terça-feira, julho 24, 2012

A ARTE DA BOA GRAÇA

Fazer humor é um negócio complicado. E tem lá seus riscos. O chiste, o gracejo e a anedota estão delimitados pelo bom senso e pelas relações interpessoais. Um passo em falso e pronto: vira ofensa e, se ninguém impedir, pode motivar legítimas guerras civis.
O exemplo de Rafinha Bastos é exemplar. Antes da molecagem de mau gosto que cometeu relacionada a uma determinada personalidade que na época estava grávida, o “humorista” (as aspas são por minha conta, em razão de avaliações totalmente particulares do que vejo na TV atual) foi execrado. Tanto que hoje os programas dos quais é a atração principal amargam índices de audiência inexpressivos. Ou mesmo ridículos.
Por sua vez, a charge nos mostra como a arte da boa graça é uma questão de estado de espírito. No sentido de propiciar o ridendo castigat mores, ela e sua irmã, a caricatura, devem ser leves e não ter muita preocupação com a riqueza de detalhes. Fazer uma pessoa rir é fácil. Difícil mesmo é levá-la ao mesmo tempo a se divertir e promover reflexões acerca de determinado evento – nacional ou não – que chamou a atenção, seja pela gravidade ou pelo inusitado.
Uma vez, encontrei na “Folha de S.Paulo” uma genial. Tratou da visita do príncipe William a este nosso país tropical. Na charge, um grupo de assaltantes o aborda e ordena: “Passa o relógio”. No quadrinho seguinte, os bandidos sobem uma favela carregando o Big Ben.
Ou seja, a base desses exercícios humorísticos (crônicas visuais, por assim dizer) é a simplicidade. Se você, chargista, demonstra extrema preocupação com detalhes mínimos e perfeitamente dispensáveis, fazendo uso de balões de pensamento e caixas de diálogo, fracassou por completo nessa função, e é melhor nesse caso que mude de emprego. Charge que se preze não pode passar mais de dois minutos sem ser entendida.
O Facebook está cheio de pérolas humorísticas. Essa rede social é um campo fértil para a ascensão de comediantes dos quais ninguém suspeita. Aquele seu amigo “enfarento”, que se parece muito com o frentista do comercial de posto de gasolina (“Você não ri de nada, cara! Tá com algum problema?”), de repente se mostra o Chaplin das redes sociais. Aí, ele publica preciosidades como esta: “Amigo de verdade não fica ofendido quando você o xinga. Ele te xinga de volta com algo pior”.
Tinha outra muito legal. É mais ou menos assim: “Marly, qual o seu sobrenome? Já que você gosta do Fábio Flores, homenageia ele. Coloca ‘Marly Flores’. Eu prefiro Marly Laranja. Porque as flores todo mundo só cheira...”.
Às vezes, o humor está oculto nas entrelinhas de um opúsculo que, em princípio, está voltado para a seriedade. Vejam só: aconteceu de um grupo de sem-noção assaltar a residência do vereador ludovicense Astro de Ogum. Os loucos fizeram a festa. Roubaram uma quantidade estúpida de dinheiro e diversos objetos de valor. Como a vítima pertencesse à classe política, a polícia respondeu rapidamente à ação e prendeu os integrantes da quadrilha de paspalhos. Até aí, tudo bem. O grande lance foi mesmo a matéria que tratou desse crime. Vocês têm três chances para adivinhar o nome da operação na qual os trouxas foram enquadrados. Desistem? Lá vai: “Operação Pedra Ametista”. Sacaram? “Pedra ametista”, “o astro”? Precisamos reconhecer que foi, acima de tudo, uma jogada de mestre.
Para encerrar os trabalhos, mais uma do Facebook. Como se sabe, o Flamengo anda numa pior. Só não perde quando não joga. Mas sabe como são os antiflamenguistas, não é mesmo? Teve um que jogou um cartaz com a foto do deputado federal mais votado nas últimas eleições cujos dizeres eram os seguintes: “Para técnico do Flamengo, Tiririca – Pior do que tá não fica”.
É isso aí: a gente é pobre, mas se diverte. E não empurra, que é pior.

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