"É CLARO QUE, COMO TODO ESCRITOR, TENHO A TENTAÇÃO DE USAR TERMOS SUCULENTOS: CONHEÇO ADJETIVOS ESPLENDOROSOS, CARNUDOS SUBSTANTIVOS E VERBOS TÃO ESGUIOS QUE ATRAVESSAM AGUDOS O AR EM VIAS DE AÇÃO, JÁ QUE A PALAVRA É AÇÃO, CONCORDAIS?"
CLARICE LISPECTOR - "A HORA DA ESTRELA"
É a experiência uruguaia: acabam de legalizar a maconha, e em grande parte isso foi possível graças a seu presidente, José Mujica, um verdadeiro personagem e filósofo.
É a primeira vez que tive de tirar a gravata para entrevistar um presidente. O que acontece é que José Mujica --que muitos no Uruguai chamam de "presidente Pepe"-- é de uma espécie política diferente. A gravata, disse-me, "não tem mais a função pela qual surgiu" (que era fechar camisas sem botões). "Quando soube a história da gravata", acrescentou, "me pareceu um rasgo de vaidade masculina". E a descartou.
Mujica é, sem dúvida, um dos presidentes mais pobres do mundo. Dá 90% de seu salário para obras de caridade e fica com apenas US$ 1.000 por mês. Não sei de nenhum outro mandatário que fique com tão pouco. "Sou sóbrio na maneira de viver, mas não pretendo impor isso a ninguém", disse-me em uma entrevista durante sua recente viagem a Nova York. "A vida é para andar leve de bagagem, pouco comprometido com as coisas materiais e para se garantir maior margem possível de liberdade individual." Como veem, também é um presidente filósofo.
Não mora no palácio presidencial, mas em sua casa de sempre; três quartos, cozinha e só um banheiro, nada mais, e ele e sua mulher não têm empregados domésticos.
Alguns o chamam de Nelson Mandela da América do Sul, porque, assim como o líder sul-africano, Mujica rebelou-se agressivamente contra uma ditadura (militar) e passou muitos anos na prisão: 14, para ser exato. Foi guerrilheiro tupamaro, recebeu seis balaços e, em um momento de sua vida, acreditou que o mundo poderia ser modificado com violência. Não mais. Opôs-se ao recente plano americano de bombardear a Síria. "Disse-lhes que o bom era bombardear com leite em pó, com comida, com atendimento médico."
Mujica é um democrata que, apesar de tudo, resiste a criticar a ditadurados irmãos Castro. "Eu defendo todos os povos latino-americanos." Não é hora de Fidel e Raúl deixarem o poder em Cuba? "Vão deixar, não se preocupe que vão deixar."
O Uruguai é uma das nações mais liberais do planeta. O aborto é legal, assim como o casamento entre pessoas do mesmo sexo. E nos últimos dias ficou conhecido como o primeiro país do mundo a legalizar a produção, a distribuição, a venda e o consumo de maconha. Para o presidente Mujica, é um "experimento".
Mujica é o único presidente do mundo que faz o que outros fazem quando deixam o poder. A América Latina está cheia de ex-presidentes que hoje apoiam a legalização das drogas, mas que quando estavam no poder não ousaram fazer nada.
A legalização da maconha, entretanto, não tem o apoio popular no Uruguai. Seis em cada dez uruguaios, segundo várias pesquisas, são contra a medida. "Têm medo", diz Mujica, "mas nós temos muito mais medo da existência do narcotráfico. É muito pior o narcotráfico que a droga. A droga eu posso controlar."
Mujica diz que nunca provou maconha. "Sou antigo; fumei tabaco." Experimentaria? "Sim, não terianenhum tipo de preconceito. Mas não creio que a maconha seja boa. Além disso, estou convencido de que é uma praga, como o tabaco e o álcool." Sua lógica é esta: se o álcool e os cigarros são regulamentados, por que não a maconha? O temor é que o Uruguai se transforme, como Amsterdã, em um destino mundial de narcoturismo. Mas ele não se preocupa: os turistas não poderão comprar maconha no Uruguai, disse-me.
Os 20 minutos que reservados para a entrevista tinham terminado, mas o presidente Pepe queria continuar falando. Outro presidente o esperava. Ele não tinha pressa.
Qual é o segredo de estar tão bem aos 78 anos de idade? "Deve ser genético", disse, rindo, e então tocou o lugar do coração. "Sinto-me bastante jovem aqui. Em meu corpinho vou sentindo os anos, o reumatismo, tudo isso. Mas me sinto com força."
Como despedida, eu lhe disse que me dava a impressão de que continuava pensando como um jovem, que ainda tinha esse otimismo tão adolescente de crer que as coisas podem ser mudadas. "Sou um lutador", concordou, "um doente de sonhos".
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
JORGE RAMOS
O jornalista Jorge Ramos é um dos mais conceituados analistas da questão hispânica nos Estados Unidos.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/painelfc/2013/12/1388273-tribunal-em-campo.shtml
O Ministério Público de Pernambuco entrou com ação contra a Fifa pedindo que a entidade pague indenização de R$ 5 milhões a torcedores brasileiros. O órgão diz ter recebido reclamações de diversas pessoas que se sentiram lesadas na Copa das Confederações. Os torcedores alegam que compraram ingressos para o torneio, mas não puderam ver os jogos porque, de seus assentos, não tinham visão completa do campo.
Convocada. Na ação, o Ministério Público pede que a Fifa seja condenada por danos morais coletivos. O processo foi instaurado anteontem, e a federação deverá ser intimada para explicar o problema com os torcedores.
Malas... Eleito na premiação da CBF como o melhor lateral esquerdo do Campeonato Brasileiro de 2013, Alex Telles está acertando sua ida para a Turquia. O gremista conclui os detalhes finais do acordo para atuar no Galatasaray.
...prontas. Para ter Alex Telles, o Galatasaray vai desembolsar € 6 milhões (R$ 19,2 milhões). Mas apenas R$ 7,6 milhões vão para o Grêmio, dono de 40% dos direitos econômicos do lateral. O dinheiro será um respiro para o clube, que passa por problemas financeiros.
