quarta-feira, dezembro 07, 2011

Jane Austen pode ter morrido intoxicada com arsênico


ALISON FLOOD
DO "GUARDIAN"

Quase 200 anos após a morte de Jane Austen (foto) (1775-1817), a morte precoce da escritora, com apenas 41 anos, já foi atribuída a muitas coisas, desde câncer até a doença de Addison.

Agora a investigação de uma escritora de romances policiais trouxe à tona uma nova possibilidade: intoxicação com arsênico.

A escritora Lindsay Ashford mudou-se há três anos para o vilarejo de Chawton, onde Jane Austen viveu, e começou a escrever seu novo romance policial na biblioteca de Chawton House, a antiga residência de Edward, o irmão de Jane Austen.

Ela não demorou a mergulhar na leitura de volumes antigos de cartas de Jane Austen, e, certa manhã, notou uma fase escrita por Austen poucos meses antes de morrer: "Estou consideravelmente melhor agora e estou recuperando um pouco minha aparência, que anda bastante ruim, preta, branca e de todas as cores erradas".

Já tendo pesquisado venenos e técnicas forenses modernas para seus próprios livros, Ashford imediatamente entendeu que os sintomas poderiam ser atribuídos à intoxicação por arsênico, que pode provocar uma pigmentação do tipo "gotas de chuva", em que partes da pele ficam marrons ou negras, enquanto outras embranquecem.

Pouco depois disso, Ashford encontrou a antiga presidente da Sociedade Jane Austen da América do Norte, que lhe contou que uma mecha de cabelo de Austen exposta em um museu próximo tinha sido testada para verificar a presença de arsênico, a pedido do casal americano já falecido que a comprara em leilão em 1948, e que o resultado tinha sido positivo.

Ashford diz que a intoxicação crônica por arsênico causa todos os sintomas dos quais Jane Austen escreveu em suas cartas, diferentemente de outras hipóteses já aventadas para explicar sua morte, desde a doença de Addison até a doença de Hodgkin, um tipo de câncer, e o lúpus, uma doença autoimune.

O arsênico era fácil de ser obtido na época, sendo distribuído sob a forma da Solução de Fowler, usada para tratar desde o reumatismo --algo de que Austen se queixava em suas cartas-- até a sífilis.

"Depois das pesquisas que fiz, acho muito provável que Austen tenha recebido um remédio contendo arsênico. Quando você olha a lista de sintomas dela e a compara com a lista de sintomas de arsênico, a correlação é surpreendente", disse Ashford ao "Guardian".

"Estou surpresa por ninguém ter pensado nisso antes, mas acho que as pessoas não se dão conta de frequência em que o arsênico era usado como remédio. Eu, como autora de ficção policial, já pesquisei muito sobre o arsênico. Acho que foi pura sorte o fato de alguém como eu ter lido as cartas de Jane Austen com um olhar muito diferente daquele que a maioria das pessoas lança sobre ela. É pura sorte o fato de eu possuir esse conhecimento, que a maioria dos especialistas em Austen não tem."

Embora Ashford pense que, com base em seus sintomas e no fato de o arsênico ser amplamente usado na época, é "altamente provável" que Jane Austen sofresse de intoxicação por arsênico, que lhe teria sido prescrito por um médico para curar outra doença, em seu novo romance, "The Mysterious Death of Miss Austen", ela explora a possibilidade de a famosa romancista ter sido assassinada com arsênico.

"Acho que o assassinato não está descartado", disse ela. "Tendo mergulhado no pano de fundo familiar de Austen, sei que havia muita coisa acontecendo que nunca foi revelado, e pode ter havido motivação para um homicídio. No início do século 19, muitas pessoas se safavam de assassinatos que cometiam com arsênico, porque foi apenas quando foi desenvolvido o teste de Marsh, em 1836, que passou a ser possível analisar restos mortais para averiguar a presença de arsênico."

A professora Janet Todd, editora da edição Cambridge da obra de Jane Austen, disse que a hipótese de homicídio é implausível. "Acho extremamente improvável que ela tenha sido envenenada intencionalmente. Mas, que ela tenha usado arsênico para tratar seu reumatismo, isso é bastante provável", disse Todd. "É estranho, sem dúvida, que ela tenha morrido tão jovem. Mas, tirando a possibilidade de exumar seus restos mortais e descobrir, algo que não seria apreciado, ninguém saberá de que ela morreu."

Ashford gostaria de ver os restos de Jane Austen serem exumados para ser submetidos a uma análise forense moderna, mas reconhece que dificilmente isso vai acontecer. "Posso entender muito bem que as pessoas se sentiriam ultrajadas com essa ideia", ponderou.

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