: Vargas Llosa (Peru)
2009: Herta Müller (Romênia-Alemanha)
2008: J.M. Le Clézio (França-Ilhas Maurício)
2007: Doris Lessing (Pérsia-Reino Unido)
2006: Orhan Pamuk (Turquia)
2005: Harold Pinter (Inglaterra)
2004: Elfriede Jelinek (Áustria)
2003: J.M. Coetzee (África do Sul)
2002: Imre Kertész (Hungria)
2001: V.S. Naipaul (Trinidad e Tobago-Reino Unido)
COM AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

quarta-feira, outubro 09, 2013

O sem-carro

Sinistro foi o dia em que Diesel concebeu o seu funesto engenho

por Vanessa Barbara

pesar da tolerância padrão de duas horas, as reuniões da Sociedade Paulistana dos Sem-Carro (SOPASECA) sempre começam atrasadas. A chegada dos associados e o estabelecimento de quórum dependem de fatores meteorológicos, geográficos, sísmicos, sindicais (greve dos metroviários, operação tartaruga da Viação Sambaíba) e subjetivos. Ainda que os encontros sejam marcados na vizinhança de estações de metrô, os membros geralmente precisam tomar duas conduções, seguidas de um trem (com baldeação), uma van clandestina, uma carona na rabeira de um caminhão e um trecho de paralelepípedo vencido a pé, totalizando um percurso que leva, em média, uma hora e quarenta minutos. Sem chuva.
Os sem-carro podem sê-lo por opção ou circunstância. No primeiro caso, minoritário, alinham-se autofóbicos e descoordenados. No segundo, pobres e novos-pobres. Em ambos, trata-se de uma condição penosa, que implica desafiar a normalidade social e as prerrogativas vigentes de sucesso, como quem tem seis dedos na mão direita ou torce para a Portuguesa – há quem padeça de ambas as condições, e ainda assim tem um possante na garagem.
Os sem-carro ostentam um senso de equilíbrio aguçado e nunca estão fora de forma. Não só conseguem se manter de pé como caminham galhardamente pelo estreito corredor de um Jardim Pery Alto–Santa Cecília com vistas a cumprimentar os presentes, tudo isso com uma sacola de travesseiros na mão esquerda, uma samambaia na outra, um triciclo debaixo do braço e um caso crônico de labirintite.
De índole liberal, não se deixam abalar pelo contato físico com os demais passageiros e não se envergonham de cair no colo de desconhecidos nas curvas mais fechadas. Nem fazem caso de, por conta de uma freada brusca, quicar vigorosamente pelos balaústres, bater a barriga na catraca ou colidir com o passageiro à frente, que tem feridas e uma verruga gorda que solta pus.

s sem-carro sabem de cor o poema de W. H. Auden que diz: “Odioso foi o dia em que Diesel concebeu seu motor maléfico.” Eles odeiam os motorizados. É por culpa dessas criaturas torpes que somos obrigados a gastar quarenta minutos para percorrer três quadras da avenida Paulista, constipada de trânsito e de filas quádruplas de carros ocupados por uma única e peçonhenta alma, que ainda por cima canta em voz alta e aproveita o sinal fechado para cutucar o nariz. Da estação Brigadeiro até a avenida Angélica, na hora do lufa-lufa um peregrino a pé, com seu cajado, vence o percurso na mesma velocidade do ônibus, e ainda toma um café, troca ideias com um Hare Krishna e fortalece a panturrilha.
Só não se pode garantir que ele chegará a salvo no destino, pois, como todo motorista sabe, pedestre não é gente: é alvo. Em grande parte dos cruzamentos não há semáforos com bonequinhos verdes à espreita, a via tem três mãos de tráfego e só falta caírem carros do céu, bem em cima do desprotegido passante. Nessas horas, o sem-carro deve se valer do senso acurado de timing que possui desde a infância, e que vem a ser a mesma habilidade que nós, meninas, temos de entrar e sair de uma corda dupla em movimento, na época da pré-escola, sem tropeçar ou levar uma chicotada. Atravessar a rua sem farol é como pular corda pela própria vida, devendo o pedestre ter noções de física, velocidade angular, direção do vento e intensidade mínima do pique. Também é recomendável vestir roupas chamativas e ter boa capacidade pulmonar, sob pena de tombar exausto, em plena via, e terminar como um ex-pedestre.
Os sem-carro são acrobatas das ladeiras, equilibristas do coletivo, intrépidos beduínos a quem dá mais trabalho chegar ao trabalho do que trabalhar. Ainda assim, são pacientes, pois sabem como ocupar a mente no interior de um sacolejante Santana–Jabaquara. Filósofos por falta de opção, têm revelações profundas sobre a existência humana sempre que o ônibus quebra, o motorista erra o caminho ou a composição estanca, por conta do que se costumou chamar de “objeto na via” – um guarda-chuva ou um suicida nos trilhos.
“Nada como um bonde lento para meditar sobre o significado de todas as coisas”, afirmou Luis Fernando Verissimo, numa crônica sobre Porto Alegre. “O bonde Petrópolis subia a Protásio Alves como um velho subindo a escada, devagar e se queixando da vida. Sempre achei que se a linha do meu bairro fosse um pouco mais longa eu teria decifrado o Universo.” E acrescentou: “Se hoje tenho um pouco de equilíbrio emocional, bons reflexos e o mínimo de caráter para não dar na vista, devo tudo ao Petrópolis até o fim da linha ou J. Abbott.”
Além de se revelarem pensadores compulsórios e promissores, os sem-carro também aprendem a dormir impassíveis, sem cabecear ou apoiar-se no ombro de um desconhecido ao lado. Para um bom membro da SOPASECA, a habilidade mais invejada é a de cochilar em pé, feito um sábio hindu em estado de graça. Os sem-carro acordam antes de o sol nascer, moram longe e vão a pé. Têm sono o tempo inteiro e, no Mandaqui, já foram pegos dormindo enquanto caminhavam, numa espécie de sonambulismo ao contrário.

gente chamava isso de ‘piscina’”, explicou Millôr Fernandes. O humorista morou quinze anos no subúrbio do Méier, no Rio, e ia trabalhar e estudar de bonde. “Quando você mora muito longe é assim, você chega em casa meia-noite, uma hora, duas, bate com a mão na parede e volta. Já está na hora de trabalhar de novo.”
Os sem-carro agradecem diariamente ao Altíssimo pela ausência de escoriações graves e por permanecerem razoavelmente vivos. Eles são atropelados na calçada, na faixa de pedestres, no corredor de ônibus, nos estacionamentos e postos de gasolina por veículos que dão preferência a si mesmos, buzinando alegremente para apressar os velhinhos tísicos que estão no caminho. Os sem-carro incomodam desde Fuscas a caminhões, passando por vans, táxis, motos e os que querem estacionar no meio-fio, bem onde um cego está esperando para atravessar.
No que tange à orientação espacial urbana, os membros da SOPASECA só sabem fazer o “caminho do ônibus”, e por isso se quedam extremamente confusos quanto às rotas mais simples e a menor distância entre dois pontos – sobretudo quando o metrô entra na terra e eles se põem automaticamente a dormir, como em estado de animação suspensa.
Quem não é do time vai às festas usando vestidos de crepe e sandálias de salto agulha, enquanto os sem-carro vão de galochas, metidos num impermeável cor de laranja e com uma mochila nas costas cheia de lanches, livros, mapas, canetas, uma muda de roupa, esmalte, tesourinha de unha e equipamentos para enfrentar cataclismos climáticos. Quando perdem o Bilhete Único, cedem ao desespero.

Os sem-carro chegam à balada com os pés encharcados, ainda que tenham tido o cuidado de meter um saco de supermercado por dentro do tênis, e tentam ignorar os olhares de incredulidade dos demais. Enfrentam frio, vento e fuligem. Quando enfim alcançam o destino, já é hora de voltar – o último ônibus sai à meia-noite e meia, o metrô só abre às quatro, meus pés estão gelados e amanhã a Portuguesa vai jogar. Sabe como é.

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