Não sei se foi em “O Estado”, no
fim de outubro, que li a respeito de Astronauta
– Magnetar, de Danilo Beyruth. Pareceu-me interessante a proposta de
releitura de um dos personagens mais fascinantes de Mauricio de Sousa – da visão
que muitas crianças têm a respeito do espaço sideral a um ponto de vista mais
“adulto”, por assim dizer. Mais voltado para os leitores na faixa etária dos 20
anos em diante.
Esperei
a graphic chegar às bancas daqui.
Quando isso aconteceu e pude ter a revista em mãos, de imediato pipocaram nas
minhas recordações duas ótimas histórias do Astronauta, uma relacionada à
outra.
Na
primeira, o cosmonauta retorna à Fazenda Tangará, no interior de São Paulo,
ansioso para rever os amigos, a família e, principalmente, o grande amor de sua
vida. Mas ele não consegue encontrar Ritinha em lugar algum e o pessoal da
fazenda se mostra reticente quanto a onde a moça poderia estar. As perguntas
insistentes do Astronauta acabam vencendo essa resistência, e o coitado acaba
recebendo a má notícia: a sua amada idolatrada casara-se com Bonifácio, um dos
melhores amigos do herói.
O
aventureiro das galáxias finge aceitar numa boa o enlace. Acata as
justificativas de Rita, segundo as quais estava cansada de esperar indefinidamente
pelo retorno dele dos rincões mais distantes do universo. E no fim da história
entra em sua famosa nave redonda e volta para as suas peripécias interestelares
com o coração, naturalmente, partido sem chances de conserto.
A
segunda história é uma espécie de continuação da primeira. Com seu casamento
com Bonifácio devidamente consolidado e depois de dar à luz um menino, Ritinha
visita os pais do Astronauta e os três ficam refletindo sobre como poderia
estar vivendo seu ex-namorado, naquele exato instante, talvez perdido em alguma
dimensão ou fenda espacial. Pois no último quadrinho está a resposta: o
Astronauta passa por uma dificuldade daquelas, sendo espancado por uma raça
maligna de alienígenas. Nada muito sério, claro. Porradas com algum humor, para
não chocar a criançada.
O
Astronauta de Danilo Beyruth é ainda mais solitário. Ainda mais obcecado em
cumprir missões malucas determinadas pela direção da BRASA (Brasileiros
Astronautas), que decerto muito foram lidas por Marcos Pontes em sua infância.
Em Magnetar, essa obsessão é tanta
que dá para interpretar que os perigos aos quais ele é submetido são
autoimpostos – como uma espécie de punição inconsciente por ter abandonado tudo
o que ama (ou amava) e lhe é (ou era) mais caro.
Mas
ao mesmo tempo em que se arrisca a vida para fugir do Magnetar e da nave que
ameaça se transformar em seu caixão e sepultura, a saudade de sua terra natal
está lá. Assim como um resquício de sua velha paixão por Ritinha. Uma dicotomia
muito bem explorada por Beyruth na aventura de 83 páginas que concebeu e
desenhou, como muito faziam tempos atrás John Byrne e outros consagrados pelo
gênero.
E
essa dualidade me faz pensar em outro aventureiro, Amyr Klink, e numa homenagem
a este grande explorador chego facilmente à conclusão de que o protagonista de Magnetar é um astronauta entre dois
polos.
NEY
FARIAS CARDOSO
REVISOR
DE O ESTADO
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