quinta-feira, novembro 15, 2012

ASTRONAUTA ENTRE DOIS POLOS


Não sei se foi em “O Estado”, no fim de outubro, que li a respeito de Astronauta – Magnetar, de Danilo Beyruth. Pareceu-me interessante a proposta de releitura de um dos personagens mais fascinantes de Mauricio de Sousa – da visão que muitas crianças têm a respeito do espaço sideral a um ponto de vista mais “adulto”, por assim dizer. Mais voltado para os leitores na faixa etária dos 20 anos em diante.
            Esperei a graphic chegar às bancas daqui. Quando isso aconteceu e pude ter a revista em mãos, de imediato pipocaram nas minhas recordações duas ótimas histórias do Astronauta, uma relacionada à outra.
            Na primeira, o cosmonauta retorna à Fazenda Tangará, no interior de São Paulo, ansioso para rever os amigos, a família e, principalmente, o grande amor de sua vida. Mas ele não consegue encontrar Ritinha em lugar algum e o pessoal da fazenda se mostra reticente quanto a onde a moça poderia estar. As perguntas insistentes do Astronauta acabam vencendo essa resistência, e o coitado acaba recebendo a má notícia: a sua amada idolatrada casara-se com Bonifácio, um dos melhores amigos do herói.
            O aventureiro das galáxias finge aceitar numa boa o enlace. Acata as justificativas de Rita, segundo as quais estava cansada de esperar indefinidamente pelo retorno dele dos rincões mais distantes do universo. E no fim da história entra em sua famosa nave redonda e volta para as suas peripécias interestelares com o coração, naturalmente, partido sem chances de conserto.
            A segunda história é uma espécie de continuação da primeira. Com seu casamento com Bonifácio devidamente consolidado e depois de dar à luz um menino, Ritinha visita os pais do Astronauta e os três ficam refletindo sobre como poderia estar vivendo seu ex-namorado, naquele exato instante, talvez perdido em alguma dimensão ou fenda espacial. Pois no último quadrinho está a resposta: o Astronauta passa por uma dificuldade daquelas, sendo espancado por uma raça maligna de alienígenas. Nada muito sério, claro. Porradas com algum humor, para não chocar a criançada.
            O Astronauta de Danilo Beyruth é ainda mais solitário. Ainda mais obcecado em cumprir missões malucas determinadas pela direção da BRASA (Brasileiros Astronautas), que decerto muito foram lidas por Marcos Pontes em sua infância. Em Magnetar, essa obsessão é tanta que dá para interpretar que os perigos aos quais ele é submetido são autoimpostos – como uma espécie de punição inconsciente por ter abandonado tudo o que ama (ou amava) e lhe é (ou era) mais caro.
            Mas ao mesmo tempo em que se arrisca a vida para fugir do Magnetar e da nave que ameaça se transformar em seu caixão e sepultura, a saudade de sua terra natal está lá. Assim como um resquício de sua velha paixão por Ritinha. Uma dicotomia muito bem explorada por Beyruth na aventura de 83 páginas que concebeu e desenhou, como muito faziam tempos atrás John Byrne e outros consagrados pelo gênero.
            E essa dualidade me faz pensar em outro aventureiro, Amyr Klink, e numa homenagem a este grande explorador chego facilmente à conclusão de que o protagonista de Magnetar é um astronauta entre dois polos.

           
NEY FARIAS CARDOSO

REVISOR DE O ESTADO

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