terça-feira, julho 31, 2007

Ó, CAPITÃO! MEU CAPITÃO!

Oh capitão! Meu capitão! nossa viagem
[medonha terminou;
O barco venceu todas as tormentas,
[o prêmio que perseguimos foi ganho;
O porto está próximo, ouço
[os sinos, o povo todo exulta,
Enquanto seguem com o olhar a quilha firme,
[o barco raivoso e audaz:

Mas oh coração! coração! coração!
Oh gotas sangrentas de vermelho,
No tombadilho onde jaz meu capitão,
Caído, frio, morto.

Oh capitão! Meu capitão! erga-se
[e ouça os sinos;
Levante-se - por você a bandeira dança - por
[você tocam os clarins;
Por você buquês e fitas em grinaldas -
[por você a multidão na praia;
Por você eles clamam, a reverente multidão
[de faces ansiosas:

Aqui capitão! pai querido!
Este braço sob sua cabeça;
É algum sonho que no tombadilho
Você esteja caído, frio e morto.

Meu capitão não responde, seus lábios
[estão pálidos e silenciosos
Meu pai não sente meu braço, ele não
[tem pulsação ou vontade;
O barco está ancorado com segurança
[e inteiro, sua viagem finda, acabada;
De uma horrível travessia o vitorioso barco
[retorna com o almejado prêmio:

Exulta, oh praia, e toquem, oh sinos!
Mas eu com passos desolados,
Ando pelo tombadilho onde jaz meu capitão,
caído, frio, morto.

segunda-feira, julho 30, 2007

O CAPTAIN! MY CAPTAIN!

POEMA DE WALT WHITMAN. DEPOIS PUBLICO A TRADUÇÃO.

O Captain! My Captain!

O Captain! my Captain! our
fearful trip is done,
The ship has weather'd every
rack, the prize we sought is won,
The port is near, the bells I hear,
the people all exulting,
While follow eyes the steady keel,
the vessel grim and daring;
But O heart! heart! heart!
O the bleeding drops of red,
Where on the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.
O Captain! my Captain! rise up
and hear the bells;
Rise up--for you the flag is flung--
for you the bugle trills,
For you bouquets and ribbon'd
wreaths--for you the shores a-
crowding,
For you they call, the swaying
mass, their eager faces turning;
Here Captain! dear father!
This arm beneath your head!
It is some dream that on the deck,
You've fallen cold and dead.

My Captain does not answer, his
lips are pale and still,
My father does not feel my arm,
he has no pulse nor will,
The ship is anchor'd safe and
sound, its voyage closed and done,
From fearful trip the victor ship
comes in with object won;
Exult O shores, and ring O bells!
But I with mournful tread,
Walk the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.

quinta-feira, julho 26, 2007

DOS ÍDOLOS

Volta e meia o Esporte elege seus ídolos. Durante o Pan-Americano, foi o que mais aconteceu. Aliás, ao longo do evento, alguns atletas, em modalidades distintas, reafirmaram sua condição de exemplos absolutos e incontestáveis, a serem devidamente imitados e, se possível, superados pelas gerações vindouras.
O que diz o “Dicionário Aurélio”, em seu verbete “ídolo”? O termo origina-se do grego eídolon, do latim idolu (com o o longo). A acentuação grega prevaleceu. Como substantivo masculino: estátua ou simples objeto cultuado como deus ou deusa; objeto no qual se julga habitar um espírito, e por isso venerado, e em sentido figurado pessoa a quem se tributa respeito ou afeto excessivo.
Esta última definição está mais associada ao âmbito esportivo. Representantes de gerações anteriores podem considerar Canhoteiro, Didi, Leônidas, Maria Lemke, Pelé, Garrincha, Maria Esther Bueno, Carlos Pace e Emerson Fittipaldi como ídolos. Tenho uma lista própria: Ayrton Senna, Juan Manuel Fangio, Michael Schumacher, Zico, Roberto Dinamite, Romário, Taffarel e o infelizmente falecido Dener. Os garotos de hoje vêem na TV as bem-sucedidas peripécias de Rebeca Gusmão (a verdadeira “Grande”), Jade Barbosa, Daiane dos Santos, os irmãos (irmãos!) Hypólito e João Derly. Na verdade, o Pan-Americano oferece uma excelente safra de candidatos a mito.
Nas relações de grandes nomes acima apresentadas, faltaram muitos nomes. Hortência e Oscar são dois dos que ficaram de fora. Por duas razões bem simples. Em primeiro lugar porque são “fora de concurso” (hors-concours é bobagem intelectualóide). E depois, prefiro enaltecer uma terceira personalidade do basquetebol feminino: Janeth.
A ex-lateral da Seleção Brasileira tem um nome invocado: Janeth Arcain. Nasceu no dia 11 de abril de 1969, em Carapicuíba, interior de São Paulo. A maior vencedora do basquete feminino brasileiro. Em 2004, nas Olimpíadas de Atenas, ela foi a quarta cestinha do torneio, com 18 pontos por partida. E esta fera pendurou o tênis nos Jogos Pan-Americanos deste ano. Medalha de prata. Pode ter perdido na decisão, mas sua maior vitória foi ter seu nome para todo o sempre lembrado, quando alguém um dia estiver a fim de fazer uma cesta de dois pontos. Ou de três, arremessando a bola do meio da quadra.
Com a saída de Janeth, como jogadora, do cenário basquetebolístico nacional, a pergunta que todos fazem é: quem a sucederá, como a próxima grande estrela da modalidade? Podemos pensar na própria Fórmula 1, após a morte de Senna. Surgiram Schumacher, Alonso e agora Hamilton como “grandes gênios” do automobilismo. No futebol, depois da aposentadoria de Pelé, a torcida tupiniquim passou a aplaudir virtuoses como Zico, Roberto Dinamite, Dener, Romário e os Ronaldos. No vôlei, a geração de Bernard, Pampa e José Roberto Guimarães cedeu a vez para a de Giovanni, Ricardinho e Giba. Posso estar trocando gato por lebre, mas vocês entenderam meu raciocínio.
A resposta para a questão colocada hoje parece ser Iziane Marques. Sem querer desmerecê-la – até porque é realmente uma ótima jogadora -, espero que tudo não passe de oba-oba da mídia. Alçar Iziane à condição de estrela, agora, é uma atitude perigosamente precipitada. Perigosa não para a mídia, é claro. A imprensa às vezes não mede esforços quando o assunto é aumentar o número de exemplares vendidos ou os índices de audiência. É perigosa para a própria jogadora, caso ela não tenha quem a aconselhe nesse momento. Alguém que peça a ela para “baixar a bola”, se estiver imaginando-se a “melhor do mundo” ou uma “segunda Janeth”. Se Iziane conseguir manter a cabeça no lugar e realizar seu trabalho com naturalidade, alheia a pressões externas, com toda a certeza vai conseguir um dia um lugar no panteão dos grandes mitos do esporte nacional. Um lugar com vista para o mar da Praia de São Marcos. Da melhor qualidade. Acho que você, Iziane, há de concordar comigo.

terça-feira, julho 24, 2007

CAFUZO OU CONFUSO?

