sábado, julho 14, 2007

REAÇÃO AO PESSIMISMO

A contagem regressiva para o fim da odisséia humana na Terra já começou. E, de acordo com um dos mais influentes pensadores da atualidade, o britânico John Gray, pode zerar antes do fim deste século.
Vejam como a variável sorte é de fato incontrolável. Acompanho há algum tempo a carreira do professor Gray. O que sei a respeito do homem: tem 58 anos, cursou Filosofia na Universidade de Oxford e é professor de Pensamento Europeu na London School of Economics. Até aí, tudo bem. A Internet foi criada para isso. Mas ainda não tinha um livro sequer do filósofo em questão. Um problema que foi resolvido no começo do mês passado.
De uns tempos para cá, venho comprando livros de um rapaz que mora próximo ao Farol da Educação, lá na Cidade Operária. O primeiro foi uma nova edição de “Entrevista com o Vampiro”. Agora, finalmente tenho em mãos um dos trabalhos mais importantes de John Gray, “Al-Qaeda e o que Significa ser Moderno”.
O livro não é um desses tratados filosóficos de trocentas páginas. O autor o escreveu para o leitor do presente século - aquele que vive alegando que não desenvolve o hábito da leitura porque “não tem tempo para isso”. O que não significa que Al-Qaeda... deve ser lido superficialmente. Porque apresenta pontos de vista interessantes a respeito de assuntos que fazem parte do debate cotidiano, seja entre protagonistas do cenário sociopolítico ou debatedores de mesas-redondas de barzinhos.
Logo no princípio do texto, John Gray nos diz que a Al-Qaeda (“A Base”) fez mais do que derrubar torres que simbolizavam a expressão máxima do poder de fogo capitalista e assassinar milhares de inocentes. Ela colocou em xeque o próprio mito ocidental de que sociedades industrializadas e tecnocratas, com raízes estabelecidas no livre-comércio, podem promover um futuro maravilhoso para a humanidade. Provou também que, no contexto do fundamentalismo vigente, o religioso é plenamente capaz de superar o econômico.
Em seu ensaio, John Gray delimita o significado de “moderno”. Como todos sabem, o pensamento moderno é contrário ao pensamento clássico. A característica principal do segundo encontra-se na solução dualista da reflexão metafísica. Existem o mundo e Deus, mas são separados entre si: Deus não conhece, não cria, não governa o mundo. Esse dualismo não será negado, mas sim desenvolvido no pensamento cristão, mediante o conceito de criação, em virtude da qual é ainda afirmada a realidade entre Deus e o mundo, mas Deus é feito criador e regente do mundo. Este não pode ser explicado a não ser pela presença de um Deus que o transcende.
Na opinião do professor Gray, o pensamento moderno não se manifesta na sua significação imanentista a não ser na plenitude do seu desenvolvimento. Portanto, essa manifestação ocorreu através de uma série de períodos desde o Renascimento - que pela primeira vez acrescentou à visão de mundo ocidental a indagação crítica e a reinvenção da sociedade pelo advento do conhecimento científico. Conhecimento este que, segundo o autor, não precisaria ter necessariamente ocorrido. A seu ver, diversos fatores de ordem política, social, econômica e geográfica poderiam ter impedido que a ciência, hoje, determinasse benefícios como a inclusão de um número cada vez maior de pessoas na infinita estrada da informação ou, por outro lado, permitisse o avanço insidioso da Pax Americana. Porém, como a humanidade aceitou sem reservas o advento do conhecimento científico, o momento agora é de assegurar que a contagem regressiva seja interrompida. John Gray afirmou recentemente que a espécie humana expandiu-se a tal ponto que ameaça a existência de outros seres. Tornou-se uma praga que destrói e ameaça o equilíbrio do planeta. Acredito que o momento, agora, é de mostrar ao professor que ele está enganado. Que um dia conseguiremos explorar corretamente todos os recursos naturais à nossa disposição.

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