sexta-feira, agosto 03, 2007

TENDA DOS MILAGRES

Este mundo é uma grande tenda dos milagres. Os milagres são considerados expressões do sobrenatural. Pode-se dizer que são fenômenos contrários às leis naturais. Para os crentes, obedecem a uma força superior: a de Deus.
Acredito que só Deus mesmo poderá explicar, no Dia do Juízo, os quatro mila-gres dos quais tomei conhecimento hoje, nesta primeira quinta-feira de agosto. Na Ar-gentina, um bebê prematuro dado como morto foi salvo pelo pranto. Na Índia, outro, com apenas um ou dois dias de vida, conseguiu sobreviver a 26 facadas. Uma criança de dois anos sobreviveu a um massacre, em um restaurante chinês, na Alemanha. E, ainda neste país, um gato salvou um bebê de hipotermia.
O mundo também é um vale de lágrimas, ai de nós. Principalmente para quem é criança. Aqui no Brasil, temos o Estatuto da Criança e do Adolescente (que atende tam-bém pela esquisita sigla ECA), com 267 artigos. O documento contempla todos os re-quisitos que, em princípio, levaria a infância a um amparo total. Mas só em princípio. A violência contra a criança, neste país, avança como uma epidemia, oculta pela falta de estatísticas, omissão da polícia, e o silêncio da população. Estimativas encontradas na literatura médica apontam que cerca de 10% das crianças levadas a serviços de emer-gência por trauma são vítimas de maus-tratos.
Volta e meia, as páginas policiais desta nossa Ilha de São Luís apresentam notí-cias sobre recém-nascidos abandonados em calçadas, à mercê da sanha devoradora de formigas. Ou então de pais bêbados que violentam as próprias filhas menores. Ou então de mães insensatas, que atiram fetos em lixeiros ou privadas.
Costumamos pensar que, em países desenvolvidos economicamente, as mentali-dades também devem ser diferentes. Mas é uma reflexão equivocada. Os pecados são os mesmos. Até porque não há diferenças entre o ser humano de Itapipoca do Norte e o do Cudumundistão. São os mesmos... mas também podem ser até piores, como no caso da criança brutalmente esfaqueada. Foram 26 golpes brutais. Ela teve fratura no crânio e intestinos expostos por um ferimento feito nas costas. O que leva a pensar também que há condenados que se comportam como animais selvagens. O menino chegou ainda com vida ao hospital. Mas até quando? Peço a Deus que tenha piedade deste pobre ino-cente.
E que livre de cães ferozes o heróico felino que, na distante Colônia, na Alema-nha, sob um frio tão intenso quanto o da Editoração deste jornal, salvou um bebê da morte por hipotermia. O menino havia sido abandonado na porta de uma residência. O gato miou e miou, até acordar o dono da casa. Os gatos já nascem pobres, como nos informa a música. Porém, há os que estão nesta vida para fazer o bem.
Ainda na Alemanha, houve, como dissemos, um massacre em um restaurante chinês. Impressionante como temos incrível facilidade para eliminarmos nossos seme-lhantes. Sempre que assisto ao filme A Lista de Schindler, não tenho como ficar indife-rente às cenas do extermínio de judeus no gueto. Pessoas colocadas em fileiras de três ou quatro e executadas com um só tiro. Tragédias que se repetem no filme, com o obje-tivo de mostrar às futuras gerações que alguns erros não devem nunca mais ser cometi-dos. E essa nova geração pode ser representada pela criança que sobreviveu milagrosa-mente ao massacre. Escapou ao amplexo da morte. Por enquanto. Os movimentos da odisséia humana na terra são totalmente incertos.
Tão incertos quanto os médicos argentinos que não sabem dizer quando uma criança está viva ou quando está morta. Ah, criança de Buenos Aires: teu choro serviu mais que salvar tua própria vida. É um brado a favor do futuro. É o canto que fortalece-rá a esperança em todos os corações do mundo – esta tenda de milagres tão inexplicá-veis quanto maravilhosos.

Nenhum comentário: