domingo, junho 30, 2013

REVIRAVOLTAS

Para assegurar a atenção total do leitor ou espectador, o romance e a jornada esportiva precisa de reviravoltas.
O que não faltou no Grande Prêmio da Inglaterra.
O circuito de Silverstone é chamado de “templo” do automobilismo. Não à toa. Foi onde começou a Fórmula 1, nos anos 1950. Nesse ano, o campeonato tinha apenas seis corridas: além da Grã-Bretanha, havia Mônaco, Suíça, Bélgica, Itália e as 500 Milhas de Indianápolis. Até hoje, os vencedores das etapas em questão colocam o nome em uma restrita lista de notáveis.
Nico Rosberg seu deu muito bem, ontem. É certo que a vitória lhe caiu no colo, com o surpreendente abandono de Sebastian Vettel (a principal reviravolta), com problemas no câmbio. Mas precisou contar com bastante talento para resistir à pressão de Mark Webber – que também poderia ter recebido a bandeira quadriculada em primeiro, por causa de seu desempenho espetacular ao longo das 52 voltas da prova.
Análises do que ocorreu em Silverstone concentram-se no “caos dos pneus estourados”. De fato, a Pirelli tem muitas explicações a dar. Felipe Massa, Lewis Hamilton, Jean-Éric Vergne e Sérgio Pérez (duas vezes) curiosamente tiveram o mesmo pneu esquerdo traseiro destroçado sem qualquer motivo aparente. Situação que atrapalhou demais Hamilton e Massa. O britânico liderava o pelotão, acabou indo parar em último depois de resolver o problema, recuperou-se bem e chegou em quarto.
O brasileiro certamente vivenciou a melhor largada de sua carreira. Antes das luzes vermelhas se apagarem, ele se encontrava em 11º. Depois da “briga de foice” inicial por posições, já era o quinto. Sem dúvida alguma teria ido parar no pódio – assim como Hamilton.
De qualquer maneira, Mark Webber teria de fazer parte da comemoração. Foi sua melhor corrida em muito tempo. Quem assistiu à corrida o viu se dar mal na largada. Partiu em quarto, foi abalroado por Romain Grosjean e despencou para o 15º posto. A partir de então, paciente e determinado, ganhou uma posição atrás da outra, com a faca nos dentes e sangue nos olhos, e mostrou que é um dos melhores pilotos de sua geração. Já anunciou que deixará a Fórmula 1 para correr na Endurance, pela qual disputará as 24 Horas de Le Mans. Deixará como ótima lembrança espetáculos como o que propiciou na Inglaterra. A principal categoria do automobilismo – que sem dúvida alguma não lhe sentirá a ausência – só tem a perder.
Para arrematar: a Pirelli tem não pode protagonizar vexames como os apresentados durante a corrida. Estouros de pneus em retas de alta velocidade são um perigo. Por sorte, os pilotos vitimados por essa falta de sorte souberam administrar a falta de sorte e evitaram consequências mais sérias.

Essa parceria com a fornecedora de pneus deve ser repensada. Com urgência e emergência.

quinta-feira, junho 27, 2013

Fernando Henrique confirma favoritismo e é eleito para a Academia Brasileira de Letras

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/06/1302405-fernando-henrique-confirma-favoritismo-e-e-eleito-para-a-academia-brasileira-de-letras.shtml

27/06/2013 - 16h27

DO RIO

Confirmando seu anunciado favoritismo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, 82, foi eleito na tarde desta quinta-feira (27) para ocupar a cadeira nº 36 da Academia Brasileira de Letras (ABL), sucedendo ao jornalista João de Scantimburgo (1915-2013), morto em março deste ano.
A eleição aconteceu na sede da ABL, no centro do Rio. Fernando Henrique teve 34 dos 39 votos possíveis, com uma abstenção. "Essa eleição é um ato de respeito da Academia Brasileira de Letras à inteligência brasileira. A grande obra de Fernando Henrique Cardoso de sociólogo e cientista dá ainda mais corpo à Academia", disse o imortal Marcos Villaça, ex-presidente da ABL, em comunicado oficial.
Terceiro presidente a integrar a Casa de Machado --após Getúlio Vargas (eleito em 1941) e José Sarney (eleito em 1980)-- o novo imortal se juntará a dois membros graduados de seu governo, o vice-presidente Marco Maciel, 72 (eleito em 2004), e o ex-Ministro das Relações Exteriores Celso Lafer, 71, eleito em 2006.
Rosiska Darcy de Oliveira, 69, a última imortal empossada (no último dia 15), também participou do governo FHC, como presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.
Após sua vitória, o ex-presidente recebeu convidados para uma comemoração na Fundação Eva Klabin, na Lagoa, zona sul do Rio.
Joel Silva/Folhapress
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
O convite para a candidatura de FHC havia sido feito por dois membros da ABL, a escritora Nélida Piñon, 75, e o senador José Sarney, 82, logo após a morte de Scantimburgo. Além de Sarney e Piñon, a campanha pela entrada de FHC inclui imortais como Marcos Vilaça, 73, ex-presidente da ABL, e Celso Lafer, 71, ex-ministro de Relações Exteriores do governo FHC e responsável por trazer a carta de candidatura.
"Depois de tantos amigos insistido comigo tantas vezes, acabei cedendo", disse o ex-presidente à Folha, no dia da confirmação de sua candidatura. "Minha reticência sempre foi a de que não sou homem de letras e não queria criar constrangimentos por ter sido presidente da República. Mas agora, passados tantos anos da presidência e mantida, se não mesmo que ampliada, a convicção de vários membros da ABL de que eu deveria juntar-me a eles, acabei por concordar."
Fernando Henrique derrotou outros dez candidatos à cadeira 36: J.R. Guedes de Oliveira, Gildasio Santos Bezerra, Jeff Thomas, Carlos Magno de Melo, Eloi Angelo Ghio, Diego Mendes Souza, Felisbelo da Silva, Alvaro Corrêa de Oliveira, José William Vavruk e Arlindo Vicentine.

domingo, junho 23, 2013

FÓRMULA 1 DE VÊNUS

Quem aprecia de verdade o automobilismo conhece ou pelo menos já ouviu falar de Danica Patrick. Para quem não faz ideia: trata-se de uma baixinha invocada e um tanto quanto saliente, que corre tanto na Fórmula Indy quanto na Nascar.
O desempenho da moçoila varia muito. Em certas corridas, ela se mantém entre os ponteiros. Em outras, não há o que a faça deixar as posições intermediárias. A bela e jovem pilota se destaca também pelo forte temperamento. Tem pavio curto. Coitado do concorrente que, por acaso, tirá-la de uma prova por obra e graça de um desses acidentes parecidos com os que acontecem na Stock Car. O sujeito vai ouvir poucas e boas.
A presença de Danica torna ainda mais interessantes as categorias acima mencionadas. Mostra que não são “clubes do Bolinha”. Desde que haja o interesse e o necessário suporte financeiro, as portas estão abertas para mulheres audazes.
O mesmo bem que poderia acontecer na Fórmula 1. Sim, já temos ótimas representantes no Circo da Velocidade. Monisha Kaltenborn é a responsável pela chefia da Sauber. Claire Williams é vice-diretora da equipe pela qual Senna corria quando faleceu. Aliás, o time do senhor Frank tem como piloto de testes Susie Wolff. E María de Villota, que sobreviveu a um gravíssimo acidente no qual perdeu um olho, era reserva da Marussia.
Mas eu defendo a presença da mulherada no grid. De destemidas que aceitem o desafio de encarar as perigosas curvas da Bélgica ou os corredores cercados de muros por todos os lados que são as ruas do Principado de Mônaco. Uma “Fórmula 1 de Vênus”, por que não?
Acredito que seriam uma novidade e tanto. Talvez possibilitassem uma espécie de contraponto para grandes prêmios cada vez mais desinteressantes. O próprio Mark Webber, da Red Bull, tem afirmado que os deste ano estão muito chatos. Concordo com ele. O do Canadá, por exemplo, foi duro de assistir – pelo menos, até o ponto em que a transmissão foi interrompida pela Globo para que fosse mostrado o jogo da Seleção.
Como um ambiente ultraconservador como a Fórmula 1 iria encará-las? Aliás, componho estas considerações tendo como base recentes declarações do inglês Jenson Button, da McLaren sobre a participação feminina entre os pilotos da F1.
Disse Button que, se não há mulheres nos cockpits da categoria, é porque “não recebem o devido apoio no começo de suas carreiras”. Mas esse discurso dele já foi totalmente diferente. Hoje “cabeça aberta”, ele um dia opinou o seguinte:
“Danica [Patrick] é muito rápida. Mas em carros de F1 não consigo ver isso acontecer, devido à força G em curvas de alta velocidade. E uma semana por mês você não gostaria de estar no circuito com elas, gostaria? Uma garota com grandes seios nunca poderia ficar confortável nos monopostos. E os mecânicos não iriam se concentrar”.

Como diria o Milton Leite: “Que beleza!”.

sexta-feira, junho 21, 2013

Antonio Bandeira, Cais noturno

http://www.blogdoims.com.br/ims/antonio-bandeira-cais-noturno-%E2%80%93-por-ana-candida-de-avelar-fernandes/

Por Ana Cândida de Avelar


Antonio Bandeira
Cais Noturno, 1962/1963
Óleo sobre tela
97 x 162 cm


Em Cais noturno (1962/1963), pinceladas vermelhas e amarelas são aplicadas sobre um fundo negro. Uma camada de tinta branca produzida pelo derramamento de tinta das bordas para o centro, provavelmente ao inclinar a tela em diferentes direções, mostra-se, desse modo, destituída da gestualidade da pincelada. O efeito não é de espontaneidade, como nos gotejamentos de Jackson Pollock, mas de planejamento e ação contida. Sobrepondo-se às camadas mencionadas, estabelece-se uma grade azul descontínua e de traçado irregular – intuitiva até – que não estrutura propriamente a composição. Em alguns momentos, as linhas azuis horizontais e verticais ultrapassam o limite da tela estendendo-se pela moldura; um procedimento também utilizado por outros artistas visando integrar o suporte ao trabalho. Apesar do caráter abstrato da composição, é evidente a referência à paisagem noturna – pontos luminosos se projetam devido às cores vibrantes em meio ao efeito de profundidade criado pelo uso do preto.
Na época em que esse trabalho é produzido, Bandeira já havia vivido em Paris por muitos anos, desde meados de 1940, participado de várias Bienais de São Paulo e de Veneza, exposto em diversos museus e galerias no Brasil e no exterior, em mostras tanto coletivas como individuais. Muitos críticos se interessaram por seu trabalho – Antonio Bento, Clarival do Prado Valladares, Lourival Gomes Machado, Mário Pedrosa. Mesmo Waldemar Cordeiro, líder do grupo concreto Ruptura, escreve sobre a pintura de Bandeira. É considerado, portanto, um artista consagrado.
Durante o período inicial da estada de Bandeira na França, quando o pintor chega a Paris com uma bolsa de estudos oferecida pelo governo francês (no Brasil, seu trabalho tendia a uma figuração de sabor expressionista, com certo teor dramático), assiste às aulas da Escola Nacional Superior de Belas Artes, mas abandona essa instituição interessado em estudos menos tradicionais, frequentando então a Académie de la Grande Chaumière.
Nessa primeira temporada, permanece em Paris entre 1946 e 1950, período em que se desenvolve e se difunde a abstração expressiva, frequentemente interpretada como uma resposta ao clima de pessimismo generalizado decorrente das duas grandes guerras que prevalecia na Europa desse momento. A leitura mais comum desse abstracionismo não geométrico e gestualizado entende essa pintura como uma negação das possibilidades de construção da forma.
Todavia, a obra de Bandeira, entre outros artistas daquele momento, se estabelece entre a “dissolução e a construção” ou entre “a fluidez e a solidez”, nas palavras de Ruben Navarra. Embora o crítico paraibano estivesse se referindo à produção figurativa anterior do artista, a ideia de reunir qualidades opostas com o sentido de expressão versus estrutura serve perfeitamente para indicar que o uso da grade em conjunto com a mancha, como acontece em Cais noturno, opera no intervalo ou na interseção entre o construtivo ou abstrato-geométrico e a abstração lírica. Ao mesmo tempo, demonstra como esses polos supostamente dicotômicos podem se encontrar, embora os discursos de época sugiram a oposição entre racionalidade e expressão ou subjetividade. Árvores contra construção (1951) parece indicar que Bandeira, desde então, embora inicialmente apenas nas obras em papel, domina conscientemente o uso simultâneo dessas linguagens formais, associando uma grade gráfica, delineada delicadamente, a manchas sutis, decorrentes da utilização do guache bastante diluído.
Bandeira não estava sozinho nessa via intermediária; na realidade ele exemplifica produções de muitos artistas que atuavam no limite entre essas posturas formais. As posições mais radicais de alguns artistas abstratos eram, muitas vezes, estratégias retóricas ou momentâneas, a serviço da defesa de um grupo e conquista de espaço no meio artístico. Basta observar como, nesse segundo pós-guerra e até a primeira metade do decênio de 1960, inúmeros artistas transitaram entre vários procedimentos da abstração, mostrando interesse por experimentar diferentes linguagens não-figurativas.
Quando Bandeira chega ao continente europeu, o alemão Wols, pintor atualmente considerado paradigmático da vertente expressiva, estava estabelecido na França e já desenvolvia uma pesquisa nesse sentido. O trabalho de Wols habita um intervalo entre abstração e figuração, optando por formas aparentadas com elementos orgânicos, porém inidentificáveis. Tais formas são geralmente centralizadas e geradas por grossas camadas de tinta, o chamado impasto, que recebem incisões de um instrumento pontiagudo provocando a extração de parte da matéria acumulada.
Embora seja recorrente na bibliografia sobre Bandeira a referência à amizade com Wols, sugerindo uma aproximação entre o trabalho de ambos, que existe apenas em raros momentos, basta um simples cotejamento entre as obras para se notar que a maioria das pinturas do brasileiro assume soluções distintas daquelas do pintor alemão. Se essa convivência teve conseqüências, talvez não tenham sido tão aparentes nas escolhas formais desses artistas. No entanto, é provável que, por intermédio de Wols, um artista respeitado no meio artístico parisiense do pós-guerra, Bandeira tenha transitado entre círculos de artistas interessados pela abstração lírica, pois é evidente, tanto nos trabalhos como nos escritos que deixou, seu domínio do debate acerca do abstracionismo expressivo que se configura naquele momento.
Segundo alguns comentadores, Wols, Bandeira e o pintor e poeta Camille Bryen teriam formado o grupo Banbryols, que acabaria com a morte precoce de Wols. A existência desse grupo já foi questionada, porém, se o cotejo se der entre a obra de Bandeira e Bryen, surgem diálogos formais possíveis. Bryen opera, por vezes, com estruturas similares às grades de Bandeira, entretanto estas sofrem mais intervenções, resultando no quase desaparecimento das estruturas e num efeito mais enfático de dispersão.
Mais especificamente, também é possível aproximar o modo de abstração de Bandeira daqueles desenvolvidos por Roger Bissière e Alfred Manessier, figuras centrais do abstracionismo parisiense nos anos 1930, portanto, antes do que viria a ser denominado “informal”, um tipo de abstração mais gestualizada desenvolvida e difundida após 1945. Bissière havia ministrado aulas na Academia Ranson, em Paris, incentivando artistas mais jovens, como Manessier, Maria Helena Vieira da Silva e Jean Le Moal, a desenvolver uma abstração expressiva a partir da natureza. É evidente o compartilhamento de uma estrutura semelhante na produção de todos eles e, se observadas de perto, não deixam de ecoar composições de Paul Klee.
Em 1941, a exposição Jovens pintores da tradição francesa apresenta obras de Manessier, Le Moal e Jean Bazaine, entre outros, visando assim marcar essa pintura como uma nova manifestação da arte nacional – reafirmando o caráter “francês” da produção abstrata contemporânea. Outro dado curioso acerca de Manessier e Bazaine é a relação com o catolicismo, que, ao mesmo tempo que permeia o interesse pela abstração, buscando um afastamento da iconografia tradicional em direção a novas formas, favorece uma resposta otimista à situação do pós-guerra.
Bandeira certamente tomou contato com essa produção bastante popular na época em que se transfere para a capital francesa. Em pinturas do final dos anos 1940, ele trabalha paisagens geometrizadas, antecedentes mais próximas da abstração estruturada em grades, que passa a produzir nos primeiros anos de 1950. A figuração não é abandonada por completo, mas permanece como assunto e base para organizar a composição.
A percepção de Navarra sobre a simultaneidade do construtivo e do informal – que sugere pelo termo “dissolução”, no sentido de forma dissolvida, irregular, sem contornos precisos – ressoa na escrita do cronista Rubem Braga, que descreve a produção de Bandeira como um “construtivismo sem dureza” cuja “disciplina da composição não estraga o frescor da invenção lírica”. A grade é uma constante nos trabalhos dos anos 1950, atuando como um anteparo das formas que parecem prestes a se dispersar.
Nos anos que se seguem a Cais noturno, Bandeira alterna o uso intensivo da grade, que cobre praticamente toda a tela tornando-se elemento principal e de fato estruturando o espaço – A grande cidade (1964) e Cidade (1964) – com a dispersão das linhas, acompanhada de respingos concentrados em algumas áreas do trabalho quase que encobertando completamente o que restou das linhas verticais e horizontais – L’arbre s/bleu (1965).
“Ordenado, mas como as estrelas.” A frase de Padre Antônio Vieira, apropriada pelo historiador e crítico Luiz Marques para discutir a obra de Bandeira, ilumina o paradoxo que encerra a obra do pintor: nos toques pontuais e comedidos do pincel, alinhavado pelo uso atento da estrutura e de uma geometria mais livre, mostra-se o convívio entre construção e expressividade. A ausência de rigidez dos trabalhos, enfim, possibilita vislumbrar como as coisas no mundo se organizam de forma flexível, sem tanto rigor, mesmo quando previamente planejadas.
Ana Cândida de Avelar é doutora em História, Teoria e Crítica de Arte pela ECA/USP

