terça-feira, setembro 03, 2013

Padrão de beleza e influência indígena na literatura são temas da Bienal

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/bienal-do-livro/2013/noticia/2013/09/padrao-de-beleza-e-influencia-indigena-na-literatura-sao-temas-da-bienal.html

Debates no Café Literário e no Mulher ao Ponto foram atrações desta terça.
Mundukuru, Graça Graúna, Lucia Sá e Clarice Niskier estiveram na feira.


Isabela MarinhoDo G1 Rio
O sexto dia da 16ª Bienal do Livro no Rio de Janeiro foi marcado por debates sobre literatura indígena e beleza. No "Café Literário", os escritores Daniel Mundukuru, Graça Graúna e Lucia Sá falaram da influência da cultura indígena na literatura geral brasileira.
“Se Macunaíma é o que é, é porque Mario de Andrade usou a mesma forma de se contar uma história utilizada pelo povo indígena”, disse Lucia.
Já no "Mulher e Ponto" a discussão foi sobre a imposição de um padrão de beleza que as mulheres sofrem na sociedade contemporânea. A psicóloga Raquel Moreno, autora do livro “A Beleza Impossível”, e a psicanalista Joana de Vilhena Moraes, que escreveu “Com que roupa eu vou?” bateram um papo com a atriz Clarice Niskier sobre o tema. Clarice está há sete anos em cartaz na peça "A Alma Imoral", baseada no texto homônimo do rabino Nilton Bonder. No palco, a atriz encena o texto nua, e descontrói questões como corpo e alma.
Literatura indígena foi debatida no Café Literário (Foto: Isabela Marinho/G1)Literatura indígena foi debatida no Café Literário
(Foto: Isabela Marinho/G1)
‘Guarani, kaiová'
Daniel Mundukuru é graduado em Filosofia e possui licenciatura em História e Psicologia. Com 43 livros publicados, o escritor indígena cresceu no meio de um povo que tem o costume ancestral de cortar a cabeça dos inimigos para exibir como troféu. Mas este não foi o ensinamento mais importante que ele aprendeu com seu povo. “Eu aprendi a sobreviver no meio da floresta, mas não só na que eu cresci. Isso me permitiu poder sair de lá, cantar outras músicas, dançar outras. Esse povo me ensinou a ter um olhar sobre a minha humanidade e olhar os outros povos e saber respeitar os olhares diversos, por isso acho que fui escolhido pela literatura. Acredito que a escrita é só mais uma forma de oralidade, só mais uma forma de expressão”.
Segundo Mundukuru, seu povo aprendeu que é necessário absorver as técnicas contemporâneas para sobreviver. “Para poder se manter vivo é preciso atualizar a sua própria memória. Internet e celular podem ser instrumentos. A cultura precisa fazer esse papel de incorporar as coisas. Ela é viva, não a possibilidade dela sobreviver se não for através de uma atualização constante.
Para ele que é filósofo, a diferença entre o modo de pensar do homem branco e do indígena está no hábito de conceituar. “Os brancos gostam muito de definir as coisas. Entendo que as definições têm que ser feitas  e que os conceitos são formas de encaixar os pensamentos. Mas o povo indígena pensa circularmente, por isso é um povo que conceitua pouco”.
Lucia Sá destacou o fato de que o homem branco vem tentando tomar o que é de direito do povo indígena tentando legitimar esta ação dizendo que o índio que veste calça jeans não é índio. "Se o índio está de jeans e coloca um cocar há uma cobrança de autenticidade dos grupos indígenas que é extremamente injusta".
 
'Beleza'
No debate sobre a beleza, as convidadas falaram sobre a cobrança que a mulher sofre para estar dentro de um padrão e sobre as diferenças dessa cobrança entre as classes sociais.
"Há uma Imposição de um padrão de beleza na mídia que faz com que a mulher corra atrás disso por toda a vida. Ela consome mais do que deveria e não se chega nunca aonde se quer chegar", disse Raquel, acrescentando que a mídia "não nos pune", mas que utiliza imagens positivadas dizendo como são as pessoas felizes e bem-sucedidas.
"Antes de sair de casa todos os dias a gente coloca várias máscaras, ninguém sai livre, leve, e solto. Nesse livro eu busquei tratar que representações de corpo e estetica variam de acordo com o lugar de origem.

Na minha pesquisa [feita no Rio] eu vi que no morro existe uma preocupacao menor em não mostrar a gordura do que em relação à classe média, que mora na Zona Sul, por exemplo".

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