Atrasado. Jogadores do Grêmio, aliás, reclamam de falta de pagamento dos salários –o atraso está para completar o terceiro mês. Alguns, inclusive, estão prestes a ter seus contratos rompidos automaticamente por falta de pagamento. Kleber é um deles. O atacante notificou o clube dizendo que gostaria de ficar em Porto Alegre, mas é o atleta que está mais perto de uma rescisão.
Cabo de guerra. A diretoria do São Paulo tentará aprovar a obra da cobertura do Morumbi em janeiro, mas não terá missão fácil. Conselheiros do clube, que precisam dar aval para o início das obras, fazem pressão para que o acordo seja discutido após a eleição presidencial, marcada para abril.
Memória. Acertado com o Palmeiras, Marquinhos Gabriel tinha propostas de outros clubes: Santos, Grêmio e Cruzeiro entraram em contato com o estafe do jogador. A opção pelo clube da capital paulista se deu porque o meia era fã de ídolos alviverdes, como Zinho e Evair.
Variável. No Palmeiras, Marquinhos terá contrato de produtividade e poderá dobrar seu salário mensal, dependendo de seu desempenho. A contratação do jogador depende ainda do BMG, que está adquirindo parte de seus direitos, e precisa autorizar a realização do negócio.
Jogo... A Sky e a Net, operadores de televisão por assinatura, se tornaram alvo de clientes por causa do Mundial de Handebol.
...fechado. Os assinantes reclamam com as empresas porque não podem assistir à semifinal entre Brasil e Dinamarca hoje pois as operadoras não liberam o canal Esporte Interativo, detentor dos direitos de transmissão do torneio. Trata-se da primeira vez que a seleção nacional da modalidade chega a esta fase do Mundial.
Presença... Nick Bollettieri, descobridor de Maria Sharapova e ex-treinador de Andre Agassi, Boris Becker e das irmãs Venus e Serena Williams, virá ao Brasil para o Rio Open. A competição acontece entre 15 e 23 de fevereiro no Jockey Club Brasileiro, na capital fluminense.
...ilustre. Bollettieri vai conduzir uma de suas clínicas de tênis no penúltimo dia do torneio para crianças.
DIVIDIDA
"Quem ama o São Paulo quer as coisas bem explicadas", Marco Aurélio Cunha, conselheiro do clube e oposicionista, argumentando que seu grupo deseja obter detalhes do contrato da obra da cobertura do Morumbi
painel fc
A coluna Painel FC, publicada de segunda a sábado na versão impressa de 'Esporte', é editada pelo jornalista Bernardo Itri. Traz notícias dos bastidores dos esportes, principalmente do futebol.
Recentemente, uma peça publicitária da Caixa Econômica Federal mostrou um dos integrantes da sua vasta rede de atendimento: nada menos do que uma agência que funciona em um grande barco.
O fato é que alguns leitores me perguntaram se o nome dado pela Caixa ("agência-barco") é correto ou se deveria haver uma inversão na ordem dos elementos que compõem o termo ("barco-agência").
A questão é interessante, mas vou logo avisando que há pelo menos um argumento para cada lado. Se levarmos em conta o que é comum na língua, ou seja, se tomarmos como base casos análogos ("caminhão-pipa", "caminhão-tanque", "navio-escola", "navio-tanque", "vagão-leito", "carro-bomba" etc.), veremos que esses substantivos compostos têm um processo de formação padronizado: em primeiro lugar vem sempre o substantivo que define o que a coisa é na essência; em seguida, vem o substantivo que indica a finalidade do elemento nomeado pelo primeiro substantivo.
Tradução: um caminhão-pipa é antes de tudo um caminhão (construído para atuar como pipa, isto é, como reservatório de água etc.); um carro-bomba é antes de tudo um carro (preparado para explodir).
Em sendo assim, o que a Caixa Econômica Federal tem é barco-agência, ou seja, um barco construído com a finalidade de funcionar como agência. A levar em conta o critério padrão, uma agência-barco seria uma agência construída para funcionar como barco, o que, cá entre nós, não faz lá muito sentido.
E qual seria o argumento do outro lado, o que deve ter norteado a Caixa no momento de optar por esta ou aquela forma? Posso estar enganado, mas algo me diz que o motor dessa escolha foi mercadológico, isto é, o marketing mandou na parada. Em termos de comunicação imediata e/ou da intenção de fazer o leitor/espectador/ouvinte captar de pronto a mensagem, talvez "agência-barco" seja mais forte e convincente que "barco-agência".
E o plural? Pois é aí que a coisa talvez se escancare de vez. De acordo com a tradição gramatical, o plural de substantivos compostos que têm a formação já vista (substantivo + substantivo, com o segundo limitando a extensão do primeiro em termos de finalidade, semelhança etc.) é feito com a flexão do primeiro (caminhões-pipa, caminhões-tanque, navios-escola, navios-tanque, vagões-leito, carros-bomba).
Modernamente, registra-se também o plural feito com a flexão dos dois elementos, como atestam os dicionários e as gramáticas (caminhões-pipas, caminhões-tanques, navios-escolas, navios-tanques, vagões-leitos, carros-bombas). Posto isso, teríamos dois plurais para "barco-agência": "barcos-agência" (de acordo com a tradição) ou "barcos-agências" (de acordo com o que se registra mais recentemente).
No caso do nome adotado pela Caixa ("agência-barco"), os plurais possíveis ("agências-barco" e "agências-barcos") parecem reforçar o gostinho de coisa estranha, de coisa que não "orna", como se diz no interior. Parece que algo não vai bem, já que, definitivamente, antes de ser uma agência, aquilo é um barco, feito para funcionar como agência, sim, mas total e essencialmente dependente da condição de barco para cumprir o seu papel, o de estar aqui e ali neste imenso Brasil.
Sei que essa conversa toda não muda o preço do feijão, mas pode servir para uma boa reflexão sobre o processo de formação de alguns vocábulos compostos e, em termos mais amplos, sobre a relação que há entre as palavras, os conceitos etc. É isso.
inculta@uol.com.br
Pasquale Cipro Neto é professor de português desde 1975. Colaborador da Folha desde 1989, é o idealizador e apresentador do programa "Nossa Língua Portuguesa" e autor de várias obras didáticas e paradidáticas. Escreve às quintas na versão impressa de "Cotidiano".
