domingo, julho 20, 2008

Ponto de vista

A ótima idéia foi divulgada na terça-feira, dia 8 de julho, pela Secretaria Municipal de Turismo: a Prefeitura de Upaon-Açú lançou Concurso de Fotografia com a temática “Um olhar sobre São Luís”. O concurso tem como objetivos “valorizar a fotografia como forma de expressão artística e estimular aqueles que se dedicam, de forma profissional ou amadora, ao prazer de captar e fixar imagens dos patrimônios históricos, culturais, religiosos e naturais da capital”.
Para recordar uma expressão certa vez utilizada pela minha querida Rafaelle, “desde faz que tempo” leio a famosa proposta de Ivan Sarney: é preciso amar a cidade. A meu ver, a proposta acabou se tornando um apelo, com o passar dos anos. E um apelo sempre pertinente, às vésperas de eleições municipais. Conseqüentemente, nos ocorre uma das famosas “perguntas que não querem calar” - dentre os prefeituráveis, quem realmente ama São Luís do Maranhão?
Na mesma tarde em que li a respeito do concurso de fotografia, chegou às minhas mãos um caderno de nove folhas de papel chamex, tamanho A-4. O material não tinha autoria definida, mas foi elaborado por alguns moradores do Renascença I. Está muito mal escrito. Porém, o sentimento de indignação que o inspirou não pode ser ignorado.
“Há aproximadamente 4 meses”, assim começa o documento, “estourou um esgoto no cruzamento das ruas Limeiras e Angelins (Renascença I), foram feitas várias reclamações por moradores próximos, pois as fezes escorriam nas ruas, nas calçadas, nas sarjetas. Veio a TV mirante e a difusora, fez uma reportagem, vários moradores deram entrevistas reclamando! 3 meses depois a Caema apareceu. Drenou o esgoto, funcionou apenas 01 semana. Estourou outra boca e as fezes em maior quantidade se espalharam na rua. O mau cheiro é insuportável. Ao passarem veículos e as pessoas levam sob os pneus, fezes, sujando as residências/escritórios e etc.”.
Essa triste realidade, infelizmente, não é um “privilégio” apenas do Renascença I. Visitem a Cidade Operária. Quando chegarem ao meu bairro, dêem uma passada na Unidade 105 - onde, inclusive, localiza-se outra das vergonhas desta cidade, o “Complexo Esportivo”. A área parece uma zona de guerra. Outro dia mesmo, estava lendo uma biografia do grande (era mesmo, tinha mais de 1,80m) ex-presidente francês Charles de Gaulle. O livro tinha fotos de alguns setores da paisagem interiorana da França duramente castigadas pelas bombas lançadas na Primeira Guerra. Fazer a comparação é menos exagerado do que possa parecer, à primeira vista.
Espero que os nossos fotógrafos, tanto mestres como o meu amigo Biné Morais quanto qualquer cidadão que adquiriu um desses celulares modernosos, consigam tirar grandes fotos de São Luís do Maranhão. Compreendo que uma grande foto também pode ser negativa para a Ilha. Alguém pode, ao dar a sorte de conseguir um ponto de vista único, imortalizar, por exemplo, a lamentável imagem de uma criança misturada ao lixo do Aterro da Ribeira. Obviamente, não é essa a proposta do concurso. Essa proposta é a mesma de Ivan Sarney. A idéia é captar o que a cidade tem de melhor. O que ela ainda tem de melhor, muito além de casarões seculares transformados de forma criminosa em estacionamentos. Muito além de esgotos estourados. Muito além do medo construído nos corações e mentes dos cidadãos pela greve da Polícia Civil.
A São Luís que eu amo é a do Centro Histórico à noite, que reencontrei no primeiro sábado do Vale Festejar. Eu caminhava sem pressa para o Convento, sem que me abandonasse a mais absoluta certeza de que muito precisa ser feito para que finalmente Upaon-Açú esteja enraizada no que o futuro tem de melhor. E assim será.

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