quinta-feira, outubro 25, 2007

LÁ FORA (DO SITE OMELETE)

Batman, Punho de Ferro e o fim de Quarteto Fantástico e Martha Washington
05/09/2007

ÉRICO ASSIS

BATMAN 668

Dá vontade de falar de quase todas edições de Grant Morrison em Batman. Como em Liga da Justiça e X-Men, o escocês maluco consegue dar novas perspectivas a séries velhas e cansadas – nas quais a maioria dos outros escritores não consegue encontrar maneiras de inovar.
O paradoxo é que Morrison inova recorrendo ao passado. Ele recupera, cita e atualiza boas bat-histórias (e algumas nem tão boas) dos anos 70, a época de Denny O’Neil, Neal Adams, Steve Englehart e Marshall Rogers. Na sua primeira edição, lembrou os cenários gigantes e coloridos das vergonhosas histórias da época do seriado de TV. Já fez também toda uma edição em formato de conto ilustrado, com a história toda em um ótimo texto, ao invés de quadrinhos.
Neste último arco, Morrison mistura tanto um conceito vergonhoso – a Liga dos Homens-Morcego, uma associação de heróis internacionais inspirados pelo Batman norte-americano, incluindo até El Gaucho, um estereotipado herói argentino – quanto as boas bat-histórias detetivescas. Com um toque de Agatha Christie: numa ilha afastada de tudo, os heróis associados são mortos um a um. O assassino, é óbvio, está entre eles, e nem Batman consegue descobrí-lo para impedir novas mortes.
O grande diferencial do arco é a arte de J.H. Williams III (Promethea). Ele brinca com os formatos dos quadros para criar cenas marcantes, citando o estilo dos anos 70 com um ar pós-moderno. Talvez mais impressionante ainda seja a forma como adapta seu estilo a cada personagem da Liga dos Homens Morcego. Ele é, sem dúvida, o melhor ilustrador em atividade nas HQs dos EUA. E está ajudando a criar a melhor, até agora, história de Morrison em Batman.

THE IMMORTAL IRON FIST 8

Punho de Ferro é refugo de um momento dos anos 1970 em que as artes marciais estavam em voga e a Marvel resolveu entrar na onda. O que fazer com o personagem nos anos 00?
Você o deixa nas mãos de um dos melhores escritores atuais na editora, Ed Brubaker, e dá a chance para outro escritor ainda meio novato, Matt Fraction, mostrar seu talento.
Brubaker e Fraction sabem que o conceito de Punho de Ferro não se sustenta sem risadas hoje em dia. O que não significa que devem transformar a série em uma comédia. Pelo contrário, o foco está nas ótimas cenas de ação – desenhadas pelo excelente espanhol David Aja – com alguma tiração de sarro das filosofias orientais no mundo ocidental.
Brubaker é o responsável pelas cenas mais sérias, enquanto Fraction é o cara da porra-louquice – quem conhece seu trabalho em Casanova e Punisher War Journal consegue identificar quais partes do roteiro são dele.
Na última edição, em que Punho entra num torneio entre campeões de sete cidades místicas (à la K’un Lun, a cidade onde o herói adquiriu seus poderes), os autores resolvem estruturar a história de um jeito particular: transformando num jogo de Mortal Kombat, até com chave de lutas. Idéias fora do comum que estão formando uma das melhores séries da Marvel atual.

THE LAST FANTASTIC FOUR STORY

Quarteto Fantástico: O Fim, de Alan Davis, foi publicada lá fora há alguns meses e já está saindo no Brasil. Mas Stan Lee resolveu que queria contar sua própria versão do fim da família de super-heróis.
Lee provou recentemente, numa série de especiais em sua homenagem, que sabe que a roteirização de quadrinhos mudou bastante desde os anos 60. Mas neste especial, parece que está escrevendo uma história para Jack Kirby.
O ritmo é estranho – cada página equivale a umas 10 dos quadrinhos atuais, pela velocidade atropelada de desenvolvimento do roteiro. Os dialogos são grande clichezões, como eram nos anos 60.
John Romita Jr., o desenhista escolhido, não combina com este roteiro de Lee. Seu traço é muito contemporâneo para o "retrô" do emérito criador do Quarteto. Se fosse desenhada por Kirby (ou mesmo por um de seus sucessores contemporâneos, como Erik Larsen ou Tom Scioli), seria mais uma história inocentemente clássica do grupo, uma homenagem aos velhos tempos. Com Romita Jr., parece estar fora de lugar.

MARTHA WASHINGTON DIES

Com milhares de roteiros atrasados e um envolvimento crescente com Hollywood, Frank Miller surpreendeu todo mundo ao aparecer com um roteiro para a história final de uma de suas personagens menos conhecidas, Martha Washington, criada com Dave Gibbons para a minissérie Liberdade, nos anos 1990.
Desde então, Martha já foi estrela de mais duas minisséries e especiais, que continuam a sua vida militar num bizarro Estados Unidos do futuro.
Esta última história, curtíssima, na verdade serve somente para fechar uma planejada coletânea com todas as aventuras da personagem, que a Dark Horse lançará em 2008. Mas a editora resolveu dar uma chance aos leitores de ver o pequeno conto sem ter que pagar pelo volumão.
É uma história apressada, passada no aniversário de 100 anos de Martha. Ela reúne família e amigo à beira da fogueira para contar o que aprendeu da vida. Depois de dizer "somos todos pó", sua última frase é "quero liberdade". E encerra-se a cena que, não tenha dúvida, deve ir para uma possível adaptação cinematográfica da criação de Miller e Gibbons.

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