segunda-feira, setembro 08, 2008

São Luís: 396 anos

Toda terra tem seus problemas e suas qualidades, sempre terá. Como a vida em si, independente do sol que arde sobre nossas cabeças, muito embora seja um só, ou da língua que falamos, há fatos que enaltecem e outros que entristecem. Era isso que tentava explicar, em vão, a um amigo que estava boquiaberto com toda a tecnologia e arquitetura dos Jogos Olímpicos de Pequim e fazendo uma amargurada comparação de total desprezo com o Brasil e em específico com a realidade de São Luis. Revoltado diante desta comparação absurda, não consegui expressar-me de tal modo que o fizesse entender minhas conclusões que agora aqui coloco; postas com a calma de quem quer entender o motivo das coisas. Leia com calma, amigo, pois é com esta caneta da parcimônia que entenderá sua enlatada inópia. E a todos que gostaram ou não desta cidade chamada São desejo feliz 396 anos, pois, querendo ou não, somos filhos dela, devemos nos orgulhar, como irão perceber.
Lembro claramente que me chamou de tolo, um apaixonado que se faz cego para que não veja a verdade à sua volta. Não foi isso, cáustico amigo? Agora sei de onde provêm todas as suas rugas e amarguras. Saiba que a minha São Luís é a mesma sua, não se assuste nem negue. O que mais me fascina é esta sua verdade intolerante, que vive a afirmar o escudo ser de prata; veja o outro lado, no qual o ouro reluz, avise a seus pulmões que inflam e arrogam que sempre há dois lados, e pergunte a ele porque faz questão de aspirar apenas o ar contaminado, deixando de lado qualquer ar puro que tenha por aqui. É a morte de um desses lados, e a super valorização do outro que fazem de você essa pessoa desacreditada. E antes que me coloque em meio aos que resumem São Luís ao Centro Histórico, alego que não esqueço que a pequena São Luis há muito, como uma criança que deseja crescer e nada podemos fazer, atravessou o rio Anil, que, hoje, do anil muito já desbotou. Fiel amigo, não fecho meus olhos, e, quando eles virem a fechar-se, não esquecerei que esta São Luís não foi convidada a Reviver, como a antiga São Luís: sei dos bairros pobres, da precariedade da Saúde e Educação pública. Nunca esqueço o sorriso da sofrida gente que faz esta ilha andar com a força humilde de seus braços fortes.
Mas, importado amigo, não fique a comparar o que de fora compra, pois isto é estupidez: vejo que assim somente você negreja seu coração, e se quer saber, sou sim um apaixonado pela minha Cidade e apaixono-me a cada dia. Suas negativas fecham em si, e, preso em si, com elas você não faz nada, absolutamente nada para melhorá-la. Fique aí a contemplar teus quadros na parede fria; a Torre Eiffel nela certamente é mais alta que a estátua de Gonçalves Dias, mas não lhe dará sombra nem poesia. Esta é sua colonial idéia e invejosa, onde todo lugar é melhor do que o aqui, onde há sonhos, mas nunca aqui. Se quiser saber ainda o motivo do meu orgulho do qual você debocha, tenho antes de tudo orgulho, pois esta cidade fez de mim quem sou. Importante é lembrar que para mim a chamada Velha São Luís que é nova, conheço-a há pouco tempo se compará-la ao bairro desta ilha onde cresci. Mas ainda poderia citar casarões e seus mirantes, fontes - das quais, a do Ribeirão, com seu frontispício de Neturno e com o silêncio de suas galerias que fazem eco, é a que mais me fascina - ruas e becos seculares que guardam em cada nome uma história, escadarias que nos trazem o passado, mas meu maior orgulho não é material, é sobretudo imoral, pois assim é nossa gente, que, com a vontade de viver e criatividade, inventa a vida, nas mais adversas situações, tornando-a possível! Meu Orgulho e ser Gonçalves Dias, Josué Montello, Artur Azevedo, Sousândrade, Graça Aranha, Nauro Machado, Antônio lobo, Vieira da Silva e tantos outros que parecem não caber na frase nem no Maranhão. E afirmo que se uma Atenas em 396 anos produziu tantos ilustres filhos, o que esperar dos próximos 396 anos?
Enfim, amigo, agora entende o que eu o queria dizer naquele dia e não consegui? Já que tanto lhe apetece e valoriza o que é chinês, isso tudo vale os “espinhos de Confúcio, que têm rosas” pelas quais devemos nos alegrar, mas somente olha as rosas que têm espinhos. E mais somente o aconselho, para que não venha a passar a vida em morte, não se contamine desta forma pelo o que há de ruim, pois isto tudo apenas turvará sua afeição e a possibilidade de valorizar algo de bom que existe ou aconteça à sua volta. Nunca deixe os problemas afetarem sua afeição de tal forma que todas as belezas lhe sejam tolhidas, de modo que lhe lancem nessa vida soturna de admiração do que não é palpável e de desprezo por todo o resto, porque temos que achar motivos para viver e mudar ou morreremos ranzinzas.

Gladson Fabiano de Andrade Sousa
Aluno do curso de Letras da UFMA
http://gladdking.blogspot.com/

Nenhum comentário: