quarta-feira, outubro 24, 2007

A Feira e a orquestra

Neste mês de outubro, não será apenas o Maracanã que ficará mais bonito, em razão da Festa da Juçara. São Luís do Maranhão, durante uma semana inteira - a depender de quando esta crônica será publicada -, voltará a ser reconhecida como a Athenas Brasileira. Em outras palavras, a cultura vai fazer a festa em Upaon-Açu.
Como todo mundo aqui já está tão careca quanto o Décio Sá de saber, a I Feira do Livro começou. O local do evento é a Praça Maria Aragão. Mas alguns eventos relacionados à Feira estão ocorrendo em outros pontos da cidade. Vi algumas fotos da “cidadela do livro” instalada na praça. Está bonita. Já estou imaginando aqueles estandes repletos de volumes que encerram romances, crônicas, contos, novelas, assuntos cotidianos e, é claro, poesia. Como aconteceu durante o Festival Geia. Mas lá em Ribamar eu não tinha uma noção exata do que levaria para a minha estante. A indecisão não durou muito. Afinal de contas, estava em uma cidade embalada pela canção do venerável Mar Oceano. Por essa razão, adquiri Moby Dick e 20.000 léguas submarinas.
Durante a Feira, aproveitarei o tema da homenagem ao melhor romancista do estado do Maranhão - entre vivos e finados - e (novamente) estabelecerei contato com o grande lance da vasta obra de Josué Montello, que são seus Diários. O “novamente” foi entre parênteses porque, lamento informar, eu, que já tive em mãos uma parte considerável dos livros montellianos, hoje tenho de me contentar, apenas e unicamente, com O silêncio da confissão. Que é bom, mas não chega perto, em qualidade, de Os tambores de São Luís e Cais da sagração - duas das pérolas da literatura universal. Não se trata de uma bajulação exagerada. Quem os leu sabe que tenho razão.
Para concluir o assunto da Feira do Livro, um depoimento do colunista Pergentino Holanda a respeito da relação entre livro e cidadania: “Uma sociedade democrática e aberta, capaz de fazer suas próprias escolhas e definir seu futuro, pressupõe tanto uma imprensa livre como o incentivo à produção cultural e artística. A história, que é mestra, ensina que as tiranias e os regimes autoritários dirigem seus primeiros ataques aos veículos de comunicação e aos bens culturais, principalmente aos livros. No verso da medalha, a valorização da palavra impressa e o estímulo à produção e consumo de bens culturais são signos de civilização e liberdade de uma sociedade. Quando o livro e o povo se encontram, isto é tanto uma celebração dos valores culturais como uma apologia da liberdade e confirmação de uma cidadania crítica, bem formada e informada”.
E, por falar em valores culturais, os quase um milhão de habitantes (te cuida, Guedelha, os home da Câmara e da Assembléia querem ver a tua caveira) de São Luís serão agraciados com a apresentação da Orquestra Sinfônica. Vai ser também na praça Maria Aragão e, sem dúvida alguma, o “ingresso” (posto que todos ficaremos ao ar livre, numa época distante do período chuvoso) será um quilo de alimento não-perecível. Exemplo mais-que-perfeito de conjunção entre cultura e cidadania. Além disso, porque ocorrerá em espaço aberto, ensina como deve ser realmente exercitada a cidadania. Dessa maneira, podem assistir ao espetáculo tanto quem irá à praça dirigindo seu “Pejô” quanto aquele que perambula por aí, labutando com sua carroça.
Para quem “apreceia” música clássica (ou erudita, tanto faz, não briguemos por isso), há dois programas excelentes, que recomendo mesmo sem receber um tostão pela propaganda. Trata-se do “Repertório”, na TV Cultura, e o “A Grande Música”, que passa na TVE. O primeiro é exibido às terças e quintas-feiras. Mostra exibições de orquestras sinfônicas e filarmônicas. O segundo é mais voltado para a música de câmara, ou seja, pequenos grupos que executam peças clássicas em espaços reduzidos. Sei muito bem que essa categoria da música não é muito apreciada, aqui no Brasil. Não tem e, pelo jeito, jamais terá a influência que tem o reggae ou o forró siliconado de hoje. Mas gosto de pensar como Rui Barbosa. Um país se faz mesmo com homens e livros. E, se unirmos o livro à música, teremos uma fantástica receita cultural para neurônios sedentos.

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