Pergunta: É óbvio que você é ótimo em escolher parceiros para executar suas ideias. Como você verifica se a pessoa tem paixão e determinação suficiente para fazer um negócio crescer?
-Maciej Miko, Polônia
Resposta: É preciso muitos tipos diferentes de presidentes-executivos e altos executivos para liderar os 50 mil funcionários da Virgin e manter nossos negócios divertidos, com propósito e lucrativos. Nós encontramos grandes líderes em toda parte: trabalhando arduamente dentro da empresa, executando mudanças empresariais em grandes corporações e até mesmo vendendo autopeças no bagageiro de seus carros. A parte empolgante é deixá-los brilhar em papéis de liderança.
O longo processo de formação da força do quadro de sua empresa começa com a prática diária de permitir que os funcionários assumam responsabilidades desafiadoras além de seus papéis atuais. Tudo o que você precisa é ouvir as ideias deles e dar a eles poder para transformar as melhores em realidade. Desenvolver as habilidades deles é essencial para o sucesso a longo prazo de sua empresa.
Seguindo esse princípio, nós promovemos pessoas de dentro da empresa o máximo possível --não há melhor forma de aprender se alguém tem paixão e determinação do que trabalhando com ele ou ela diariamente. A carreira de Jayne-Anne Gadhia conosco é um grande exemplo de como isso pode funcionar. Em 1995, ela foi uma integrante crucial da equipe que lançou a Virgin Direct, e então ela ajudou no lançamento do serviço bancário tudo em um, a conta Virgin One. O sucesso da Virgin One foi tamanho que, três anos depois, o Royal Bank of Scotland comprou os 50% restantes que ainda não possuía do negócio, por 100 milhões de libras.
Quando começamos a procurar por alguém para assumir o cargo principal da Virgin Money em 2007, nós já conhecíamos Jayne-Anne bem --o quanto era durona, criativa e sua capacidade de liderança-- de modo que ela foi uma das primeiras pessoas em quem pensamos. Ela assumiu a liderança de nossa compra do falido banco Northern Rock em 2011, onde ela introduziu abordagens boas para a comunidade que conquistaram a confiança do público: a Virgin Money agora é o terceiro maior credor líquido do Reino Unido, responsável por mais de 3 milhões de clientes.
Diferente da profunda experiência de Jayne-Anne nem seu campo, alguns fundadores de novos negócios ingressaram no Virgin Group com pouco mais que sua energia, paixão e foco --tudo isso essencial para o desenvolvimento de uma ideia em uma empresa e para atrair e manter parceiros e funcionários.
Quando conhecemos Billy Levy e Zack Zeldin, nós soubemos que eles eram amigos na faculdade, na Universidade da Flórida, e abriram seu primeiro negócio juntos, vendendo freon para lojas de autopeças. A verdadeira paixão deles era jogar videogames, e como gamers, eles sabiam que as pessoas estavam ávidas em competir por dinheiro e prêmios contra outras com habilidade semelhante. Eles lançaram o WorldGaming.com, que compramos em 2010.
De lá para cá, a Virgin Gaming fez parcerias com grandes empresas de entretenimento interativo para integração de nossa tecnologia em games populares disponíveis para Playstation e Xbox. Até o momento, nossos gamers já ganharam mais de US$ 45 milhões.
O que fez Billy e Zack, agora respectivamente vice-presidente e presidente da Virgin Gaming, se destacarem? A proposta deles foi inspiradora e, enquanto discutíamos a ideia com eles, ficou claro que eles seriam capazes de gerar empolgação entre os funcionários diariamente. Eles tinham algo que funcionou no passado para a Virgin: inexperiência jovem, compensada por um foco incessante no sucesso.
Alguns de nossos outros presidentes-executivos costumavam trabalhar para concorrentes maiores. Quando fizemos essas contratações, o que procurávamos acima de tudo é se a pessoa ouvia seus funcionários. Você pode dizer que um líder é aberto a mudança quando seus funcionários se sentem empoderados para tomar decisões que podem se tornar a norma.
David Crush foi um executivo da American Airlines por mais de 22 anos antes de se juntar à Virgin America, e ele realmente levou a sério a oportunidade de trabalhar em uma empresa menor, onde toda voz podia ser ouvida. Seu programa anual de treinamento, que conta com a participação de todos os funcionários, enfatiza a comunicação, reconhecimento e o trabalho em equipe. David participou recentemente de uma sessão aberta, onde companheiros de equipe realizaram um brainstorm de ideias para a política de viagens do staff. Ele então cuidou para que a melhor sugestão do grupo fosse implantada, agradando a todos aqueles que contribuíram. A liderança de David ajudou a transformar a primeira companhia aérea doméstica americana aberta depois do 11 de Setembro em uma empresa premiada e lucrativa.
Respondendo à sua pergunta, Maciej, nós procuramos por paixão, determinação e algo mais --tudo depende do que o negócio precisa. Os líderes que encontramos compartilham o mesmo espírito empreendedor e foco no atendimento ao cliente que fazem parte do DNA da Virgin.
Que valores centrais sua marca representa e ela procura por eles em seus líderes?
Tradutor: George El Khouri Andolfato
RICHARD BRANSON
O megaempresário inglês é criador do grupo Virgin, que tem 200 companhias em mais de 30 países, incluindo a empresa aérea de baixo custo de mesmo nome
Que é que eu vou te dizer? As fotos e os
vídeos estão aí, em tudo quanto é página de internet. O cara do Atlético no
chão, nem sei se ainda tava acordado. Eu e mais dois acertando a cabeça dele
como aqueles caras do Serra Pelada
destroçando o morro à procura do ouro. O porrete, com o improvisado prego na
ponta, nem foi ideia minha. Alguém botou ele na minha mão. Bem ali, no meio da
guerra, com um monte de rubro-negros a fim da nossa pele. Era só uma questão de
saber quem ia derramar sangue primeiro, na arquibancada da arena.