A Passeata dos Cem Mil de junho de 1968

http://www.blogdoims.com.br/ims/a-passeata-dos-cem-mil-de-junho-de-1968/

A primeira Passeata dos Cem Mil, a de 26 de junho de 1968, foi documentada por David Drew Zingg (1923-2000), o americano que se estabelecera poucos anos antes no Brasil para se tornar um fotógrafo fundamental da vida do país, sobretudo de seus artistas. Após uma nova manifestação que levou cem mil pessoas às ruas do centro do Rio de Janeiro, além de outras milhares que participaram de atos em diversas cidades brasileiras neste 17 de junho, o Blog do IMS mostra um conjunto de dez fotos feitas por Zingg naquele momento histórico, no qual o alvo principal dos protestos era a ditadura militar. É possível ver nas imagens artistas como Chico Buarque, Edu Lobo, Gilberto Gil, Nana Caymmi, José Celso Martinez Corrêa, Renato Borghi, Ittala Nandi e Othon Bastos, além de Vladimir Palmeira (na sexta foto de cima para baixo), então a maior liderança estudantil do país. Evandro Teixeira, outro importante fotógrafo que documentou amplamente a passeata, aparece com sua máquina na penúltima foto. E há os cartazes de então, os gestos de anônimos, a multidão.
O acervo de Zingg está sob a guarda do IMS. Parte dele será exposto na Casa do IMS durante a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), em julho.
David Drew Zingg | Acervo Instituto Moreira Salles
David Drew Zingg | Acervo Instituto Moreira Salles
David Drew Zingg | Acervo Instituto Moreira Salles
David Drew Zingg | Acervo Instituto Moreira Salles
David Drew Zingg | Acervo Instituto Moreira Salles
David Drew Zingg | Acervo Instituto Moreira Salles
David Drew Zingg | Acervo Instituto Moreira Salles
David Drew Zingg | Acervo Instituto Moreira Salles
David Drew Zingg | Acervo Instituto Moreira Salles
David Drew Zingg | Acervo Instituto Moreira Salles

quarta-feira, junho 19, 2013

O monstro foi para a rua

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/2013/06/1297394-o-monstro-foi-para-a-rua.shtml

Em dezembro de 1974, a oposição havia derrotado a ditadura nas urnas, elegendo 16 dos 21 senadores, e o ex-presidente Juscelino Kubitschek estava num almoço quando lhe perguntaram o que acontecia no Brasil.
- O que vai acontecer, não sei. Soltaram o monstro. Ele está em todos os lugares.
Abaixou-se, como se procurasse alguma coisa embaixo da mesa e prosseguiu:
- Ele está em todos os lugares, aqui, ali, onde você imaginar.
- Que monstro?
- A opinião pública.
Dois anos depois JK morreu num acidente de automóvel e o monstro levou-o no ombros ao avião que o levaria a Brasília. Lá ocorreu a maior manifestação popular desde a deposição de João Goulart.
Em 1984 o general Ernesto Geisel estava diante de uma fotografia da multidão que fora à Candelária para o comício das Diretas Já.
- Eu me rendo --disse o ex-presidente, adversário até a morte de eleições diretas em qualquer país, em qualquer época.
Demorou uma década, mas o monstro prevaleceu. O oposicionista Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral e a ditadura finou-se.
O monstro voltou. O mesmo que pôs Fernando Collor para fora do Planalto.
No melhor momento de seu magnífico "Pós Guerra", o historiador Tony Judt escreveu que "os anos 60 foram a grande Era da Teoria". Havia teóricos de tudo e teorias para qualquer coisa. É natural que junho de 2013 desencadeie uma produção de teorias para explicar o que está acontecendo. Jogo jogado. Contudo, seria útil recapitular o que já aconteceu. Afinal, o que aconteceu, aconteceu, e o que está acontecendo, não se pode saber o que seja.
Aqui vão sete coisas que aconteceram nos últimos dez dias:
1) O prefeito Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin subiram as tarifas e foram para Paris, avisando que não conversariam nem com os manifestantes. Mudaram de ideia.
2) Geraldo Alckmin defendeu a ação da polícia na manifestação de quinta-feira passada. Mudou de ideia e pacificou sua PM.
3) O comandante da PM disse que sua tropa de choque só atirou quando foi apedrejada. Quem estava na esquina da rua da Consolação com a Maria Antônia não viu isso.
4) Dilma Rousseff foi vaiada num estádio onde a meia-entrada custou R$ 28,50 (nove passagens de ônibus a R$ 3,20).
5) O cartola Joseph Blatter, presidente da Fifa, mandarim de uma instituição metida em ladroeiras, achou que podia dar lição de moral aos nativos. (A Viúva gastará mais de R$ 7 bilhões nessa prioridade. Só no MaracanãX, torraram R$ 1,2 bilhão.)
6) A repórter Fernanda Odilla revelou que o Itamaraty achou pequena a suíte de 81 m² do hotel Beverly Hills de Durban, na África do Sul, e hospedou a doutora Dilma no Hilton. (Por determinação do Planalto, essas informações tornaram-se reservadas e, a partir de agora, só serão divulgadas em 2015.)
7) A cabala para diluir as penas dadas aos mensaleiros que correm o risco de serem mandados para o presídio do Tremembé vai bem, obrigado. O ministro Dias Toffoli, do STF, disse que os recursos dos réus poderão demorar dois anos para ir a julgamento.
Para completar uma lista de dez, cada um pode acrescentar mais três, ao seu gosto.

