O ano
era 2008. Meados de abril, para caprichar na exatidão. Aqui no Maranhão, de
acordo com pesquisa da Escutec, a maioria da população reprovava – quase 60%
dos entrevistados – a administração do então governador, Jackson Lago. Também
com tristeza absoluta, recordamos a morte do mestre de obras Airton Castro e a
do servente Wanderson Silva, que pereceram no desabamento do pilar de
sustentação da obra do Hospital São Domingos. Aqui em São Luís, o São José (que
na época era time de verdade e não esse “coiso” recém-rebaixado) recebia o
Imperatriz a fim de somar pontos suficientes rumo à Série C do Campeonato
Brasileiro. E lá no Rio de Janeiro Botafogo e Flamengo se enfrentavam pela
semifinal da Taça Rio.
Qual será o time do coração de Luís
Augusto Cassas? Vou arriscar: Botafogo, no Rio, e Maranhão Atlético, aqui na
terrinha.Faço estas elucubrações em plena convocação da Seleção Brasileira que
vai disputar a Copa das Confederações. Marin, o presidente da Confederação Brasileira
de Futebol, acaba de dizer que tem “a maior confiança” no trabalho da comissão
técnica verde-amarela.
O que será que Cassas pensa a
respeito dessa Seleção? Acredita que vencerá as Confederações e a copa do ano
que vem? Ou, como eu, imagina que ela vai dar com os canários n’água nas duas
competições?
Mas lá em abril de 2008 Luís Augusto
Cassas mostrava pela enésima vez que o bolão que ele batia mesmo era – ainda é
– no gramado da poesia. Nesse período de sua vida, alheio a pesquisas, a
governos pessimamente avaliados e a vidas ceifadas sem mais nem menos e de uma
hora para a outra, o mestre de “A poesia sou eu” alargou seus horizontes
líricos a partir do momento em que abordou sua condição de portador de câncer
na próstata.
Sei mais ou menos como se comporta
um indivíduo que descobre que está com câncer. Porque só tem mesmo noção do que
essa pessoa passa e enfrenta quem se encontra no mesmo barco ou, mesmo não
estando doente, decide ajudá-lo a enfrentar mal, sentindo as navalhadas que a
má estrela dá na carne e no espírito.
Cassas resolveu combatê-lo com
orações aliadas à meditação zen-budista, incorporada as suas crenças, dessa
forma afastando gradativamente o desespero e solidificando a esperança nas 40
sessões de radioterapia a que se submeteu no Hospital da Beneficência
Portuguesa. E nessas sessões surgiram os “Poemas para iluminar o trópico de
câncer”. Um deles é “A cura”, que nos diz: “quando os olhos/ daquele que é/
absolutamente nada// chorarem pelos olhos/ daquele que é/ absolutamente todo//
e as lágrimas claras/ do absolutamente todo/ lavarem os ciscos dos olhos// do
absolutamente nada/ então veremos às claras/ tudo absolutamente novo”.
Jogo de palavras a partir do qual o
poeta ressalta o processo de iluminação a que se submeteu para enfrentar a
dificuldade de que padecia desde o ano anterior. E percebam o círculo se
fechando, do “absolutamente todo” para o “absolutamente nada” e do nada para o
todo absoluto – do homem para o divino, do efêmero para o infinito. É o que,
pensou eu, o escritor Airton Paschoa chamou de “Circulatura do quadrado”:
“Indo de um canto a outro e deste
àqueloutro e destrouto ao penúltimo e do penúltimo ao último canto, perfaz-se
um quadrado. Perfazendo-o vida afora, em que pese a distração com a poeira que
levantamos, observa-se com justeza que o último confina palmo a palmo com o
primeiro canto. Não deixamos de perfazê-lo por isso, notando embora requerer
sempre mais e mais esforço, à medida que mais e mais nos faltam forças. – Mas
há o pó, o pó! o tom subindo, subindo e descendo em sua infinita variedade, e a
réstia de sol, volta e meia nos dizemos, erguendo a coluna”.
Luís Augusto Cassas aceitou esse
esforço diário, em busca da réstia de sol que possibilitará os versos e
porventura os reversos que brilham dentro de si ou mesmo ainda se encontram
escondidos da glória de estar vivo.
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