domingo, abril 10, 2011

O SONO DA RAZÃO

O que acontece quando as pessoas exorbitam? Enquanto o desespero causado pelas terríveis primeiras notícias caminhava em direção ao pior clímax possível, os familiares e amigos das crianças assassinadas na escola Tasso da Silveira podem ter pensado assim: “Meu Deus, saiu do nada!”. Não é assim, claro. As grandes tragédias nunca são aleatórias. Começo os exemplos com a (boa) ficção. Em “A soma de todos os medos”, de Tom Clancy, a explosão atômica que extermina os milhares de pessoas que assistiam ao SuperBowl – a grande decisão do futebol americano – foi o triste resultado de maquinações terroristas das quais o governo estadunidense obviamente não tinha o menor conhecimento. Não há como saber se os maníacos de Osama Bin Laden leram a obra do papa do techo-thriller, mas essa parte do enredo do citado romance tem tudo a ver com o 11 de Setembro: um grupo de loucos tramando na surdina a destruição do status quo vigente. A destruição das Torres Gêmeas do World Trade Center, como se sabe, não significou a queda da grande nação de sua posição de “líder” de um “mundo livre” cada vez menos indefinível. A ocorrência na Columbine brasileira não teve caráter terrorista. Wellington em momento algum pretendeu colocar este país de joelhos em nome de uma causa que apenas ele poderia determinar. O que houve mesmo não passou de outra das tantas exorbitâncias que ocorreram, ocorrem e pelo jeito continuarão a ocorrer pelo mundo afora – ainda que tenha sido o passo final de um projeto levado a cabo durante semanas ou meses por um psicopata anônimno. Nessas horas, a magnífica frase atribuída ao pintor Goya faz ainda muito mais sentido: “O sono da razão produz monstros”. E, no caso da tragédia na Tasso da Silveira, inocentes. O que me faz refletir a respeito de uma opinião lida ou então proferida por algum personagem da televisão: a cada dia que passa, o ser humano tem perdido sua validade enquanto espécie. É uma dessas verdades que nos fazem parar para refletir. Afinal, como se sabe, o homem é o único animal que mata seus semelhantes não para fins de alimentação ou reprodutivos e sim ora por prazer, ora por motivos puramente banais. E querem mais banalidade do que um homem matar uma sua vizinha porque parte da água que ela utilizava para lavar seu carro escorreu para a calçada do sujeito? Ou então um pai que esmurra sem dó nem piedade os próprios filhos por estes terem assumido um comportamento incondizente com os padrões sociais determinados? Hoje em dia, todos queremos paz. Em nossa vizinhança e espalhada pelos mais diferentes países. No entanto, exemplos como o da Costa do Marfim – onde parte da população vem morrendo como gado – e o da Líbia nos mostram que a fraternidade parece ser uma proposta e, sobretudo, uma realização pouco prováveis. Ainda mais quando covardes exorbitâncias ceifam 12 vidas inocentes e confirmam que, sim, o sono da razão produz o pior de todos os monstros.

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