Sou vascaíno desde sempre. Tem duas
coisas que me emocionam muito, sempre que assisto: o gol de Sorato no Morumbi
em 89 e a virada épica em cima do Palmeiras. Bons tempos. Grandes times. Hoje
tá uma vergonha só. Rebaixamento com 5 x 1 na última partida é demais. O pior
de tudo é que aconteceu no mandato do nosso maior ídolo, o Roberto. E foram
dois! O tipo de absurdo, de vergonha, que o cruzmaltino não pode nem deve engolir
e digerir numa boa. Um professor me falou uma vez que tudo tem seu limite de
saturação. E o limite da nossa organizada chegou domingo passado.
Escreve aí no teu jornal: a nossa
organizada não foi lá pra brigar. A gente foi lá pra apoiar o time. Mesmo que
não desse certo, porque a situação era mesmo complicada, todo mundo sabia. Um
time fraco como o nosso – que passou o ano sem arrumar um goleiro que prestasse
– nunca conseguiria superar o Furacão. Aliás, foi o que acabou acontecendo, não
foi não? Passou um furacão pela gente, com direito a tsunami de gols. É foda a
gente reconhecer. Desculpa aí o palavrão.
Como você pode perceber, tá complicado.
A gente nem pode conversar direito, por exemplo, sobre a copa. Quando começo a
falar sobre quem tem chance de passar para as oitavas e quem vai ficar pelo
caminho, vem um gaiato e debocha: “Que nada, teu time foi pra Segundona!”. Dá
vontade de usar o porrete. Isso, que nem um troglodita ou um bárbaro. Na falta
de diálogo, um bom tacape resolve.
É isso aí, companheiro. Aqui estou eu,
mofando numa cadeia. Eu achava que o diretor da nossa organizada fosse
providenciar logo um advogado pra me tirar daqui. Como já aconteceu em outros
carnavais. Mas pelo pouco que vou acompanhando daqui, ele também tem seus
problemas. Parece que querem banir a galera dos estádios. É que nem naquele
comercial: “Não tá fácil pra ninguém”.
Eu que o diga. Ainda agora, liguei lá
pra casa. Pra dizer pra Soraya que a coisa aqui tá complicada. Pois a minha
querida esposa não deu a mínima pro meu perrengue. Tava injuriada comigo. Por
causa dos meninos. Ao que parece, ganhei um apelido interessante na escola
deles: “Capitão Caverna”.
Médico especializado em Pediatria e torcedor apaixonado do Fluminense, Celso Barros usa o clube como se fosse uma criança mimada jogando uma espécie de Banco Imobiliário futebolístico.
Queria porque queria Romário, levou. Queria a volta do Thiago Neves, voltou. Quis Roger, Edmundo, Ramón, Petkovic, Conca, Leandro Amaral, Dodô, Washington, Fred, Emerson, Deco, Wagner, Rafael Sóbis, Rodrigo Caetano. Não houve quem Celso Barros quisesse que Celso Barros não tivesse. Mais até do que Fred, o presidente da Unimed pega geral. O problema é que agora a conta chegou, e o preço a pagar pelo perdularismo ficou alto.
No post publicado em 1º de agosto, com o título Onde está a fidalguia?, reclamei da influência sem limite exercida por Celso Barros no Flu, e levei algumas bordoadas no facebook (naquela época, a caixa de comentários do blog ainda não estava disponível). Também li matérias em que a participação de Celso Barros nas decisões do clube eram justificadas pelo exemplo – pouco edificante, convenhamos – de Roman Abramovich no Chelsea. Mas é isso: como diz o Mundo Livre S.A., na letra de Livre iniciativa, “Quem se importa de onde vem a grana? / Tu tem que ter o bolso cheio”.
A rápida passagem de Abramovich pelo post nos conduz a Kia Joorabchian, e ao estrago feito por ele no Corinthians. Trouxe Tevez, Nilmar, Mascherano e ganhou o Brasileirão de 2005, mas deixou um rastro malcheiroso que acabou destroçando o time e condenando-o ao rebaixamento dois anos depois. O Corinthians tem uma dívida eterna com Kia: foram os danos por ele provocados que obrigaram o clube a se reinventar.
Coloquemos as coisas em seus devidos lugares: apesar de ser um dos maiores beneficiários do nosso indecente sistema público de saúde, Celso Barros não carrega nas costas as sujeiras que envolvem a dinâmica dupla Kia & Abramovich. Mas os efeitos de seu Banco Imobiliário ultrapassaram a pior expectativa dos torcedores tricolores: depois do susto de 2009, segunda divisão parecia ser uma preocupação encerrada na história do Flu. Ocorre que a lição de casa não foi feita.
Preocupou-se com a estrutura? Não, e isso se transformou na causa alegada para o pedido de demissão de Muricy, mesmo após a conquista do Brasileirão e com promessas de novos reforços para a disputa da Libertadores. Foram privilegiados os investimentos nas categorias de base? Também não. É inegável que a administração Peter Siemsem fez bastante coisa em Xerém, mas a prioridade absoluta continuou sendo a polítca de encher o clube de jogadores caros. E mesmo gente feito eu – com insuperáveis dificuldades para lidar com questões matemáticas – consegue entender que os salários pagos a Thiago Neves e Felipe (algo em torno de 700 mil e 500 mil) permitiriam a construção de vários xeréns. Estamos falando de mais de 14 milhões por ano.
Pergunto: se havia tanta grana, por que não se montou um bom centro de treinamento e não se olhou com carinho ainda maior para a base? Respondo: porque centro de treinamento e divisões de base não dão visibilidade de marketing, ao contrário do que acontece com as contratações milionárias. Mesmo que pouco criteriosas.
A colocação do marketing acima de tudo e os caprichos do Grande Chefe foram determinantes para a desastrada decisão de contratar Vanderlei Luxemburgo. A história é conhecida: o presidente do Fluminense queria Ney Franco; o presidente da Unimed queria Luxemburgo. Manda quem paga, obedece quem tem juízo: Luxemburgo foi contratado e ajudou a enterrar o time. Havia indisfarçável má vontade dos jogadores em relação ao técnico que mais xingava do que treinava, e que teve sua demissão comemorada por boa parte do elenco.
Por falar em elenco, quem pensa nas necessidades reais do time? Quem planeja? Quem garimpa o atacante que vai entrar no lugar do Fred em suas constantes ausências por contusão? Deveria ser Rodrigo Caetano. Mas, escolhido, contratado e com seu também altíssimo salário pago diretamente por Celso Barros, terá o diretor executivo de Futebol independência para isso? No Fluminense, Rodrigo Caetano é a mais completa tradução do profissional regiamente remunerado para fazer tudo o que o patrão quer.
No DVD Romário é gol, o baixinho afirma que Celso Barros é um dos poucos verdadeiros amigos que ele fez no futebol. Depois da vitória sobre o Figueirense, que deu ao tricolor o título da Copa do Brasil em 2007, circulou a notícia de que Celso Barros teria descido ao vestiário e anunciado um substancial aumento no prêmio. Empolgados, os jogadores capricharam no coro: “Puta que pariu / É o melhor patrocínio do Brasil / É Celso Barros!” Numa versão alternativa do famoso “O Fred vai te pegar”, a torcida do Fluminense já foi vista entoando “O Celso vai te comprar”. E no jogo contra o Cruzeiro, realizado no Engenhão uma semana após a conquista do Brasileirão de 2012, quem primeiro meteu a mão na taça na volta Olímpica foi o presidente da Unimed, enquanto a torcida cantava em êxtase “Urubu otário / O Celso Barros tem dinheiro pra caralho”.
A afirmação de Romário tem motivações particulares, e é escolha dele. O lado dos jogadores é fácil de compreender: aumento no prêmio por um título é sempre bem-vindo. Quanto aos torcedores, creio que aí faltou acionar o tal Ministério do Vai Dar Merda sugerido por Chico Buarque.
Torcedor é torcedor e a gente tem que dar um desconto, só que ele colhe o que planta e é o que mais sofre. Em vez de cobrar seriedade e competência de quem comanda o clube, os vascaínos preferem cantar que o Vasco é o time da virada, o Vasco é o time do amor, e amorosamente vão todos virar o ano na segunda divisão. Em vez de acreditar nessa lenda de time de guerreiros e na bênção de João de Deus – mesmo porque, o atual titular veste a camisa do San Lorenzo de Almagro –, os torcedores do Fluminense deveriam desconfiar das descompensadas aquisições de Celso Barros e intuir que o bolo poderia solar.
Quando deixou o clube, em janeiro de 2010, o até então vice-presidente de Futebol Ricardo Tenório saiu atirando. Disse que os dois candidatos à presidência – Peter Siemsem e Julio Bueno – tinham a mesma proposta de administração, apoiada na total dependência em relação à Unimed. E soltou uma pérola: “Este modelo às vezes é bom para o Fluminense e às vezes é bom para a Unimed. Mas é sempre bom para o Celso, que hoje tem 90% do clube nas mãos.” Não conheço Peter, Julio ou Ricardo e não estou a par dos meandros da política tricolor, mas faz pensar.
O que vejo como outro enorme problema é que a Unimed não representa, para o Fluminense, um patrocínio com real valor de mercado. A paixão e o paternalismo de Celso Barros iludem. Atenção, amigos tricolores: não quero comparar tradição, glórias, importância para o futebol brasileiro, nada disso, mas a atuação de Celso Barros junto ao Fluminense lembra a de Castor de Andrade no Bangu, a partir da década de sessenta. E trinta anos depois, quando o patrono banguense se retirou de vez para – à moda de Charles Anjo 45 – tirar férias numa colônia penal, o time foi pro brejo. E nunca mais voltou.
Claro que isso jamais acontecerá com o Fluminense, mas talvez fosse melhor menos dinheiro e mais profissionalismo. Menos acúmulo de supostos craques e mais equilíbrio no elenco. Menos desperdício e mais pés no chão. Menos amor e mais gestão.
PS: A respeito do que aconteceu no jogo entre Atlético Paranaense e Vasco, por favor, deem uma olhada no post aqui publicado em 27 de agosto, sob o título “Quero levar meu neto ao estádio”.
Até o ano passado, eu era garçom num quilo, ali na Brigadeiro, mas o dono aposentou e voltou pra Uruguaiana. Eu tava há seis meses sem trabalho, devia dois paus e 700 pro meu cunhado, meu nome indo pro Serasa já, e ainda tinha problema de pressão. Aí, 13 de março desse ano, eu chego no bar do Ademir, cinco, seis horas da tarde, o Ademir, "Ô, Rui, cê já viu o papa argentino?".
Tinham coroado o Francisco naquele dia. Anunciado, isso, mas eu não sabia, eu tava numa entrevista de emprego. Ele, "Pô, se cê não tivesse aqui, agora, eu jurava que era você no Vaticano!". Falei "Sai fora, Ademir! Papa argentino?! Eu, hein?". Pedi uma cerveja -que naquela época eu ainda bebia em público-, sentei numa mesa e esqueci. Beleza.
Daí, mais tarde eu chego em casa, dez, 11 horas, vem a Luci correndo lá de dentro e já vai me puxando: "Rui, Rui, vem ver, vem ver você na televisão!". Pra falar a verdade, eu nem achei assim tão parecido, mas o pessoal comentou, até a minha filha, "Pai, pai, não acredito!" e tal, e eu acabei aceitando. Tem a careca, né? A orelha...
Foi a Luci que deu a ideia, "Rui, cê fica aí procurando emprego de garçom, mas esse negócio de sósia parece que dá dinheiro, viu?". Eu, "Tá doida, Luci? Nunca fiz isso", e ela, "Que que tem?! É só vestir uma bata, fazer sinal da cruz e ficar acenando pro povo!". Sabe como é mulher, né?
Pegou mais 250 com meu cunhado e mandou uma vizinha fazer a roupa. Depois, falou assim que eu precisava de um agente, que sem esse negócio de agente a coisa não vira e me deu o telefone do Marcello Perotti, que uma amiga dela tinha visto na Rede TV!, com dois Elvis. Elvis, Raul, Ronaldo, Silvio, os bonzão mesmo são tudo lá da agência.
O Marcello disse que eu tinha tirado a sorte grande, que sósia de papa é firmeza: papa não sai de moda, não fica mudando o cabelo, não engorda, não faz plástica, redução de estômago, então, já viu.
Da Luci ter a ideia até eu tá no Jô, foi o que? Um mês? Nem isso. Dei autógrafo pro Tomate. A Renata Vasconcellos disse meu nome no "Bom Dia Brasil", ao vivo. A Sabrina Sato me deu um beijo na testa. Se a pessoa, vamos dizer, se a pessoa não tem um psicológico forte, ela se perde.
Lá no Ademir era todo mundo oferecendo cerveja de graça e eu só recusando, porque sósia de papa, né? Na rua a mulherada dando mole. Eu sei que não é comigo, é com o Francisco. Ele é muito querido. Mas a carne é fraca, rapaz, ele é papa, eu não. Complicado. Uma hora...
Que que eu vou te dizer? Você viu a foto. Se quiser escrever aí no seu jornal, "Sósia do papa flagrado em motel com sósia da Beyoncé", eu não tenho como negar. Mas pra você vai ser só uma matéria. Isso, uma crônica. O pessoal vai rir, vai achar engraçado.
Já pra mim, parceiro, vai acabar com a minha vida. Tô rico? Não tô, mas tô empregado, quitei a dívida com o meu cunhado, tô ajudando a minha filha a pagar a faculdade, vou entrar de sócio num quilo junto com o Ademir, até a pressão melhorou. Sem falar que eu amo a Luci e meu negócio com a Beyoncé foi só aquela noite, mesmo.
Pronto. Queria que você me ouvisse. Ouviu. Agora faz aí o que a sua consciência mandar.
Antonio Prata é escritor. Publicou livros de contos e crônicas, entre eles "Meio Intelectual, Meio de Esquerda" (editora 34). Escreve aos domingos na versão impressa de "Cotidiano".
Em mais este Natal cristão, dê um presente ao meio cultural brasileiro fazendo com que:
- A disciplina de interpretação de texto se torne diária em todas as escolas, de preferência em aulas longas e sem direito a ir ao banheiro.
- Não se atribua valor automático ao que não necessariamente tem valor: o novo em relação ao velho, o denso em relação ao simples, o pessimista em relação ao otimista.
- Deixem Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Caio Fernando Abreu em paz.
- Não haja mais chamadas jornalísticas do tipo "O evangelho segundo Clarice", "Em busca do Rosa perdido" ou "Caio F de A a Z".
- Cronistas parem de escrever sobre pesquisas sexuais feitas com ratos.
- Cineastas parem de botar a culpa de seus insucessos no público.
- (Parem, também, de identificar sucessos de bilheteria com qualidade estética.)
- Trailers se abstenham de contar dois terços do filme e botar uma piadinha ao final.
- Resenhas se abstenham de contar três terços dos livros.
- Um único funcionário das livrarias de aeroporto, e também o dono que os contrata e orienta, e também o público que frequenta o ambiente e endossa com suas compras tristes a seleção de títulos das gôndolas e prateleiras, tenham algum resquício de gosto literário.
- Comediantes ruins não atribuam mais sua ruindade à ditadura do politicamente correto.
- (E ninguém mais use termos e construções como "politicamente correto", "chorume", "eu sou polêmico mesmo" e "ao menos ele teve o mérito de abrir o debate".)
- Artistas, ensaístas e palpiteiros em geral evitem dizer que não fazem lobby, não participam de conchavos, não integram panelas e dão suas opiniões doa a quem doer (na maioria das vezes, dói só no fígado de quem ouve).
- Escritores parem de explicar a própria obra com conceitos que não são seus, e sim de alguma patrulha política, de gênero ou de departamento acadêmico.
- Críticos resistam à tentação de comentar livros de desafetos pessoais ou desafetos da namorada.
- Autores consigam se controlar e não respondam aos críticos. Entendo o impulso de provar superioridade intelectual, moral e -em casos raros- física, mas a melhor forma de fazer isso é com silêncio público e amargura que estraga a vida familiar.
- Volte a ser possível esquecer da existência de alguém, em vez de ser lembrado dela em links, retuítes e até posts na página de quem morreu.
- Volte a ser possível fazer ironia sem precisar explicá-la com reticências, pontos de exclamação ou emoticons.
- Volte a ser possível ser contestado sem acusar o contestador de baixar o nível da discussão.
- Acabe o culto intelectual às estatísticas e ao que dizem "pesquisas recentes".
- Acabe o culto intelectual à pornochanchada (ok quanto ao outro culto a esse nobre gênero cinematográfico).
- O Congresso Nacional proíba os hologramas de músicos.
- Bandas de rock escolham --não dá para fazer as duas coisas ao mesmo tempo-- entre discurso de contestação aos poderes estabelecidos e cachês de publicidade.
- E letristas contratem revisores (dá só uns R$ 9 a lauda).
- Alguém explique por que tanta gente, deixando claro que paira acima da vulgaridade, passa o dia no Twitter comentando Faustão, "The Voice Brasil" e a passagem de Francisco Cuoco e sua namorada pelo Castelo de Caras.
- Alguém explique por que condenamos com tanta fúria a ostentação do Rei do Camarote nas mesmas timelines que ostentam, o tempo todo, os trabalhos que fazemos, os pratos que comemos e os lugares para onde vamos nas férias.
- E também por que alguém vai a um show apenas para registrar a performance do artista no celular, revendo-a mais tarde --se é que vai rever-- numa tela pequena e com qualidade medonha de som e imagem.
- Anciões que ainda frequentam esses shows (oi) parem de gritar contra a nuvem porque o mundo era tão melhor antes, não é mesmo?
- Haja só um pouco menos de sarcasmo contra alvos fáceis, como catálogos de arte contemporânea.
- Não exijam de artistas que tenham opinião sobre tudo. Artistas têm o direito de ser omissos, alienados, incoerentes e burros.
