domingo, junho 22, 2008

Sobre o Nariz

Gladson Fabiano
Estudante do curso de letras da UFMA

Isto não é uma crônica, apenas uma nota. Uma nota da impressão sobre Uma crônica. Esta a que me refiro é a do Ubiratan Teixeira, publicada na última sexta-feira, 13 de junho, neste jornal. Data que marca 354 anos que o Sermão de Santo Antônio que foi pregado aos peixes por Antônio Vieira nesta Ilha Bela. Se não está lembrado daquela crônica, peça licença a seu pardal ou bem-te-vi e retire o forro da gaiola que lá ela estará, onde breve esta aqui também ficará, mas isto não é, sobretudo, uma crônica. Vamos à nota.
O efeito apesar de homeopático, da própria dança da crônica, foi intenso. Culpo o uso repetido de uma denotativa palavra que tomei, por não está prestando muito atenção – não sou dos melhores leitores, desculpe – tomei como conotativa. Nariz! Esta foi a culpada! Veja lá. “Mesmo com o nariz denunciando sua origem primitiva”, referindo a “sirigaita” que furara a fila e “rodou a chave do carro próximo ao meu nariz,”. Toda aquela soberba crônica é guiada pelo Nariz. Foi este, exatamente este, conto que me veio à lembrança ao termino da leitura. O Nariz, conto extraordinário do russo Gogol, em que o personagem Kovalióv, que é apenas assessor de colegiatura, cargo que, sem esforços obteve - mas ainda assim se nega a referir a si como tal, mas sim como major – porém perde o nariz e com este, a pompa de major. Infeliz acaso que felizmente não acontece nos dias de hoje.
Fiquei extasiado pelo modo como descreveu o povo de São Luis, mas será o povo culpado? Não posso afirmar que os diminutivos desferidos foram justificados, mas acredito que não Freud, mas Newton explica. A Ignorância é uma ação, que a sutileza da liberdade poética mascara e, como produto inverso, lança uma crônica de mesma intensidade, mas de sentido oposto e intolerante (por isso esta de suas mãos, não é uma crônica, ao menos nessa acepção). Farei uma revisão ao terminar de escrever, para não constar, aqui, os depreciativos diminutivos, como “pilantrinha”, “roupinhas” e também “uma sandália de palmo e meio de atura, comprada no Paraguai”, “tipo assim deslumbrado”, “sirigaita” “arrogância das dondocas maranhenses”, “caráter egoísta e mesquinho dos idosos desta Ilha”, que fogem dos diminutivos gramaticais, mas não dos sociais. Ah! E as brabuletas e trigues,meu caro senhor, são as variantes da gramática do moribundo, o preconceito nunca os deixarão entrar no jogo do bicho, isto é verdade.
Para terminar esta nota, gostaria de elucidar uma idéia agoureira daquela crônica que me pareceu sublime, “órfãos e menosprezados” escritores que não podem ao menos publicar um livro, um livrinho (de bolso? que vá!) de bolso sequer à custa do Estado (livrinho no tamanho, não na qualidade, não me condene). Uma cruel realidade devo concordar. Pobres amigos de vício não nos lamentemos mais, vamos tratar de esquecer tudo isso assistindo ao “1ª Curta Lençóis” em Barreininhas e onde mais seja, sobretudo em local privilegiado. Pobres órfãos que não são considerados com o respeito que merecem, o respeito de um Drummond ou um Machado, digo o Nauro, que lhes é exigido por serem escritores, “um ser além da pessoa comum”, diz o nariz. Pobres órfãos.
E no pretérito imperfeito, ao escrever esta nota, “eu pretendia” dar parabéns ao bom Vieira: que continue a pregar aos peixes que eu prego aos narizes. Sorte sua, Antônio, que os peixes sempre são peixes, independentes do tamanho ou forma, mas a os narizes... pretensiosos e dissimulados, são tudo o que não são e tudo o que podem ser. “É a humanidade.” Mas sinto, Vieira, não restou espaço para fazer esta homenagem.

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