
"É CLARO QUE, COMO TODO ESCRITOR, TENHO A TENTAÇÃO DE USAR TERMOS SUCULENTOS: CONHEÇO ADJETIVOS ESPLENDOROSOS, CARNUDOS SUBSTANTIVOS E VERBOS TÃO ESGUIOS QUE ATRAVESSAM AGUDOS O AR EM VIAS DE AÇÃO, JÁ QUE A PALAVRA É AÇÃO, CONCORDAIS?" CLARICE LISPECTOR - "A HORA DA ESTRELA"
quinta-feira, julho 31, 2008
Morre o repórter Deny Cabral

São Luís escolhida Capital Brasileira da Cultura 2009
Esta é a quarta edição do concurso que elege uma cidade como Capital Brasileira da Cultura depois de Olinda (PE) em 2006, São João del-Rei (MG) em 2007 e Caxias do Sul (RS) em 2008.
São Luís
São Luís, situada na ilha de mesmo nome, é a única cidade brasileira fundada pelos franceses, que em 1612 construíram alí um forte e o nomearam São Luís, em homenagem à Luís IX patrono da França, e ao rei francês da época Luís XIII.
A cidade foi tombada pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1997. Possui um grande acervo arquitetônico com cerca de 3.500 prédios, distribuídos por mais de 220 hectares de centro histórico, sendo grande parte deles sobradões com mirantes, muitos revestidos com preciosos azulejos portugueses. A cidade foi a primeira no Brasil a receber uma companhia italiana de ópera. Possuía calçamento e iluminação como poucas do país.
Recebia semanalmente as últimas novidades da literatura francesa. É nessa fase que São Luís passa a ser conhecida por "Atenas Brasileira". A denominação decorre do número de escritores locais que exerceram papel importante nos movimentos literários brasileiros a partir do romantismo. Surgiu, assim, a imagem do Maranhão como o estado que fala o melhor português do país. A primeira gramática do Brasil foi escrita e editada na cidade por Sotero dos Reis. Mesmo nos dias atuais a cidade ainda mantém uma grande vocação natural para a literatura e poesia.
São Luís é conhecida também por outros nomes como: "Ilha do Amor", atribuído ao grande número de poetas que louvaram a cidade e pelo romantismo que a própria arte carrega; "Jamaica Brasileira", o Reggae chegou com força no Maranhão como um todo nos anos 70, e até hoje continuaforte; "Cidade dos Azulejos", devido as fachadas azulejadas dos antigos casarões, influência da colonização portuguesa.
O Bumba-meu-boi, o Tambor de Crioula, o Cacuriá e o Tambor de Mina, são as manifestações mais marcantes do folclore maranhense. Além de um rico artesanato São Luís oferece aos visitantes uma gastronomia exótica, belas praias e muitos atrativos turísticos e ambientais. "São Luís merece o título por ter apresentado uma candidatura consistente, amparada no rico patrimônio cultural material e imaterial que a cidade possui." diz Mário Vendrell, Diretor Executivo da ONG CBC.
"A Capital Brasileira da Cultura 2009 será uma grande oportunidade para que a cidade possa promover-se nacional e internacionalmente, mostrando todos seus atrativos culturais e turísticos. Esperamos que saiba aproveitá-la para que possa obter todos os benefícios que o título de capital cultural oferece" conclui Vendrell.
O projeto Capital Brasileira da Cultura tem o apoio do Ministério da Cultura, Ministério do Turismo, e do Bureau Internacional de Capitais Culturais.
Os objetivos do projeto são: valorizar e promover o patrimônio histórico e cultural e ambiental brasileiro; contribuir para um maior conhecimento mútuo da identidade nacional e fomentar a auto-estima dos cidadãos através da promoção e divulgação das culturas regionais, além de criar um novo campo para o desenvolvimento do marketing cultural e do crescimento do turismo cultural no Brasil.
A Comissão Julgadora que analisou as candidaturas esteve formada por: Célio Turino - Ministério da Cultura e Secretário de Programas e Projetos Culturais Kátia Terezinha Patrícia da Silva - Ministério do Turismo Coordenadora-Geral de Projetos de Estruturação em Áreas Priorizadas Clarice Andrade - Prefeitura de Olinda (Capital Brasileira da Cultura 2006) e Diretora de Cultura - Secretaria Municipal do Patrimônio, Ciência, Cultura e TurismoLuiza Helena Bortolo de Resende - Prefeitura de São João del Rei (Capital Brasileira da Cultura 2007) e Secretária Municipal de Cultura e TurismoJoão Wianey Tonus - Prefeitura de Caxias do Sul (Capital Brasileira da Cultura 2008) e Secretário Municipal de CulturaMário Vendrell - Diretor Executivo da Organização.
quarta-feira, julho 30, 2008
Projeto 'Novos Talentos 2008 da música clássica'
RIO - Depois da estréia com o quarteto de percussão Karla Bach, o projeto Novos Talentos 2008 da música clássica segue na Modern Sound, com o Duo Vinícius Frate e Luan Góes se apresentando nesta quarta-feira, e palestra do professor José D'Assunção Barros na sexta-feira.
O projeto busca valorizar e promover expoentes da nova geração de estudantes de música clássica no Rio, gerar conhecimento e compartilhar experiências entre alunos e mestres da área, além de disponibilizar ao público, gratuitamente, o melhor desta nova produção.
Ao todo serão 22 apresentações - todas as quartas-feiras, às 13hs - e 22 palestras com musicólogos - todas as sextas-feiras, às 17hs -, sempre com entrada gratuita, de julho até dezembro.
segunda-feira, julho 28, 2008
João Ubaldo Ribeiro vence o Prêmio Camões 2008
Na sua 20ª edição, o júri optou por João Ubaldo, o oitavo brasileiro a receber este prêmio, criado pelos Governos de Portugal e Brasil em 1988.
O Prêmio Camões 2007 foi outorgado ao escritor português Antonio Lobo Antunes, que recebeu seu prêmio na última sexta-feira em cerimônia na qual esteve presente o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.
domingo, julho 27, 2008
Brasil perde bronze e volta a decepcionar

Na despedida da Liga Mundial de vôlei, já que perdeu para os Estados Unidos na semifinal, a Seleção Brasileira masculina decepcionou mais uma vez a torcida no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, e foi derrotado pela Rússia.
Os visitantes venceram a equipe verde e amarela por 3 sets a 1, com parciais de 25/23, 25/19, 23/25 e 25/19, levando o bronze e deixando o Brasil apenas em quarto lugar na competição.
sábado, julho 26, 2008
ELIO GASPARI
Apareceu mais um passatempo na internet. É um catálogo das bibliotecas de 46 personalidades da História.
A rainha Maria Antonieta (736 títulos) tinha dois exemplares dos “Lusíadas”, três obras sobre revoluções e mais cinco livros de Rétif de la Bretonne, autor de mais de 200 volumes, alguns deles chegados à pornografia. Ele foi um dos primeiros autores a usar a palavra “comunismo”.
James Joyce (124 volumes catalogados) tinha um livro sobre “Erros no Uso do Inglês”.
Ernest Hemingway (7.411 volumes) tinha quatro livros sobre a Amazônia, um exemplar do “Dom Casmurro” e uma antologia da poesia brasileira.
Thomas Jefferson (4.891 livros) tinha uma história da reconquista de Salvador em 1625, quando uma frota espanhola expulsou os holandeses da cidade.
Estão na lista o poeta Ezra Pound (712 livros), Charles Darwin (79) e Adam Smith (58, por enquanto).
A biblioteca dos mortos está no sítio LibraryThing, que mantém um serviço de catalogação automática de livros, com quase 500 mil clientes e 3,5 milhões de volumes fichados. Infelizmente nenhuma biblioteca brasileira associou seu catálogo ao projeto.
Chega-se ao acervo passando-se “I see dead people’s books” no Google.
(Às vezes a página de Thomas Jefferson encrenca.)
sexta-feira, julho 25, 2008
Menino de 8 anos se casa um dia antes de morrer
Um menino britânico de 8 anos morreu um dia depois de realizar seu sonho de se casar com uma amiga de escola. Reece Fleming tinha leucemia há quatro anos e, depois de saber que o menino tinha pouco tempo de vida, os pais decidiram realizar todas as suas vontades, segundo informa nesta sexta o jornal espanhol 20 Minutos.
Em maio deste ano, os médicos disseram aos pais de Reece que ele teria apenas algumas semanas de vida. Desde então, o casal decidiu fazer tudo que estivesse ao seu alcance para que fosse feliz em seus últimos dias de vida.O maior sonho do menino era reencontrar a amiga de escola Elleanor Purgslove. Os dois retomaram a amizade e ele decidiu pedir a mão da menina em casamento. Ela aceitou e os pais de ambos organizaram a cerimônia.
Embora sem valor legal, a celebração teve direito a alianças, registro, passeio de limusine e jantar, como qualquer outra festa de casamento.
A cerimônia aconteceu no dia 4 de julho. No dia 5, Reece morreu em casa, com seus pais. A mãe contou ao jornal britânico Daily Telegraph que, depois de realizar seu sonho, o menino lhe disse "agora posso ir-me".
quinta-feira, julho 24, 2008
COI exclui Iraque dos Jogos
A proibição tem sua origem na decisão do governo do Iraque de dissolver o conselho executivo do comitê olímpico do país e formar um órgão temporário liderado pelo ministro de Juventude e Esportes.
A agência de notícias independente Aswat al-Iraq publicou nesta quinta-feira o conteúdo da mensagem enviada pelas autoridades olímpicas ao ministro de Juventude e Esportes iraquiano, Yassin Mohammed Jaafar, para comunicá-lo da decisão.
"Apesar dos esforços conjuntos com o Conselho Olímpico Asiático nos últimos meses para encontrar uma solução positiva, lamentamos informá-los de que a decisão adotada pelo Escritório Executivo do COI em 4 de junho foi confirmada oficialmente", diz na carta Pere Miró, diretor de relações da entidade com comitês nacionais.
quarta-feira, julho 23, 2008
Felipão estréia com goleada
terça-feira, julho 22, 2008
Letícia Birkheuer faz ensaio provocante
segunda-feira, julho 21, 2008
Você sabe quem morou aqui?
Das lendas que cercam Machado de Assis, uma explica o epíteto Bruxo do Cosme Velho: de tanto queimar manuscritos rejeitados numa caldeirinha, os vizinhos, estranhando o hábito, começaram a chamá-lo dessa maneira. Pegou. Bruxo do Cosme Velho também era uma forma de fazer alusão a sua prestidigitação, arte de enganar leitores e críticos com a sofisticação do talento. E o Bruxo até hoje apronta das suas. O último feitiço póstumo de Machado foi enganar os próprios biógrafos. Ao contrário do que se lamentava, nem todas as moradas do escritor foram postas abaixo. O sobrado em que viveu com a mulher Carolina na Rua da Lapa, 96 – durante o ano de 1874, antes de mudar-se para o Cosme Velho – continua de pé. O imóvel acabou de ser incluído no Decreto Municipal do Corredor Cultural e será tombado como patrimônio histórico municipal.
Completamente depredado, com a fachada pichada e a fiação elétrica clandestina escondendo os detalhes do estilo neoclássico, o casarão – que antes abrigava apenas um morador no primeiro andar e o casal Machado de Assis e Carolina no segundo – hoje é espremido por pelo menos 15 famílias, com pouco mais de 10 metros quadrados para cada. Difícil imaginar que foi ali que Machado concebeu um romance sobre a burguesia ascendente da época, A mão e a luva, publicado em capítulos na imprensa.
– Aqui está mais para O cortiço, de Aluísio de Azevedo – comparou um dos moradores atuais, o professor de português e inglês Anderson Clay Sampaio, de 31 anos, surpreso ao saber que mora na antiga residência do escritor.
A referência faz sentido. Até um andar intermediário – o popular puxadinho – foi construído em passado recente, entre o vão de um piso e outro, para acomodar mais gente. Além de Anderson, pagam o aluguel mensal de R$ 200 funcionários públicos, donas de casa, camelôs e travestis. Mais Brasil, impossível.
Só agora, 100 anos depois da morte do escritor, matou-se a charada histórica – ou o feitiço póstumo, vá saber! – que deixou a ilustre morada olvidada tanto tempo. Técnicos da Secretaria de Patrimônio Histórico descobriram que as reformas urbanas do século 20 alteraram a numeração da região da Rua do Riachuelo, da qual faz parte a Rua da Lapa. Assim, o antigo número 96 virou o atual 264, e foi ignorado pelas biografias do escritor. Que, vivo fosse, provavelmente transformaria em mais uma obra-prima o romance realista e decadente que virou a sua Lapa...
domingo, julho 20, 2008
Ponto de vista
Para recordar uma expressão certa vez utilizada pela minha querida Rafaelle, “desde faz que tempo” leio a famosa proposta de Ivan Sarney: é preciso amar a cidade. A meu ver, a proposta acabou se tornando um apelo, com o passar dos anos. E um apelo sempre pertinente, às vésperas de eleições municipais. Conseqüentemente, nos ocorre uma das famosas “perguntas que não querem calar” - dentre os prefeituráveis, quem realmente ama São Luís do Maranhão?
Na mesma tarde em que li a respeito do concurso de fotografia, chegou às minhas mãos um caderno de nove folhas de papel chamex, tamanho A-4. O material não tinha autoria definida, mas foi elaborado por alguns moradores do Renascença I. Está muito mal escrito. Porém, o sentimento de indignação que o inspirou não pode ser ignorado.
“Há aproximadamente 4 meses”, assim começa o documento, “estourou um esgoto no cruzamento das ruas Limeiras e Angelins (Renascença I), foram feitas várias reclamações por moradores próximos, pois as fezes escorriam nas ruas, nas calçadas, nas sarjetas. Veio a TV mirante e a difusora, fez uma reportagem, vários moradores deram entrevistas reclamando! 3 meses depois a Caema apareceu. Drenou o esgoto, funcionou apenas 01 semana. Estourou outra boca e as fezes em maior quantidade se espalharam na rua. O mau cheiro é insuportável. Ao passarem veículos e as pessoas levam sob os pneus, fezes, sujando as residências/escritórios e etc.”.
Essa triste realidade, infelizmente, não é um “privilégio” apenas do Renascença I. Visitem a Cidade Operária. Quando chegarem ao meu bairro, dêem uma passada na Unidade 105 - onde, inclusive, localiza-se outra das vergonhas desta cidade, o “Complexo Esportivo”. A área parece uma zona de guerra. Outro dia mesmo, estava lendo uma biografia do grande (era mesmo, tinha mais de 1,80m) ex-presidente francês Charles de Gaulle. O livro tinha fotos de alguns setores da paisagem interiorana da França duramente castigadas pelas bombas lançadas na Primeira Guerra. Fazer a comparação é menos exagerado do que possa parecer, à primeira vista.
Espero que os nossos fotógrafos, tanto mestres como o meu amigo Biné Morais quanto qualquer cidadão que adquiriu um desses celulares modernosos, consigam tirar grandes fotos de São Luís do Maranhão. Compreendo que uma grande foto também pode ser negativa para a Ilha. Alguém pode, ao dar a sorte de conseguir um ponto de vista único, imortalizar, por exemplo, a lamentável imagem de uma criança misturada ao lixo do Aterro da Ribeira. Obviamente, não é essa a proposta do concurso. Essa proposta é a mesma de Ivan Sarney. A idéia é captar o que a cidade tem de melhor. O que ela ainda tem de melhor, muito além de casarões seculares transformados de forma criminosa em estacionamentos. Muito além de esgotos estourados. Muito além do medo construído nos corações e mentes dos cidadãos pela greve da Polícia Civil.
A São Luís que eu amo é a do Centro Histórico à noite, que reencontrei no primeiro sábado do Vale Festejar. Eu caminhava sem pressa para o Convento, sem que me abandonasse a mais absoluta certeza de que muito precisa ser feito para que finalmente Upaon-Açú esteja enraizada no que o futuro tem de melhor. E assim será.
sábado, julho 19, 2008
terça-feira, julho 15, 2008
Os solitários de Coetzee
Escritor e crítico literário
Se fosse concedido à literatura brasileira o direito de existência no mundo letrado ocidental, a melhor crítica do Diário de um ano ruim, de J. M. Coetzee, teria salientado o parentesco com o papel do romance machadiano em seu tempo. À semelhança de Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), o último romance do premiado autor sul-africano, hoje naturalizado australiano, questiona a organização tradicional do livro de ficção. Cada página do Diário de um ano ruim está dividida, primeiro, em dois blocos paralelos e, a partir da página 33 até o final, em três blocos.
Cada um dos blocos é semi-autônomo, embora os três, conjuntamente, não se apresentem desprovidos de afinidades óbvias ou sutis, a serem desenvolvidas pela imaginação e a habilidade do leitor. Cada página e todo o livro são compostos como "unidade tripartida", para retomar a idéia trabalhada em escultura por Max Bill.
Na parte superior das páginas, em seqüência, temos 51 curtos ensaios filosófico-literários, na maioria das vezes de teor político. Eles versam sobre as pequenas e as graves questões universais que, durante o período que vai de setembro de 2005 a maio de 2006, esquentaram as mentes cidadãs e a mídia impressa e eletrônica. Dos filósofos Thomas Hobbes e Machiavel, que discorrem sobre o Estado moderno, o autor passa ao filme Sete samurais, de Kurosawa, e à anarquia, ao terrorismo e ao apartheid. Detém na vergonha nacional, obra consciente do presidente Bush e elogia o destemor de Harold Pinter na crítica à invasão do Iraque. Não se esquiva diante de questões superdelicadas, como as que cercam os aborígines australianos, ou a pedofilia (tema este recorrente em seus melhores romances, como O mestre de Petersburgo). Em tiradas e raciocínio que beiram o politicamente incorreto, as reflexões traduzem as idéias-de-cabeceira (se me permitem a expressão) do romancista experiente e premiado, já tomado pelos anos. O envelhecimento do autor, ou o novo empreendimento ficcional, é visto como "um esvaziamento da mente para assumir tarefas mais importantes".
A parte superior das páginas e do romance se apresenta como respostas do escritor à encomenda feita a ele – e a mais cinco outros escritores – por editora alemã, interessada em publicar livro a ser intitulado Opiniões fortes. Como se informa: "Seis escritores eminentes [estariam] se pronunciando sobre o que está errado no mundo de hoje". Na reflexão sobre Harold Pinter, detentor do Nobel, esclarece o autor: "E chega um momento em que o ultraje e a vergonha são tão grandes que todo calculismo, toda prudência, são superados e a pessoa precisa agir, isto é, falar".
Abaixo dos curtos ensaios e em pequenos blocos paralelos, encontra-se a trama propriamente romanesca do Diário de um ano ruim. Está escrita na primeira pessoa. No bloco do meio de cada página, o próprio autor fala do encontro inesperado com Anya, bela vizinha de condomínio. No momento, ela vive com Alan, um consultor na bolsa de valores de Sidney. Está armado o trio amoroso. O encontro casual com Anya despertou no escritor paixão incontrolável. Para tê-la ao lado, oferece-lhe a função de digitadora do livro que escreve para a Alemanha. O segundo segmento do romance se afirma pela fricção entre as idéias fortes do velho e a leitura do manuscrito pela jovem. Lê-se no segundo bloco: "O que começou a mudar desde que eu entrei na órbita de Anya não são tanto minhas opiniões em si, mas minha opinião sobre minhas opiniões".
segunda-feira, julho 14, 2008
PALAVRAS AO VENTO
DOMINGO, 13 DE JULHO DE 2008
PETER BURKE
COLUNISTA DA FOLHA
Os problemas e perigos da tradução já foram discutidos muitas vezes, e não foi preciso esperar pelo encantador filme de Sofia Coppola de 2003 para nos darmos conta do que é "perdido na tradução" (Lost ins Translation, lançado no Brasil como "Encontros e Desencontros").
O filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1995) certa vez descreveu o projeto da tradução como sendo "utópico", e, na Alemanha, Johann Gottfried Herder já tratava do assunto no final do século 18.
Herder imaginou alguém tentando traduzir a obra do poeta francês setecentista Prosper de Crébillon para a língua dos lapões, e esse experimento mental o levou a indagar se algumas idéias ou mesmo textos não seriam "unübersetzbar" - "intraduzíveis".
(...)
Muitas pessoas gostam de dizer que certas palavras de suas línguas maternas são intraduzíveis. Os franceses às vezes afirmam que "esprit" (espírito). "galanterie" (galanteria) e até mesmo "politesse" (polidez) não têm equivalente (sic) reais em outros idiomas.
Os ingleses não sabem ao certo se estrangeiros compreendem o que eles querem dizer quando falam num "sportsman" (esportista, pessoa com espírito esportivo) ou "gentleman" (gentil-homem, cavalheiro). No caso do alemão, vêm à mente termos como "geist", suspenso no espaço lingüístico em algum lugar entre "espírito", "mente" e "cultura".
Em português, palavras como "saudade", "sacanagem" e "safadeza" criam problemas especiais para aqueles que gostariam de traduzi-las.
domingo, julho 13, 2008
Maria Madalena e Jesus tinham relação de aluna e mestre

quinta-feira, julho 10, 2008
Vitalidade na arte de Winnie Colvin

A pintura sempre esteve presente em sua vida. Desde a infância, Winnie Colvin é fascinado pelo universo das cores, linhas e formas, paixão que o introduziu aos pincéis, no final dos anos 90. “Após algumas viagens e visitas a museus com minha esposa, decidi levar a pintura a sério. Não é um hobby”, explica. Winnie trabalhou com design e ilustração, antes de prestar consultoria de marketing no segmento de moda, sua ocupação atual. “Nunca quis me sustentar pintando”, avisa, preocupado com a interferência do foco comercial na produção de suas obras. “Pinto por prazer”.
Em 2001, ele passou a frequentar os cursos de arte do Parque Lage. Em março deste ano, seus trabalhos e de outros alunos foram selecionados para a exposição coletiva “Pintura no Parque”, que abriu a programação da Galeria Anna Maria Niemeyer, no Rio de Janeiro, com curadoria de Chico Cunha, seu professor desde 2004.
Foi a primeira vez que expôs, o que gerou algumas preocupações. “Queria ver a reação das pessoas diante dos meus quadros, mas não tinha intenção nenhuma de vendê-los”. Revelando uma relação paternal com suas obras, Winnie contou que teve receio de que surgisse algum comprador. “ Prefiro doar a uma pessoa que colecione arte, que a valorize tanto quanto eu”. O auto-retrato foi dado de presente a um amigo: “tenho certeza de que estará em boas mãos”.
O artista busca inspiração na escola figurativa inglesa e aponta como influência os trabalhos de Lucian Freud, Francis Bacon e Frank Auerbach, assim como os dos brasileiros Iberê Camargo e Beatriz Milhazes. Ele leva cerca de um ano para concluir uma pintura: “Elas têm um tempo de fermentação; reflito muito sobre cada traço”. Winnie já descartou duas telas finalizadas. “Não gostei dos resultados”, justifica.
Sobre os vestígios de uma tendência “fake”, ele esclarece não ter sido intencional, embora reconheça essa faceta. “De fato, a impressão é de que utilizo tinta à óleo, devido ao excesso de material, mas uso acrílica. Da mesma forma, engana-se quem pensa tratar-se de uma arte gestual, de linhas contínuas. É uma arte escultural”.
As telas de Winnie retratam pessoas de seu convívio íntimo, como Craig, seu irmão. Produzidas a partir de fotos particulares, elas não souberam que seriam imortalizadas por suas pinceladas. “Minha arte é uma coisa orgânica, cheia de luz e vitalidade. Uma realidade exagerada”, define ele.
terça-feira, julho 08, 2008
O inferno de Dantas

Para se tentar entender quem é Daniel Dantas (foto ao lado), preso hoje junto com Verônica Dantas, Dório Ferman, Carlos Rodenburg, Naji Nahas, Celso Pitta e outras duas dezenas de menos ilustres, é preciso antes entender seu fortim e sua obra principal: o grupo Opportunity.
Em tempo: "Sua" obra principal, o Opportunity, mas sem que se deixe de levar em conta a suspeita do delegado Protógenes Queiroz, da Polícia Federal: Daniel Dantas et caterva soam, por vezes, não serem os "donos", ou, os únicos donos do megaconglomerado.
O Opportunity brota de um clã familiar. A hidra tem como principais cabeças visíveis, Daniel Dantas e, degraus abaixo, sua irmã Verônica Dantas. Dório Ferman, por sua vez, é o presidente do Banco Opportunity, instituição financeira comandada por Dantas.
Daniel Dantas é um personagem que age nas sombras. Poucos são os documentos que contam com a assinatura do banqueiro e, constatou a PF na investigação, de tudo ele fez e faz para não deixar rastros mesmo na miríade de estruturas - ao menos 151 detectadas - ligadas ao enorme polvo.
Nas inúmeras empresas ligadas a seu grupo, ele raramente é o responsável legal. Busque-se pelo nome de Daniel Valente Dantas junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), cartórios ou juntas comerciais, e quase nada aparecerá. E tanto anota também o delegado Queiroz.
Nas disputas empresariais que travou, Dantas assinou não mais do que três ou quatro contratos. Sempre há prepostos, anteparos cuidadosamente selecionados para escamotear o chefe de fato. No mundo financeiro (fundos, corretoras, bancos etc), Dório Ferman é o homem. No exterior, Verônica Dantas é o anteparo usual.
Trata-se de um grupo empresarial - ou de uma quadrilha, uma organização criminosa, como aposta a Polícia Federal - muito mais complexo do que parece.
segunda-feira, julho 07, 2008
TSE restringe uso de internet na campanha
Lilian Christofoletti (Da reportagem local)
A restrição imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral ao uso da internet como instrumento de propaganda fechou as portas do mundo virtual para a divulgação de informação jornalística e de manifestações individuais sobre candidatos.
A limitação está prevista na Resolução n° 22.718, uma espécie de guia para as eleições municipais deste ano. O ponto mais polêmico é o fato de o TSE ter equiparado legalmente a internet ao rádio e à televisão, que são concessões públicas.
A legislação eleitoral proíbe a mídia eletrônica de difundir opinião favorável ou contrária a candidato e ainda de dar tratamento diferenciado aos postulantes. Já os jornais e revistas, que são empresas privadas, não sofrem restrições.
Na prática, a equiparação significa que as inúmeras ferramentas da internet - como blog, e-mail, web TV, web rádio e páginas de notícias, de bate-papo, de vídeos ou comunidades virtuais - não poderão ser usadas para divulgar imagens ou opiniões que configurem apoio ou crítica a candidatos.
A vedação cria situações inusitadas. Um texto desfavorável a uma candidatura, pode exemplo, pode ser publicado num jornal impresso, mas não pode ser reproduzido em um blog.
Até mesmo o internauta poderá ser multado se criar sites, blogs ou comunidades pró ou contra candidatos. O tribunal entende que quem não pode praticar um ato por meio próprio também não pode praticar por meio de terceiros.
domingo, julho 06, 2008
Argélia é o novo celeiro de terroristas da Al-Qaeda
A batalha nacionalista contra as forças armadas argelinas vinha claudicando. "Não dispúnhamos de armas suficientes", relembra um antigo líder das forças insurgentes, Mourad Khettab, 34 anos. "As pessoas não queriam aderir. E dinheiro - nunca tínhamos dinheiro."
Então, o líder do grupo, um matemático chamado Abdelmalek Droukdal, enviou uma mensagem secreta ao Iraque, no final de 2004. O destinatário era Abu Musab al-Zarqawi, o líder da Al-Qaeda na Mesopotâmia, e os dois homens, nos extremos opostos do mundo árabe, decidiram promover o que um observador define como "uma fusão corporativa".
Hoje, enquanto a violência dos militantes islâmicos se reduz em algumas partes do mundo, os militantes argelinos, que assumiram o nome de Al-Qaeda no Maghreb Islâmico, se transformaram em uma das mais potentes organizações afiliadas à rede terrorista de Osama bin Laden, revigorados pela chegada de novos recrutas e por um zelo renovado quanto a atacar alvos ocidentais.