Michel Laub é escritor e jornalista. Publicou cinco romances, entre eles "Diário da Queda" (Companhia das Letras, 2011). Escreve a cada duas semanas, sempre às sextas-feiras, na versão impressa da "Ilustrada"
Costumo dizer que o
futebol disputado aqui no Brasil só é um espetáculo dentro das quatro linhas.
Porque longe delas a tristeza corre sem madrinha.
Um exemplo dessa
melancólica mediocridade ocorreu ontem mesmo, justo na última rodada. O
Atlético Paranaense já vencia – e rebaixava para a Segundona – o Vasco da Gama
quando os torcedores das duas equipes travaram uma legítima batalha
sanguinolenta nas arquibancadas. Indivíduos que no cotidiano devem praticar a
política da boa vizinhança, levam os filhos para a escola, amam suas esposas...
de repente transformados em gladiadores, cujo objetivo único e mais importante
é massacrar seu adversário até as piores consequências, se preciso for.
O pior de tudo é que o
confronto já estava “marcado”, por assim dizer. A organizada atleticana “Os
Fanáticos”, ciente de muitos entreveros na estrada com vascaínos que também
nunca mais deveriam colocar os pés nas dependências de qualquer estádio, não
vendeu ingresso para mulheres.
Não havia policiais na
arena. Um acordo estapafúrdio entre o governo do Paraná e o Ministério Público
determinou que a Polícia Militar não garantiria a segurança de eventos
privados. Como assim? O bem-estar de milhares de pessoas assegurado por alguma
empresa? Isso a menos de um ano do início da Copa do Mundo? Até as 19h de
Brasília, senhores governantes e representantes do MP paranaense, um torcedor
estava internado, com fratura no crânio. Ninguém morreu? Com a graça de Deus. A
morte mesmo foi a do encanto que uma criança poderia ter de ir com seus pais a
um estádio, para ver os gols do time do seu coração. Isso é o que mais devemos
lamentar.
Repito: ano que vem
acontecerá uma Copa do Mundo aqui no Brasil. Após uma sucessão de apresentações
chatas e sem-graça, o sorteio colocou o Brasil em um grupo que não causa
pesadelos em ninguém. O problema são as tais “oitavas da morte”. Num cenário
pessimista, os canarinhos poderão enfrentar Espanha, Itália, França e Argentina
antes de Thiago Silva levantar a taça no dia 13 de julho.
Agora, as dificuldades
não se resumem à pura e simples violência entre torcidas nas arquibancadas. Já
na Copa das Confederações muitas falhas na construção das novas arenas foram
“maquiadas” ou simplesmente escondidas. Às vésperas do mundial, há estádios que
serão entregues de qualquer maneira. Mais ou menos assim: a bola rolando, as
melhores equipes do planeta em busca do caneco, e funcionários das construtoras
correndo para cima e para baixo com carrinhos de mão cheios de paus, pedras e
do fim do caminho.
O Inacreditável Futebol
Brasileiro, o que se vê fora dos gramados e definidos pelas cartolagens,
tapetões e administrações ridículas, não se envergonha do que aconteceu.
Tampouco se importa com vítimas. Muito mais gente ainda vai sangrar nas arenas.
Esperem para ver.
1961 - Com 42 anos, Mandela caminha pelas ruas de Johannesburgo, na África do SulAP
De acordo com o comunicado oficial divulgado no dia da transferência, Mandela continuava apresentando complicações pulmonares. "O estado de saúde de Mandela continua crítico e, às vezes, instável. No entanto, sua equipe médica está convencida de que ele receberá o mesmo nível de cuidados intensivos em sua casa", dizia o texto.
O HERÓI AFRICANO
Prêmio Nobel da Paz por sua luta contra a violência racial na África do Sul, Nelson Mandela - ou Madiba, como é chamado na sua terra natal - passou 27 anos preso e se tornou o primeiro presidente negro daquele país.
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Segundo o jornal local "The Sunday Times", uma pessoa próxima à família afirmou que Mandela teria "parado de falar" no dia seguinte à hospitalização.
O ex-presidente tinha 95 anos e vivia em Johannesburgo com a mulher Graça Machel, viúva de Samora Machel (1933-1986), ex-presidente moçambicano.
Mandela foi o maior símbolo de combate ao regime de segregação racial conhecido como apartheid, que foi oficializado em 1948 na África do Sul e negava aos negros (maioria da população), mestiços e asiáticos (uma expressiva colônia de imigrantes) direitos políticos, sociais e econômicos.
A luta contra a discriminação no país o levou a ficar 27 anos preso, acusado de traição, sabotagem e conspiração contra o governo em 1963. Condenado à prisão perpétua, Mandela foi libertado em 11 de fevereiro de 1990, aos 72 anos. Durante sua saída, o líder foi ovacionado por uma multidão que o aguardava do lado de fora do presídio.
Em 1993, Nelson Mandela recebeu o prêmio Nobel da Paz por sua luta contra o regime do apartheid. Na ocasião, ele dividiu o prêmio com Frederik de Klerk, ex-presidente da África do Sul que iniciou o término do regime segregacionista e o libertou da prisão.
Um ano depois, em 1994, Mandela foi eleito presidente da África do Sul, após a convocação das primeiras eleições democráticas multirraciais no país. Sua vitória pôs fim a três séculos e meio de dominação da minoria branca na nação africana.
Ao tomar posse, o líder negro adotou um tom de reconciliação e superação das diferenças. Um exemplo disso foi a realização da Copa Mundial de Rúgbi, em 1995, no país. O esporte era uma herança do período colonial e, por isso, boicotado pelos negros, por representar o governo dos brancos.
Nos dois anos seguintes, a Constituição definitiva e o processo de transição foram concluídos. Entre os anos de 1996 e 1998, o arcebispo Desmond Tutu liderou a Comissão de Verdade e Reconciliação para apurar crimes cometidos durante o apartheid, e foram abertos processos judiciais para pagamentos de indenizações às vítimas do regime.
Mandela deixou a presidência em 1999 e passou a se dedicar a campanhas para diminuir os casos de Aids na África do Sul, emprestando seu prestígio para arrecadar fundos para o combate à doença.
