quinta-feira, agosto 23, 2007

A HORA E A VEZ DE JOSUÉ MONTELLO

Ainda não li o livro, mas acredito que a duquesa de José Sarney valha mesmo uma missa. Não deixa de ser um tanto quanto bairrista o que afirmarei agora – uma vez que a arte literária deve mesmo ignorar fronteiras -, mas é muito bom ver a literatura maranhense em destaque. Como se sabe, o ex-presidente teve um de seus livros adapta-dos para o cinema e também autografou recentemente mais um romance de sua lavra. É por causa de exemplos assim, bem-sucedidos, que tenho a mais absoluta convicção de que um outro escritor daqui da terrinha pode e deve receber, como justa homenagem (entre tantas que tem recebido, desde seu falecimento), a reedição de seus romances.
Para quem não faz idéia de quem estou falando, saiba, ó mísero filisteu, que o assunto desta crônica é Josué Montello, o melhor de todos os romancistas maranhenses. Corro o risco de atrair a fúria dos admiradores (os que ainda estão vivos, imagino) de Coelho Neto e do próprio Sarney (estes, sim, muito vivos), mas sustento minha opinião desde que li Noite sobre Alcântara, Os tambores de São Luís e Cais da Sagração. Quanto à reedição, fico imaginando a cara de espanto que o presidente da Academia Maranhense poderia fazer, se por acaso interessar-se em ler estas bem-traçadas linhas. “Mas, meu filho”, exclamaria, “são 26 livros!”. É, eu sei. E daí? Tenho certeza de que algum empresário ou político apaixonado pela literatura poderia bancar essa tarefa. Lembro-me que a Nova Aguilar, tempos atrás, lançou, em uma edição luxuosa, alguns dos “Diários” de Montello.
Hoje, retomei O Silêncio da confissão. A crítica da Editora Nova Fronteira – que lançou a obra – talvez seja melhor do que qualquer argumento que eu possa expor, a fim de defender essa grande homenagem a Josué: “Tanto na sua técnica quanto na sua urdidura, este novo romance de Josué Montello é um perfeito romance policial, com o clima de suspense que caracteriza esse tipo de narrativa moderna. Grandes mestres do roman-ce psicológico, como Dostoievsky, em Crime e castigo, e Georges Bernanos, em Um crime, souberam dar ao romance policial a categoria de obra de arte, de tal modo que, conhecidos os dados fundamentais de sua intriga, o romance tem ainda uma autonomia própria, decorrente da perfeição da forma e do processo de composição da urdidura”.
Querem mais argumentos? Os tambores de São Luís é considerado um dos prin-cipais livros escritos no Brasil. Foi incluído no currículo de literatura brasileira de diversas universidades francesas, integrou a lista dos cem maiores livros de língua portu-guesa do século XX, organizada pelo jornal O Globo e mereceu ser adaptado em forma-to de roteiro para documentário.
Há meses não visito a Casa de Cultura batizada com o nome do mestre de Jane-las fechadas. Para quem não sabe, a Casa fica na rua das Hortas, esquina com a rua do Coqueiro, no Centro. Eu descobri sua existência nos tempos de estudante, quando tudo o que tinha a fazer era tirar notas boas (o que nem sempre conseguia) e curtir o dolce far niente dos adolescentes da classe média. Lembro-me de um trabalho de Literatura Brasileira que precisava fazer. Na época, nem se falava de Internet – o que tornava obrigatória a visita à Biblioteca Pública Benedito Leite, onde conheci Deuziane, entre outras tantas beldades. Nesse aspecto, graças a Deus, sempre tive muita sorte.
Eu precisava de um livro de José de Nicola. Lembro-me que fui atendido por um rapaz que, se tivesse dinheiro como tinha má vontade, hoje seria mais endinheirado do que Bill Gates. Pois ele não encontrou o livro. Para que eu não ficasse sem fazer o tal trabalho, ele sugeriu uma visita à Casa de Cultura Josué Montello. Perguntei onde fica-va. Não foi difícil encontrá-la. Se tem algo que aprecio muito fazer, faz tempo, é cami-nhar pelo centro desta cidade, que deveria receber um melhor tratamento daqueles que a desgovernam. E lá na Casa de Cultura, fui muito bem recebido e consegui fazer meu trabalho. Também não posso esquecer: nesse local, pela primeira vez li Noite sobre Alcântara. Desde então, Montello nunca deixou de figurar nas minhas estantes.

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