terça-feira, agosto 07, 2007

GONÇALVES DIAS E O PV

Informa a Internet que o Partido Verde foi fundado em 17 de janeiro de 1986. Esta é uma das milhares de peças de ficção das quais está cheia a Grande Rede. Afinal de contas, a criação do PV ocorreu em meados do século XIX, com o advento do Ro-mantismo e graças ao empenho literário de Gonçalves Dias – não apenas o verdadeiro criador de uma literatura genuinamente brasileira, como também um dos primeiros poe-tas a se preocupar com temas que abordassem a preocupação com a ecologia.
O caxiense Antônio Gonçalves Dias nasceu a 10 de agosto de 1823. Portanto, todos nós que apreciamos a poesia devemos render ao autor de “I-Juca-Pirama”, nesta sexta-feira, as devidas homenagens. Há exatos 184 anos, um dos grandes mestres da literatura universal foi apresentado ao Brasil e ao Maranhão.
Essa qualquer estudante de Literatura Brasileira sabe, se não dormiu nas primei-ras aulas: durante muito tempo não tivemos uma literatura nacional. Depois que foram encontradas por navegantes portugueses comandados pelo ilustre Cabral, na hora zero entre os séculos XV e XVI, estas paisagens brasileiras, as letras (ou mesmo a possibili-dade de uma produção cultural relevante) foram relegadas a terceiro plano, ante a im-portância, em primeiro lugar, da exploração econômica da colônia recém-conquistada e, posteriormente, da catequese dos índios. Nesse momento, há uma literatura informativa (uma literatura no Brasil e não do Brasil), cujo expoente máximo é a carta de Pero Vaz. Quanto ao trabalho dos jesuítas na conversão dos gentios, aprendemos que os trabalhos de Manuel da Nóbrega e de Anchieta são os que apresentam qualidade inquestionável.
Sem encontrar explicações racionais para o mundo, e com o fortalecimento da Igreja Católica, o Barroco é a estética literária que traduz o pensamento da humanidade no século XVII: ela retoma a religiosidade do período medieval e o antropocentrismo do século XVI. Agora, o pensamento humano oscila entre pólos opostos: Deus x homem; céu x terra; espírito x matéria. Já o Arcadismo posiciona-se contra os dilemas barrocos e propõe uma literatura mais equilibrada e espontânea, buscando harmonia na pureza e na simplicidade das formas greco-latinas. Os poetas árcades propõem a volta à simplicida-de da vida no campo e o aproveitamento da vida presente. Esta proposta e a teoria do “bom selvagem”, de Rousseau, serão retomadas pela estética seguinte: o Romantismo.
E não dá para falar em Romantismo sem mencionar o indianismo. Quem (aque-les que realmente o leram no colégio, que é onde o livro é mais disseminado) não se lembra dos verdes mares bravios da terra natal de José de Alencar? Quem não se recor-da da virgem Iracema dos lábios de mel? Pois é: a Natureza – compromissada com o elemento nacional – comporta apenas um indivíduo que esteja, de fato e de direito, nela entrosado, e esse indivíduo é o silvícola. “No meio das tabas, de amenos verdores, al-teiam-se os tetos da altiva nação” indígena, à qual os poetas e prosadores do século XIX mais se apegaram, a fim de se orgulharem de um país que estava ainda em seus primei-ros passos tanto quanto à formação política e administrativa, quanto na questão literária.
A partir do talento de Gonçalves Dias, o elemento principal que norteia a força, por vezes desmedida, do indígena, é a Natureza. Prova disso é a intensidade com que se faz presente no Canto segundo d’Os Timbiras: “Desdobra-se da noite o manto escuro:/ Leve brisa sutil pela floresta/ Enreda-se e murmura, - amplo silêncio/ Reina por fim”. Como se percebe, há todo um trabalho de artes plásticas e música, com emprego de ri-mas e repetição de versos em momentos importantes da narrativa (no caso dos poemas épicos, como o I-Juca-Pirama). Esse mesmo processo criativo vejo na obra de José Chagas, apenas para citar um dos nossos poetas maiores contemporâneos. Mas falta os mestre d’Os canhões do silêncio o privilégio de ter fundado um partido político voltado justamente para as questões ecológicas, que colocasse a Natureza no topo da lista de prioridades pelo menos um século antes de todo mundo começar a pensar em “preservar o verde”. Gonçalves Dias criou o Partido Verde! Era o fraco!

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