terça-feira, janeiro 13, 2009

Maísa, de Manuel Bandeira

Um dia pensei um poema para Maísa
“Maísa não é isso
Maísa não é aquilo
Como é então que Maísa me comove me sacode me buleversa me
hipnotiza?

Muito simplesmente
Maísa não é isso mas Maísa tem aquilo
Maísa não é aquilo mas Maísa tem isto
Os olhos de Maísa são dois não sei quê dois não sei como diga dois
Oceanos Não-Pacíficos

A boca de Maísa é isto isso e aquilo
Quem fala mais em Maísa a boca ou os olhos?
Os olhos e a boca de Maísa se entendem os olhos dizem uma coisa e a
boca de Maísa se condói se contrai se contorce como a ostra viva
em que se pingou uma gota de limão
A boca de Maísa escanteia e os olhos de Maísa ficam sérios
meu Deus como os olhos de Maísa podem ser sérios e como a boca de
Maísa pode ser amarga!Boca da noite
(mas de repente alvorece num sorriso infantil inefável)"

Cacei imagens delirantes
Maísa podia não gostar
Cassei o poema.

Maísa reapareceu depois de longa ausência
Maísa emagreceu
Está melhor assim?

Nem melhor nem pior
Maísa não é um corpo
Maísa são dois olhos e uma boca

Essa é a Maísa da televisão
A Maísa que canta
A outra eu não conheço não
Não conheço de todo
Mas mando um beijo para ela.

BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro, José Olympio, 1986, pp 239-40.

Um comentário:

Unknown disse...

Ney, obrigada pela visita e pelo carinhoso comentário sobre o blog.
Devemos compartilhar e divulgar coisas boas e valiosas ...
Já marquei o seu blog e voltarei aqui, com certeza, para lê-lo com calma. Um excelente final de semana para você.
Forte abraços,
Ana