Nos bons e velhos tempos do Colégio Meng, conheci um professor de Geografia do Brasil que não tinha medo de ser feliz. Ele não era daqui do estado. Paranaense, o indivíduo nos disse uma vez que seu primeiro contato com os estudantes ludovicenses não foi dos melhores. Contou que, ao entrar em sua primeira sala de aula, nesta capital, calçava botas. Os meninos adoraram. Imediatamente, dispararam aquele “Éeeeguas!”. Desacostumado com o nosso dialeto, o professor dirigiu-se ao diretor da escola após a aula. Um tanto irritado, queixou-se de que havia sido chamado de “Égua”. O diretor teve o bom senso de conter o riso. “Não, professor”, disse. “Aqui em São Luís, ‘égua’ é uma palavra utilizada para indicar admiração”. Vencido esse primeiro impacto cultural, o mestre provou que era um dos grandes mestres da Geografia.
E foi ensinar Geografia do Brasil no Colégio Meng. E no dia em que o assunto da aula foi a miscigenação do povo brasileiro, ele tratou do assunto de forma bem-humorada, até ligeiramente inclinada para o deboche. “A nossa miscigenação”, explicou, “consiste na mistura de raças, de povos de diferentes etnias. Ou seja, há um cruzamento de brancos com índios, que gerou o caboclo ou o mameluco; o cruzamento da branca com o negro ou do negão com a branca, que gera o mulato, e finalmente o cruzamento de índios com negros, que gera o cafuzo. Ou confuso. Ou seja, a suruba foi memorável!”.
Ninguém conseguia ficar sério quando percebia o duplo sentido na palavra “cruzamento”. Mas estava absolutamente correto ao relacionar a miscigenação brasileira com uma “confusão racial”, por assim dizer. A mesma confusão que nos deixa admirados quando, por exemplo, descobrimos, por exemplo, que aquele famoso sambista poderia muito bem ser chamado de “Branquinho da Beija-Flor”. Porque o Neguinho, como recentemente foi divulgado, descobriu que, geneticamente, é mais europeu do que africano. Em outras palavras: 67,1% dos genes dele têm origem na Europa e 31,5% na África. O mesmo ocorre com Daiane dos Santos. E também com quem não é necessariamente celebridade.
A BBC Brasil – a mesma que informou a existência dos “genes brancos do Neguinho da Beija-Flor – selecionou também anônimos. O primeiro foi um cearense, de 44 anos. A história dele é um exemplo típico da “confusão” a que o professor de Geografia se referiu. Seu pai era um “tipo caboclo” (expressões como esta devem necessariamente vir entre aspas, para evitar processos) e a mãe uma potiguar “branca”. O cearense fez o teste para saber por que seus sete irmãos mostram características peculiares: uns são brancos, outros morenos e uma irmã com “aparência” indígena.
Uma gaúcha foi a outra “cobaia” da BBC. Ela se inscreveu no teste para saber por que causa, motivo, razão e circunstância nasceu branca, sardenta e ruiva de cabelos naturais, uma vez que é neta de um negro e tem descendência africana. “Quero saber onde foram parar meus genes europeus”, disse ela.
Em seu site, a BBC Brasil explica como os cientistas contratados fizeram o exame do DNA dos selecionados. Mas como um dos meus lemas é “Cada macaco no seu galho”, vai ser bem melhor deixar que o pessoal aí na platéia (quem puder fazê-lo, é claro) acesse o sítio na Internet e tire suas próprias conclusões. Da minha parte, chego à conclusão tanto do raciocínio quanto desta crônica com uma certeza que muita gente não assume – nem amarrada aos trilhos e com o trem a apenas 100 metros.
O trabalho da BBC, além de dar um norte para a árvore genealógica de famosos e anônimos, serve também como munição contra essa praga chamada racismo. Um dos muitos filhos da ignorância, que não deveria ter lugar neste país. Mas tem. Num Brasil em que todas as etnias e todas as nacionalidades coexistem pacificamente, o preconceito racial, como não pode ser definitivamente anulado, deve ficar como está – relegado ao subterrâneo destinado aos conceitos equivocados. Quanto a isso não deve haver a menor sombra de confusão.

quarta-feira, julho 18, 2007

O DIA DO OURO, DO FOGO E DA MORTE

Terça-feira, 17 de julho de 2007. Um dia que tinha tudo para ser dourado.
É, estou falando mesmo do Pan. Há quem não agüente mais ouvir a palavra “Pan-Americano”. Porque, vamos e convenhamos, a cobertura da mídia em eventos esportivos nos quais atletas brasileiros são considerados franco-favoritos é sempre exagerada. E, por se tratar de uma competição que o corre numa cidade como o Rio de Janeiro, serve para mascarar a realidade da “cidade maravilhosa”.
Mas eu estou gostando do Pan. Como nas Olimpíadas, é onde o esporte alcança o seu esplendor. E o esporte, como se sabe, é um dos caminhos que conduzem à mudança de indicadores sociais. Aliada à educação, afasta crianças da marginalidade, da prostituição e do tráfico de drogas. Essa aliança infelizmente não se percebe em todo o país e sim em alguns centros. A ginástica é um exemplo perfeito disso. Não estou falando em “elitização”. Alguns esportes pertencem mesmo a classes economicamente mais favorecidas. O que também não está errado. Cada qual com seu cada qual.
A ginástica não é esporte de elite. Qualquer criança pode praticá-la, desde que haja condições para que a modalidade se desenvolva. Os irmãos Hypólito, Jade, Daiane e Laís contaram bastante com essas condições favoráveis e, na terça-feira, 17 de julho de 2007, à exceção de Daiane, conquistaram medalhas, algumas de ouro. O trabalho árduo sempre rende os frutos esperados.
A comemoração pelas vitórias da ginástica ocorreu durante toda a manhã e começo da noite da terça. Em seguida, o dia dourado tornou-se o das chamas, da destruição e da morte.
Eram 19 horas. Ou era mais tarde que isso? Não lembro agora. Só sei que aqui na redação todos estavam sorridentes. Brincavam e contavam piadas. Algumas de mau gosto, mas o jogo é esse. De repente, surgiu aquela música do plantão da Rede Globo. Aquela que geralmente precede morte de alguém importante ou de uma tragédia “daquelas”. O que infelizmente aconteceu foi justamente o segundo caso.
Jamais esquecerei as primeiras imagens, as que mostravam as chamas consumindo o prédio da TAM Express. Ainda sem saber que um avião com cento e tantos passageiros colidira com o edifício e em seguida explodiu, eu estava na sala de Pergentino Holanda. Ele me mostrava um certo e-mail sobre uma certa crônica cujo assunto era a Língua Portuguesa. Creio que isto leva àquela velha pergunta: “Onde você estava e o que fazia quando Kennedy foi assassinado?”. Ou então: “O que você fazia antes da destruição das Torres Gêmeas?”.
A crônica era até interessante. Mas o que é uma crônica – por mais bem escrita que pudesse ser – diante desse desastre, capaz de ceifar cento e oitenta e duas vidas? Na verdade, a verdadeira história deve ser (e foi) contada assim: “O avião, um Airbus-A320, havia decolado de Porto Alegre com 186 pessoas a bordo - 162 passageiros, 18 funcionários da empresa e seis tripulantes. Se a morte de todos os ocupantes da aeronave for confirmada, como prevêem os bombeiros, e somada às 14 mortes em terra, o total do maior acidente aeronáutico da história do país chegará a 200”.
Tenho apenas duas fotos do acidente. Foram, naturalmente, “pescadas” da Internet. Na primeira, bombeiros ao lado da cauda da aeronave da TAM, tentavam inutilmente apagar as chamas do edifício atingido em cheio pelo A320. Na outra, uma loira, com seus trinta e poucos anos, chorava. Era esposa ou mãe de uma das vítimas? Ou então irmã? Depois que Socorro e eu desligamos os computadores da Editoração do jornal e fomos até a portaria daqui da Mirante, o Jornal da Globo mostrou a imagem da mãe que perdeu dois filhos no acidente.
Terça-feira, 17 de julho de 2007. Um dia que será lembrado pelo brilho dourado no peito de Jade e de Diego. Mas também pelo fulgor das chamas, pelas lágrimas daqueles que ficaram para sentir saudade e pela morte – o que há de mais exato, no fim do caminho.

terça-feira, julho 17, 2007

MÃOS INVISÍVEIS

O que é do amor, é do amor, e fala de amor. E era de amor que gostaria de lhes falar. Desse amor que faz o sujeito dizer à sua mulher pérolas como, por exemplo, “Eu preciso respirar/ o mesmo ar que te rodeia/ E na pele quero ter/ o mesmo sol que te bronzeia”. Ou seja, o tipo de absurdo de que o ser humano só é capaz depois da terceira Antarctica.
Bem que eu queria lhes falar de amor, mas o destino, esse moleque travesso, não me permitiu. Aconteceu quando eu estava no ônibus. Para quem mora na Cidade Operária e adjacências, “ônibus” e “sucatas ambulantes” são gêmeos siameses – unidos pelo ventre daqui até a eternidade pela ignorância de quem comanda o sistema de transporte coletivo para a região. Mas eu dizia que estava no ônibus. E sonhava acordado. Porque, se o sujeito sonha dormindo na situação em que me encontrava, torna-se mais um alvo nesta cidade de vítimas.
Eu sonhava com meus ex-amores. Recordava o que elas fizeram de errado (pouco), meus próprios equívocos (um monte) e os bons e inesquecíveis momentos de que todo coração precisa para viver em paz. Porém e infelizmente, mãos invisíveis atiraram pela janela um folheto do Detran sobre a violência no trânsito. “Se liga!”, assim começa a mensagem. “Você tem a vida pela frente. Não vacile. Respeite as leis de trânsito”. No verso do folheto, a verdade que não quer calar – nem devemos permitir que se cale: “A cada dia, mais jovens matam e morrem no trânsito. Velocidade, bebidas alcooólicas e auto-afirmação são as principais causas de acidentes envolvendo a juventude”. Sob a verdade, a triste foto do resultado da violenta – e, pelo jeito, fatal – colisão entre dois automóveis.
A imagem é chocante, sem dúvida alguma. Mas não é a que eu escolheria, se fosse o editor do panfleto. Se a idéia era mostrar algo bem terrível para conscientizar os ligeirinhos, deveria ter sido colocada uma foto em que estivessem presentes, além do ferro retorcido, os corpos dilacerados das vítimas. Tenho certeza de que o Detran tem uma assim, em seus arquivos.
Em seguida, o folheto oferece as explicações de sempre e que mesmo assim só meia dúzia de três ou quatro aprende. Balada e direção só combinam se não rolar bebida. Se for beber, o sujeito deve ir de carona. Quem participa de pega, dirigindo ou assistindo, é otário. Cinto de segurança não é colocado num carro apenas como enfeite. Se ele não existe na Kombi que o Gusmão dirige o problema é tanto nosso (os bravos heróis da meia-noite pós-Mirante) quanto do Pereira (aquele que só vai mover o rabo da cadeira se algum dia algo horripilante acontecer com qualquer um de nós). E quem dirige não deve incomodar seus irmãos de volante. A galera do barulho pode ser multada ou levar uns cascudos de quem foi buzinado. Uns cascudos... ou coisa bem pior. Ah, agora minha imaginação tenta alcançar a de Stephen King.
Para mim, pensar neste assunto é pensar em tragédia. Mas sempre recorro a um dos velhos ensinamentos, para mitigar um pouco da estranha potência da saudade: nossos mortos devem ser chorados e jamais esquecidos, mas também devemos compreender que o tempo deles passou. A vida, muito mais do que a morte, não deve ter limites, nem mesmo as fronteiras impostas pela nossa vã filosofia.
Não será esta crônica o instrumento que trará paz ao trânsito, em nosso estado, no resto do país e pelo mundo afora. Irresponsáveis há que continuarão matando e morrendo nas ruas e nas estradas. Cenas ainda piores do que a da foto de que lhes falei continuaram sendo registradas pelos retratistas cujo ganha-pão consiste em imortalizar a tragédia alheia. Não estou sendo injusto. Estou sendo realista. Da página policial de certos jornais pequenos parece escorrer um rio de sangue...
Enfim, afastemos desta crônica o espírito da sexta-feira, 13. Muito melhor, agora, é sonhar acordado com os amores passados e com as paixões possíveis. A tristeza não deve ser a senhora rainha deste julho que começa sob o signo do sol.

