sexta-feira, outubro 09, 2009

Vitória de Herta Müller no Nobel de Literatura dá impulso para uma nova Europa Central

DER SPIEGEL

Ulrich Baron

A voz de Herta Müller é uma voz política que também é capaz de cantar poeticamente. Os seus textos unem as grandes virtudes da literatura. O seu trabalho clama por uma justiça que desconhece quaisquer fronteiras. Conceder a ela o Prêmio Nobel foi uma atitude correta e importante.

Todos os anos o Prêmio Nobel de Literatura é uma fonte de surpresas. O deste ano provocou um choque? Não, a escolha do comitê não chegou a ser uma surpresa. De editores a críticos, a maioria acredita que Herta Müller era uma boa candidata ao prêmio. De fato, graças ao seu mais recente romance, "Atemschaukel" (o título da tradução em inglês é "Everything I Have I Carry with Me", ou "Tudo o que Tenho, Levo Comigo"), ela está também cotada para receber o /Deutscher Buchpreis/ (Prêmio Livro Alemão) de 2009, que será concedido na semana que vem na Feira do Livro de Frankfurt

De fato, parece que neste ano o debate anual sobre o mérito do vencedor do Prêmio Nobel de Literatura não ocorrerá. Em vez disso, os analistas voltarão o foco para a própria vencedora. Müller nasceu em 17 de agosto de 1953, em Banat, uma região no oeste da Romênia. A região é habitada por um grande número de alemães - de fato, a língua nativa de Müller era ao mesmo tempo o alemão e o idioma de uma minoria étnica.

Müller só aprendeu a falar romeno aos 15 anos de idade. O seu primeiro livro, publicado em inglês sob o título "Nadirs", foi altamente censurado pelas autoridades comunistas o ser lançado em Bucareste em 1982. Uma versão não censurada foi lançada na Alemanha em 1984. Ela ganhava a vida como professora particular de alemão.

Não demorou muito, no entanto, para que o serviço secreto romeno se tornasse intolerável e, em 1985, ela pediu autorização para deixar o país. Desde então, a não ser por alguns breves períodos passados como "escritora residente" em várias universidades na Europa e nos Estados Unidos, ela mora na Alemanha.

Entretanto, a língua de Müller é diferente - e não só porque ela veio de um enclave germânico que passou séculos desenvolvendo o seu próprio dialeto do alemão. O que ocorre e que a sua língua é ousada e direta, como se ela estivesse obcecada por usá-la de forma um pouco diferente da convencional.

Escrevendo contra o terror
A obra em prosa que ela escreveu em Berlim Ocidental, "/Reisende auf einem Bein" /("Viajando em uma Perna Só"), descreve a saída de um país chamado lar e a chegada em outro. Müller faz com que o leitor se defronte com o mundo estranho do regime de Ceausescu, mas também com a alienação na sua própria vida.

A vida sob o regime totalitário foi também um tema central do seu livro, "/Der Fuchs war damals schon der Jäger/" ("Já Naquela Época a Raposa Era uma Caçadora"), de 1992, "/Herztier/ " (traduzido para o inglês como "The Land of the Green Plums" ou "A Terra das Ameixas Verdes"), de 1995, e "/Heute wär ich mir lieber nicht begegnet/" (traduzido para o inglês como " The Appointment", ou "O Encontro"), de 1997. Ela escreveu a respeito do período que se seguiu às suas experiências romenas em "/Hunger und Seide/" ("Fome e Seda"), de 1995.

Com "/Im Haarknoten wohnt eine Dame/" ("Uma Dama Mora no Nó do Cabelo"), de 2000, Herta Müller coleta material para um álbum teimoso de poesia, que parte dos pontos de menos destaque da vida, com rimas e versos rítmicos infantis.

Nenhum comentário: