Romeiro, de pé no chão, mas sem a vela na mão.
Não
havia promessas a serem pagas, quando a romaria para São José de Ribamar chegou
ao retorno da Forquilha. Pelo menos, não por mim. Tudo o que eu queria era me
acertar diretamente com o Criador. Pedir perdão pelas minhas falhas – poucas,
mas no meu entendimento significativas. Sem a necessidade de intermediários –
mesmo que o “advogado” fosse São José de Ribamar – cuja família rumava para a
cidade balneária em um carro que começou a dar problemas já nas imediações da
Maiobinha. Foi necessário alguns dedicados devotos empurrarem o automóvel. E
nesse empurra-empurra chegaram mais rápido do que o trio elétrico no qual
viajavam os padres e os animadores da caminhada. E sem essa animação o trajeto
teria sido muito complicado, por causa do calor e de alguns malas, que tentaram
embaçar o processo.
Os
malas estão por toda parte, mesmo. Todo ano é isso: os babacas, sem São José no
coração, em vez de brincar, festejar, primar pela diversão na exaltação, enchem
a cara, se estranham com outros malas piores do que eles e promovem ilhas de
confusão que procuraram arruinar a felicidade de quem “pernava” imbuído com os
melhores propósitos de louvar a santidade do pai de Jesus Cristo. Ainda bem que
a Polícia Militar colocou logo no bolso esses três ou quatro infelizes – assim
pudemos seguir caminhando e cantando – e seguindo a canção.
O
que mais me agradou foi constatar que a romaria não é um teste de resistência e
fé apenas para católicos. Eu a vi como uma grande confraternização, voltada não
apenas para o apostólicos romanos. Todos os
praticantes dos credos religiosos vigentes podiam participar. Podem fazer parte
no ano que vem. Ou enquanto a romaria existir e persistir. Porque é popular, e
tudo o que apresenta essa característica – desde que organizado com todo o
cuidado, todo o profissionalismo – pode muito bem ser mais importante do que os
Rock in Rio da vida.
Já
em Ribamar acontece um fenômeno interessante. A pessoa caminha durante seis,
sete horas e, em vez de assistir à Missa da Acolhida, simplesmente desaba na
praça principal e dorme que ronca. Eu, não. Logo depois de assistir à
celebração da na concha acústica, dou uma passada na área ao redor das enormes
estátuas de São José e do Menino Jesus. Para assistir ao espetáculo da alvorada
na faixa litorânea pertencente ao município-santuário. Depois, antes de voltar
para casa, me dirijo até o porto. É engraçado. Conheço gente que mora perto de
praia me diz que gostaria de ficar longe de água salgada. Eu, se pudesse, faria
o movimento contrário. Fico me imaginando adormecendo ao som da melodia do
oceano. Sonho de consumo.
Enquanto
não se realiza, vamos participando da romaria. Sempre com os pés no chão, mas
sem a vela na mão. Porque não é tempo para promessas e sim de arrependimento.
Levar à mão ao peito esquerdo e sentir o coração bater contrito, angustiado, em
busca do perdão divino que pode ou não ser obtido.
Na
romaria, entendi que a remissão dos meus pecados poderia se dar pelas minhas
atitudes a partir deste momento. Dos pequenos gestos cotidianos, que talvez
signifiquem passadas largas rumo à salvação.
Agora,
se não funcionarem e eu me dar mal no Dia do Juízo, pelo menos a gente se
divertiu por demais. Creio que ainda estou no lucro, meu povo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário