terça-feira, novembro 10, 2009

Barris de pólvora

Como se sabe, aqui em São Luís nós temos um sério problema com o sistema de transporte coletivo.
Nove entre dez ludovicenses sem dúvida alguma já passaram pela triste experiência de descer de um ônibus que ficou pelo caminho em razão de defeitos mecânicos. Na verdade, deveria ter colocado “dez entre dez”, mas tenho uma até certo ponto perigosa tendência para as concessões.
Querem mais uma situação capaz de tirar qualquer um do sério? Levante a mão quem já passou por isso: um ônibus aproxima-se da parada em que você se encontra e, mesmo não estando lotado, não atende ao gesto tradicional e passa direto. Nesse caso, se alguém tomar para si o trabalho de questionar o motorista, ele muito provavelmente terá apenas uma palavra como resposta-desculpa padrão: horário.
Outra: não se deixem enganar pelo número de coletivos que transitam, por exemplo, pela Praça Deodoro. São dezenas, surgindo um depois do outro - dependendo do horário, a fim de conduzir os ludovicenses (ou aqueles que sem mais o que fazer visitam nossa Ilha) para o trabalho ou de volta para casa depois de mais uma jornada cansativa. As aparências enganam - e revoltam.
Na verdade, o número de ônibus em circulação é muito menor do que se imagina. Até onde sei - e naturalmente espero ser corrigido -, São Luís conta com cerca de 900 anos. Muito pouco para uma cidade com mais de um milhão de habitantes (não importa o que digam o IBGE e Luís Fernando Silva).
Nós, os simples, sofremos na pele com essa quantidade risível de coletivos. Aqueles que, por alguma causa, motivo, razão e circunstância acharam por bem residir na Cidade Operária merecem um lugar especial no paraíso, por terem enfrentado e conseguido sobreviver a provações diárias.
É uma aventura nada auspiciosa. Quem acorda entre cinco e meia e seis horas da manhã levanta da cama sabendo que muito em breve travará dois combates que não lhe trarão glória nenhuma, caso tenha sucesso. O primeiro: conseguir entrar em uma dessas latas de sardinha ambulantes. O segundo: disputar, geralmente com algumas cotoveladas aqui e ali, qualquer espaço que lhe garanta uma viagem com um mínimo de conforto. Mas bem mínimo mesmo, porque as tribulações são muitas. Para deixar em apenas uma: os constantes entreveros entre passageiros, motoristas e cobradores. O que acaba transformando um ônibus em um barril de pólvora.
Mas por trabalhar em um jornal, é preciso que aqui haja o necessário contraditório. Os funcionários das empresas de transporte coletivo não são os culpados pela atual crise no setor (veja só, Érica, aprendi a lição: pesquei um pouco do jargão de economia). Os responsáveis, naturalmente, são seus patrões. Estes homens que, em sua egocêntrica teimosia, não renovam a frota e, confrontados com cobranças nesse sentido, ameaçam com demissões e a possibilidade de aumento nas passagens.
Motoristas e cobradores, no máximo, reagem mal às condições adversas nas quais se encontram. Ou você aceitaria numa boa trocar de lugar com um deles e passar a trabalhar com medo de seqüestros ou assaltos?
Como sou otimista, espero que a situação do transporte coletivo melhore o mais rápido possível. Caso contrário, as cenas lamentáveis ocorridas no Terminal da Cohama na segunda-feira (9) serão cada vez mais comuns. Doa em quem doer.

Nenhum comentário: