sexta-feira, outubro 15, 2010

Enfim, vendido: após travar batalhas judiciais, Liverpool tem novo dono

Consórcio americano New England Sports Ventures compra o clube por R$ 794 milhões.
Novela se arrastou por vontade dos antigos proprietários

Por Victor Canedo
Rio de Janeiro

Era fim da manhã da última quarta-feira quando meia dúzia de torcedores cantava a plenos pulmões “You’ll Never Walk Alone”, música tema do Liverpool há décadas. Na porta do tribunal, todos festejavam a decisão da Alta Corte, que deu razão ao Royal Bank of Scotland (RBS), logo o maior credor, em continuar o processo de venda do clube, afastando os antigos donos de cena, os americanos Tom Hicks e George Gillett. Mas a festa só ficou completa nesta sexta: por 300 milhões de libras (R$ 794 milhões), os Reds agora pertencem ao New England Sports Ventures (NESV), presidido por John W. Henry, também proprietário do time de beisebol Boston Red Sox.

Antes odiados por boa parte da torcida por causa da má fase em campo, Hicks e Gillett também viraram vilões ao tentarem impedir e atrasarem todo o procedimento com uma liminar concedida em Dallas, nos Estados Unidos, quando o anúncio oficial era aguardado. Na quinta, no entanto, nova vitória na justiça inglesa soou como irreversível dessa vez. E, após desgastante novela, o martelo foi oficialmente batido na tarde desta sexta.

- Estamos aqui para vencer. Estou feliz e orgulhoso - disse Henry.

A mudança surge como um sinal de nova era para os Reds. É justamente o verbo renovar que enche uma das torcidas mais fanáticas da Inglaterra de esperança. Não à toa o 15 de outubro de 2010 já é chamado por eles de “Dia da Independência”.

– Eu sei o quão frustrados estão os torcedores com o que tem acontecido e posso entender seus sentimentos. Mas todos nós temos sofrido com isso, especialmente a torcida, e agora é a hora de nós nos juntarmos e ajudarmos o clube a sair dessa situação – disse o capitão, porta-voz e “dono” do time, Steven Gerrard, após o anúncio da primeira decisão favorável no tribunal durante a semana.

Nesta sexta, véspera do clássico com o Everton pelo Campeonato Inglês, o técnico Roy Hodgson afirmou que a conclusão do negócio "tirou uma nuvem de cima do clube" e dará tranquilidade aos jogadores. Em um comunicado oficial no site dos Reds, o NESV revelou que também pagou boa parte da dívida do Liverpool, reduzindo-a de um valor entre 25 e 30 milhões de libras (R$ 66 a 80 milhões) para outro entre 2 e 3 milhões de libras (R$ 5 a 8 milhões).

A novela

Os conflitos internos, que marcaram um dos períodos mais conturbados da história do Liverpool, começaram quando Hicks e Gillett quebraram o acordo com o banco escocês na última renegociação da dívida (cerca de R$ 633 milhões) e afastaram o diretor comercial Ian Ayre e o chefe-executivo Christian Purslow. Além de desmentir publicamente o presidente Martin Broughton, que havia anunciado a venda para o NESV.

Como o prazo estipulado para o pagamento de boa parte do débito (R$ 528 milhões) vencia na sexta-feira, o descumprimento do trato com o RBS acarretaria em um pedido de concordata e a perda de nove pontos no Campeonato Inglês, que jogaria os Reds para a lanterna, com menos três pontos.

A vitória, então, trouxe os dirigentes de volta ao comando e o anúncio da venda passou a ser questão de horas, já que o responsável pelo negócio e à época provável futuro dono, John W. Henry, chegou à Terra dos Beatles na noite de quarta. Mas outra ação na justiça, dessa vez em Dallas, nos Estados Unidos, impediu a oficialização do negócio. Na quinta, outro triunfo do RBS na justiça inglesa anulou o pedido de Hicks e Gillett, alegando que “o caso nada tinha a ver com o Texas”. Torcedores novamente foram às ruas comemorar mais um capítulo vencido.

O fim da novela estava próximo. Embora outros dois compradores tenham mostrado interesse, sendo um empresário de Cingapura, que ofereceu R$ 950 milhões, e um fundo americano (Mill Financial), ambos desistiram depois de o clube praticamente desprezar as propostas. Com o caminho livre para o NESV, faltava apenas o sim da justiça. E ele veio nesta sexta-feira, logo após Hicks e Gillet retirarem a ação em Dallas (com a promessa de processar o clube e seus dirigentes em R$ 4,2 bilhões de indenização pela "trapaça"). Uma vitória com gol nos acréscimos do segundo tempo que deixará as preocupações de lado por tempo ainda indeterminado.

– Se o torcedor vir que o time dele está forte não vai se importar muito de onde está vindo o dinheiro. Lembro de quando a MSI comprou o Tevez, fui assistir ao primeiro jogo do argentino, conversei com torcedores e só via felicidade. Levantei a questão sobre indícios de lavagem de dinheiro, mas ninguém estava ligando. A mentalidade do torcedor inglês tem sido a mesma. O Chelsea e os times de Manchester não me deixem mentir – afirmou Tim Vickery, correspondente da BBC na América do Sul.

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