Em 2004, aos 85 anos, ele anunciou que se retiraria da vida pública para passar mais tempo com a família e os amigos. Já aos 92 anos, o líder sul-africano dificilmente participava de qualquer tipo de evento, devido à saúde frágil.
Durante a Copa do Mundo de 2010, realizada na África do Sul, Mandela compareceu apenas ao encerramento da Copa, devido à morte de sua bisneta Zenani Mandela, em um acidente de carro logo depois da festa de abertura.
História
Mandela era filho do conselheiro do chefe máximo do vilarejo de Qunu, localizado na atual província do Cabo Oriental, onde nasceu, a 18 de julho de 1918. Aos sete anos, tornou-se o primeiro membro da família a frequentar a escola, onde lhe foi dado o nome inglês "Nelson". Aos 16 anos, seguiu para o Instituto Clarkebury, na mesma província, onde teve contato com a cultura ocidental pela primeira vez.
Ele então ingressou na faculdade de Direito da Universidade de Fort Hare, no município de Alice. Logo no primeiro ano de curso, Mandela se envolveu com o movimento estudantil e com o boicote às políticas universitárias. Tal atitude resultou em sua expulsão da instituição no segundo ano, mas ali ele iniciou sua militância.
A partir de então mudou-se para Johannesburgo e envolveu-se na oposição ao regime do apartheid. Ele começou a fazer parte do partido negro CNA (Congresso Nacional Africano, fundado em 1912) em 1942 e, em 1944, criou a Liga Juvenil do partido, com o manifesto "um homem, um voto".
Depois da eleição de 1948, que deu vitória aos afrikaners do Partido Nacional, apoiadores da política de segregação racial, Mandela tornou-se mais ativo no CNA. Ele participou do Congresso do Povo, em 1955, que divulgou a Carta da Liberdade --documento que continha um programa fundamental para a causa antiapartheid.
Comprometido de início apenas com atos não-violentos, Mandela e seus colegas aceitaram recorrer às armas após o massacre de Sharpeville, ocorrido em março de 1960, quando a polícia sul-africana atirou em manifestantes negros, matando 69 pessoas e ferindo 180. Em 1961, fundou a ala armada do CNA - Umkhonto we Sizwe (a Lança da Nação) - para combater a discriminação do apartheid.
Prisão
Acusado de crimes capitais no julgamento de Rivonia, em 1963, a declaração que deu, no banco dos réus, foi sua afirmação de posição política: "Tenho defendido o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas convivam em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e que espero alcançar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer". Em 1964, Mandela foi condenado à prisão perpétua.
No decorrer do tempo em que ficou preso, Mandela se tornou de tal modo associado à oposição ao apartheid que o clamor "Libertem Nelson Mandela" se tornou o lema das campanhas antiapartheid em vários países.
Durante os anos 1970, ele recusou uma revisão da pena e, em 1985, não aceitou a liberdade condicional em troca de não incentivar a luta armada. Mandela continuou na prisão até fevereiro de 1990, quando foi libertado em 11 de fevereiro, aos 72 anos, pelo presidente Frederik Willem de Klerk, que também revogou a proibição do CNA e de outros movimentos de libertação.
Nelson Rolihlahla Mandela deixou a prisão Victor Verster caminhando ao lado de Winie Madikizela, sua esposa na época. Ele havia passado os últimos 27 anos de sua vida atrás das grades por ousar se opor ao regime racista que dominava a África do Sul. Um mar de pessoas o aguardava nas ruas para dar início finalmente à edificação da democracia sul-africana.
25.jun.2013 - Artista indiano Sudarshan Pattnaik dá toques finais em escultura de areia construída em homenagem a Nelson Mandela em uma praia de Puri, na Índia Leia maisBiswaranjan Rout/AP
Como presidente do CNA (de julho de 1991 a dezembro de 1997) e primeiro presidente negro da África do Sul (de maio de 1994 a junho de 1999), Mandela comandou a transição do regime racista, o apartheid, ganhando respeito internacional.
Em 1999, Mandela conseguiu eleger seu sucessor, Thabo Mbeki, que posteriormente foi obrigado a deixar a presidência, devido a uma manobra política do seu maior rival dentro do CNA, Jacob Zuma.
Casamentos, separações e aposentadoria
Mandela casou-se três vezes. Sua primeira esposa foi Evelyn Ntoko Mase, de quem se divorciou em 1957, após 13 anos de casamento. Em seguida, casou-se com Winie Madikizela, e com ela ficou por 38 anos. O casal se divorciou em 1996, após suas divergências políticas virem a público. No seu 80º aniversário, Mandela casou-se com Graça Machel, com quem esteve até os dias atuais.
Depois de deixar a presidência, Mandela passou a dedicar suas forças ao combate à Aids na África do Sul, levantando milhões de dólares para enfrentar a epidemia da doença. Seu único filho morreu vítima de Aids em 2005.
Ainda fora da Presidência, Mandela ganhou uma série de títulos e homenagens, como a Ordem de St. John, da rainha da Inglaterra, Elizabeth 2ª.; a medalha presidencial da Liberdade, do então presidente dos Estados Unidos George W. Bush; o Bharat Ratna (a distinção mais alta da Índia); a Ordem do Canadá, dentre outros.
Apesar de ter ganho a condecoração de Bush, Mandela realizou uma série de pronunciamentos, em 2003, em que atacava a política externa do presidente americano.
Em junho de 2004, Mandela anunciou que se retiraria da vida pública. Mas a militância continuou. Em 2007, comemorou o 89° aniversário criando um grupo internacional de estadistas idosos e altamente respeitados, incluindo seus colegas Prêmios Nobel da Paz Desmond Tutu e o ex-presidente americano Jimmy Carter, para combater problemas mundiais, que incluem as mudanças climáticas, o combate à Aids e à pobreza.
A comemoração de seu aniversário de 90 anos foi um ato público com shows, que ocorreu em Londres, em julho de 2008, e contou com a presença de artistas e celebridades engajadas nessas lutas.
Em 2009, com aparência frágil, o ex-presidente sul-africano compareceu a um comício eleitoral do CNA para ajudar a eleger Jacob Zuma, atual presidente do país.