sábado, março 06, 2010

BEBA COM MODERAÇÃO

Você já esteve em um convescote? Ou não faz a menor idéia do que seja isso? Para o seu governo, trata-se de um passeio, com refeição, ao ar livre. Mais conhecido como “piquenique”. Palavra originária do inglês picnic.

O assunto destas considerações é mais velho do que andar para a frente: o estrangeirismo. Este opúsculo foi motivado por uma questão abordada pela editora interina do caderno Alternativo deste jornal, a insofismável Carla Melo, tendo como pano de fundo a tragédia no Chile.

Carla perguntou: “Por que aqui no Brasil fala-se tanto ‘tsunami’ em vez de ‘maremoto’?”. E depois de informar que soube por terceiros, quartos e quintos que a pronúncia certa é algo semelhante a “tchunâmi”, em vez do nosso prosaico “tissunami”, ela intimou-me a escrever para este espaço algo que debatesse a presença do estrangeirismo na Língua Portuguesa.

Como se sabe, o estrangeirismo é o processo que introduz palavras vindas de outros idiomas na língua portuguesa. De acordo com o idioma de origem, as palavras recebem nomes específicos, tais como o anglicismo (do inglês), o galicismo (do francês) e o maluquismo (do javanês).

Também é de domínio público a lei nº 1676/99, de autoria do deputado federal Aldo Rebelo, que sugere o uso do português obrigatório em determinadas situações do cotidiano, sendo que qualquer “uso de palavra ou expressão em língua estrangeira, ressalvados os casos excepcionados” na lei “e na sua regulamentação, será considerado lesivo ao patrimônio cultural brasileiro, punível na forma da lei”.

Um tanto exagerado, não? Afinal de contas, o estrangeirismo (gramaticalmente considerado “vício de linguagem” pelos defensores do idioma falado em Pindorama) nada mais é que um recurso de enriquecimento de vocabulário. Mais específico: é uma forma que a linguagem encontra de enriquecer o processo comunicativo. Ou então ninguém se preocuparia tanto em recorrer aos cursos de inglês, francês, espanhol e outros congêneres.

O que preocupa mesmo os puristas da Flor do Lácio é um possível “abuso” da presença, em nosso idioma, de palavras e expressões como beauty hair, saloon, coffee break, shopping, outdoor, selfservice, play, off, delivery, free e personal stylist. Ou seja, as que não encontram correspondente em português. Refiro-me neste momento apenas ao que captamos do inglês, posto que é atualmente nosso segundo idioma (de onde acham que surgiu o nosso “futebol”?

Em tempos idos, o idioma mais importante por aqui era o francês, pois a França era então o país em torno do qual o resto do mundo transitava. Apenas voltando ao universo futebolístico, querem uma palavra que aposto como muitos de vocês pensavam como galicismo? “Placar”, do francês “placard”. Da mesma forma, assimilamos os italianismos (pizza), os espanholismos (guitarra), os germanismos (chope), os eslavismos (gravata) e os arabismos (gravata). Portanto, há um número avassalador de palavras por assim dizer herdadas de línguas com as quais temos um razoável contato, nestes tempos de globalização, nos quais a internet, por exemplo, é uma das ferramentas indispensáveis de interação entre as nações.

Certo, o modismo envolvido na apropriação de “tsunami” no lugar de “maremoto” poderia ser evitado. No entanto, todavia, contudo e não obstante, não vejo esse aspecto como o fim do mundo.

Conclusão: posso considerar tranqüilamente o estrangeirismo até certo ponto necessário para a Língua Portuguesa.

Deve ser bebido com moderação.

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