segunda-feira, julho 16, 2007

CORAÇÃO DE ALUMÍNIO

Rafaelle. Meu amor ainda tem o nome dela. De outra forma, ela jamais seria a personagem principal de um conto que envolvia desejo, ternura, medo e solidão.
Comecei a escrevê-lo no Bar Antigamente, esperando a chuva passar. Era noite de sábado. Enquanto desenvolvia a história, olhava a cada instante para o relógio em meu pulso direito - nove horas. Marquei o encontro para as oito. Um jantar. Cheguei com certa antecedência, a fim de causar boa impressão. A nuvem negra já estava se formando. A temperatura caiu um pouco. Às oito e cinco, ouvi a primeira trovoada.
Luciana disse que não faltaria. Nós nos conhecemos na livraria Poeme-se, pela manhã. Volta e meia, apareço para conversar com o proprietário, meu amigo Gilson, e nesse dia ela estava lá, observando as estantes. Era uma mulher bastante jovem ainda, como se tivesse acabado de sair da adolescência. Tinha estatura mediana e um corpo sensacional. Pensei que fosse modelo. O cabelo castanho descia em cascata até o meio das costas. Mas o que a tornava inesquecível eram seus olhos: um par de verdes pedras preciosas.
Pedi licença a Gilson e fui tentar a sorte. Quando o sujeito não é bem-apessoado, como é o meu caso, deve se sobressair pela inteligência. Vi Luciana folheando desinteressada o “Espumas Flutuantes”, de Castro Alves.
- Não gosta? - perguntei.
Bem-educada, ela sorriu polidamente.
- Não faz muito meu gênero. Romantismo demais. Acho que você também pensa assim.
- Por que diz isso?
- Li um de seus contos. Uma amiga comprou o livro e me mostrou.
Meu primeiro trabalho fora lançado duas semanas antes.
- Os críticos associaram meu nome ao rótulo “bom escritor”. E você? O que achou?
- Amor, sexo, violência. Até que eu gosto.
Quase afirmei que o escritor precisa ter um coração de alumínio para escrever histórias assim, mas preferi apostar na pequena abertura que a declaração dela proporcionou.
- Que bom que você acha isso. Então... que tal discutirmos um pouco mais sobre isso num jantar?
Entretanto, creio que agi levado pela ansiedade, pois acabei pulando uma etapa importante. Novamente com toda a polidez do mundo, ela sorriu.
- Assim? Sem mais nem menos? Sem a devida apresentação?
- É verdade - admiti. - Mas, como você me conhece, resta me dizer o seu nome.
Reconheci que agi estupidamente antes de terminar a “brilhante” sentença. Repito: o sujeito, quando não é bem-apessoado, deve ser inteligente. O que não fui, naquele momento. Se tivesse jogado dentro das regras, os beijos que eu teria dado naquele rosto suave e delicado serviriam como prêmio de consolação, caso aquele encontro casual não rendesse. Um exemplo clássico de como somos capazes de cretinices antológicas.
Considerando tudo o que aconteceu no breve momento em que nossa conversa teve lugar, dei muita sorte de sair lucrando por não ter sido devidamente rechaçado. É a diferença que faz o sujeito lidar com uma mulher absolutamente madura, que sempre estava controlando todas as situações nas quais se envolvia, ainda mais aquelas (como certamente significou nosso encontro) que não mereciam figurar em sua biografia.
Ela estendeu a mão e disse:
- Pois muito bem. Meu nome é Luciana Mendes. Prazer em conhecê-lo, Daniel.
Era filha de um fazendeiro importante do sul maranhense. Mas não tinha a menor vocação para a criação de gado. Resolveu tentar a política. Antes de chegar a um cargo público, entretanto, compreendeu que não atingiria seus objetivos sem a necessária formação superior. Assim, quando a conheci, ela estava no terceiro período do curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão.
Luciana contou essa história enquanto tomávamos o café que meu amigo Gilson gentilmente nos serviu. Gilson sempre foi um cavalheiro. Geralmente, comportava-se como um daqueles mordomos ingleses do princípio do século passado, sempre prestativos, porém aliando a essa presteza imediata inteligência e sofisticação.
No final desta confraternização, que não durou tanto quanto eu desejara, ela consultou seu relógio e disse que já era para estar a caminho de casa. Morava no Renascença, com duas irmãs e um sobrinho de seis anos. Parecia não ter mais lembrança alguma do meu convite. Quando reforcei a proposta, ela respondeu, distraída:
- Não se preocupe. Eu não faltarei.
E foi embora. E também não compareceu ao jantar. Enquanto esperei, escrevi o conto cuja personagem principal eu chamei de Rafaelle. Na vida real, Rafaelle, em determinada época, iluminou minha vida com sua luz muito mais divina que a do sol. Claro que a nossa história de amor não rendeu os frutos desejados. Se o romance não foi para a frente, a culpa é toda minha. Culpa deste meu coração de alumínio, que não soube reconhecer o valor das carícias dela, do amor genuíno que ela nutria por mim.
Mas acredito que meu amor terá para sempre o nome dela. Rafaelle. Na verdade, é só isso o que importa.

