Para quem está do lado de fora, parece
ter acontecido de uma hora para a outra.
De
repente, um grupo de brasileiros se juntou a outro grupo de brasileiros – que por
sua vez convocou outro grupo de brasileiros -, todos esses grupos formaram uma
massa compacta de indignados e, para o nosso espanto, lá estava essa galera
toda enfrentando a polícia, com sprays de pimenta espirrados em dezenas de
rostos e balas de borracha machucando quem tinha e quem não tinha a ver com a “primavera
tupiniquim”. Belo nome, não? Melhor do que “primavera do vinagre”.
Mas
é claro que não foi algo pensando em cima da hora. É claro que ninguém acordou
numa bela manhã, se espreguiçou e disse, sem mais nem para quê: “Ponte que
partiu! Hoje vou protestar contra o aumento de vinte centavos na passagem do
ônibus”.
Trata-se
de um movimento pensado, arquitetado e projetado para desestabilizar os poderes
constituídos vigentes, isso em plena ocorrência de um evento que, em tese,
deveria ajudar este país a pelo menos sonhar com a sua transformação em um dos players internacionais. Pois a Copa das
Confederações não está contribuindo. Porque a atenção da mídia foi desviada.
Difícil pensar nas peripécias de Neymar, Luiz Gustavo e Dani Alves enquanto
quase todo o país protesta por razões que acha as mais justas.
Aqueles
que protestam acharam por bem aceitar o suporte logístico de partidos
considerados de “oposição”. Muitas imagens mostravam pessoas portando enormes
faixas nas quais apareciam a sigla “PSTU”. Muito bem, em democracias que
pretendem ser levadas a sério é legítimo o auxílio à população lutar pelos seus
direitos – desde que ela aceite cumprir numa boa com seus deveres, como parte
do quid pro quo constitucional. O que me incomoda nessa questão é a manipulação
ideológica evidente do núcleo marginal que depredou na segunda-feira uma
Assembleia Legislativa e feriu um grupo de policiais militares.
Fico
incomodado porque esse tipo de manifestação precisa
ser pacífico. Não pode descambar para a violência, não pode propiciar a
destruição de patrimônio, não deve tornar o país refém de uma rebeldia
casuística, que não tem outro objetivo além de criminalizar um movimento que
pode mesmo modificar os rumos deste país. Nada de radicalismos! Nada de
fundamentalismos! A selvageria e a ignorância não devem representar aqueles que
entregam flores brancas a policiais que, ao fim e ao cabo, tem como objetivo
primordial garantir a ordem e o progresso – elementos basilares que tornaram
nosso país uma das mais ordeiras do mundo. Por causa desses dois itens, não
somos hostis às nações vizinhas do Mercosul e, acima de tudo, enviamos
regularmente ajuda humanitária para o Haiti, devastado por um terremoto.
Como
disse a presidente Dilma Rousseff, a voz das ruas precisa ser ouvida. A voz que
protesta contra o aumento da passagem, contra os gastos abusivos propiciados
para a construção dos estádios da Copa do Mundo. Contra educação e saúde de má
qualidade. Contra a mortalidade infantil. Contra a prostituição de crianças,
cujos pais desesperados desejam não vê-las morrer de fome porque estão
desempregados e só o Bolsa-Família não basta. Essas vozes não devem se calar.
Essas vozes devem ecoar todos os dias, de agora em diante.
Não
posso concordar com o presidente da Fifa. Tampouco com o dirigente máximo da
federação internacional de futebol. O esporte bretão não pode ficar acima dessa vontade popular legítima de modificar
esta nação para melhor. E mais: a Copa das Confederações não é nada diante da luta contra mazelas como a corrupção.
Esse
tipo de arrogância insensata é que não pode ser tolerado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário