domingo, janeiro 25, 2009

Toda insensatez será castigada

Para começar pelo princípio, um pouco de cultura cinematográfica. No filme Parque dos dinossauros (1993) o paleontólogo Alan Grant (interpretado por Sam Neill), encontra ovos de dinossauros que haviam acabado de nascer e rapidamente misturaram-se à fauna jurássica protagonista da película. Até esse momento do filme, o que se sabia dos dinos era que não podiam procriar, pois à sua estrutura genética foi acrescentado o DNA de anfíbios. Ou qualquer viagem parecida com isso. Pois bem, ao observar que os animais tinham plenas condições de reprodução, o cientista constatou: “A vida sempre encontra uma saída”. Ou algum delírio semelhante.

Um ano atrás, a Barrigudeira do Monte Castelo foi impiedosamente retalhada por filisteus da Prefeitura. Sim, alguns galhos caíram, assustaram os moradores da área (próxima à Igreja de Nossa Senhora da Conceição) e poderiam machucar ou até mesmo matar quem porventura estivesse perto da árvore nesse momento.

No Prefácio de seu livro Sombras da noite (Objetiva, 2008), Stephen King nos diz que “o medo é a emoção que nos torna cegos. De quantas coisas temos medo? Temos medo de desligar a luz quando nossas mãos estão molhadas. Temos medo do que o médico pode nos dizer quando o exame tiver terminado; quando o avião de repente dá uma sacudidela em pleno vôo. Temos medo de que o petróleo acabe, de que o ar puro acabe, de que a água potável, a vida saudável se acabem. O medo nos deixa cegos”.

E foi o medo aquilo que levou os “responsáveis” pelo paisagismo e pelo meio ambiente nesta cidade a podarem a Barrigudeira de uma forma muito semelhante a um estupro. Um ano atrás. E não é que, exatamente 12 meses depois dessa violência, a Ceiba pentandra vem recuperando lentamente o que dela arrancaram de maneira tão brutal? De fato, há aquilo que consegue resistir às veleidades humanas.

Mas há também o que não consegue.

A nova sede da Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão foi pensada, desenhada e construída para atender ao gosto elitista dos nossos “representantes”. Está mais próxima das mansões e da vida mansa da maioria dos deputados do que o acanhado prédio da rua do Egito. Talvez o novo palácio tenha sido erguido por este motivo: manter os parlamentares longe de toda e qualquer manifestação popular. Mas sou daqueles que preferem oferecer o benefício da dúvida.

Informação colhida no blogue do Sarará: R$ 100 milhões foram gastos para oferecer aos nossos deputados estaduais o conforto que consideram merecido. Cem milhões de reais. E muito barulho para nada. Foi só uma questão das chuvas começarem. O que aconteceu? O castigo. A Natureza não poderia ter deixado de se vingar. Afinal de contas, para que a nova Assembléia Legislativa fosse construída, uma extensa área da Reserva do Rangedor foi simplesmente exterminada.

O que me leva a pensar: numa cidade em que o rio Anil passou décadas a fio sendo poluído pelos dejetos despejados pela Merck; em que as questões ambientais foram administradas por um Othelino de triste memória e onde queimadas são realizadas a torto e a direito na periferia, originando incêndios que o fraco Corpo de Bombeiros local não tem condição alguma de debelar, o prédio que abriga o Parlamento estadual simplesmente alaga durante uma chuva mais forte.

Uma verdade inconveniente: para a Mãe Natureza, quem ri por último ri melhor.

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