quarta-feira, outubro 01, 2008

Sai esse mês o 1º romance de Amores Expressos

Sai do forno, esse mês, o primeiro livro da coleção Amores Expressos - o projeto criado pelo produtor Rodrigo Teixeira, polêmico por ter levado dezessete escritores brasileiros, cada um para uma cidade do mundo – Cairo, Lisboa, Bombaim, Paris, Sydney, Havana, entre outras, para escrever uma história de amor. “Investi do bolso, levei quem eu quis”. Ponto pacífico.
Um deles foi Daniel Galera, gaúcho, 29 anos, que foi para Buenos Aires, e agora, quem lança sua prosa ficcional, “Cordilheira”, pela Companhia das Letras. O Repique conversa com o autor para saber mais:
Conta um pouco sobre o seu novo livro, o “Cordilheira”.
"Cordilheira" é um romance protagonizado por uma moça de 27 anoschamada Anita. Ela vai a Buenos Aires lançar a tradução argentina deseu livro e decide ficar um tempo lá para fugir da vida em São Paulo,recentemente marcada por uma separação, pelo suicídio de uma amiga e por um desejo de ser mãe que é mal-recebido por todos que a cercam.Logo ela começa a ser abordada por um leitor e se envolve com ele ecom seus estranhos amigos. O livro é quase todo narrado em primeirapessoa por Anita.
O que mais te inspirou em Buenos Aires?
Eu não diria que Buenos Aires me inspirou muito. Minha relação com a cidade foi mais instrumental. Eu já tinha uma idéia e usei Buenos Aires como cenário, como fonte de cor e detalhes para uma história que já vinha desenvolvendo na cabeça havia algum tempo. Não foi a viagemque me ofereceu a idéia, mas ela foi essencial como exílio e referência para que eu desenvolvesse a trama e os personagens.
No que evoluiu esse romance de outros seus?
É um livro bem diferente dos outros que já publiquei, não apenas pelascaracterísticas da narradora, mas por ter um estilo mais solto que o "Mãos de Cavalo", por exemplo, e se permitir algumas brincadeiras ereferências metaliterárias - apesar de ser uma história triste, foi umlivro que me diverti fazendo.
Como é seu processo criativo?
Não existe padrão. O "Até o dia em que o cão morreu" eu escrevi nuns quatro meses, e tive a idéia pouco tempo antes de começar. O "Mãos deCavalo" levou dois anos para ser escrito e foi pensado por no mínimoum ano antes disso, mas ele tem algumas idéias, personagens e cenasque lembro de carregar na imaginação desde meus oito ou dez anos deidade, em alguns casos. É resultado de um longo período de idéiasacumuladas. O "Cordilheira" partiu de uma idéia que tive logo depois de publicar o "Mãos", em 2006, e quando fui a Buenos Aires já na mente tinha o esboço inicial do que o romance seria. Quando começo a escrever um romance, em geral já tenho uma boa idéia do que se trata, ainda que muita coisa mude radicalmente no decorrer do processo. Em geral faço três ou quatro versões do livro antes de chegar na final, contando com a opinião de alguns leitores de confiança e dos editores nessa última etapa.
É seu primeiro romance com o personagem central feminino? Como foi se colocar nesse viés?
Já tinha escrito alguns contos com mulheres como narradoras, e emgeral tive boa recepção nesses casos. Fazer um romance narrado por uma mulher foi um desafio bem maior. No início travei um pouco, pois fiquei preocupado demais em manter a autenticidade a qualquer custo, mas logo percebi que era um engano. Em primeiro lugar, porque seria ridículo supor que um homem pode escrever como uma mulher. Em segundo, porque no fundo, em termos literários, não há diferença tão abismal entre uma voz masculina e uma feminina. É só questão de conseguir se colocar um pouco no lugar da personagem, coisa que também se precisa fazer com um narrador masculino. Quando optei por essa abordagem mais solta, o livro fluiu. Para mim, escrever bem está diretamente vinculado a ser capaz de se colocar no lugar dos outros, homens ou mulheres, e este é um exercício ao qual me sinto condenado desde sempre.
Por que você está morando em Santa Catarina?
Eu queria poder nadar no mar todo dia.
Você traduz escritores ingleses. Quais são seus prediletos?
Traduzo autores de língua inglesa em geral. Dos que traduzi, minhafavorita talvez seja a Zadie Smith, e também o Irvine Welsh (que traduzi em dupla com Daniel Pellizzari) e o Robert Crumb. A Zadie escreve romanções à moda antiga com temática contemporânea, retrato danova sociedade multiétnica dos EUA e Inglaterra, com todo o sincretismo cultural etc. Costuma se dar bem, é muito talentosa.Traduzi o "Sobre a beleza", mas o livro dela que mais gosto é "O caçador de autógrafos", justamente o que foi mais malhado pela crítica mundial. Agora estou traduzindo por passatempo um romance do Cormac McCarthy que nenhuma editora quer publicar, o "Suttree". Faço uma página por dia. Em dois ou três anos devo terminar uma primeira versão da tradução.
Você acha a Língua Inglesa mais bem resolvida que a Língua Portuguesa?
Só prefiro o inglês na música, por uma questão rítmica. Pra me xpressar, o português dá e sobra.

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