segunda-feira, março 09, 2009

POBRES ALAMBRADOS!

Alambrados de todos os estádios do Brasil, uni-vos! No domingo das mulheres, o do Estádio Prudentão não suportou o peso de tanta felicidade.

A maldade é mesmo gratuita. Pelo menos Ronaldo não há de ler a minha. Não enquanto o Fenômeno estiver preocupado em assistir e ler — a se considerar o rapaz chegado à leitura de jornais ou qualquer outro gênero literário — comentários a respeito de sua vida e de sua carreira. Não necessariamente nesta ordem, claro. Depende do aspecto em questão: a carreira atribulada do jogador ou o boêmio danadão em que às vezes se transforma, longe dos gramados.

Como o assunto desta crônica refere-se ao planeta futebol, afirmo que faço parte do time daqueles que não agüentam mais o superdimensionamento ronaldístico na mídia. O gol de empate do Corinthians no fim do jogo exagerou ainda mais a exposição. E ainda durante a partida. Impossível esquecer o delírio de Luciano do Valle ao narrar a comemoração de Ronaldo: “Deus existe! Deus existe!”

Entendo perfeitamente a importância do indivíduo em questão. Impossível ignorar os eventos a ele referentes ou relacionados. Afinal, trata-se do principal artilheiro da história das Copas. Eleito nada menos que três vezes o melhor jogador do mundo. Alguém que superou duas gravíssimas contusões — com variados graus de sucesso, como provaram as fotos em que ele mostra uma barriga semelhante à de Daniel Matos. No entanto, as manchetes espantam. Quatro horas após o fim da partida em Presidente Prudente, acessei a internet.

No site do Terra: “Ronaldo supera contusão e tem dia de talismã ao salvar o Corinthians”. O Lance!: “R9: ‘Eu domino a perfeição’”. Uol: “Atacante diz que domina o ‘momento do gol’”. Sem falar nas expressões entusiasmadas dos mais afoitos (Globo, principalmente), como mostrou o Fantástico com seu cone de luz sobre o atacante — a mostrar que é “iluminado”.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Um pouco de equilíbrio não faria mal a ninguém. Além do mais, todo esse bombardeio midiático tem seu aspecto descartável. Há algum tempo, cercava-se Romário para cima e para baixo e em todos os cantos do Rio de Janeiro até ele finalmente marcar seu bendito milésimo gol. Em seguida, o foco mudou, e um dos principais responsáveis pelo tetra passou a ser chamado de “ex-jogador em atividade”. Assim é a fama, com seu verso e reverso. Com seu lado A e o lado B — como os saudosos discos de vinil.

Até agora, vi apenas um exemplo de sobriedade. Foi no site do G1: “Ronaldo marca no fim e Corinthians e Palmeiras empatam”. Exemplo perfeito de como um determinado assunto deve ser tratado, sob o ponto de vista jornalístico. A emoção deve ser deixada para os amigos e familiares do jogador. E, é claro, para o torcedor corinthiano (passional por natureza) e aqueles que admiram Ronaldo como alguém que, seguindo a composição inesquecível, levantou, sacudiu a poeira e deu a volta por cima.

O Ronaldo que se deu mal com travestis pode ser aplaudido ou condenado? Ao repórter global Mauro Naves, ele disse: “Que me taque uma pedra quem nunca chegou atrasado ao serviço ou participou de alguma farra, à noite”. Apesar do perigo das generalizações insustentáveis, interpretamos essa declaração da seguinte forma: ele não se coloca como um cristão melhor do que “meus leitores” e eu. Assim, afirma que está longe de se considerar um santo. Tem pés de barro, como as imagens barrocas.

Ronaldo continuará encantando o planeta futebol por mais algum tempo. Aí, sua carreira chegará ao fim. Enquanto isso não ocorre, um espectro gorducho ameaça os alambrados de todos os estádios do país.

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