quarta-feira, novembro 30, 2011

Cientista de destaque usa até Einstein para provocar rivais do Palmeiras no Twitter

30/11/2011 - 06h00
Bruno Freitas
Em São Paulo

O cientista Miguel Nicolelis é um dos brasileiros mais bem sucedidos fora do país hoje em dia, com trabalhos pioneiros em esforços de integração do cérebro humano com máquinas. No próximo domingo, no entanto, a cabeça do famoso professor da Universidade de Duke faz uma pausa nos raciocínios científicos para se dedicar à torcida contra o Corinthians na reta final do Campeonato Brasileiro.

Na condição de torcedor, Miguel Nicolelis se habituou recentemente a usar sua conta no Twitter para manifestar a paixão e fazer pequenas provocações aos adversários. No último domingo, enquanto o time de Felipão derrotava o São Paulo no Pacaembu, o cientista publicava comentários divertidos e interagia com seguidores.

Nas emoções da rodada levadas à rede social, Nicolelis chama o Corinthians de “coisa ruim”, denomina o maior ídolo são-paulino de “Rogério Cênico” e dispara tiradas como “Einstein vira na cova ao ver meia Corinthiano rasgar o continuum espaçotemporal e arrancar a canela do ponta do Figueirense!”.

Em sua página pessoal na Universidade de Duke, onde expõe resultados de seu grupo de pesquisas, Nicolelis mantém um escudo do Palmeiras, que dá acesso à página oficial do clube na internet. O cientista também conseguiu convencer os colegas nos EUA a adotarem o verde e branco nas cores do time do laboratório.

Palmeirense fanático, Nicolelis diz que espera que seu time do coração complique a festa do maior rival, mas afirma que, em caso de título corintiano, o Palmeiras poderia oferecer um gesto de grandeza, entregando as faixas de campeões aos adversários.

Na última semana, o diretor de marketing do Corinthians, Luiz Paulo Rosenberg, apimentou a expectativa para o clássico da última rodada do Brasileiro ao afirmar que desejaria ter os palmeirenses participando do cerimonial do campeão, com a entrega de faixas. A declaração irritou o lado alviverde e incitou debate acalorado dez dias antes do jogo do Pacaembu.

“Seria um ato civilizado, quantas vezes o Corinthians entregou a faixa para a gente. Temos oito títulos brasileiros, eles podem chegar ao quinto. Seria nobre entregar as faixas, uma atitude esportiva, se o Corinthians ganhar o título dentro das regras do jogo. Afinal, o que seria do Corinthians sem o Palmeiras, e vice-versa”, comenta Nicolelis, que diz ter como aposta o placar de 2 a 0 a favor dos homens de Felipão.

“O time pecou muito nesta temporada. É uma oportunidade de jogar pela dignidade de si mesmo, não de destruir a festa do Corinthians. Que joguem para respeitar a camisa e a torcida”, acrescenta o cientista.

CAMISA PALMEIRENSE ATÉ EM REUNIÃO DE CIENTISTAS

Paulistano de nascimento, Miguel Nicolelis atualmente divide os seus dias entre a cidade em que nasceu, os Estados Unidos, onde lidera um grupo de pesquisadores, e Natal, local em que instalou um projeto de pesquisa complementar a seu trabalho na Universidade de Duke. Quando passa em São Paulo, o cientista costuma vestir o verde para ver o Palmeiras em campo.

No entanto, há 23 anos passando a maior parte de seu tempo fora do país, Nicolelis se habituou a manifestar sua paixão palmeirense do jeito que é possível, mesmo que cause algum espanto entre colegas da ciência menos afeitos ao sentimento do futebol. Certa vez, o brasileiro discursou em um evento ligado à Fundação Nobel trajado com o que chama de “manto alviverde”.

“Foi uma palestra muito séria, em um resort na Suécia. Grandes cientistas do mundo estavam reunidos. Todo mundo com o seu melhor terno, o seu melhor sapato, e eu apareci vestido com a camisa do Palmeiras. Caiu num dia 26 de agosto, dia do tsunami verde, em que todo torcedor que se preze precisa vestir a camisa. Foi um choque para os meus colegas. Mas foi encarado com bom humor. Até porque, antes de cientistas somos seres humanos”, relata.

Nicolelis começou a construir sua relação com o Palmeiras aos sete anos, ao assistir a um jogo do time pela primeira vez no estádio, em um empate com o Grêmio em 1968 no Pacaembu.

Fora do país, o cientista fez o que pôde para não perder os laços alviverdes. Durante alguns anos, nos Estados Unidos, recebeu da mãe correspondências com capas dos cadernos de esportes da semana de jornais paulistas. Mais tarde, comprou um rádio comunicador de ondas curtas em que procurava transmissões de partidas do Verdão.

Para um palmeirense fanático além da fronteira, a chegada da internet significou uma autêntica revolução. Com a grande rede, Nicolelis experimentou o maior drama de sua trajetória de torcedor, ao acompanhar à distância a disputa por pênaltis com o Deportivo Cali na final da Libertadores de 1999.

“Foi uma agonia, uma das maiores da minha vida. Segui o jogo pelo acompanhamento do UOL. Era uma narração apenas em texto, com um delay (atraso) muito grande. Anunciaram que o jogador colombiano iria bater, depois demorou uns 5 ou 6 minutos até o próximo comentário, narrando que a bola tinha ido para fora”, recorda, sobre o pênalti decisivo daquela final.

CIENTISTA OFERECEU PROJETO EDUCACIONAL AO CLUBE

Em 2010, Nicolelis visitou o Palmeiras levando debaixo do braço um projeto educacional destinado às categorias de base do clube. O cientista conta que o então presidente Luiz Gonzaga Belluzzo se entusiasmou com a ideia da Academia de Estudos, mas que a proposta não encontrou continuidade na gestão de Arnaldo Tirone.

“Ainda estou esperando a atual administração se manifestar”, diz Nicolelis. “O futebol tirou muito da sociedade brasileira e deu muito pouco em troca. Esse é um quadro que a gente precisava mudar”, emenda, sobre o conceito por trás de sua iniciativa de formação extracampo para jovens jogadores.

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