sábado, maio 02, 2009

Debate pertinente

Não canso de repetir: graças a meus pais tive acesso a uma formação cultural que considero relevante - em se tratando de ter nascido e continuar a viver (nenhuma queixa nessa afirmação, muito pelo contrário) em um país marcado pela corrupção e pelo analfabetismo.

Essa formação cultural acabou produzindo em mim aquilo que Josué Montello chamou de “a inquietação da leitura”. Estou sempre lendo. Dia sim, dia também. Agora, estou às voltas com A estrada do futuro, escrito por William Henry Gates III (Bill Gates) no para mim quase longínquo 1995 - quando eu ainda fazia o bom e velho segundo grau do Colégio Meng.

Para quem não sabe - meia dúzia de três ou quatro -, Bill Gates é só o homem mais rico do mundo. Hoje, sua fortuna pessoal transita na casa dos 40 bilhões de dólares. Na época em que lançou A estrada, seu patrimônio já era de 12 bilhões. Então, do alto de sua posição mais-do-que-confortável, Gates previu em seu livro a morte do documento impresso.

“Na estrada da informação”, afirma, “elaborados documentos eletrônicos poderão fazer coisas que nenhum pedaço de papel pode. A poderosa tecnologia de banco de dados da estrada permitirá que eles sejam indexados e lidos por meio da exploração interativa. Será extremamente barato e fácil distribuí-los. Em resumo, esses novos documentos digitais substituirão muitos dos documentos impressos em papel porque eles poderão nos ajudar de novas maneiras”.

Todavia, ele não é, de todo, pessimista. “Mas ainda levará um bom tempo”, reconhece, “para que isso aconteça. O livro, revista ou jornal de papel ainda têm muitas vantagens sobre suas contrapartes digitais. Para ler um documento digital você precisa de um aparelho de informação, como um microcomputador, por exemplo”.

Hoje (escrevo no domingo, 26 de abril de 2009), encontrei na internet um artigo de Umberto Eco. Além de fantástico mestre de obras de arte como O nome da rosa e O pêndulo de Foucault, Eco é professor de semiótica e crítico literário. Em outras: ninguém melhor para destrinchar o tema levantado há 14 anos por Bill Gates.

No segundo parágrafo do texto - o título é “Sobre a efemeridade das mídias” - Umberto Eco nos diz que “há muito tempo se realizam congressos e se estudam meios diferentes para salvar todos os livros que abarrotam nossas bibliotecas: um dos que têm maior êxito (mas quase impossível de realizar para todos os livros existentes) é escanear todas as páginas e copiá-las para um suporte eletrônico”.

E prossegue: “Mesmo tendo gravado em meu computador todo o Quixote, não o poderia ler à luz de uma vela, em uma rede, em um barco, na banheira, enquanto um livro me permite fazê-lo nas piores condições".

O debate é pertinente. Desde o início da “Era da Informação” (primeiro com o advento do primeiro computador, o Eniac, até os primórdios da internet), homens e mulheres extremamente inteligentes trabalham de forma a facilitar algumas atividades cotidianas. No entanto, a grande dificuldade imposta no momento da substituição do livro impresso pelo digital está neste simples detalhe: as disparidades culturais, sociais e econômicas apresentadas pelas nações. Enquanto isso, o documento impresso mantém seu lugar de destaque, justamente porque podemos acessá-los com muito mais facilidade - no momento de uma dessas corriqueiras panes eletrônicas.

2 comentários:

José Neres disse...

Gostei do artigo, Ney. Um abraço!

Gladson Fabiano disse...

O.O
Acabo de ser vítima da parasitologia digital e me deparo com esse texto!
madrugada de 3 de maio de 2009, a internet me deu um belo "Tchau", (acredito que problemas com a OI), sabe o que fiz? Desliguei o PC, (pois já foi tempo que computadores chamavam atenção sem internet) e fui ler crônicas de Veríssimo! Bom, é difícil viver sem internet, mas desculpe-me o Green Peace, pior ainda sem o papel para folear! e imagina sem um Veríssimo para ler!
Bom, artigo Ney, saudades companheiro das letras!