“Desculpe os transtornos, estamos
mudando o mudando o país”. Vocês, aí na plateia, sem dúvida alguma ainda se
lembram muito bem dessa frase. Assim como muitas outras semelhantes a ela, foi
escrita em centenas, milhares de cartazes nas manifestações de junho deste ano
– cujo objetivo foi escancarar a banda podre da configuração
político-administrativa que está aí.
Maiakovski
disse que “o mar da história é agitado”. E aqui no Brasil não teve apenas
agitação. As ondas de contestação que sacudiram este país tropical eram
furiosas, também. O aparelho policial à disposição do Estado para detonar gente
desarmada – como aconteceu na desocupação do Residencial Nova Terra, mês
passado – de repente se viu acuado.
Não esperavam
que pacatos cidadãos de uma hora para a outra fossem partir para a ignorância,
a fim de combater o status quo, formado por “representantes do povo” que nos
últimos anos têm feito de tudo, exceto representar quem a cada dois anos é
obrigado a tolerar o estorvo de se deslocar até uma seção eleitoral e
participar da pobre “festa da democracia”, para qual rigorosamente ninguém o
convidou.
Confusão no
centro comercial, depredação, vandalismo e pancadaria não foram os únicos
exemplos de extremos a que se chegou, durante as manifestações. A presidente da
República foi simplesmente vaiada na abertura da Copa das Confederações. Para
não ouvir a repetição dos apupos, a mandatária máxima da nação não compareceu
ao jogo final, entre Brasil e Espanha, no Maracanã. Outro dia, um comentarista
da nossa realidade política chamou-a de “poste eleitoral”. Alguém que teve a
chance de colar sua figura ao carisma gigantesco de Luiz Inácio e se deu bem.
Não concordei
muito com essa observação, até porque, se tal fenômeno tivesse ocorrido nas
eleições municipais do ano passado, Roseana Sarney não teria dificuldade alguma
em ajudar Washington Luiz a ocupar o gabinete principal do Palácio de La
Ravardière. O vencedor do pleito é um indivíduo mais contestado do que
elogiado. O mesmo se poderia dizer da Dilma hostilizada em junho. Podemos
perceber que, por trás das atitudes de casca-grossa, a presidente é até
bem-intencionada. Vocês notam que ela até se esforça bastante no sentido de
fazer o que é certo. Não faz politicagem no cargo que lhe foi confiado. No
entanto, teve de engolir as vaias porque fosse então (espero que isso tenha
mudado, no curto prazo) incapaz de constatar que a qualidade da vida de muitos
brasileiros não era (e continua não sendo) das melhores.
Nos idos de
junho, o Brasil despertou de sua vergonhosa letargia por causa de módicos vinte
centavos de real. Ainda que os movimentos responsáveis por esse feito nada
desprezível tivessem carecido de uma estrutura mais política e menos passional,
acredito que o recado foi transmitido: “Em 2014 tem mais, podem ter certeza”.
São Luís, por
outro lado, vivenciou toda essa ruptura entre as velhas e perenes práticas
corruptas e o desejo de recomeçar do zero, como o estabelecimento de uma forma
de governar que de fato considere o cidadão comum, pagador de impostos,
participante ativo do processo político e não mera peça de artilharia no
confronto de interesses dos partidos.
Nossa capital –
que hoje “comemora” 401 anos -, infelizmente não se livrou de seu transe. De
sua paralisia, que permite a sucessão de descalabros, como a jovem que deu à
luz na porta de uma maternidade porque a anterior, na qual procurou atendimento
de urgência e emergência, alegou “ausência de leitos”.
Ou então o da
violência. Vão à internet e pesquisem a respeito do número de assassinatos em
São Luís. Fiz isso antes de digitar estas bem-traçadas. No início do mês
passado, na Região Metropolitana de São Luís a Secretaria de Segurança (?)
Pública registrou 411 assassinatos. Não tenho os números do começo de setembro,
mas, nesse ritmo de guerra civil em que nos encontramos... Não sei, não.
Nos últimos dias
deste mês, meu filho – Gabriel – vai fazer quatro anos. Certa vez, eu levei
para dar uma volta pelo Centro Histórico. Ele gostou muito. É um menino
inteligente. Não faço essa afirmação apenas porque sou um pai muito feliz e
orgulhoso de sua maior criação. Não. Afirmo isso porque, assim como outros
pais, professores e demais educadores deste e de outros países, tive o
privilégio de constatar que só falta aos herdeiros do amanhã nascerem falando.
Espero
que Gabriel e seus pares consigam tirar São Luís deste transe absurdo e imoral.
E que sejam capazes de compreender (como seus pais aprenderam de cor e
salteado) que a vida – a nossa, a deles – sempre estará aqui.
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