sexta-feira, abril 01, 2011

Os pagantes

Por Flavio Gomes, especial para o ESPN.com.br Há um injusto preconceito contra os chamados pilotos pagantes na F-1. Basta o cara chegar à categoria com a bolsa cheia de dinheiro de patrocinadores que imediatamente é jogado na vala comum dos que não merecem um lugar. Surgem os arautos da pureza do esporte, bradando contra as injustiças que deixam de fora talentos inquestionáveis que não tiveram a fortuna do berço de ouro ou do mecenato desde tenra idade. Se forem brasileiros os talentos injustiçados, então... Por conta dos desfalques de Bruno Senna e Lucas di Grassi nesta temporada, depois de um ano de estreia que não merece grandes comentários (mais por culpa de suas fraquíssimas equipes, diga-se), os pagantes que arribaram à F-1 foram satanizados pela pachecada. Como pode nosso Bruno não ser titular na Renault? Essa foi a grita geral quando a equipe escolheu Heidfeld para o lugar de Kubica. Mas como Heidfeld não paga nada porque não tem onde cair morto, foi escolhido pelo talento e pela experiência, as baterias se voltaram contra Petrov. Mafioso russo, só está lá por causa da grana da Lada e do Kremlin! Petrov terminou a prova de abertura na Austrália em terceiro lugar. Silêncio na arquibancada. E quem é esse Sergio Pérez, vocês estão loucos? Ah, só chegou lá porque levou grana pesada da Claro e da Telmex, o cara que está pagando é dono da Embratel, por que não o nosso Bruno, que sempre foi patrocinado pela Embratel? Pérez terminou a prova de abertura na Austrália em sétimo e conseguiu fazer a corrida toda com uma única parada. Foi desclassificado depois, OK. Mas já tem olho grande nele. Das equipes de ponta. Silêncio na arquibancada. Pastor Maldonado, bancado pela estatal venezuelana PDVSA, e Jérôme D‘Ambrosio, que chegou com alguma grana possivelmente belga, também entraram na sacola dos demônios que roubam vagas de brasileiros. Oh, que mundo injusto! É uma visão distorcida da realidade, claro. Di Grassi, por exemplo, só conseguiu correr no ano passado porque descolou uns cobres de patrocinadores brasileiros. Barrichello chegou à F-1 no colo da Arisco. Ambos, certamente, tiraram o lugar de alguém menos abonado. Schumacher não teria disputado o GP da Bélgica em 1991 se a Mercedes não tivesse depositado US$ 300 mil na conta de Eddie Jordan. Nem todo pagante merece o que se gasta com ele. Mas isso não quer dizer que todos são ruins. Como se sabe, rasgar dinheiro não é um esporte muito popular no planeta. E se tem alguém que paga para outro alguém correr, é de bom tom procurar entender as razões. E elas passam por apostas em talentos que viram bons investimentos (Arisco, Telmex/Claro, Mercedes), por mecenato puro e simples, por iniciativas nacionalistas (PDVSA, grana da Rússia, do Japão e da Índia), por “paitrocínios” (Diniz, De Cesaris)... Há muitos tipos de pagadores. Uns se dão bem, outros, não. E tem aqueles que nunca precisaram colocar a mão no bolso, nem próprio, nem dos outros, para correr. Exemplos? Massa, Hamilton, Button, Alonso, Kubica, para ficar apenas em alguns nomes da safra atual. A história da F-1 tem dezenas de exemplos de todos os tipos. Por isso, achar que quem paga para correr é ruim por definição e não merece estar onde está é furada. Petrov e Pérez, domingo, justificaram o investimento feito neles. Pode ser que outros não justifiquem. Sempre foi assim, sempre será.

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