quinta-feira, novembro 21, 2013

PELA ÚLTIMA VEZ

“Fazer tudo pela última vez” é uma sentença que soa totalmente melancólica.
            Imagino uma pessoa prestes a não realizar mais o trabalho de todos os dias, com o qual se ocupou durante uma boa quantidade de anos.
            Imagino esse mesmo indivíduo no derradeiro dia no escritório, numa redação. Como deve se comportar diante da certeza de que não precisará mais, no dia seguinte, redigir um documento, escrever uma reportagem, tirar sarro do colega ao lado porque o time dele perdeu de goleada.
            E imagino Mark Webber a poucos dias de não ser mais chamado de “piloto de Fórmula 1”. Ou então “piloto da Red Bull Racing”. Ele se diz tranquilo com isso. Na verdade, se há um cara no Circo desencanado é justamente Webber. É claro que já esquentou muito a cabeça, principalmente em razão da óbvia preferência por Vettel como primeiro piloto. Mas penso que essa tranquilidade é um tanto quanto aparente. Mais jogo de cena, atendendo de caso pensado ou não aos apelos da imprensa por manchetes mais ou menos relevantes.
            "Eu não sairia se não houvesse coisas que estou feliz de deixar para trás. Se houvesse mais pontos positivos do que negativos, então obviamente eu ficaria. Há mais pontos negativos do que positivos".
            Pesquei essa declaração de Webber do site grandepremio.com.br. Apesar de suas mais de duzentas largadas e de ter vencido duas vezes em Mônaco... Mark não deixa a Fórmula 1 com um sorriso de orelha a orelha. Não só pelo fato de ter sido relegado a contragosto pela equipe à condição de “escudeiro” de Vettel. Um papel que ele se recusou a desempenhar, afirme-se logo, diferentemente de um certo ferrarista. E quando você não está mais feliz com algo, o melhor mesmo é tirar seu time de campo e deixar o sangue novo brotar de onde antes havia apenas desilusão.
            Espero que Webber faça uma excelente corrida, em São Paulo. Como a RBR já descartou prontamente a possibilidade de haver um jogo de equipe para levá-lo ao ponto mais alto do pódio, o australiano terá de obter a vitória por seus próprios méritos. E é mesmo assim que deve ser a sua última corrida na F-1. Nos treinos, muito provavelmente acontecerá mais uma dobradinha da Red Bull, com as Mercedes na segunda fila e Lotus ou Ferraris mais atrás. Aliás, “o samba de uma nota só” que marcou a categoria neste ano.
            Será que ele vai largar mal? Talvez. Nos Estados Unidos, largou em segundo e, antes da primeira curva, já era o quarto. Mas registre-se que na estratégia da equipe, aliado ao seu esforço, recuperou-se e só não ultrapassou Grosjean nas voltas finais porque foi impedido pelo desgaste dos pneus.
            Mark Webber tentará buscar a felicidade em outras searas. Vai encarar o novo desafio com o espírito de quem está fazendo tudo pela primeira vez. Sem fatalismos. Sem melancolias ou nuvens negras no horizonte.

            Lição valiosa: vida significa renovação constante.

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