Elio Gaspari Elio Gaspari, nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por "As Ilusões Armadas". Escreve às quartas-feiras e domingos na versão impressa de "Poder".

A passeata

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2013/06/1297427-a-passeata.shtml

Tinha punk de moicano e playboy de mocassim. Patricinha de olho azul e rasta de olho vermelho. Tinha uns barbudos do PCO exigindo que se reestatize o que foi privatizado e engomados a la Tea Party sonhando com a privatização de todo o resto. Tinha quem realmente se estrepa com esses 20 centavos e neguinho que não rela a barriga numa catraca de ônibus desde os tempos da CMTC. (Neguinho, no caso, era eu). Tinha a esperança de que este seja um momento importante na história do país e a suspeita de que talvez o gás da indignação, nas próximas semanas, vá para o vinagre.
Sejamos francos, companheiros: ninguém tá entendendo nada. Nem a imprensa nem os políticos nem os manifestantes, muito menos este que vos escreve e vem, humilde ou pretensiosamente, expor sua perplexidade e ignorância.
Anteontem, depois da passeata, assisti ao "Roda Viva" com Nina Capello e Lucas Monteiro de Oliveira, integrantes do Movimento Passe Livre. Ficou claro que, embora inteligentes e bem articulados, eles tampouco compreendem onde é que foram amarrar seus burros. "Vocês começaram com uma canoa e tão aí com uma arca de Noé", observou o coronel José Vicente. Os dois insistiram que não, o que há é um canoão, e as mais de 200 mil pessoas que saíram às ruas no Brasil, segunda-feira, lutavam por transporte público mais barato e eficiente. A posição dos ativistas de não se colocarem como os catalisadores de todas as angústias nacionais e seguirem batendo na tecla do transporte só os enobrece --mas estarão certos na percepção?
Duzentas mil pessoas de esquerda, de direita, de Nike e de coturno por causa da tarifa?
"Por que você tá aqui no protesto?", perguntou a repórter do "TV Folha" a uma garota na manifestação do dia 11: "Olha, eu não consigo imaginar uma razão para não estar aqui, na verdade", foi sua resposta. Corrupção, impunidade, a PEC 37, o aumento dos homicídios, os gastos com os estádios para a Copa, nosso IDH, a qualidade das escolas e hospitais públicos são todos excelentes motivos para que se saia às ruas e se tente melhorar o país --mas já o eram duas semanas atrás: por que não havia passeatas? Será porque a chegada do PT ao poder anestesiou os movimentos sociais, dificultando a percepção de que o Brasil vem melhorando, melhorando, melhorando e... continua péssimo? Ou será porque agora o Facebook e o Twitter facilitam a comunicação?
Se as dúvidas sobre as motivações --que brotam do solo minimamente sondável do presente-- já são grandes, o que dizer sobre o futuro do movimento? Marchará ou murchará? Caso cresça: conseguirá abaixar a tarifa? E, no longo prazo, terá alguma relevância? Mais ainda: adianta ir às ruas, fazer barulho? Ou a própria passeata extingue o impulso de revolta que a criou e voltamos todos para o mundinho idêntico de todos os dias, com a sensação apaziguadora de que "fiz a minha parte"?
Não tenho a menor ideia, estou mais confuso que o Datena diante da enquete, mas num país injusto como o nosso, em que a única certeza parecia ser a de que, aconteça o que acontecer, o Sarney estará sempre no poder, as dúvidas dos últimos dias são muitíssimo bem-vindas.

Antonio Prata é escritor. Publicou livros de contos e crônicas, entre eles "Meio Intelectual, Meio de Esquerda" (editora 34). Escreve às quartas na versão impressa de "Cotidiano".

terça-feira, junho 18, 2013

LAÇOS

http://revistatrip.uol.com.br/so-no-site/notas/lacos.html

No final do ano passado, a Maurício de Sousa Produções entrou no mercado de graphic novels com o lançamento de Astronauta – Magnetar, primeiro título do selo Graphic MSP, que promete lançar cerca de três álbuns por ano, todos com releituras de personagens já consagrados de Maurício de Sousa. O debut trazia roteiro de ficção científica tendo o Astronauta como protagonista adaptado pelo quadrinista Danilo Beyruth, autor de Bando de Dois e Necronauta. Agora, a história é outra: sob os leves traços dos irmãos mineiros Vitor e Lu Cafaggi, Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão vivem uma aventura que os fazem redescobrir o valor da amizade. Na trama, o cachorro do Cebolinha, Floquinho, desaparece e o quarteto segue o rastro do bichinho para encontrá-lo a qualquer custo.
Trip bateu um papo com os autores.
Trip: Como vocês tiveram a ideia do roteiro?
Vitor: Eu e a Lu queríamos uma história que mostrasse bastante como é a relação de amizade entre a Mônica, a Magali, o Cascão e o Cebolinha, a importância que eles têm para eles mesmos. Queríamos uma história sobre a amizade, mesmo. Usamos bastante recordações da nossa infância.
O título Laços, então, tem tudo a ver com a amizade dos quatro?
Lu: Totalmente. Quem fechou mesmo o título foi o Sidney [Gusman, editor da Maurício de Sousa Produções], mas eu e meu irmão queríamos um nome que representasse essa metáfora da amizade, que fosse uma palavra que pudesse ser encontrada várias vezes na história, mas escrita de modos diferentes.
Vitor: O título quase foi Nós, que representaria tanto os quatro juntos quanto os nós que o Cebolinha sempre deu nas orelhãs do coelho da Mônica, o Sansão, mas, no finalzinho, o Maurício falou: "Com a turma da Mônica, os laços são mais fortes do que os nós". Isso é verdade. Daí, ficou.
Em Laços, tem muito do jeito de vocês dois de contar histórias, tem muito dos seus trabalhos anteriores – ValentePuny Parker e Los Pantozelos. Eles funcionaram mesmo como base para vocês criarem a história?
Lu: Isso aconteceu sem querer. Mas, sim, nós procuramos criar uma história que fosse a cara da turma da Mônica, mas que também fosse uma coisa nossa, que tivesse nosso jeito de ver a turma e o mundo também. São os nossos traços, nosso jeito... Sem contar o assunto principal, a amizade, que é uma coisa de que a gente sempre falou nos nossos quadrinhos.
Vitor: Queríamos uma história o mais intimista possível, que é a característica do nosso trabalho. Sempre falamos muito de amizade, amor, infância, inocência, sempre com olhos de criança.
E já caiu a ficha que vocês, agora, têm uma história com a Turma da Mônica?
Vitor: De vez em quando cai [risos], mas ainda é surreal. Crescemos lendo as revistinhas da turma da Mônica e agora ter uma história nossa... É incrível.
Vai lá: Laços
Autores: Vitor e Lu Cafaggi
80 páginas
Preço: R$ 29,90 (capa dura); R$ 19,90 (capa cartonada)
Editora: Panini Comics
www.paninicomics.com.br

PRIMAVERA TUPINIQUIM

Para quem está do lado de fora, parece ter acontecido de uma hora para a outra.
            De repente, um grupo de brasileiros se juntou a outro grupo de brasileiros – que por sua vez convocou outro grupo de brasileiros -, todos esses grupos formaram uma massa compacta de indignados e, para o nosso espanto, lá estava essa galera toda enfrentando a polícia, com sprays de pimenta espirrados em dezenas de rostos e balas de borracha machucando quem tinha e quem não tinha a ver com a “primavera tupiniquim”. Belo nome, não? Melhor do que “primavera do vinagre”.
            Mas é claro que não foi algo pensando em cima da hora. É claro que ninguém acordou numa bela manhã, se espreguiçou e disse, sem mais nem para quê: “Ponte que partiu! Hoje vou protestar contra o aumento de vinte centavos na passagem do ônibus”.
            Trata-se de um movimento pensado, arquitetado e projetado para desestabilizar os poderes constituídos vigentes, isso em plena ocorrência de um evento que, em tese, deveria ajudar este país a pelo menos sonhar com a sua transformação em um dos players internacionais. Pois a Copa das Confederações não está contribuindo. Porque a atenção da mídia foi desviada. Difícil pensar nas peripécias de Neymar, Luiz Gustavo e Dani Alves enquanto quase todo o país protesta por razões que acha as mais justas.
            Aqueles que protestam acharam por bem aceitar o suporte logístico de partidos considerados de “oposição”. Muitas imagens mostravam pessoas portando enormes faixas nas quais apareciam a sigla “PSTU”. Muito bem, em democracias que pretendem ser levadas a sério é legítimo o auxílio à população lutar pelos seus direitos – desde que ela aceite cumprir numa boa com seus deveres, como parte do quid pro quo constitucional. O que me incomoda nessa questão é a manipulação ideológica evidente do núcleo marginal que depredou na segunda-feira uma Assembleia Legislativa e feriu um grupo de policiais militares.
            Fico incomodado porque esse tipo de manifestação precisa ser pacífico. Não pode descambar para a violência, não pode propiciar a destruição de patrimônio, não deve tornar o país refém de uma rebeldia casuística, que não tem outro objetivo além de criminalizar um movimento que pode mesmo modificar os rumos deste país. Nada de radicalismos! Nada de fundamentalismos! A selvageria e a ignorância não devem representar aqueles que entregam flores brancas a policiais que, ao fim e ao cabo, tem como objetivo primordial garantir a ordem e o progresso – elementos basilares que tornaram nosso país uma das mais ordeiras do mundo. Por causa desses dois itens, não somos hostis às nações vizinhas do Mercosul e, acima de tudo, enviamos regularmente ajuda humanitária para o Haiti, devastado por um terremoto.
            Como disse a presidente Dilma Rousseff, a voz das ruas precisa ser ouvida. A voz que protesta contra o aumento da passagem, contra os gastos abusivos propiciados para a construção dos estádios da Copa do Mundo. Contra educação e saúde de má qualidade. Contra a mortalidade infantil. Contra a prostituição de crianças, cujos pais desesperados desejam não vê-las morrer de fome porque estão desempregados e só o Bolsa-Família não basta. Essas vozes não devem se calar. Essas vozes devem ecoar todos os dias, de agora em diante.
            Não posso concordar com o presidente da Fifa. Tampouco com o dirigente máximo da federação internacional de futebol. O esporte bretão não pode ficar acima dessa vontade popular legítima de modificar esta nação para melhor. E mais: a Copa das Confederações não é nada diante da luta contra mazelas como a corrupção.

            Esse tipo de arrogância insensata é que não pode ser tolerado.

domingo, junho 16, 2013

I'M NOT THERE

http://fotografia.blogspot.com.br/2013/05/i-not-there.html




AINDA GOSTAMOS DE FÓRMULA 1?

Quando eu era criança pequena, lá no Bairro de Fátima, tinha um monte de carros de corrida. Miniaturas de plástico compradas na feira ou em qualquer lojinha de variedades. De todas as cores e tamanhos. “McLarens”. “Ferraris”. “Bólidos” azuis e brancos que chamava taxativo de “Williams”.
Pois então. Na época, os resultados dos treinos oficiais dos sábados só eram divulgados no Jornal Nacional. Os âncoras variavam o tom conforme as conveniências: sorridentes quando anunciavam Ayrton Senna ou Nelson Piquet como poles; sérios feito parede de hospital quando o piloto mais competente pertencia a outra nacionalidade.
Depois dessas informações, eu enfileirava os carrinhos no piso de cerâmica da sala de acordo com um “grid de largada” altamente fantasioso e ali os deixava até a manhã de domingo – porque na minha concepção infantil as máquinas de verdade também passavam a noite um atrás do outro, nos mais diferentes circuitos que abrigavam o Circo da Velocidade.
Sempre gostei de Fórmula 1. Aprecio o automobilismo de forma geral, é claro. Desafio qualquer outra pessoa a ficar na frente da tevê em uma noite de sábado assistindo às 400 voltas de uma corrida da Nascar – categoria em que, a rigor, não há um só brasileiro. Mas minha “praia” mesmo é a principal categoria dos esportes a motor.
Mas não posso dizer o mesmo da maioria do público brasileiro. Cansei de ouvir o seguinte: “Ah, eu parei de ver essas corridas da morte de Senna”. Para mim, não passava de mera desculpa esfarrapada. Usar o falecimento do tricampeão como bode expiatório para uma inclinação que já existia era um golpe baixo e tanto.
Com o tempo, constatei que, de certa forma, essas pessoas expressavam um sentimento correto. Era Ayrton quem as ajudava a aturar 70 e tantas voltas de verdadeiras procissões de automóveis a 300 quilômetros por hora. Depois do seu desaparecimento, no fatídico GP de San Marino, o Brasil passou a frequentar pouco o lugar mais alto do pódio. Nosso hino não é mais executado nas cerimônias de premiação faz um bom tempo.
Hoje, ainda mais com a presença de apenas um brazuca no Circo da Velocidade (ainda que como piloto da Ferrari, o que é e sempre será um feito e tanto) o interesse do telespectador brasileiro pelos GPs reduziu-se drasticamente. Daqui a pouco, só assistirá às provas quem é realmente especialista nessa matéria.

Ainda gostamos de Fórmula 1, sim, mas não deixo de concordar com o blogueiro Erich Beting: “Logicamente que o interesse do público específico sempre vai existir. Mas a sensação que dá é a de que precisaremos de novos gênios nas pistas para voltar a fazer do evento mais valioso do automobilismo um produto realmente atrativo para o mercado brasileiro”.

Pornografia e blábláblá

http://www.revistaserrote.com.br/2013/06/pornografia-e-blablabla-por-slavoj-zizek/

por Slavoj Žižek

Slavoj Žižek
Minha ideia básica é que nossa época é uma época estranha. Por um lado, é superficialmente permissiva. Temos toda a pornografia que quisermos na internet, podemos participar de orgias, blábláblá. Mas, ao mesmo tempo, isso nem ao menos é um consumismo verdadeiro. Temos essa obsessão com sexo seguro, e por aí em diante. Se vocês querem saber, eu acho que os únicos consumistas que existem são os dependentes de drogas, aqueles que dizem “Foda-se, quero ir até o fim, pouco me importo”. Não, nosso consumismo não está morto. Trata-se de um consumismo bastante estratégico e calculista.
Não há um sujeito hindu [PranavMistry] em Cambridge que desenvolveu o “SixthSense” (SextoSentido)? Um mecanismo simples: você tem uma câmera, pequena, digital, na sua cabeça. Você tem uma espécie de projetor no peito, e ele está conectado à rede por meio de um celular no seu bolso, e isso funciona assim. A câmera identifica o objeto à sua frente. Como está conectado, o computador pode identificar o objeto. E então, no mesmo instante, a internet obtém os dados do objeto e os projeta sobre qualquer superfície plana. Você interage com um objeto real, mas ao mesmo tempo pode projetar nele todos os dados. E eu acho isso interessante porque o efeito é uma espécie de magia. Os objetos respondem, contando tudo a respeito deles.
Vocês podem imaginar a minha primeira reação: deve ser maravilhoso usar isso na sedução. Tudo bem, também funciona para as mulheres, mas, da minha perspectiva machista, eu olho para a mulher e isso é projetado nela. Ela gosta de sexo anal, gosta que lhe belisquem os seios, gosta dessa música, gosta daquilo. Você obtém dados instantâneos a respeito da garota. Isso é ideologia em seu sentido mais puro. E não é assim que estão estruturadas as nossas vidas reais? Digamos que você seja um racista antiárabes, antijudeus ou antinegros. Não é exatamente a mesma coisa que acontece quando você vê um sujeito árabe ou judeu ou negro? É como se você projetasse nele todo o seu implícito conhecimento racista. Você vê que ele é mau, um perigo para você, ou seja lá o que for, blablablá. Considero isso uma metáfora perfeita para a nossa ideologia espontânea.
A pornografia é o gênero mais censurado que se pode imaginar. Primeiro, a gente percebe como tudo é absolutamente controlado. Nos pornôs heterossexuais padrão, o que acontece? Primeiro, há alguma fantasia, masturbação, cunilíngua, felação, depois sexo total, então talvez uma orgia, coisa do tipo. Codificação total.
Mas o mais importante: discordo inteiramente de Laura Mulvey, a teórica de cinema, quando ela afirma que, na pornografia heterossexual, a mulher é reduzida ao objeto do olhar masculino. Nem pensar. Você já reparou como a mulher que está sendo fodida tem permissão para quebrar a regra básica dos filmes de ficção e olhar diretamente para a câmera? Os homens, não. Você não se identifica com o homem fodendo a mulher. Ele é um mero instrumento. Se você for um cara hétero observando um filme pornô, está buscando – e é a mulher quem lhe diz isso – alguma confirmação de que a mulher realmente gosta daquilo. O verdadeiro objeto é o pobre sujeito, em geral algum pobre marinheiro que a fode. Razão pela qual a mulher, como regra geral, precisa fazer todos aqueles ruídos o tempo todo.
O segundo aspecto da censura na pornografia eu percebi quando era jovem e vi os meus primeiros filmes pornográficos. Quando se trata de um pornô de longa metragem — tipo uma hora, uma hora e meia —, é claro que não é possível só ter foda o tempo todo, tem que haver uma história. E como a história é ridícula! É humilhante, de tão imbecil. Até hoje, isso me choca. Eu me lembro de um dos primeiros filmes: chega um bombeiro e conserta um buraco na cozinha. [E ela diz] “Mas eu tenho outro buraco aqui embaixo, você pode consertar esse também?” E aí eu pensei: Meu deus, não é possível que eles sejam tão idiotas! Isso é censura. A ideia é: ou você se identifica de todo [como nos filmes normais] e então não enxerga tudo isso, ou você enxerga isso tudo, todos os detalhes [nos pornôs], mas então a história precisa ser ridícula, para não ser levada a sério.
Hoje, a censura vai mais longe. Agora, a forma predominante de pornografia é a chamada “gonzo”, em que nem mesmo uma história é permitida. Gonzo, vocês sabem, é quando os atores encaram a câmera de frente [e dizem], “Eu estou fazendo direito, ou deveria fazer assim, ou assado?”. Sempre desconfiei da ideia de [Bertolt] Brecht de que o momento em que você é envolvido pela história é uma espécie de identificação emocional burguesa, e que a alienação, aliás, a externalização é uma coisa positiva. Não! Acho que a censura é exatamente isso.  O pior que pode acontecer é que a gente mergulhe mesmo na história. Isso é censura social espontânea. Mas é o que torna tudo ainda mais místico. Não há um censor direto, e todos os pornôs obedecem a essas regras.
Uma sedução, para ter êxito, precisa trazer implícito um momento de impotência e fracasso, no sentido de que, brincando, brincando, reconhecemos nossas limitações. A sedução nunca funciona à perfeição. As pessoas se enganam redondamente quando acham que devem se apresentar como perfeitas e blablablá.
Conversei com um conselheiro sexual que me disse que, quando se trata de um casal em que não se sabe se o fulano é impotente ou coisa que o valha, a pior coisa a fazer é mandar alguma besteira do tipo “Não pense no assunto, só faça, seja você mesmo!”. É assim que se mata um sujeito. E ele me disse que uma das maneiras de se fazer isso — e, segundo ele, funciona com casais — é aconselhar que se imite um procedimento burocrático puramente externalizado. Ou seja, você quer fazer amor, tudo bem, sente-se com a sua parceira e trace um plano stalinista. Primeiro (ela diz) os dedos, depois põe a mão no meu peito. Não (ele diz), aí não, põe o dedo na minha bunda. Você acaba completamente envolvido por essas negociações burocráticas. E então, na maioria das vezes, alguém diz: “Porra, por que é que a gente não trepa de uma vez? Vamos nessa”.

SLAVOJ ŽIŽEK (1949), nascido na Eslovênia, é filósofo e professor universitário. Influenciado por Hegel, Marx e Lacan, é autor de diversos livros, dentre eles Bem-vindo ao deserto do real!, A visão em paralaxe Em defesa das causas perdidas.

segunda-feira, junho 10, 2013

A Copa no Brasil, ou o fim da alegria do povo

Por José Geraldo Couto


Brasil 1 x 2 Uruguai (final da Copa de 1950)
As Copas do Mundo de futebol costumam ter, sobre os países que as sediam, um efeito que transcende em muito as quatro linhas do campo de jogo.
Basta pensar no mundial de 1978, na Argentina, vencido meio na marra pelos anfitriões e usado para intensificar o poder de uma das ditaduras mais sangrentas da história. Ou na Copa de 1998 na França, um caso oposto, em que o triunfo da multiétnica seleção de Zidane, Thuram e Djorkaeff serviu para silenciar, ao menos momentaneamente, a vociferação racista e xenófoba de Jean-Marie Le Pen e seus sequazes.
Nos países em que o futebol está impregnado no dia a dia dos cidadãos, as copas catalisam sentimentos, medos, desejos e expectativas que configuram uma espécie de “espírito do tempo”. Qual é o “espírito do tempo” no (ou do) Brasil às vésperas do segundo mundial em seu território?
Não tenho a pretensão de responder aqui a essa complicadíssima questão, mas talvez um cotejamento sumário com o que ocorria no país na época da primeira copa aqui sediada lance alguma luz sobre o assunto.
Euforia e trauma
Todos estão cansados de ouvir falar do “trauma de 50”. A “derrota incomparável”, o “silêncio ensurdecedor do Maracanã”, o “complexo de vira-lata” tornaram-se clichês mais ou menos intercambiáveis, numa constelação de signos nefastos.
Mas se houve um baque espetacular, uma depressão profunda e generalizada, é porque havia antes uma grande esperança, convertida em euforia antecipada às vésperas da grande final. Vale a pena dar uma espiada no que ocorria no Brasil em 1950.
O país vinha se modernizando e urbanizando intensamente nas últimas décadas. Para se ter uma ideia, a população de São Paulo quase quadruplicou entre 1920 e 1950, saltando de 580 mil habitantes para 2,2 milhões. Terminada a guerra – e a ditadura do Estado Novo –, o sentimento geral era de otimismo. O Brasil era o país do futuro, e o futuro estava logo ali. A construção do estádio do Maracanã – “o maior do mundo” – sintetizava essa crença de que, finalmente, entraríamos de cabeça erguida no tal concerto das nações, nem que fosse tocando pandeiro e tamborim.
Embriaguez patriótica
O entusiasmo nacional era galvanizado em campo por um time de primeira linha, com craques como Zizinho, Ademir de Menezes e Jair da Rosa Pinto. Já tínhamos encantado a Europa na copa anterior, de 1938, e agora tudo apontava para um triunfo retumbante, prenunciado pelas vitórias categóricas nas primeiras rodadas. A embriaguez patriótica atraiu ao Maracanã 200 mil pessoas – pouco menos de um décimo da população carioca na época –, sem contar as que não conseguiram entrar no estádio superlotado. O desfecho todos conhecem.
Corta para 2013 e a Copa das Confederações, antessala da segunda Copa do Mundo em solo brasileiro. Nas seis décadas cobertas por esse salto vertiginoso, o Brasil conquistou cinco títulos mundiais e se consolidou como “país do futebol”, com uma excelência reconhecida internacionalmente só comparável à da nossa música popular. O binômio que José Miguel Wisnik chamou de “tecnologia de ponta do ócio”.
Mais que isso: em seus momentos altos, o futebol brasileiro foi visto como uma encarnação das nossas melhores potencialidades, um sonho de país que dá “aos pés astúcia de mão”, como diz o verso de João Cabral, um lugar em que se harmonizam a eficiência e a fantasia, a criatividade individual e a solidariedade coletiva, o trabalho e o prazer, a guerra e a festa. Uma revanche do sensual, mestiço e dionisíaco hemisfério sul (do globo e do corpo humano) contra a supremacia do norte apolíneo, branco, cerebral, disciplinado.
Ainda que resista como horizonte utópico, essa imagem hoje está bastante obscurecida, ou no mínimo desfocada. Dentro de campo o escrete canarinho deixou há algum tempo de ser sinônimo de alegria e exuberância, tendo se igualado, em seu pragmatismo cauteloso, a inúmeros outros selecionados, sobretudo europeus. Em face do desempenho medíocre nas últimas competições internacionais, o Brasil caiu para um inacreditável 19º posto no ranking da FIFA, atrás de países como Equador, Suíça e Costa do Marfim, e mesmo jogando em casa não é propriamente favorito ao mundial do ano que vem.
Nenhuma surpresa, portanto, que o treinador escolhido para a seleção seja Luiz Felipe Scolari, técnico de inclinações primordialmente defensivas, para quem futebol bonito é “frescura para agradar jornalistas”, adepto de um estilo autoritário e paternalista de comando (a “família Scolari”). É claro que pesou muito, para a sua escolha, o fato de ter sido o treinador que conquistou nosso último título mundial. No Brasil, a força do pensamento sebastianista é mais forte do que normalmente se pensa.
Maracanã: reaberto com obras ainda inacabadas
Pátria da avacalhação
E fora de campo, como anda o ânimo dos brasileiros, e a articulação deste com a expectativa pré-Copa? Essa resposta só poderia ser dada por uma ampla pesquisa de opinião, mas alguns fatos são evidentes.
Primeiro: os atrasos, os superfaturamentos, as inaugurações politiqueiras de estádios inacabados, tudo isso parece confirmar os piores temores de quem se opunha à realização da Copa no país. As obras de infraestrutura de transporte urbano, comunicações, segurança etc. que ficariam como “legado” permanente para a população das cidades revelaram-se, como se temia, pouco mais que balela.
Mas, à medida que a Copa das Confederações e a Copa do Mundo se aproximam, parece que essas mazelas são vistas pela maioria como fato consumado, mera comprovação de que “é assim mesmo” no Brasil, “pátria da avacalhação e da impunidade”. Por isso, não causa mais espanto a ninguém que a CBF seja presidida por um homem com um passado de comprometimento com os setores mais tenebrosos da repressão política, sem falar nas fortes suspeitas de corrupção. Afinal, a própria FIFA é uma das entidades mais corruptas do mundo.
Tampouco causa maiores indignações o fato de os estádios serem construídos majoritariamente com dinheiro público para depois serem entregues à iniciativa privada, confirmando nosso pendor para privatizar os lucros e socializar os prejuízos.
Patriotismo compulsório
Sobre essa matéria amorfa de conformismo e resignação, a propaganda massiva, o otimismo forçado, o patriotismo compulsório imposto aos gritos pela mídia hegemônica parecem cair como uma chuva sobre um terreno impermeável, sem chegar a irrigá-lo. Nas ruas, nos bares e mesmo nos novos estádios onde se apresentam nossos craques, é difícil detectar algum entusiasmo genuíno. Pelo contrário: o que se vê é uma insatisfação difusa, caxirolas atiradas no gramado, vaias para os jogadores, gritos de “burro” para o treinador. (Mesmo a vitória em Porto Alegre sobre a fraca seleção da França representou mais uma trégua do que propriamente uma reversão desse quadro).
A caxirola e os estádios merecem comentários à parte, por concentrarem talvez sentidos mais amplos. A primeira, “inventada” por Carlinhos Brown, é um abastardamento industrial, modernoso,kitsch e antiecológico de um lindo artefato de origem africana, o caxixi, chocalho de som agradável e discreto. Como observou o músico Naná Vasconcelos, a diferença é que a caxirola pode ser usada para machucar. Ao que parece, o novo instrumento já foi abandonado. Não colou, a exemplo do esdrúxulo nome “Fuleco” escolhido arbitrariamente para o mascote da Copa.
Se essas novidades parecem concebidas em gabinetes distantes do Brasil real, os novos estádios (ou os velhos, radicalmente transformados) estão surgindo como objetos estranhos a sua paisagem física e humana. São “arenas” assépticas, de arquitetura imponente e visual vagamente futurista, que durante as duas Copas – e provavelmente também depois – serão inacessíveis ao torcedor popular. Como bem observou o jornalista e cineasta Eduardo Souza Lima, “o futebol começou como esporte de elite e está voltando a ser esporte de elite”.
Eis o paradoxo: num país que viveu, nos últimos anos, uma perceptível ascensão das camadas mais pobres e sua inclusão no mercado, o esporte mais popular se converte em diversão de endinheirados. Barrados na arquibancada e na geral que lhes deram os apelidos, os antigos “arquibaldos” e “geraldinos” verão os jogos da seleção – e possivelmente também os dos seus times – do sofá da sala, sob a voz onipresente de você sabe quem.
O risco a médio e longo prazo dessa bizarra tendência – que entretanto parece perfeitamente de acordo com os ditames da publicidade, da FIFA, da globalização e dos interesses políticos estabelecidos, tanto da situação como da oposição – é o esvaziamento do futebol brasileiro daquilo que era a sua seiva, a sua energia, a sua temperatura: a paixão do torcedor popular.
Caxirolas
* José Geraldo Couto é jornalista, tradutor e crítico de cinema.

quinta-feira, junho 06, 2013

20 MANEIRAS DE DETECTAR UM PSICOPATA

Foto: Stock.xchng/Creative Commons

Por Pablo Huerta.

