terça-feira, junho 07, 2011

O SEMÁFORO E O ATRASO

Muito se discute a respeito das disparidades existentes não só no Brasil, mas ao redor do planeta.
Um exemplo local: enquanto crianças de escolas particulares em São Paulo levam para a sala de aula smartphones e notebooks, pobres estudantes do interior maranhense nem com a escola para estudar contam – são colocadas de qualquer maneira em casas inapropriadas para o trabalho estudantil e supervisionadas pelos professores que mais recebem no mundo péssima remuneração.
E para continuar no Maranhão (porque a gente tem que criticar primeiro o que acontece no nosso quintal para falar mal do que ocorre no quintal alheio), fiquei sabendo que o município de Bacabeira enfim recebeu seu primeiro semáforo.
Os sinais do atraso estão por toda parte. Saúde, então, devia ser sinônimo de caso de polícia. Um cirurgião daqui de São Luís, após a morte de um paciente no Socorrão I, lá no Centro, denunciou as péssimas condições estruturais em que atuava. O óbito da pessoa que tentara salvar deveu-se ao absurdo de não existir compressas limpas (ou não haver compressas de jeito nenhum) no hospital. Aí, em vez de apoiar o profissional e darem o sinal verde para reformas tanto no Djalma Marques quanto na nojeira do Socorrão II, próximo à Cidade Operária, autoridades tentam desacreditar o profissional, na vã e tola tentativa de varrer os problemas para debaixo do triste tapete burocrático. Com o diria aquele personagem: “Que lástima!”.
Enquanto isso, em Brasília, tivemos a queda do chefe da Casa Civil do governo da Dona Dilma. Caso estivéssemos em um país em que as instituições e o eleitor fossem tratados com o devido respeito, qual era a do Palocci? Entregaria o cargo à presidenta quando a bola de neve da polêmica estivesse no nascedouro e responderia às denúncias tranquilamente que pipocaram tanto pelos lados da oposição quanto da base aliada. Como ao que me consta ele não enriqueceu ilicitamente, bastará a Palocci aguardar a poeira assentar para promover seu retorno à vida pública. Afinal, aqui no Brasil nada pode ser tomado como definitivo. Vejam o caso do Collor.
Discrepâncias maiores a gente vê nas telenovelas. E que são bem ruinzinhas, diga-se de passagem. Outro dia mesmo, vi uma perua correndo atrás de um garotão em uma lancha que só os muito ricos neste país podem ter. O que me faz recordar de uma cena rápida do filme “Carandiru”, na qual um presidiário enfurnado em sua pequena e abafada cela conseguia assistir, mesmerizado, a uma belíssima Claudia Raia, exuberantemente nua, caminhando em um cruzeiro altamente luxuoso. E assim o povão vai vivendo, consumindo todo santo dia, das seis às 10 da noite, uma ilusão voltada para uma determinada classe social – aquela mesma, que torce o nariz para feijoada e pagode e ainda acha que os nordestinos são os grandes problemas desta nação.
E aos trancos e barrancos – aturando valas, crateras, esgoto a céu aberto e engarrafamentos irritantes e martirizantes -, entre uma greve e outra, a nossa pobre humanidade vai caminhando. E se querem saber, o fato de Bacabeira só agora ganhar seu primeiro semáforo é dos males o menor e só ilustra o grande dito popular segundo o qual “antes tarde do que nunca”.

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