domingo, julho 15, 2007

UM DOMINGO QUALQUER

Hoje não foi um domingo qualquer. Hoje, os deuses – principalmente os do esporte – acharam por bem determinar uma série de vitórias para a nação brasileira. Amanhã, aqueles que passaram a maior parte do domingo concentradas diante da televisão vão acordar, tomar seu banho e seu café, beijar a esposa ou o marido (os filhos, se filhos tiverem), e sairão de casa (ou não sairão) com um sorriso de orelha a orelha. Porque hoje não foi um domingo qualquer.
Em um domingo qualquer, o noticiário só tem tristezas. Como, por exemplo, a história das três pessoas que morreram em um acidente ocorrido na PA-159. Um pai e seu filho estavam entre as vítimas. A caminhonete em que estavam capotou várias vezes na estrada. Há suspeitas de que o motorista estivesse alcoolizado. Senhor, rogai por nós, que somos pecadores, que somos felizes e muitas vezes esquecemos disso. Ou então simplesmente não esquecemos – apenas fazemos questão de reclamar e reclamar e reclamar, como se Tu, nosso Pai, criador do Céu e da Terra, e dos animais que nela habitam, fosse nosso o nosso grande adversário e maior de todos os prejudicadores.
Em um domingo qualquer, descobrimos que, em São Paulo, os cartórios fazem, mensalmente, quase 300 separações e divórcios. Segundo o Colégio Notarial, entidade que representa os cartórios, foram realizadas 504 separações e 560 divórcios de 5 de janeiro até o quinto dia de maio deste ano. E quando se deve pedir um divórcio? Fiquei sabendo que a forma rápida de divórcio demora no mínimo 12 meses. Demora um ano inteiro para o casal repensar a separação ou ter certeza de que o amor não pode mais ser restaurado. Certa vez, um preletor, na inesquecível Igreja Batista do Cinqüentenário, lá no Maiobão, disse que o casamento é obra de Deus e a separação fruto das maquinações de Satanás. Como somos exagerados! Como adoramos uma hipérbole! Como gostamos de meter o nariz em assuntos com os quais não temos a menor intimidade! Coitada de nossa pobre teologia de almanaque...
Mas hoje não foi um domingo qualquer. Hoje, meu afilhado comemorou mais um aniversário. Ele não tem nem 18 anos. A estrada da vida estende-se diante dele. Há quilômetros e mais quilômetros a serem percorridos. Pela educação que vem recebendo, tem tudo para alcançar destinos fantásticos, maravilhosos e iluminados. Sei muito bem que, no futuro, pode acontecer algo que o faça pensar diferente. Poderá ir para a esquerda, ao invés de para a direita. Poderá, também, cometer mais erros que o necessário e absolutamente perdido. E nesse dia haverá pranto e ranger de dentes. Mas sei que ele não passará por essas infelicidades. Será bravo, será forte, um filho do Norte.
E neste domingo – que não foi um domingo qualquer – todos nós fomos capazes de sorrir.Alguns por causa de três bolas na rede. Outros por causa da bola caindo na quadra adversária. E outros tantos com a medalha no peito. Brasileiros, sim. Com muito orgulho. Com muito amor.

sábado, julho 14, 2007

REAÇÃO AO PESSIMISMO

A contagem regressiva para o fim da odisséia humana na Terra já começou. E, de acordo com um dos mais influentes pensadores da atualidade, o britânico John Gray, pode zerar antes do fim deste século.
Vejam como a variável sorte é de fato incontrolável. Acompanho há algum tempo a carreira do professor Gray. O que sei a respeito do homem: tem 58 anos, cursou Filosofia na Universidade de Oxford e é professor de Pensamento Europeu na London School of Economics. Até aí, tudo bem. A Internet foi criada para isso. Mas ainda não tinha um livro sequer do filósofo em questão. Um problema que foi resolvido no começo do mês passado.
De uns tempos para cá, venho comprando livros de um rapaz que mora próximo ao Farol da Educação, lá na Cidade Operária. O primeiro foi uma nova edição de “Entrevista com o Vampiro”. Agora, finalmente tenho em mãos um dos trabalhos mais importantes de John Gray, “Al-Qaeda e o que Significa ser Moderno”.
O livro não é um desses tratados filosóficos de trocentas páginas. O autor o escreveu para o leitor do presente século - aquele que vive alegando que não desenvolve o hábito da leitura porque “não tem tempo para isso”. O que não significa que Al-Qaeda... deve ser lido superficialmente. Porque apresenta pontos de vista interessantes a respeito de assuntos que fazem parte do debate cotidiano, seja entre protagonistas do cenário sociopolítico ou debatedores de mesas-redondas de barzinhos.
Logo no princípio do texto, John Gray nos diz que a Al-Qaeda (“A Base”) fez mais do que derrubar torres que simbolizavam a expressão máxima do poder de fogo capitalista e assassinar milhares de inocentes. Ela colocou em xeque o próprio mito ocidental de que sociedades industrializadas e tecnocratas, com raízes estabelecidas no livre-comércio, podem promover um futuro maravilhoso para a humanidade. Provou também que, no contexto do fundamentalismo vigente, o religioso é plenamente capaz de superar o econômico.
Em seu ensaio, John Gray delimita o significado de “moderno”. Como todos sabem, o pensamento moderno é contrário ao pensamento clássico. A característica principal do segundo encontra-se na solução dualista da reflexão metafísica. Existem o mundo e Deus, mas são separados entre si: Deus não conhece, não cria, não governa o mundo. Esse dualismo não será negado, mas sim desenvolvido no pensamento cristão, mediante o conceito de criação, em virtude da qual é ainda afirmada a realidade entre Deus e o mundo, mas Deus é feito criador e regente do mundo. Este não pode ser explicado a não ser pela presença de um Deus que o transcende.
Na opinião do professor Gray, o pensamento moderno não se manifesta na sua significação imanentista a não ser na plenitude do seu desenvolvimento. Portanto, essa manifestação ocorreu através de uma série de períodos desde o Renascimento - que pela primeira vez acrescentou à visão de mundo ocidental a indagação crítica e a reinvenção da sociedade pelo advento do conhecimento científico. Conhecimento este que, segundo o autor, não precisaria ter necessariamente ocorrido. A seu ver, diversos fatores de ordem política, social, econômica e geográfica poderiam ter impedido que a ciência, hoje, determinasse benefícios como a inclusão de um número cada vez maior de pessoas na infinita estrada da informação ou, por outro lado, permitisse o avanço insidioso da Pax Americana. Porém, como a humanidade aceitou sem reservas o advento do conhecimento científico, o momento agora é de assegurar que a contagem regressiva seja interrompida. John Gray afirmou recentemente que a espécie humana expandiu-se a tal ponto que ameaça a existência de outros seres. Tornou-se uma praga que destrói e ameaça o equilíbrio do planeta. Acredito que o momento, agora, é de mostrar ao professor que ele está enganado. Que um dia conseguiremos explorar corretamente todos os recursos naturais à nossa disposição.

sexta-feira, julho 13, 2007

OS BONS MOMENTOS DA VIDA

Prezada Sthefanne.
Você não me conhece. Meu nome é Ney Farias. Trabalho na Redação do jornal O Estado do Maranhão. Sou revisor. Alguém que faz o possível para transformar as reportagens bem escrevidas em textos bem escritos. Em outras palavras, é responsabilidade minha corrigir os erros gramaticais, ortográficos e até matemáticos que porventura possam aparecer nas matérias, toda santa noite.
Agora, vamos ao que interessa. Fiquei sabendo do seu problema de saúde. Seu pai me contou tudo o que havia para ser dito a respeito do drama que sua família viveu, nesses últimos dias. Shakespeare é um bom amigo. Ele, Josivaldo, Duarte e eu somos uma espécie de aventureiros da meia-noite. É porque nunca sabemos o que poderá acontecer, a cada viagem das Kombis que transportam funcionários da Mirante até suas residências. Ainda bem que ainda estamos vivos, como diria um certo escritor alemão.
Antes de começar a escrever isto aqui, seu pai já havia saído. Parece que houve uma festinha em sua escola. Muito provavelmente, suponho, deve ter sido uma festa alusiva aos festejos juninos. Um pouco mais cedo, antes de começar a trabalhar, eu o vi erguendo os braços, em comemoração, assim que Duarte chegou. Imaginei que eram boas notícias e fui até os dois para confirmá-las. Shake - assim ele é mais conhecido pelas bandas daqui - me disse que você já havia voltado para casa e que voltara a caminhar. Fiquei feliz com a felicidade dele, uma vez que o Shake que todos gostamos de ver é um sujeito bem-humorado e brincalhão, na maior parte do tempo. E quando você vê uma pessoa alegre e divertida ficar triste de uma hora para a outra, uma sensação de pessimismo se abate sobre todos nós e afeta, de maneira sutil, até mesmo a maneira como trabalhamos num lugar em que os equívocos costumam ser ressaltados ainda mais que os acertos. É assim que vejo tudo acontecer.
Mas esta crônica não é para falar a respeito de seu pai ou mesmo de amigos que jamais serão esquecidos. Fiz esta crônica com a intenção de pedir a você que, na medida do possível, tente aproveitar os bons momentos da vida.
O que é um bom momento, para você? Para mim, um bom momento é quando estou de folga. No sábado, costumo sair pela manhã. Vou ao Centro comprar livros. Depois, entro no primeiro ônibus que tenha como destino a avenida Litorânea. Uma vez na praia de São Marcos - sempre ouvindo a Rádio Universidade FM -, visito o Bar e Restaurante Coração do Mar, onde experimento uma cerveja da melhor qualidade.
Mas é aquela história: faça o que digo, mas não o que faço. Não vá atrás desse lance de cerveja. Ou de qualquer bebida que contenha álcool. Prefira pedir a seu pai que te leve para São Marcos, mas para vocês tomarem juntos um sorvete ou um refrigerante. E, enquanto estiverem conversando sobre os assuntos mais banais do cotidiano - assuntos que só interessam a um pai e a uma filha profundamente afeiçoados um pelo outro -, aconselho a você fechar os olhos de vez em quando, para ouvir a canção do oceano. Não tem como se confundir: a melodia é semelhante às batidas do seu coração.
Um bom momento da vida pode estar no contato com a poesia. Caso você não seja uma dessas criaturas ávidas por leitura, sugiro que comece. Aliás, aproveite que seu pai tem o nome de um dos bardos da literatura universal e leia peças com as quais você possa se identificar. Imagino que você deva ser uma adolescente do tipo romântica. Portanto, leia “Romeu e Julieta”. Ou então, se gostar de uma boa comédia, tenho como sugestão “Muito Barulho por Nada”.
Mas eu te falei sobre poesia, e será com poesia que terminarei esta crônica. Prezada Sthefanne, a bem da verdade o grande momento de sua vida é este, que agora você vivencia - agora que triunfa sobre a dor e a tristeza, renovando a paz, a alegria e a esperança daqueles que te amam. Aqueles que, assim como eu, sabem que a verdadeira poesia encontra-se na pureza do teu sorriso e no brilho do seu olhar.
Seja feliz, pequena grande estrela.

quinta-feira, julho 12, 2007

PRIMEIRO

ESTA PRIMEIRA MENSAGEM É CURTA PORQUE A KOMBI JÁ VAI SAIR. QUERO APENAS DIZER QUE ESTE BLOG É DE QUEM VIVE EM ETERNO DESASSOSSEGO. COMO DEVE SER A HUMANIDADE - JAMAIS DEVEMOS NOS CONFORMAR COM "O QUE ESTÁ DETERMINADO. À LUTA! ESSE DEVE SER O PRIMEIRO E O ÚNICO LEMA.