Há uma frase que diz: “Não são todos os que estão, nem estão todos os que são”. Quer dizer que, nem todos os que estão em um hospital psiquiátrico são loucos e nem todos os loucos estão em um hospital psiquiátrico. Há psicopatas em todas as partes: dirigindo um transporte público, administrando uma empresa ou governando um país. Onde menos se espera pode haver alguém com uma psicopatia: um transtorno de personalidade antissocial . Claro que isso não significa necessariamente que essas pessoas sejam más, apenas não sentem empatia pelos outros nem remorso pelos seus atos. Eles vivem pelas suas próprias regras e só sentem culpa quando rompem com o seu código de conduta.
Para os psicopatas as pessoas são coisas, objetos que servem para satisfazer seus interesses. Se na sua programação não estiver machucar o outro, não o farão. E poderão viver em comunidade porque entendem os códigos sociais. Eles se adaptam. O terrível acontece quando eles não conseguem evitar de fazer o mal. Mas a maioria não comete crimes, ainda que não tenham vergonha de mentir, manipular ou machucar para conseguir o que têm em mente.
Quando cometem crimes, de um ponto de vista penal, como estão conscientes dos seus atos, são responsáveis. Mas, ao contrário de um réu normal, não existe a possibilidade de correção de sua conduta, assim a reabilitação é baseada em uma forma de vida que possa lhes trazer benefícios e evitar outros danos.
20 MANEIRAS DE DETECTAR UM PSICOPATA
Faceta interpessoal:
1. Eles têm uma boa oratória e charme. São simpáticos e conquistadores num primeiro momento.
2. Têm uma autoestima exagerada. Se acham melhores que os outros.
3. São mentirosos patológicos. Mentem principalmente para conseguir benefícios ou justificar suas condutas.
4. Têm comportamento manipulador. E, se forem inteligentes o bastante, os outros não perceberão esse comportamento psicopata.
Faceta afetiva:
5. Não sentem remorso ou culpa. Nunca ficam em dúvida.
6. Quanto à afetividade, são frios e calculistas. Não aceitam as emoções, mas conseguem simular sentimentos se for necessário.
7. Não sentem empatia. São indiferentes. E até podem manifestar crueldade.
8. Têm uma incapacidade patológica para assumir responsabilidade pelos seus atos. Não aceitam os seus erros. Eles raramente procuram ajuda psicológica, porque acham que o problema é sempre dos outros.
Faceta estilo de vida:
9. Necessitam de estímulo constante. Ficam aborrecidos facilmente.
10. Gostam de um estilo de vida parasitário.
11. Agem descontroladamente.
12. Não têm metas a longo prazo. Vivem como nômades, sem direção.
13. Eles se comportam impulsivamente. Com ações recorrentes que não são premeditadas. Junto com a falta de compreensão das consequências de suas ações.
14. São irresponsáveis.
Faceta antissocial:
15. Tendem a ser deliquentes na juventude.
16. Demonstram problemas de conduta desde a infância.
17. Tiveram a revogação de sua liberdade condicional.
18. Eles têm versatilidade para a ação criminal. Eles preferem golpes e delitos que requerem a manipulação de outros.
Outros não incluídos em nenhuma das facetas:
19. Têm tendência a uma vida sexual promíscua, com vários relacionamentos breves e ao mesmo tempo. Gostam de falar sobre suas conquistas e proezas sexuais.
20. Acumulam muitos casamentos de curta duração. Não se comprometem por muito tempo por ter que manter um vínculo.
Estes items formam o método popular chamado de PCL (Psychopathy Checklist) desenvolvido por Robert Hare, PhD em Psicologia e professor da Universidade de British Columbia no Canadá. Cada atributo recebe uma pontuação de zero a dois, e para o diagnóstico correto se adiciona uma entrevista semiestruturada e a análise do histórico do paciente. Segundo Hare, um por cento da população é psicopata.
Pode acontecer mesmo em uma idade precoce. Segundo o psiquiatra forense John MacDonald há uma tríade que poderia indicar uma futura personalidade psicopática: crueldade com animais, piromania e a incontinência urinária persistente depois dos quatro ou cinco anos de idade.
Na sociedade já ficou instituído, graças a Hollywood, a ideia de que todos os psicopatas são como Hannibal Lecter ou Dexter, encantadores, com certeza. Mas é claro que não é preciso esquartejar alguém para ser louco. Assim, é melhor estar ciente das pessoas ao seu redor. Que não esteja sendo vítima de uma manipulação enlouquecida e ainda não ter se dado conta.

quarta-feira, junho 05, 2013

Imaginação

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antoniodelfim/2013/06/1289941-imaginacao.shtml

05/06/2013 - 03h30

Os economistas são animais imaginosos. Criam, sem nenhum constrangimento ou remorso, entidades nebulosas como o produto "potencial", a taxa de juro "neutra" ou a taxa de desemprego de "equilíbrio", cuja determinação concreta é mais elusiva do que foi o neutrino.
Postulado pelo grande físico Wolfgang Pauli, acabou sendo depois detectado. Só que Pauli, mais modesto do que os economistas, mostrou grave arrependimento quando confessou: "Fiz uma coisa terrível. Postulei a existência de uma partícula que não pode ser detectada".

Felizmente, ele estava ligeiramente errado como se mostrou. Terão os economistas, mais arrogantes do que Pauli, a mesma sorte? Meus botões têm sérias dúvidas.
É preciso o máximo de cuidado com as consequências inevitáveis do uso de noções nebulosas na política econômica. Agora mesmo sugere-se, como aperfeiçoamento da política fiscal, a utilização de um Orçamento "ciclicamente ajustado", que permitiria avaliar melhor se os gastos do governo expandem ou contraem a demanda global.

Como o exercício exige o conhecimento do produto "potencial", cuja determinação é altamente duvidosa e manipulável, em lugar de um avanço "científico" da política fiscal talvez estejamos criando espaço para uma política fiscal ainda mais discricionária do que a atual.

Essa pequena consideração é reforçada pelo movimento crescente de alguns membros do Congresso Nacional que desejam instituir um Orçamento "impositivo", por meio do qual o Executivo não poderia deixar de liberar as suas emendas. É preciso reconhecer que as "vinculações", que são a forma mais ineficiente de administrar uma sociedade dinâmica e cujas necessidades mudam permanentemente, já são quase 90% das dotações orçamentárias. É inegável que isso contribuiria para a autonomia do Poder Legislativo.

Quem sabe como se manipula a proposta orçamentária do Executivo na Comissão Mista do Orçamento do Congresso Nacional não pode deixar de preocupar-se, porque esse pode ser mais um passo importante na direção do desarranjo fiscal.

No fundo, a receita estimada pelo Executivo vai sendo ajustada para incorporar as emendas. E a aprovação final do Orçamento depende das chantagens feitas na 25ª hora do último dia do expediente legislativo. O resultado é, em geral, uma peça inservível para a administração pública.

As duas ideias não parecem, portanto, merecer o apoio da sociedade brasileira. Aliás, elas têm sinais contrários: a primeira pretende dar maior discricionariedade ao Poder Executivo; a segunda, retirar a que lhe resta...

ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
Antonio Delfim Netto
Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade de São Paulo. Escreve às quartas-feiras na versão impressa da Página A2.