quinta-feira, setembro 03, 2009

Entrevista com Viola

DOIS TOQUES,

POR BRUNO BRAZ

Amigos,

Após diversas tentativas, enfim, consegui uma entrevista com um dos artilheiros mais polêmicos e irreverentes que o Brasil já teve. Falo de Viola. O atacante com passagens marcantes por Corinthians, Palmeiras, Vasco, Santos, entre outros.

Como não poderia deixar de ser, nesse bate-papo ele revela casos curiosos de sua carreira e demonstra que a língua continua afiada. Confiram:

BRUNO BRAZ: Poucos jogadores como você iniciaram uma carreira de forma tão brilhante, marcando um gol de título (na final do Campeonato Paulista de 88, entre Guarani e Corinthians). Como foi isso para você?

VIOLA: Essa história estava escrita e continua escrita até hoje. Foi uma coisa divina porque entrar num time daquele onde só tinha fera e fazer o gol do título não é para qualquer um. Não poderia ser outro para fazer aquele gol. Um pouco antes do jogo eu já tinha sonhado que faria o gol. Muitos falaram que foi gol de canela, mas esse gol de canela fez com que eu desse um título inédito. Sou feliz até hoje porque o início da minha carreira foi brilhante.

BRAZ: No Corinthians você atingiu seu auge. Como é sua identificação com o Timão?

VIOLA: A identificação é boa. Fui nascido e criado no Parque São Jorge. Sempre procurei honrar essas cores que eu vesti durante muitos anos. Sou um grande ídolo do Corinthians ainda.

BRAZ: Teve um caso em que você foi barrado na portaria do Corinthians e isso te deixou magoado. Você pode contar como foi isso?

VIOLA: Na verdade, o Corinthians é uma equipe do povo. Eu tenho uma história dentro do Corinthians. As pessoas que conduzem o Corinthians hoje em dia, tem que ter a humildade porque antes não eram nada. Antes estavam ali com a gente na camaradagem e hoje estão no poder. É aquela história: quando se dá poder ao homem errado, aí, sim, você fica sabendo como é esse homem. A história foi a seguinte: eu cheguei da Espanha para levar uns convites de uma festa para os seguranças e toda aquela rapaziada das internas e não pude entrar. Disseram que eu teria que falar com uma pessoa para ter a autorização e coisa e tal. Desde esse episódio até hoje não entrei mais no clube. Não conheço o Memorial, não sei o que foi feito depois.

BRAZ: Você também ficou marcado pelas comemorações exóticas. Você se considera o precursor nisso?

VIOLA: Eu fico feliz de ver hoje em dia alguns jogadores comemorando dessa forma, embora hoje eles estejam mais conservadores, pensando muito para falar, eles não querem ser, entre aspas, o chamado bad boy, estão muito comportados e muito deles não jogam nada. O próprio empresário os instrui dizendo que o comportamento correto vai fazer bem para ele ir para a Europa. Esse pensamento nunca foi nosso, dos jogadores mais antigos. Fico feliz de alguns fazerem as coreografias. Eu fiz essa escola. E quando eu lancei era uma novidade, era notícia não só no Brasil mas também no mundo.

BRAZ: Você acha então que o futebol hoje está muito sem graça? Sem muita polêmica?

VIOLA: Eu, particularmente, acho que o futebol caiu muito até em função disso. A gente criava a polêmica mas resolvia dentro da partida. Hoje você não vê isso. Nós faziamos apostas e depois acabávamos ajudando instituições. Hoje você vê um monte de bundão que não faz nada para ninguém. No nosso tempo nós fazíamos a provocação mas depois arrecadávamos 100, 200 cestas básicas.

BRAZ: E essa história de que a Seleção só foi tetra por sua causa? Você falou umas besteiras no ouvido do Roberto Baggio antes dele fazer a cobrança?

VIOLA: Brasileiro é tudo malandro. Além de ser paulista, eu tenho um estilo carioca, sempre fui irreverente, marrento, no bom sentido, gosto de uma praia, de um churrasco, e não levo desaforo para casa de ninguém. Naquele momento eu tinha que agitar, ali era um sonho meu. Eu já tinha acabado com a carreira do Baresi depois daqueles três comes que eu dei e que entortaram a coluna dele, depois veio o Baggio para fazer a cobrança com aquele cabelinho, aquele jeitinho...aí você viu, né? Tive que dar aquela desconcentrada. Muitos dizem que o tetra foi do Romário. O tetra não foi do Romário, foi do Viola e do Romário.

BRAZ: Você sempre fala dessa sua relação com o Rio e, aproveitando esse ocasião, te pergunto: como um bom carioca, você curte um bom samba? Cai no funk também? Ou curte mais um hip-hop? Você faz um estilão meio Racionais Mc's...

VIOLA: Eu gosto deles. Eu sou amigo dos caras, mas o que eu gosto mesmo é de um pancadão. O que eu gosto é do Rio de Janeiro. Falam mal do funk do Rio, mas o Rio é inteligência, é vida, é geração saúde. Muitos que falam mal têm inveja do Rio. Me considero um carioca.

BRAZ: Sua passagem pelo Vasco também foi muito marcante e a torcida se identificou muito contigo. Como foi essa sua relação com o Cruzmaltino?

VIOLA: Falar de Vasco eu até fico emocionado, foi um clube que eu passei a gostar. E isso não é de agora, quando joguei no Duque de Caxias e a torcida me aplaudiu em São Januário, foi desde quando eu cheguei no Rio e fui muito bem recebido, não só pelos vascaínos, mas por todo o povo carioca. Eu amo o Rio de Janeiro. Eu tenho uma identificação pelo Vasco muito grande, embora eu tenho algo a receber, mas eu nunca misturei as coisas. Uma hora esse dinheiro vai vir, mas são coisas separadas. Tenho um carinho enorme pela torcida e, aliás, vou até fazer uma proposta para o Dinamite: quer gol? Contrate o Viola.

BRAZ: Recentemente você se envolveu em uma polêmica com o seu técnico (Negreiros) do Santos no showball. Você se arrepende do que disse sobre ele?

VIOLA: De maneira alguma. O Viola nunca se arrepende do que fala e é sempre muito coerente. Aquele treinador é um burro, um baita de um idiota. Nunca jogou no Santos, era reserva do reserva. Ele é um babaca. Queria colocar o Viola no banco. Não sabe nada de futebol. Não teve o Viola numa final de competição e acabou perdendo o título para o Flamengo. Showbol não existe treinador. Aquilo ali é para você rever os amigos do futebol, dar espetáculo, e ele queria aparecer. Queria sair dali e treinar um Flamengo, um Corinthians, um Vasco, um Palmeiras, só que não tem capacidade nem de treinar a sua própria vida. Ele queria aparecer e dar show, só que o único gordinho que dá show é o Ronaldo.

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