terça-feira, setembro 23, 2008

ODE AOS TRABALHOS DE HÉRCULES

Alvarenga Peixoto

Tarde Juno zelosa
Vê Júpiter, o Deus onipotente,
Em Alcmena formosa
Ter Hércules; e tanto esta dor sente,
que, em desafogo à pena,
Trabalhos mil de Jove ao filho ordena.
Manda-lhe, enfurecidas,
Duas serpentes logo ao berço terno,
Criadas e nascidas
No infernal furor do estígio
Mas nada surte efeito,
Se um sangue onipotente anima o peito;
Nas mãos o forte infante
Despedaça as serpentes venenosas
E fica triunfante
Das ciladas mortais e furiosas,
Que Juno lhe ordenava
Quando ele a viver mal começava.
Cresce, e a cruel madrasta,
Que, sempre nos seus danos diligente,
A vida lhe contrasta,
Ou que viva em descansos não consente,
Faz com que, vagabundo,
Corra, sempre em trabalhos, todo o mundo.
Aqui lhe põe, irada,
De diversas cabeças a serpente,
Que em briga porfiada
Trabalha por troncar inutilmente:
Divide-as, mas que importa,
Se outras tantas lhe nascem quantas corta?
Enfim, por força e arte,
Este monstro cruel deixa vencido,
Que já em outra parte
Trabalhos lhe tem Juno apercebido,
Tais que eu não sei dizê-los,
Mas pode o peito de Hércules sofrê-los
Triunfando e vencendo,
Fazendo-se no mundo mais famosos,
A Terra toda enchendo
De seu heróico nome gloriosos,
No templo da Memória
Gravou o Non plus ultra a sua glória.

Nenhum comentário: