LE MONDE
Jin Chunlei*
Como leitor diário do “Le Monde”, que considero um jornal de referência, qual não foi minha surpresa ao ler um artigo intitulado “Eu acuso o regime chinês”, assinado por Guy Sorman, que incluía um questionamento extremamente parcial e grosseiro de meu país, com argumentos infundados.
Primeiro, não concordo quando o autor afirma que “a China considera o crescimento como seu destino”. O crescimento, assim como a democracia, é um meio a serviço de um fim que consiste em desenvolver o país e em edificar uma vida feliz e digna para seu povo.
A meu ver, um crescimento sem democracia é impossível, uma democracia sem crescimento é catastrófica. Sem uma democracia, a China não poderia ter buscado seu crescimento contínuo durante mais de 30 anos. O processo de democracia na China sempre acompanha o desenvolvimento econômico e social. Um país não tem o direito de impor sua concepção da democracia aos outros, pois a realidade é diferente em cada um deles. Sempre me espanto quando se contentam em julgar os outros a partir de suas próprias opiniões políticas.
Segundo, coloco-me contra a afirmação de que “o não-direito à democracia é bom o suficiente para os chineses”. Em 1919, os chineses reclamaram o direito à democracia e à ciência. Em 1949, eles foram emancipados e libertados. Durante mais de 30 anos, graças a constantes reformas e aberturas, eles puderam gozar do direito a alimentação, vestimentas, moradia, educação e política. As eleições diretas são realizadas em cada vilarejo. Tudo isso constitui um progresso gigantesco na história chinesa.
Sem julgamentos prévios
Em terceiro lugar, discordo da comparação do Dr. Sun Yat-sen (1866-1925) com qualquer um que seja. O Dr. Sun foi pioneiro da revolução chinesa. Graças a ele, o regime feudal que reinava havia mais de 2 mil anos foi derrubado. É um grande homem respeitado por todos os chineses. Todos os anos, durante a festa nacional, seu retrato é içado na Praça da Paz Celestial. Ele pode ficar aliviado em saber que a China se tornou um país poderoso, próspero e democrático.
Quarta discordância: afirmam que “os camponeses chineses são privados de escolas e de qualquer cuidado médico”. É verdade que o nível de vida no campo continua sendo menos elevado do que nas cidades. Mas a expectativa de vida dos chineses passou de 35 anos, em 1949, para 72 anos em 2009, a renda anual dos camponeses não para de aumentar, os empreendimentos rurais vêm se desenvolvendo, e mais de 100 milhões de camponeses vêm trabalhar nas cidades a cada ano. A urbanização na China é da ordem de 42% hoje, e a expectativa é de 50% para 2015. Pela primeira vez, os camponeses chineses não precisam pagar seu imposto agrícola, e o seguro de vida mínimo se aplica em todo o país. Claro, não é suficiente, mas não pararemos por aí.
Por fim, não concordo quando dizem que “o governo da China torna-se arrogante” e “a China respeita cada vez menos as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC)”. Os chineses não são um povo arrogante. Mas eles sabem defender seus interesses vitais. Para se adaptar à OMC, a China modificou 2.300 leis e regulamentos antes de entrar nessa organização em 2001. Desde então, ela não parou de flexibilizar seus regulamentos para se adaptar às regras da OMC.
Para uma melhor compreensão sobre a China, é preciso, portanto, deixar de lado o espírito imutável da guerra fria e os julgamentos prévios. É preciso ver a China de uma forma global e visionária.
*Jin Chunlei, assessor de imprensa junto à embaixada da China na França.
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